Capítulo 3

Luna Lotti

Em pé, defronte ao meu amigo, assisto em seu colo o lindo sorriso da minha filha, que está com exatos nove meses e é uma cópia do pai. Com seus incríveis olhos azuis, a mesma cor de cabelo e até mesmo a boquinha, saíram iguaizinhos aos dele. Hoje, Aurora é a razão da minha vida.

Meu irmão sempre quis saber quem é o pai, mas nunca contei, até porque nem eu mesma sei o nome dele. Por isso, sempre digo que ela é apenas minha e pronto. Sendo assim, ele segue sendo um tio babão, e eu o amo ainda mais por isso.

O único que sabe é o Kai, mas nem eu nem ele sabemos o nome do homem que me fez perder a virgindade e ganhar a minha menina. Kai já me pediu várias vezes para contar para o Lorenzo, porém, como vou dizer se nem sei o nome?

— Vamos tomar banho, bebê?

A pego do colo do Kai e a levo para o banheiro.

— Que sujeira você faz para comer, né, mocinha?

Ela b**e as mãos na água e dá risada, já que entende tudo o que falo.

A tiro da banheira e seco seu corpinho, sem resistir a deixar um beijo em suas bochechas gordinhas.

— Vamos dormir na cama da mamãe? — Me deito com ela e começo a cantarolar, pegando no sono assim que vejo que ela já dormiu.

Acordo assustada com o Kai tampando minha boca, fazendo sinal para que eu fique quieta. Somente após balançar a cabeça, concordando, ele a retira.

— O que foi? — Pergunto em um tom baixo, apavorada, enquanto olho para o lado onde Aurora dorme com tranquilidade.

— Invadiram a casa! Temos que sair daqui agora!

— Quantos são?

— Quatro homens armados.

— Vamos matá-los, então. — Digo a ele, sem rodeios. — Não me olhe como se eu não soubesse fazer isso. Você me treina diariamente, sabe que sou capaz. Ninguém chegará perto da minha filha, porque não vou deixar.

Ele assente e me passa uma arma que tira das suas costas, colocando um silenciador.

Levo a Aurora para o banheiro e a coloco enrolada em um cobertor na banheira, vendo que ela dorme tranquilamente, sem ter ideia do perigo que estamos correndo. Dou um beijo em sua testa antes de sair e me certifico de que tranquei a porta. Kai está ao telefone, conversando com Lorenzo, que tem trabalhado com afinco em busca do que, ou de quem, se trata o Cobra. Cada vestígio é válido para acabarmos de uma vez por todas com isso.

Abro a porta do quarto com bastante cuidado e vejo um homem mascarado de preto no corredor. Atiro em sua cabeça e, ao vê-lo no chão, me volto para Kai, ouvindo meu irmão exigir que eu permaneça protegida. De qualquer forma, se alguém vier a aparecer no corredor, para que eu não hesite em atirar.

Assinto e fecho a porta do quarto, trancando-a.

Ouço tiros vindo lá de baixo e objetos quebrando, o que me faz desistir de obedecer ao Lorenzo.  Saio do cômodo, trancando a porta por fora e vou me esgueirando pelas paredes do corredor. Com a arma em punho, vejo mais um homem baleado no chão.

Desço as escadas com cuidado, e quando estou chegando na sala, ouço uma voz atrás de mim. Viro-me e vejo um homem apontando uma arma para minha cabeça.

O meu coração gela, mas fico firme sem demonstrar o medo que sinto.

— Olhem só quem temos aqui. A princesa da máfia.

Após um tempo me assistindo, ele me manda jogar a arma e assim o faço.

— Agora, brincaremos um pouco e, depois, mataremos você e a criança. Aliás, onde ela está? —  Pergunta, mas me mantenho em silêncio.

Estou tremendo, mas preciso ser forte pela Aurora.

