Cheguei na casa do meu namorado antes das sete da manhã, ele era o meu único refúgio, sabia que ali sim eu seria acolhida e amada.
Procurei o meu celular na bolsa e dei um soco no volante quando notei que o havia esquecido naquela casa, droga!
Corri para a porta da frente, que estava aberta, estranhei e entrei. Meu corpo tremia de toda a tensão das últimas horas, eu não via a hora de desabafar nos braços do meu namorado.
Uma música vinha do quarto, estranhei que era cedo e o John só trabalhava na parte da tarde. Quando cheguei em frente a porta do quarto meu mundo caiu pela terceira vez naquela semana.
Na cama estavam o John e a Vick, minha melhor amiga, nus, rodeados por garrafas de bebida.
-Porque? - Só foi o que consegui pronunciar com a voz falhando.
Eles olharam um para o outro, e aparentemente não sentiam culpa, nem remorso.
-Bom, agora você já sabe, acabou Helena - disse o John vestindo uma bermuda.
-Como assim? Vocês estão tendo um caso, vocês me traíram! - eu gritava
-Pare de gritar garota - a Vick se levantou nua - você não escutou o que ele disse Helena, acabou! Nós íamos de contar, mas como teve o lance com o seu pai resolvemos esperar, ficamos com pena de você - disse minha melhor amiga com uma risada cínica.
Nesse momento eu não me contive e fui pra cima dela dando socos, o John pulou na frente e me empurrou, caí no chão humilhada.
-Por favor, vai embora, eu não queria te magoar, eu e a Vick começamos a malhar juntos e acabou acontecendo, não pudemos evitar a gente ia te contar…- disse o John. Eu nem o reconhecia mais.
-Me contar? Vocês são dois lixos escrotos - cuspi na cara dele
-Vai embora sua vagabunda! - ele gritou
-A vagabunda aqui é ela - eu disse apontando para a Vick, que nessa hora abriu uma gaveta tirando notas e notas de dinheiro enquanto ria.
-Sabe que dinheiro é esse aqui Helena? - ela me perguntou irônica - esse dinheiro seu querido pai estava guardando durante esses anos para o quando o Léo te pedisse em casamento, coisa que nunca vai acontecer, então nós vamos embora desse lugar, viver uma nova vida. Muito obrigada viu.
Ela ria, ria da minha cara. O John olhava para baixo.
-Vai embora Helena, por favor.
Eu virei as costas e sim, fui embora, mas não por muito tempo.
Enquanto eu dirigia, nenhuma lágrima mais rolava pelo meu rosto, eu sentia ódio, nas últimas horas pessoas em quem eu confiava haviam me humilhado da pior forma possível, mas isso não ia ficar assim.
Cheguei na casa em que morava com o meu pai, e peguei mecanicamente a chave que ficava embaixo da planta.
Entrei e senti um aperto no peito ao ver os porta retratos, a mobília, fomos tão felizes ali mas agora tudo isso era uma lembrança distante.
Fui até o quarto do meu pai, e abri o cofre, eu sempre soube a senha, embora ele nem imaginasse.
"3597", e abriu, dentro de uma caixa preta de madeira, repousava um revólver.
Dirigi de volta para a casa do John, eu não sabia ao certo o que estava fazendo, mas sabia que aquilo não poderia ficar por isso mesmo.
Eles me enganaram, riram de mim pelas minhas costas, e o pior de tudo, roubaram o dinheiro do meu pai.
Dinheiro esse que ele arriscava a vida todos os dias para ganhar, esses porcos imundos tinham que pagar!
Bati na porta, uma, duas, três vezes, até que na quarta vez a Vick abriu a porta com a cara de cínica que antes eu achava divertida.
-O que você quer aqui? - ela disse de lingerie.
Olhei em volta, não havia ninguém na rua, peguei em seu pescoço e encostei a arma na cabeça.
-Fica quieta, se gritar eu te mato! - eu disse sem me reconhecer.
Caminhamos para dentro de casa, até chegar ao quarto onde o John mexia no celular, quando nos viu, rapidamente se levantou.
-Calma Helena, não faça nenhuma besteira - ele dizia com as mãos na frente do corpo se aproximando.
-Vai pra trás ou eu mato ela! Eu disse apertando forte o revólver nas têmporas da traidora.
Ele se afastou.
-Agora coloca todo o dinheiro em uma bolsa, vai rápido! - Eu disse nervosa.
Ele obedeceu, esvaziando uma mochila surrada e colocando todo o dinheiro dentro dela.
-Pronto Helena, agora larga ela - ele dizia quase que implorando.
-Aumenta o volume da tv John - eu disse sem muita firmeza.
Ela começou a chorar.
-Não, por favor não Helena!!!! - ela se retorcia contra o meu corpo.
Meu namorado começou a chorar.
-O que você está fazendo? Para por favor….
-Aumenta a porra da tv caralho, se não eu mato ela - eu disse colocando dessa vez o cano do revólver dentro da boca da Vick.
Ele aumentou a tv obedientemente.
-Ótimo - eu disse, empurrando a Vick na cama, e disparando mais de dez vezes contra os dois.
A parede ficou lavada de sangue, e nunca vou esquecer das expressões de desespero deles enquanto recebiam os tiros.
Fiquei os observando até ver que nenhum resquício de vida restou ali.
Lavei o meu rosto na pia, minha roupa era preta, ainda bem, pois havia pingos de sangue nela.
Entrei no carro, e antes de voltar para a casa do meu pai, passei na farmácia, comprei uma tinta loira intensa, pois dali em diante a Helena morreu.
Chegando em casa pintei o cabelo, o cortei como um Chanel mal feito, e coloquei umas das roupas vulgares que a Vick esquecia em casa.
Eu me sentia outra pessoa, aquela Helena boba não existia mais, foi substituída por uma assassina cheia de ódio, rancor e implacável contra os inimigos.
Calculei que demoraria alguns dias para acharem os corpos da Vick e do John, ele morava sozinho, e ela os pais pouco se importavam, eu teria tempo de fugir e assumir uma nova identidade.
Eu iria embora desse inferno de cidade, e tentaria construir outra vida, mas antes eu ainda tinha algo a fazer.
-Ainda bem que você trouxe meu carro de volta já ia dar parte na polícia ! - disse o James aos berros - e que cabelo de piranha é esse? - ele disse me medindo de cima a baixo.
-Me desculpem, posso entrar? - eu disse cínica.
-Entra, mas olha o James tá muito bravo com você, não sei se vai poder continuar morando aqui - disse a minha mãe fumando e com um dos olhos roxos, ele havia batido nela.
-Eu entendo… - eu disse levantando o revólver e os acuando.
-O que você tá fazendo, Helena? - gritou a minha mãe.
-Matando um estuprador imundo! - e atirei no James cinco vezes dessa vez eu lembrei de colocar um silenciador na arma.
Alguns anos atrás meu pai e outros policiais estavam sendo ameaçados por uma quadrilha, meu pai foi então obrigado a me ensinar a atirar, caso precisasse me defender. Eu nunca havia colocado em prática, até aquele dia.
Minha mãe chorava ajoelhada ao lado do namorado, eu cheguei bem perto e cuspi na cara dele, enquanto dava os últimos suspiros de vida olhando fundo nos meus olhos.
-Se você me denunciar, eu te entrego, você facilitou um estupro, você ajudou a acabar com a minha vida. - eu disse com ódio.
-E o que…o que eu vou dizer? - ela dizia em lágrimas em cima do corpo gordo e agora sangrento.
-Que alguns homens entraram aqui para cobrar uma dívida e o mataram, só isso. ni
nguém se importa, esse porco era um peso no mundo!
E sai, sem olhar para trás, eu iria embora deixando um rastro de sangue.
