Capítulo 4

Dominik Santoro

Congelo ao vê-la em minha frente, pois não faço ideia de como veio parar aqui. Destino? Quando tento pensar em algo para perguntar, Deana aparece, notando minha reação, ou a falta dela, e age rapidamente. Para quebrar o silêncio constrangedor, ela me dá uma cotovelada.

— Desculpe o meu irmão. — Diz, voltando-se para mim. — Esta é a nossa nova hóspede.

Vejo o sorriso irônico no rosto da minha irmã e solto a respiração que nem percebi que estava segurando.

— Desculpe. — Peço, sem jeito. —  Onde estão o seu irmão e a sua filha?

Nunca havia me sentido tão constrangido diante de uma mulher. Mas como não ficar assim se foi ela mesma quem esteve rondando os meus pensamentos nos últimos dias e, para piorar, a Deana nem ao menos disse o seu nome ao nos apresentar.

— Foram todos para a cozinha, irmão, então deixe de perguntas e vamos tomar logo esse café, pois até eu estou morrendo de fome agora.

Sem mais uma palavra, sigo as duas e aproveito a oportunidade para admirar o belo corpo que pude percorrer de várias maneiras. Porra! Pensar nisso agora não foi uma boa ideia, e somente o fato de estar andando atrás me permitiu arrumar a ereção que se formou em meu pau.

— Bom dia! — Digo ao entrar no cômodo e sorrio ao ver uma criança linda no colo de Lorenzo.

— Bom dia, Dom! Vejo que já conheceu a Luna, minha irmã. — Ele diz, dando um leve beijo na testa da criança. — Esta é Aurora, minha sobrinha.

Aproximo-me ainda mais e, ao olhar para a criança, paraliso. Não é possível.  Volto os olhos em direção à mulher que agora sei que se chama Luna, e sua expressão pálida me faz engolir em seco.

Será que além de tirar a virgindade da irmã do meu amigo, ainda a engravidei? Estou fodido!

Agora meus olhos seguem em direção ao meu tio e vejo que ele também percebeu a semelhança entre mim e a menina.

Lorenzo quebra o silêncio.

— Luna, este é o Dominik, presidente do clube. E aquele ali — fala, apontando para o meu tio —, Mark, tio do Dom.

No mesmo instante, seus olhos passam para a Deana, e eu olho para ele, irritado.

— Essa é Deana, minha irmã. E nem pense nisso. — Digo a ele.

Todos me observam com uma expressão interrogativa, mas Lorenzo sabe do que estou falando, então arqueia as sobrancelhas e diz:

— Obrigado por cuidar delas. — Beijando a criança mais uma vez, ele a entrega para Luna e a abraça com cuidado por causa da menina.

— Para isso que somos amigos. — Rebato ao mesmo tempo em que sinalizo para que todos voltem a se sentar, para podermos tomar nosso café.

Luna passa a maior parte da refeição calada, respondendo apenas ao interrogatório feito por minha irmã sobre como é a rotina da Aurora e o que as duas gostam de fazer. Claro que presto atenção a cada detalhe, mas não posso deixar de ficar intrigado com a possibilidade de ela ser minha filha.

— Vamos até o escritório. — Me direciono aos homens que se encontram à mesa, e sugiro à Deana que vá mostrar o Clube para a Luna. — O que descobriu sobre o Cobra, Lorenzo? — Pergunto quando já estamos todos reunidos em minha sala, e ele suspira, demonstrando cansaço.

— O homem que torturei disse apenas que o líder deles só aparece de máscara e trafica tanto mulheres quanto crianças. Disse também que esse homem quer o meu lugar, mas que ninguém sabe onde ele fica, pois, muda de lugar com frequência. O telefone também era descartável, e agora sei que o Cobra é quem está por trás dos roubos das nossas cargas.

— Mas que porra! — Digo, dando um soco na mesa. — Precisamos acabar logo com isso.

Falo, nervoso.

— Nós vamos. — Meu tio, que até agora esteve calado, pronunciou-se.

— Está certo, então. — Digo, me levantando, e os outros fazem o mesmo, indo em direção à porta. — Vamos continuar a procurar esse desgraçado, Lorenzo.

Completo, e ele agradece, me oferecendo a mão para um aperto. Nesse momento, volto a ver Luna em meu campo de visão. Meu amigo se dirige até ela e passa a mão em seu rosto com carinho.

— Qualquer coisa, basta ligar. — Diz para ela, mas é para a Deana que ele dá uma piscadinha, fazendo-a corar. E pela primeira vez, vejo minha irmã demonstrando timidez.

Após as despedidas, meu tio faz um sinal com a mão, me chamando de volta para o escritório, e o sigo, já sabendo do que se trata.

— É ela, não é? — Pergunta.

— Sim, é ela. — Confesso, passando as mãos nos cabelos.

— Maldição, Dom! A princesa da máfia? E a criança, é sua?

Fico paralisado, olhando para ele.

— Fala, Dom, a criança é tua?

— Como vou saber, tio?! — Respondo impaciente, sem saber distinguir se o que estou sentindo é surpresa ou euforia por tê-la aqui.

— Se for sua, o Lorenzo vai querer te matar, já sabe, não é?

Olho para ele, tentando reformular tudo o que aconteceu desde aquela noite até minutos atrás.

— Eu sei, mas no momento só preciso descobrir se ela é minha. Com Lorenzo, eu me entendo depois.

                                                             Luna Lotti

Deana conseguiu me conquistar de imediato. A maneira doce e delicada como ela trata a minha filha, me deixa confortável nessa casa imensa. Agora, me conduzindo por um corredor, com a Aurora em seus braços, ela pede para que eu abra a porta do quarto que será meu e da minha filha.