O homem loiro de olhos castanhos, aproximadamente 1,70 de altura, se aproxima de mim, colocando a arma em minha cabeça. Ele passa a língua na minha bochecha, me fazendo sentir puro nojo. Quando ele se põe em minha frente, cuspo em seu rosto, recebendo um tapa em troca. Isso me desequilibra, fazendo-me dar passos para trás e cair no chão.

Pegando em meus cabelos, ele consegue me erguer por conta da dor e me dar outro tapa, este que não me impede de dar um soco em seu estômago.

Ao me soltar, bato em sua mão que está segurando a arma e a vejo cair no chão. Surpreso com a minha atitude, ele tenta pegar a arma, mas o impeço, dando um chute em seu braço.

Ele me j**a na parede, colocando o braço no meu pescoço. Ele não é tão alto, por isso, acerto uma joelhada nas suas bolas. Ele solta meu pescoço e cai no chão. Aproveito e dou mais um chute na cara do desgraçado, para logo em seguida pegar a arma.

— Você não tem coragem de atirar, princesa. — Diz, me olhando com desprezo.

Minha raiva só aumenta e eu sinto minha mão tremer com a força da minha fúria, mas ainda assim, dou-lhe um sorriso com o canto dos lábios antes de responder:

— Você não sabe nada sobre mim! Já perdi muito, e não vou perder mais! — Movo os dedos com firmeza pelo gatilho e acerto no meio da sua testa.

Vou para a sala onde Kai está lutando com o último dos homens. Quando ele percebe minha presença, já é tarde demais; atiro em sua perna e ele cai, soltando um grito de dor.

— Você está bem? — Kai pergunta.

— Sim, estou. — Respondo, ainda observando o homem que se contorce no chão. — Frouxo.

Kai ri, volta-se para o sujeito que usa máscara e roupas pretas, e o ergue pelos cabelos, fazendo-o voltar a gritar.

— Vamos ver quanto tempo você vai suportar, porque o chefe vai adorar brincar com você. — Fala enquanto ouço um barulho vindo da porta e vejo que é o Lorenzo se aproximando.

— Luna, você está bem? — Seu tom demonstra preocupação e frustração por conta da invasão.

— Sim, estamos todos bem, agora vou ver a Aurora. — Respondo observando-os e, em seguida, finjo que estou me retirando, mas permaneço apenas os observando, afastada.

O chefe da máfia italiana é conhecido por ser implacável e sem piedade. Ele não tolera falhas ou traições, e é evidente sua irritação com o homem caído aos seus pés.

Ele começa a interrogá-lo, perguntando sobre seu envolvimento com o Cobra. O homem tenta negar tudo, mas o chefe não está disposto a acreditar nele.

O homem, com o olho inchado e sangrando, cuspe no chão e diz:

— Você vai cair mais depressa do que pensa, e o verdadeiro líder assumirá o lugar que você roubou.

— Não roubei nada de ninguém, esse lugar é meu por direito. E quando encontrar o líder de vocês, vou matá-lo com minhas próprias mãos.

O homem ri, dizendo:

— Isso se ele não te matar primeiro.

Com um sorriso sinistro, o chefe começa a torturá-lo. 

— Vamos ver quanto você aguenta antes de falar. — Diz ao pegar um alicate e começar a arrancar suas unhas.

— Você vai morrer, desgraçado. — O homem grita de dor.

O chefe dá um sorriso sarcástico e diz:

— Você que vai ver o diabo primeiro.

Com uma faca, ele pede para um soldado segurar a cabeça do homem e começa a contornar o rosto, tirando a pele. O homem grita, leva um soco na boca e o sangue escorre, mas o chefe não para.

— Vou atrás da sua família e matarei cada um, e a culpa será sua. Agora, se você cooperar, posso deixá-los vivos. Você escolhe.

O homem, ciente de que não tem saída, conta o que sabe, mas logo em seguida, o chefe atira em sua testa.

— Cortem-no em pedaços e espalhem pelos becos da cidade; o recado vai ser dado. Quem se aproximar da minha família morre. — Kai retira um aparelho celular do bolso do miserável e o atira em direção ao chefe. — Vou mandar analisar o aparelho. Verei as garotas agora.

