Acordei com o John e a Vick em casa, juntamente com a minha mãe que fumava descontroladamente.
-Meu Deus menina, você não atende esse telefone, fiquei desesperada! Liguei pro seu namorado pra me trazer aqui! - dizia minha mãe alto demais.
Eu não queria falar absolutamente nada, só queria voltar no tempo e impedir que meu pai saísse naquela noite para trabalhar. Eu fiquei bebendo a noite toda, enquanto o meu pai estava sendo morto por alguém, eu nunca me perdoaria por isso.
Meu namorado e minha amiga simplesmente me abraçaram, eles realmente me amavam e sabiam que em momentos como aquele não existe o que falar.
Capítulo 2 - O pior pesadelo
Os dias seguintes à morte do meu pai foram um borrão pra mim, descobri depois que ele foi assassinado ao ajudar uma mulher que estava sendo espancada pelo marido em uma favela.
Acontece que o tal marido era um traficante e ainda por cima usuário de drogas, ele atirou seis vezes no meu pai que morreu na hora.
Nós morávamos em São Paulo, na Penha, um bairro bom comparado a outros, eu nunca tinha entrado em uma favela, e não imaginava como tanta violência poderia acometer a cidade em que eu nasci.
-Filha, sou sua mãe, mesmo que você não goste disso, vamos comigo para casa, eu vou cuidar de você tudo que eu não cuidei durante esses anos. - dizia minha mãe acariciando meus cabelos.
-Mãe, eu não quero incomodar…
-Você não vai me incomodar filha, que bobagem! Arruma suas coisas, meu namorado vai nos levar ele está esperando no carro.
Arrumei minhas coisas sem saber ao certo o que me esperava, eu e meu pai morávamos de aluguel, eu sabia que tinham alguns meses à frente pagos, meu pai sempre fazia isso. Mas nesse momento eu não queria ficar sozinha .
Tudo naquela casa me lembrava o meu pai, ele sempre cuidou de tudo tão bem, eu não suportaria ficar ali sabendo que nunca mais o veria novamente.
-Oi filha, sou seu novo pai, James - disse o namorado da minha mãe, fumando um cigarro, me olhando de cima a baixo.
-Para James a menina está se recuperando não faça gracinhas - disse minha mãe com um sorriso no rosto enquanto dava um tapinha no seu namorado.
Minha vontade era de chorar e pular do carro, eu não queria ficar com a minha mãe, eu queria sumir só isso, ou ficar em coma por longos anos até que toda dor passasse.
A casa da minha mãe era como eu me lembrava, uma grande bagunça, roupas espalhadas por toda a sala, embalagens ainda com restos de comida por toda parte, bem como muitas garrafas de cerveja e bitucas de cigarro no chão.
A louça parece não ter sido lavada a semanas, uma grande pilha suja, e rodeada de mosquitos.
-Filha, arrumei o quartinho pra você, vem, o James traz suas coisas - dizia minha mãe animada.
O tal quartinho era o porão, cheio de teias de aranha, e um colchão velho, em contraste com o lençol novo que ela deveria ter acabado de comprar para disfarçar.
O James trouxe as minhas malas, e disse:
-Vou sair pra comprar cerveja, volto antes de você sair - E saiu me olhando.
-Filha, sei que não é como o quarto que você tinha na casa do seu pai, mas aos pouquinhos vamos deixando melhor, você vai ver, hoje eu preciso trabalhar mas amanhã vou fazer uma boa faxina nessa casa - ela disse sorrindo de forma ansiosa.
Minha mãe soava patética, com o rosto exageradamente maquiado, o loiro falso do cabelo, e a roupa colorida jovem demais para sua idade. Ela claramente não sabia o que fazer nem com a própria vida.
-Filha, deixa eu te falar uma coisa - ela disse enquanto se sentava - o filho da Maria, se lembra dela, minha amiga? - não respondi ela continuou - ele disse que você tem direito a uma indenização, afinal seu pai estava em horário de trabalho.
É claro, por isso subitamente ela havia se transformado em uma boa mãe, queria dinheiro, como eu fui tão boba em acreditar?
-Mãe, eu só quero dormir, meu pai acabou de morrer, dinheiro não me interessa.- eu disse com raiva.
Ela me olhou parecendo sem paciência.
-Eu entendo Helena, descanse hoje mas amanhã você precisa ver isso, aqui em casa as coisas são difíceis só eu trabalho.O James está procurando ... .mas não está fácil sabe - Ela disse cínica com um sorrisinho.
-Eu já entendi - eu disse encerrando a conversa.
Minha mãe tinha mania de arrumar homens bêbados e vagabundos para sustentar, e na maior parte das vezes ainda era agredida por eles.