Enquanto dirigia eu sentia o corpo inteiro anestesiado, em pouco tempo eu tinha perdido o meu pai, sido abusada, e me tornado uma assassina.Minha vida havia acabado, eu não sabia o que fazer, só precisava sair da cidade o quanto antes, pois além de ter passado por tudo isso, eu poderia ser presa.Ainda não tinha tido tempo de contar, mas sabia que na mochila tinha muito dinheiro, daria para me virar por um tempo, e conseguir uma nova identidade.Ao chegar no centro da cidade, busquei pelos tais homens com placas de "vende-se ouro", o John, o traidor do John, uma vez me disse que aquelas homens sabiam onde arrumar qualquer coisa legal ou ilegal.Andar em meio ao caos, foi terrível e extasiante, pessoas gritavam, pediam dinheiro, vendiam coisas, mal percebiam o meu péssimo aspecto.-Olá, como eu consigo um documento aqui? - perguntei a um homem velho, com a tal placa.Ele me olhou de cima a baixo, e me indicou o prédio do governo que emitia documentos.-Estou falando de identidade fals
Mas o que aconteceu aqui? - disse uma enfermeira magrinha, que parecia ter a minha idade.O tal James não respondeu, virou as costas e começou a mexer no celular, como se toda aquela situação não tivesse a menor importância para ele.- Meu nome é Ane, fico feliz que tenha acordado, sua boca deve estar seca, aposto! mas fica tranquila que vou trazer algo para você beber - disse a simpática enfermeira disse enquanto recolocava o soro com todo o cuidado e delicadeza.Ane tinha um perfume tão doce quanto a sua voz, me senti mais calma com a sua presença, ela tinha um rosto angelical, era sorridente, e muito bonita.O cabelo era um Chanel preto perfeito, as unhas curtas mas impecáveis, a pele era branca mas levemente bronzeada, e os dentes de um branco invejável.Ane parecia aquelas enfermeiras de filme, de tão perfeita.- Vou avisar o Dr Cesar que você acordou- ela disse enquanto ajeitava o travesseiro - ele já vem falar com você! Enquanto isso busco o seu suco - ela deu uma olhada tímida
-Você deve estar super empolgada com a alta! Ficar no hospital deve ser terrível, como paciente digo – diz Ane entrando no meu quarto pela manhã abrindo as cortinas com seu jeito agitado.Nós ficamos muito próximas nesse período em que estive internada, acabei descobrindo que Ane é filha do Dr Cesar, como ela diz, a medicina está no sangue da família, sua mãe que havia morrido em um acidente de carro foi uma médica tão reconhecida como o pai.Mas ela decidiu cursar enfermagem, a faculdade de medicina era muito longa e exigia uma dedicação que Ane definitivamente tão tinha. Ela gostava de ser livre, aproveitar o mar no fim de tarde, e viajar para praias distantes sempre que possível, era uma caiçara nata!Os pais haviam trabalhado por anos em um importante hospital de São Paulo, mas quando Ane nasceu decidiram abrir uma clínica na cidade do sol, assim poderiam dar uma melhor qualidade de vida para ela, longe da violência e do caos da cidade grande.O que me aproximou de Ane foram os
- Eu vou ficar com você durante sua recuperação – ela disse batendo palminhas – o James me contratou, aliás ele pediu uma indicação de enfermeira, e claro, eu me candidatei! Eu fiquei feliz e aliviada de não ir sozinha para a casa daquele sujeito mal humorado, além do mais a Ane era incrível, uma excelente companhia, animada, gentil, e competente como enfermeira. Mas por outro lado, ela não parava de falar um minuto, os meus planos de ter paz e sossego para escrever o meu livro, estavam em perigo! -Você não parece animada, o que foi? Não quer minha companhia - ela disse cruzando os braços e fazendo beicinho como uma criança mimada. -Para de ser boba, estou feliz e aliviada em ter você comigo esses dias, mas o seu pai conseguirá ficar sem você aqui na clínica? – perguntei para disfarçar meu incômodo. -Meu pai disse que tudo bem, afinal a clínica está bem tranquila e tem toda uma equipe para ajudar. Ele percebeu como a gente se deu bem e acha que será bom pra você – ela disse enqua