Ao entrar, sorrio de felicidade ao ver o ambiente tão bem decorado em diversos tons rosados. Com uma cama de casal ao centro e um berço adornado com estrelas e ursinhos de pelúcia nas mesmas cores ao lado da cama, tenho a sensação de que estou no lugar certo para proteger a minha menina. 

— Preparei este quarto com muito carinho para vocês. — Diz, sorrindo, e eu devolvo o gesto. Olho ao redor e fico impressionada com a delicadeza dos móveis; como a cadeira de amamentação e mais duas poltronas. Meu coração se aquece ao perceber o cuidado que ela teve para que eu me sentisse em casa.

— A porta do quarto ao lado é do Dom, mas não é sempre que ele dorme aqui. Só quando tem algum imprevisto.

Ao ouvir isso, meu coração acelera e ao mesmo tempo meu corpo se aquece, saber que estou tão perto mexe com minhas emoções.

— Os olhos da Aurora são iguais aos do Dom. — Sorri com o levantar de um canto dos lábios. — Se vocês já se conhecessem, eu diria até que ela é filha dele. — Engulo em seco enquanto acaricio o rosto da minha filha e tento responder ao máximo com indiferença. 

— Sério? Não percebi. — Pronuncio, temerosa.

— Onde está o pai dela?

Abaixo o olhar e suspiro, respondendo suavemente:

— Logo você saberá.

— Tudo bem, então. — Vê-la aceitar tão facilmente poderia me assustar, mas não conheço Deana o suficiente para saber se ela é o tipo de pessoa, digamos, curiosa.

Sorrio, agradecida pelo apoio, e resolvo mudar o rumo da conversa:

— Mas me conta, como funcionam as coisas por aqui? — Ela se senta na cama com Aurora ainda em seu colo e responde olhando para mim, que decido me sentar ao seu lado.

— Somos uma grande família, Luna. No clube, tem festa quase todas as noites, são os dias em que temos mais lucros. Os homens são todos mulherengos. — Diz ela, revirando os olhos. — Cada um com seu jeito, seus defeitos e manias, mas todos respeitam as mulheres, mesmo as que trabalham no clube. — Os olhos dela brilham ao falar da grande família.

— Nos protegemos mutuamente.

— E como é o Dominik? — Pergunto sem conseguir me conter. Vejo-a suspirar e soltar o ar por entre os lábios.

— Mandão, mas protetor. Ciumento, mas leal. Cuida de todos da melhor forma possível. Cuidará de vocês, Luna, com a vida dele, se for preciso.

Dou um pequeno sorriso, achando graça da maneira como ela fala, e continuo a ouvi-la.

— Não consigo arrumar um namorado, Dom espanta todos.

A sua expressão é tão engraçada que não consigo segurar uma gargalhada.

— Lorenzo também é assim, Deana, protetor até embaixo d’água. — Comento. — Ele vem sempre aqui?

— Sim, ele sempre vem resolver alguma coisa com o Dominik. — Noto suas bochechas vermelhas.

Será que ela tem uma quedinha por meu irmão?

Depois de acomodar Aurora no berço, Deana me mostra o restante da casa; me apresentando aos funcionários que já circulam pelo local. O jardim bem cuidado, faz com que eu fique encantada com o lugar.

Depois daquele café, Dominik saiu com outros homens de porte físico tão belo quanto o dele, e até o momento, não voltaram. Eu sei que ele ficou sem jeito ao me ver e também ficou desconcertado ao olhar para a Aurora, mas chegar ao ponto de fugir assim?

O que será que está pensando sobre mim, agora que me viu com uma filha? Que sou uma qualquer? Estou nervosa, sei que cedo ou tarde vamos voltar a nos encontrar e terei que contar a verdade para ele.

Coloco Aurora sentada no tapete da sala e me sento para brincar com ela. Seus olhos, iguais aos do pai, olham tudo ao redor.

Ligo a TV e procuro um canal infantil, pois ela se distrai com os desenhos. Fico imaginando como será daqui para frente, com o Dominik e eu na mesma casa. E quando ele souber da verdade, será que vai me odiar?

— Luna, que tal um lanche? Deixe a Aurora aí e não precisa se preocupar, ela está segura.

— Tenho medo dela quebrar algo ou cair de algum lugar, porque está começando com os seus primeiros passos.

Deana ri.

— Ela é mesmo uma fofura! Mas vamos, será um lanche rápido.

Aceito, já que realmente não tenho porque me preocupar, então a sigo até a cozinha.

— Você cozinha bem, Deana. — Elogio seus pães de queijo com o café. — Está uma delícia!

Enquanto comemos, Deana me conta como foi sua infância; a perda dos pais, como foi difícil ficar longe do irmão quando ele foi para o exército. Explica que seu tio cuidou deles como filhos e sempre os protegeu, e que aprendeu a cozinhar com uma brasileira que ficou no clube por um tempo.

Ela é muito apegada ao tio, percebo que fala com muito carinho sobre ele.

Conto para ela como foi crescer na máfia, como é ter seguranças vinte e quatro horas por dia e que até na escola eles tinham que estar me vigiando.

— Nossa, Luna, sua infância foi pior que a minha. Eu pelo menos tinha liberdade. — Fala, espantada.

— Era preciso, sempre tive um alvo nas costas por ser filha do chefe. — Explico.

— Quero que sejamos amigas, Luna. — Ela declara ao segurar a minha mão em cima da mesa, e eu apenas a aperto em sinal de aceitação.

— Nós já somos, Deana.

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