-Tudo bem, eu vou me arrumar, entro seis da noite no trabalho, e vou até de manhã, não é fácil - disse acendendo um cigarro com voz de choro - até amanhã querida - e saiu rebolando.
Arrumei aquele lugar que dali pra frente seria o meu quarto quando escutei o James chegando. Ouvi os passos pesados pisando no assoalho de madeira, seguido pelo estalo do sofá quando ele se sentou com seu corpo pesado, e por último o barulho da tv no canal de esportes.
Eu estava morrendo de fome, mas não queria subir e encarar o James, ele era repulsivo.
Tinha uns cem quilos, bigode, dentes amarelos de tanto cigarro, e um ar de maldade alarmante.
Coloquei meus fones de ouvido, e me deitei, o sono veio rápido.
Acordei sentindo um bafo quente e fedido no meu rosto, quando abri os olhosd ei de cara com o James sorrindo pra mim com seus dentes amarelos.
Tentei gritar, mas ele tapou minha boca com violência.-Quietinha, escutou, vai ser rápido. Se você gritar eu corto o seu pescoço, te mato escutou? - ele disse enquanto abria o cinto.Eu tentava me desvencilhar mas ele era forte, e abusou de mim com violência, enquanto olhava nos meus olhos com o seu sorriso amarelo. Sentia o forte cheiro de álcool misturado com suor. Parecia um pesadelo.Quando terminou ele, me empurrou na cama, fechou as calças e disse:-Acho que vou fazer uma troca você é mais gostosa que a sua mãe - dando risada - vai ser muito muito gostoso ter você aqui. E se lembre se abrir o bico eu mato você, e sua mãe também.E saiu rindo acendendo mais um cigarro.Eu fiquei jogada na cama, sem reação, só lágrimas brotavam nos meus olhos.De manhã ouvi o barulho da porta e corri pra falar com a minha mãe, eu precisava contar tudo aquilo rápido pra ela mandar aquele homem horrível embora de casa.-Mãe, mãe - eu apareci chorandoEla me encarava séria, com os olhos bordados de
Cheguei na casa do meu namorado antes das sete da manhã, ele era o meu único refúgio, sabia que ali sim eu seria acolhida e amada.Procurei o meu celular na bolsa e dei um soco no volante quando notei que o havia esquecido naquela casa, droga!Corri para a porta da frente, que estava aberta, estranhei e entrei. Meu corpo tremia de toda a tensão das últimas horas, eu não via a hora de desabafar nos braços do meu namorado. Uma música vinha do quarto, estranhei que era cedo e o John só trabalhava na parte da tarde. Quando cheguei em frente a porta do quarto meu mundo caiu pela terceira vez naquela semana.Na cama estavam o John e a Vick, minha melhor amiga, nus, rodeados por garrafas de bebida.-Porque? - Só foi o que consegui pronunciar com a voz falhando.Eles olharam um para o outro, e aparentemente não sentiam culpa, nem remorso.-Bom, agora você já sabe, acabou Helena - disse o John vestindo uma bermuda.-Como assim? Vocês estão tendo um caso, vocês me traíram! - eu gritava-Pare d
Enquanto dirigia eu sentia o corpo inteiro anestesiado, em pouco tempo eu tinha perdido o meu pai, sido abusada, e me tornado uma assassina.Minha vida havia acabado, eu não sabia o que fazer, só precisava sair da cidade o quanto antes, pois além de ter passado por tudo isso, eu poderia ser presa.Ainda não tinha tido tempo de contar, mas sabia que na mochila tinha muito dinheiro, daria para me virar por um tempo, e conseguir uma nova identidade.Ao chegar no centro da cidade, busquei pelos tais homens com placas de "vende-se ouro", o John, o traidor do John, uma vez me disse que aquelas homens sabiam onde arrumar qualquer coisa legal ou ilegal.Andar em meio ao caos, foi terrível e extasiante, pessoas gritavam, pediam dinheiro, vendiam coisas, mal percebiam o meu péssimo aspecto.-Olá, como eu consigo um documento aqui? - perguntei a um homem velho, com a tal placa.Ele me olhou de cima a baixo, e me indicou o prédio do governo que emitia documentos.-Estou falando de identidade fals
Mas o que aconteceu aqui? - disse uma enfermeira magrinha, que parecia ter a minha idade.O tal James não respondeu, virou as costas e começou a mexer no celular, como se toda aquela situação não tivesse a menor importância para ele.- Meu nome é Ane, fico feliz que tenha acordado, sua boca deve estar seca, aposto! mas fica tranquila que vou trazer algo para você beber - disse a simpática enfermeira disse enquanto recolocava o soro com todo o cuidado e delicadeza.Ane tinha um perfume tão doce quanto a sua voz, me senti mais calma com a sua presença, ela tinha um rosto angelical, era sorridente, e muito bonita.O cabelo era um Chanel preto perfeito, as unhas curtas mas impecáveis, a pele era branca mas levemente bronzeada, e os dentes de um branco invejável.Ane parecia aquelas enfermeiras de filme, de tão perfeita.- Vou avisar o Dr Cesar que você acordou- ela disse enquanto ajeitava o travesseiro - ele já vem falar com você! Enquanto isso busco o seu suco - ela deu uma olhada tímida
-Você deve estar super empolgada com a alta! Ficar no hospital deve ser terrível, como paciente digo – diz Ane entrando no meu quarto pela manhã abrindo as cortinas com seu jeito agitado.Nós ficamos muito próximas nesse período em que estive internada, acabei descobrindo que Ane é filha do Dr Cesar, como ela diz, a medicina está no sangue da família, sua mãe que havia morrido em um acidente de carro foi uma médica tão reconhecida como o pai.Mas ela decidiu cursar enfermagem, a faculdade de medicina era muito longa e exigia uma dedicação que Ane definitivamente tão tinha. Ela gostava de ser livre, aproveitar o mar no fim de tarde, e viajar para praias distantes sempre que possível, era uma caiçara nata!Os pais haviam trabalhado por anos em um importante hospital de São Paulo, mas quando Ane nasceu decidiram abrir uma clínica na cidade do sol, assim poderiam dar uma melhor qualidade de vida para ela, longe da violência e do caos da cidade grande.O que me aproximou de Ane foram os
- Eu vou ficar com você durante sua recuperação – ela disse batendo palminhas – o James me contratou, aliás ele pediu uma indicação de enfermeira, e claro, eu me candidatei! Eu fiquei feliz e aliviada de não ir sozinha para a casa daquele sujeito mal humorado, além do mais a Ane era incrível, uma excelente companhia, animada, gentil, e competente como enfermeira. Mas por outro lado, ela não parava de falar um minuto, os meus planos de ter paz e sossego para escrever o meu livro, estavam em perigo! -Você não parece animada, o que foi? Não quer minha companhia - ela disse cruzando os braços e fazendo beicinho como uma criança mimada. -Para de ser boba, estou feliz e aliviada em ter você comigo esses dias, mas o seu pai conseguirá ficar sem você aqui na clínica? – perguntei para disfarçar meu incômodo. -Meu pai disse que tudo bem, afinal a clínica está bem tranquila e tem toda uma equipe para ajudar. Ele percebeu como a gente se deu bem e acha que será bom pra você – ela disse enqua
- Senhoritas, o jantar será servido – disse uma simpática senhora funcionária da casa dando uma leve batida na porta.-“Senhoras o jantar será servido”, imitou Ane com ironia - caraca! Nunca pensei que o James fosse tão careta! – disse enquanto empurrava minha cadeira pelo corredor.-E não sou - ouvi uma voz atrás de mim e imediatamente senti aquele perfume que me deixava inebriada – todos os empregados são contratados pela minha mãe, então são todos muito formais, para mim tanto faz.Ane ficou muda, eu podia sentir a tensão no ar, mesmo estando de costas para os dois.-Deixa que eu assumo daqui – James tomou a cadeira de Ane e começou a empurrar – como você foi recebida natacha? Espero que muito bem, eu precisei resolver alguns assuntos na lancha, por isso não pude te receber, mas quero que fique, aliás que vocês duas fiquem a vontade, a casa é de vocês. Se divirtam, usem a piscina a sauna, enfim não se preocupe com nada, só com a sua recuperação.Eu fiquei em silêncio, ele nem parec
Após o jantar, fomos até o escritório, James e eu, Ane ficou em nossa suíte organizando algumas coisas.O luxuoso escritório ficava em um anexo da casa, do outro lado da piscina, era todo de vidro com uma vista belíssima do mar, a noite era ainda mais lindo, só a lua iluminava sua imensidão.Assim como a casa, a decoração era minimalista, com um sofá de couro branco, mesa de vidro, computador de última geração, e muitos livros. Um único porta retrato dava um ar pessoal ao lugar, era um foto do James e da noiva na times Square, ela era realmente linda, olhos verdes, e sorriso perfeito, eles pareciam radiantes naquela foto. -Agora eu vou te apresentar o incrível mundo dos investimentos! Aliás quanto você tem? – ele perguntou enquanto posicionava minha cadeira ao lado da sua de estofado que parecia ser incrivelmente confortável.Quando ele se sentou, nossos braços se tocavam a cada movimento dele no mouse, o toque, o perfume estavam me deixando inebriada, ele ficava ainda mais lindo c