- Senhoritas, o jantar será servido – disse uma simpática senhora funcionária da casa dando uma leve batida na porta.-“Senhoras o jantar será servido”, imitou Ane com ironia - caraca! Nunca pensei que o James fosse tão careta! – disse enquanto empurrava minha cadeira pelo corredor.-E não sou - ouvi uma voz atrás de mim e imediatamente senti aquele perfume que me deixava inebriada – todos os empregados são contratados pela minha mãe, então são todos muito formais, para mim tanto faz.Ane ficou muda, eu podia sentir a tensão no ar, mesmo estando de costas para os dois.-Deixa que eu assumo daqui – James tomou a cadeira de Ane e começou a empurrar – como você foi recebida natacha? Espero que muito bem, eu precisei resolver alguns assuntos na lancha, por isso não pude te receber, mas quero que fique, aliás que vocês duas fiquem a vontade, a casa é de vocês. Se divirtam, usem a piscina a sauna, enfim não se preocupe com nada, só com a sua recuperação.Eu fiquei em silêncio, ele nem parec
Após o jantar, fomos até o escritório, James e eu, Ane ficou em nossa suíte organizando algumas coisas.O luxuoso escritório ficava em um anexo da casa, do outro lado da piscina, era todo de vidro com uma vista belíssima do mar, a noite era ainda mais lindo, só a lua iluminava sua imensidão.Assim como a casa, a decoração era minimalista, com um sofá de couro branco, mesa de vidro, computador de última geração, e muitos livros. Um único porta retrato dava um ar pessoal ao lugar, era um foto do James e da noiva na times Square, ela era realmente linda, olhos verdes, e sorriso perfeito, eles pareciam radiantes naquela foto. -Agora eu vou te apresentar o incrível mundo dos investimentos! Aliás quanto você tem? – ele perguntou enquanto posicionava minha cadeira ao lado da sua de estofado que parecia ser incrivelmente confortável.Quando ele se sentou, nossos braços se tocavam a cada movimento dele no mouse, o toque, o perfume estavam me deixando inebriada, ele ficava ainda mais lindo c
Me desculpe.. – ele disse se afastando e passando a mão pelos cabelos, gesto que eu já tinha notado que ele fazia ao ficar desconcertado- eu não deveria ter te beijado, não sei o que me deu...-Tufo bem, eu também queria – eu disse ainda saboreando aquele momento – mas isso não pode mais acontecer, você tem uma noiva, e eu sei o quanto uma traição pode custar caro! -E como você sabe disso? – ele me olhava surpreso.-Porque eu já fui traída, e sei o quanto ser apunhalada pelas costas destrói uma mulher! -a lembrança me arrepiou.-Não querendo me justificar mas meu relacionamento não anda nada bem..a gente só briga, vive longe um do outro, só estamos juntos por pressão social...isso é fato, mas nada disso faz sentido, eu só senti o impulso de te beijar, mas não sei nem porque ...- ele continuava a andar de um lado para o outro – está tarde, amanhã falamos mais sobre essa questão de investimentos, tudo bem? Vou te levar lá pra dentro.Ele começou a empurrar a cadeira de rodas delicadame
Não consegui voltar a dormir, aquela mulher não poderia investigar o meu passado, isso seria o meu fim, na verdade eu não me importava muito…o que de pior poderia me acontecer? Ir para a cadeia? Isso faria alguma diferença? Eu já havia perdido tudo!Mas lá no fundo, eu ainda tinha vontade de recomeçar, de quem sabe, reconstruir o que foi destruído, talvez fosse um instinto natural de nós seres humanos, lutar até o fim…-Que horas são, pra você já estar aí acordada….? - disse ane bocejando e pegando o celular que estava no móvel ao seu lado - sete horas! Super cedo..vamos dormir mais um pouquinho…-Estou sem sono - eu disse disfarçando, não queria comentar sobre aquela briga com ane, pelo menos não agora - posso usar o seu celular? Hoje vou providenciar outro pra mim.-Claro - ela me estendeu o aparelho - a senha é um M, vou dormir mais um pouquinho - ela disse virando para o lado.Meus dedos tremeram quando comecei a digitar o meu nome no campo de pesquisa.Meu coração estava disparad