Fazia dias que eu estava no presídio do quartel-general aguardando julgamento. O macacão azul cinzento virou meu uniforme e a única coisa sobre mim era o número de registro social em um patch branco no braço.
Eu nem sabia que existia um presídio em Ascensor, mas descobri da pior maneira. Todos aqueles que agua
Acionei o gatilho do rifle com a certeza que a liberdade era uma batalha constante pela sobrevivência. Quem diria? Por fora dos muros de Ascensor a verdade erguia-se no ar como a poeira levantada pelos drones, enquanto o calor do deserto escorria como fogo para dentro das nossas gargantas. Havia uma selva cheia de dinossauros, ou algo que se parecia com eles: monstros gigantes e carnívoros devoradores de pessoas. Sobreviveram aqueles que ficaram longe dos escombros da antiga cidade, que outrora foi nossa prisão. — “Se você ainda não achou uma causa pela qualvalha a pena morrer, você ainda não achou a razão de viver.”Martin Luther KingDesperto com a certeza de que a liberdade é um sonho. Os muros da cidade são como uma grande prisão perpétua. Residir em Ascensor é o mesmo que nunca poder verCapítulo 01
Uma espécie de pânico me acomete. Minha irmã diz que eu não posso ver uma pessoa em apuros que quero dar uma de herói — acho que é mal de família, entende? Sidda disse isso na vez em que ajudei a vizinha a conseguir uma cota extra de leite para os filhos. E também daquela vez em que carreguei um senhor nas costas para levá-lo ao hospital porque ele estava com intoxicação alimentar... Ou quando enfrentei uns arruaceiros que tinham encurralado um menino mais novo. Só para citar algumas. É, eu tenho fama! Em Ascensor o consumo de álcool é restrito e para poucos. Beber é considerado um caso de autointoxicação e um crime contra a vida, mas existem locais mais ou menos liberados pela Uma só Lei, que é o único código de condutas de Ascensor.Há alguns restaurantes que servem bebidas, é verdade, com baixo teor alcóolico e só abrem aos domingos, quando os padres mergulham a hóstia em vinho tinto. Mas, se você procurar bem, em pequenas portinholas entre com&Capítulo 03
A água quase morna escorre pelo meu corpo, descendo apressada e esquentando minhas partes íntimas, que seguro com firmeza. O sabão escorre dos cabelos, adentrando a boca e mordo os lábios, segurando um gemido ao pensar nos lábios polposos de Adrián. Eu devia ter beijado aquele desgraçado.Como um castigo dos céus a água cessa. Sou imediatamente interrompido e passo as mãos no rosto ensaboado, meus cabelos estão cheios de espuma e nem comecei o banho direito! Olho para o cano,
Apenas mais um de muitos. O sentimento de não ser importante está latejando em meu cérebro, um pequeno lembrete do quanto a prova era um teste não apenas de resistência, mas de perseverança. Meus olhos podem ver uma infinidade de aspirantes ao posto de soldado das Forças Armadas da Cidade Vertical, ou, como chamamos VUAF1. Era desanimante!— Vocês viram aquela garota?! — Um soldado de barba que estava avaliando o meu grupo comenta, interrompendo as gritarias de “mais um,
— Perdeu a cabeça? — Adrián tem os olhos castanhos e adoráveis como uma arma na minha direção. Um sorriso idiota estampa meu rosto por conseguir sua atenção. — Devolva agora. Depois que mostrei a ele a latinha, escondi nas roupas. Recebemos chaves, uniformes e fomos encaminhados para um dos vestiários. O local era especialmente limpo, com cheiro de shampoo, com um pouco de névoa causado pelo banho dos oficiais que estavam trocando de turno.
— A Doutora já vem. — A recepcionista diz com um sorrisinho. — Obrigado. — Giro para trás, apoiando os cotovelos no balcão. O hospital é o mesmo para os soldados e para as pessoas dos outros setores. Exceto o Andar Alfa, é claro. Como Adrián foi trazido pelos soldados, ninguém se importou com o fato de ele ser atendido como um aspirante ao Exército, o colocaram em um dos quartos naquele setor destinado ao Andar Gam