Saio às pressas e entro no quarto, indo direto ao banheiro onde a Aurora ainda se encontra dormindo. Pego minha filha no colo, acalentando-a. Só de pensar que algo poderia ter acontecido com ela, meu corpo gela e lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto.

Quando Lorenzo entra, coloco a Aurora sobre o colchão e vou até ele, abraçando-o enquanto choro em seu peito.

— Shiiii… já passou. Vou tirar vocês daqui, eles descobriram esse lugar. As levarei para um lugar mais seguro.

Após pegar as coisas que mais necessito para os próximos dias, vou com a Aurora no colo em busca do meu irmão e do Kai, que já se encontram na sala à minha espera. Com isso, sigo até o carro em direção à casa onde ele tem ficado todo esse tempo.

No dia seguinte, enquanto tomamos café em sua bela cozinha muito bem equipada, diga-se de passagem, Lorenzo solta o que eu não espero. Mais uma vez, meu irmão toma a decisão de me manter afastada, só que desta vez, me surpreende ao contar que Aurora e eu ficaremos em um moto clube. Uma casa segura com pessoas de sua extrema confiança.

Confesso que não estou feliz com a notícia, pois é com ele que quero ficar. Sinto saudades da época em que vivíamos juntos, como uma família de verdade, mas respeito as decisões do meu irmão, pois sei que é para o nosso bem e que um dia tudo isso irá acabar.

— Você tem certeza de que lá estaremos seguras?

— Tenho. Eles vão proteger vocês com a própria vida, se precisar.

Quando chegamos ao clube, fico surpresa. O lugar parece uma fortaleza; os muros são altos, três ou quatro metros de altura. Há muitas câmeras de vigilância, e o portão é completamente fechado, não permitindo ver nada por lá.

Quando o portão se abre, vejo diversas motos uma ao lado da outra.

O clube nada mais é que uma casa grande de dois andares.

Quando descemos do carro, um homem se aproxima e se dirige primeiro ao Lorenzo, estendendo-lhe uma das mãos:

— Bem-vindo, Lorenzo.

Estudo-o com atenção e é impossível não notar que é bonito, tão alto quanto o meu irmão, e usa um colete onde está escrito “VP”; certamente, o vice-presidente do lugar.

— Luna, este é Luke, o vice-presidente do clube. — Assinto, olhando para ele, que me estende a mão, e eu a aperto.

— Bem-vinda, Luna.

— Obrigada por me receber.

— Onde está o Dom? — Lorenzo pergunta.

— Vou levar vocês até ele.

Retiro Aurora do carro, pois ela esteve todo o tempo dormindo em sua cadeirinha no banco de trás, e seguimos até a casa. Ao nos aproximarmos, a porta é aberta por um senhor com um sorriso amável, o que me conquista de imediato.

— Que bom que chegaram. Vamos entrar que o café está na mesa.

— E o Dominik? — Lorenzo volta a perguntar.

— Está em uma ligação. — Uma jovem responde com simpatia ao se aproximar também, e eu sorrio pela recepção agradável depois que ela se apresenta como Deana. — Então vamos fazer o que meu tio sugeriu. Vamos nos alimentar.

— Posso usar o banheiro? — Peço, passando Aurora para ela, que se oferece para pegá-la após fazer carinho no rosto da minha filha.

— Claro. Tem um no fim desse corredor.

Sigo em direção ao caminho que me foi indicado, e quando entro no banheiro, lavo as mãos, jogando também um pouco de água no rosto. Não sei por que estou tão nervosa.

— Se acalma, Luna. — Digo ao me olhar no espelho, mas meu coração está acelerado, e não consigo entender o porquê.

Ao sair do lavabo, deparo-me com a única pessoa que jamais pensei em reencontrar.

Puta merda, é ele! O pai da minha filha e o homem que me fez ter a melhor noite da minha vida. Aquele que fui incapaz de esquecer.

— Você? — Perguntamos em uníssono, o que mostra que ele também não esqueceu que fui eu naquela noite.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo