Apenas mais um de muitos. O sentimento de não ser importante está latejando em meu cérebro, um pequeno lembrete do quanto a prova era um teste não apenas de resistência, mas de perseverança. Meus olhos podem ver uma infinidade de aspirantes ao posto de soldado das Forças Armadas da Cidade Vertical, ou, como chamamos VUAF1. Era desanimante!
— Vocês viram aquela garota?! — Um soldado de barba que estava avaliando o meu grupo comenta, interrompendo as gritarias de “mais um, mais um” enquanto estávamos fazendo flexões em uma barra de ferro.
Meu corpo está assolado por um cansaço sem igual. Os músculos não aguentam levantar mais nem uma pena. Estou um pouco chateado que perdi de vista meus amigos, Aki e Hiro; cada um foi designado para um local diferente de treinamento, em grupos distintos. Meu tamanho e peso me colocou em outro patamar.
— Ela está batendo as pontuações da Capitã Rojas. — O soldado designado para ajudá-lo continua.
Os trintas caras corpulentos, que estão no mesmo treinamento que eu, se esgueiram pela cerca tentando ver o que está acontecendo em outra sala de simulação no Andar Plebeu. Largo a barra de flexão e me aproximo da grade, limpando as mãos suadas na calça. Minhas roupas ficaram amontoadas no canto da sala de treinamento e ali o cheiro é de ar-condicionado, suor e aço.
O pouco que pude ver do Andar Gama é uma série de corredores amplos interligados por pontes de aço e vidro, de onde podemos ver a magnitude do andar. Ali é como uma cidade do Exército: há o quartel e a parte residencial, além de pequenos comércios específicos e área de lazer, especificamente divididos para não se misturarem. Infelizmente, não deu para ver muito, estava uma confusão de pessoas entrando e uma esteira lotada de aspirantes recebendo etiquetas de identificação com números sendo colados em suas barrigas, cada um indo para um lado diferente. O meu número é 7900. Ouvi dizer que são mais de dez mil candidatos este ano para apenas mil vagas.
Porém, ali em cima, vejo algo que me agrada. Em meus lábios se formam um sorriso plácido ao reconhecer a aspirante que está dentro de uma bola de vidro, usando óculos de simulação que fecham quase todo o seu rosto, o corpo preso em fios suspensos, batalhando contra oponentes que só ela pode ver. Sua agilidade é impressionante e, ao redor dela, outros soldados e aspirantes, homens e mulheres, estão apenas assistindo abismados enquanto acompanham a simulação por um pequeno monitor em frente à bola de vidro, que o instrutor observa de olhos arregalados.
A aspirante de cabelos escuros presos em um coque sobe e desce pela bolha, como se ali a gravidade tivesse um funcionamento diferente; é uma tecnologia incrível. Em suas mãos, há um rifle acoplado aos fios do simulador e ela se abaixa e desvia, atira, tudo como se estivesse mesmo fazendo aquilo. É um simulador que mais parece uma bolha de sabão gigante. O “tanque”, como chamam, dizem que é uma nova tecnologia de realidade virtual, porém, se você se ferir no simulador, seu corpo sente o efeito de verdade.
— Vocês são bundas-moles mesmo! — O nosso treinador grita, girando e cortando o minuto de folga. Consigo ouvir alguns homens suspirando de cansaço, alguns bem mais cansados que eu.
— Voltem para seus lugares! — O outro oficial barbudo e uniformizado berra.
Os aspirantes rapidamente voltam para suas posições, levantando pesos, arremessando objetos pesados e eu volto para a barra de flexões, dessa vez um pouco mais inspirado do que antes.
— Andem, seus molengas, vão deixar uma mulher vencer vocês?! — Nosso treinador bigodudo berra mais forte. — O que tem entre suas pernas?!
Tenho de conter a vontade de revirar os olhos. O exército exércitoé um mundo masculino, cheio de piadas ultrapassadas que, para o setor onde eu moro, passa dos limites do aceitável. O mundo dos homens é um tanto opressor, especialmente em uma cidade que espera que a mulher seja submissa aos homens, sobretudo no matrimônio.
Ver minha melhor amiga quebrar as pontuações de uma capitã - outra mulher – renomada foi como combustível em minhas veias. Aki sempre foi do tipo que enfrentou homens e mulheres olhando-os na mesma altura, ela não se importa com o seu oponente, ao contrário, se esforça bastante para estar acima de todos. Inclusive, foi devido à sua garra que eu e Hiro continuamos a nos esforçar, treinando. Ela me fez entender que não importa quem seja o meu oponente, é um oponente e eu devo encará-lo como tal: analisando suas vantagens e desvantagens, usando um pouco de lógica e força de vontade.
Concentro-me nessas lembranças. Os dias em que eu estava quase morrendo e mal conseguia ficar em pé, enquanto Aki gritava que eu ia conseguir e não podia desistir.
E não posso!
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Pensou que por que eu estava inspirado o treinamento ia ser mais fácil? Não, nem um pouco. A VUAF é uma força tática especial que tem de lidar com coisas pesadas em Ascensor. Não apenas casos de assassinatos no setor de inteligência, mas manusear material radioativo e realizar consertos pelas instalações, conter revoltas e proteger o perímetro.
Os soldados são treinados de forma intensa e eu estava apenas provando a pontinha daquele iceberg; mesmo assim, já estava absurdamente impressionado com o nível de desafios a enfrentar. Depois da prova de esforço físico, quando nossos músculos já não aguentavam mais nada e se pareciam com uma pasta melequenta de tão cansados, fomos realizar alguns treinamentos ainda mais pesados: atravessamos um circuito de corrida com obstáculos em chamas, pilares que se moviam sozinhos com pontas afiadas, enfim, uma cilada para ratos cheia de armadilhas. Precisamos colocar luvas, segurar um cano fervendo, fomos inseridos em um ambiente simulando as beiradas de um vulcão.
Vi homens maiores do que eu desmaiando, sufocados com a fumaça no simulador de incêndios, mas eu consegui salvar a criança e o bebê, o que me fez ser aplaudido pelos outros. Depois, mandaram-nos mergulhar em um tanque e cronometraram quanto tempo embaixo da água gelada éramos capazes de suportar sem respirar. Alguns sufocaram, sendo retirados às pressas dos tanques. Quando achei que não aguentaria mais e já ia apertar o botão para me retirar da água, outros cinco o fizeram. Eu aguentei mais cinco segundos contados na cabeça e foi o suficiente para pontuar e passar para a próxima fase.
Ufa, essa foi por pouco!
E por fim, quando a minha sala de trinta caras possuía apenas dez aspirantes ainda inscritos e capazes de passar para a última fase, nosso instrutor mandou-nos tirar toda a roupa.
— Dispam-se. — Com os olhos frios, o bigodudo ordena erguendo uma mão para fora do fuzil. — Tudo o que vocês usam coloquem nas laterais e subam nos tanques. Vamos ver quanto frio vocês aguentam. — E um sorriso sádico surge em seu rosto.
Depois de um tempo aquele fuzil na mão dele não se torna menos assustador, parece até que vão matar você se não cumprir a ordem e então, rapidamente, me aproximo da beirada e começo a tirar a roupa. Olho para meus rivais. De toda nossa turma vão escolher apenas dois para a próxima fase e eu preciso ser um deles.
Minha sorte: mais pelo no corpo que eles, mais cabelo e barba. Tenho uma vantagem contra o frio. Além disso, minha avó sempre dizia que nossos ancestrais eram de um povo das neves. Espero realmente que as memórias sinápticas de geração em geração se transformem em uma vantagem sólida agora.
— Ouvi dizer que um cara congelou uma vez. — Do meu lado, um aspirante fortão de cabelos escuros e olhos claros, avisa. — E morreu.
— Wow. — Um outro ruivo avisa. — Morreu na hora?
— O coração para de bater, entende? — O cara de cabelos escuros continua explicando. — Você começa não sentindo o corpo, a pele. No princípio, pode sentir até calor, mas é apenas o cérebro não entendendo o que está acontecendo. — Bate a mão na têmpora, indicando a cabeça. — Você está morrendo de frio. E é aí que as pessoas acham que está tudo bem, param de se preocupar em se aquecer. — Ele olha para os primeiros a irem para o tanque, segurando as partes íntimas com vergonha. — Vejam aqueles tontos, com as mãos nos pênis! Não é lá que precisa funcionar agora, não é?
— Cara, prefiro morrer que ficar sem ereção. — O ruivo avisa, se afastando.
Eu apenas aceno para o de olhos claros, tirando as calças e guardando dentro da minha jaqueta, me preocupando em checar se a cigarreira está lá. Eu não sei por que motivos a trouxe, acho que fiquei com medo de Sidda mexer nela… Mas e se isso aqui - bem no quartel - for mais perigoso? Eu não sei que diabos aquele garoto poderia ter nestes chips e, certamente, se havia se descartado deles quando soldados apareceram, parecia uma péssima ideia trazer para cá.
Tentei não me demorar muito escondendo tudo e fui até onde os outros aspirantes estavam. O cara de cabelos escuros e olhos claros que falou comigo colocou as duas mãos no corpo, sobre o coração, acho que para reter o calor. Fiz o mesmo. Não sei, me pareceu mesmo mais sensato.
No chão, havia marcas para encaixar os pés e elas se moldavam perfeitamente ao tamanho dos seus. Um vidro grande surgiu, nos colocando em tubos de ensaio gigantes, e eu me senti um maldito experimento naquele momento. Logo vi no topo do tubo um pequeno monitor projetando meus sinais vitais.
— Estão vendo essas marcas no chão? Iremos monitorar seus sinais vitais, porque se começarem a delirar, ao menos estarão em pé, não é mesmo? — O soldado bigodudo falou. — Vamos começar com dez graus Célsius, isso mesmo, positivo, e haverá uma queda de um grau por minuto. Claro que para evitar o congelamento imediato de seus corpos, quando chegar a dez graus negativos, esperaremos um tempo até voltar a cair. Aqueles que conseguirem aguentar mais tempo nesses aquários se tornarão aptos a concorrerem para as vagas de soldados. Boa sorte, senhores.
— Obrigado, capitão! — respondemos em uníssono.
Rapidamente sinto um vento gelado nas costas e parece que o friozinho incômodo é apenas o começo do meu sofrimento. Tento não olhar para o monitor que mostra a quantos graus eu estou sendo exposto. Penso que, se eu não olhar, vou poder enganar a mente; pode ser que esteja menos vinte e eu me sinta como se estivesse na praia. Isso, praia… Vi fotos sobre a Praia que fica no Andar Alfa. É para poucos, entende? Um local com água imitando os antigos mares que foram extintos e uma vista tão longa que o simulador do céu se perde na água. Eu gostaria de ver esse lugar ao vivo um dia, quem sabe quando eu me tornar general? É sonhar demais? Não sei, mas mantenho minhas metas altas, mesmo sem expectativas.
Começo a sentir os efeitos do frio no corpo e escuto alguns gemidos vindos dos outros tubos. Fecho os olhos, imagino um cobertor ao redor dos meus ombros. Eu vou conseguir, eu vou conseguir… Ou não. Está frio demais!
Meu corpo começa a ficar nulo, como aquele outro aspirante disse que começavam os estágios do perigo. Escuto barulhos, muitos barulhos, um dos caras ao lado está rindo como doido e dizendo que quer geleia. Ele está delirando. Eu tento manter a minha mente sã, pensar em algo totalmente lógico e começo a contar de um a cem, mas a mente está devagar, o que vem depois de cinquenta e seis?
Abro os olhos e me desespero. Eu não enxergo mais nada, a parede de vidro congelou e o monitor ficou branco. Meu corpo mesmo está todo coberto de gelo e flocos de neve e meus cabelos balançam com um vento artificial poderoso. Mantenho as mãos no coração, apertando mais, tentando esquentar mais. Acho que vou morrer de frio!
Escuto apenas um barulho alto, como algo explodindo e os tubos descem. É quando o calor da sala me atinge de uma forma ótima, aconchegante. Terminou? Ainda bem, meu nariz está dolorido e não sinto cheiro de nada, mas especialmente, nem consigo sentir que estou vivo.
— Senhores. — O soldado de bigode avisa. — Seremos interrompidos a pedido do Cardeal-General Costa. Ele precisa de um voluntário muito disposto a passar por uma prova extra.
Tiro a neve do rosto e enxergo, com dificuldade, os soldados a minha frente. Meu coração acelera bombeando sangue por todo o meu corpo com adrenalina, lembrando-me que estou bem vivo. Estou delirando ou realmente estou vendo essas pessoas a minha frente?
Cardeal-General Costa é um homem famoso no Exército. Dizem que ele veio de uma família de cardeais e certamente herdou o seu posto, mas ele fez coisas incríveis para o exército, mais tecnologias e controle, além de ser conhecido por fechar com as próprias mãos um setor radioativo, salvando muitos homens e mulheres na época. Ganhou uma medalha do Grandapastor por isso e todos vibraram quando ele foi nomeado ao posto de General. Ele é como uma lenda viva! Mas não parece nem um pouco com o estilo de super-homem que se espera: seus cabelos são grisalhos, seus olhos escuros contornados pelo cansaço e os sulcos em sua pele são rugas que não cabem certamente em sua meia-idade. Ele parece mais velho, mais magro e mais indisposto do que se espera de um homem que foi capaz de vencer muitas batalhas em Ascensor.
Porém, não é a aparência cansada do General que me incomoda, mas um dos cinco soldados que estão ao lado dele, o aspirante de roupas escuras e o número 101 impresso na etiqueta, colado na barriga. Eu o reconheço com espanto, abrindo a boca cheia de neve e é o que me faz cobrir as partes íntimas imediatamente.
Adrián.
Os outros soldados seguram rifles, estão uniformizados, não parecem aspirantes. E certamente nem Adrián é um aspirante como nós; enquanto todos nós usamos roupas cinzentas do kit, ele está com um conjunto de outra cor, uma cor mais nobre: azul-escuro.
— Sobraram poucos de vocês e o desafio que tenho a oferecer pode ser uma grande chance. Se vencerem, passam direto para uma das vagas, mas se não vencerem, perdem tudo. — O General Costa fala.
Eu vejo Adrián levantar os olhos como se estivesse entojado e me surpreende que ele faça isso na frente do General.
— Então, quem se voluntaria? — O soldado bigodudo pergunta.
Ninguém se mexe, nem mesmo eu, atônito por ver Adrián e, especialmente, quando os olhos dele finalmente chegam em mim e ele entreabre a boca, me reconhecendo. Ainda que seja de surpresa, eu gosto de vê-lo e especialmente quando seus olhos percorrem todo o meu corpo, desenhando meu quadril, minhas coxas. É um esforço que ele faz para tirar os olhos de mim e encarar seus sapatos.
— Muito bem, façamos o seguinte, cinco de vocês seriam convocados para uma próxima fase, não é verdade? — O Cardeal então olha para o capitão do treinamento. — Desses cincos, quero o melhor soldado, Capitão.
— Aqui senhor, os rankings da última prova. — O outro soldado, o auxiliar barbudo, é quem se aproxima mostrando uma prancheta eletrônica. — Einar Heidrek.
Ai, mas que droga! Eu estava na frente e deveria ter todos os motivos para comemorar, porém, ser chamado nesse instante não parece o melhor dos mundos. Dou um passo à frente, mesmo assim.
— Muito bem, vista-se. — O Cardeal-General me encara e vejo Adrián cruzar os braços. — Venha comigo. Capitão.
Os soldados batem continência e eu coloco a cueca e a calça rapidamente, o restante saio levando na mão, equilibrando como posso, e descalço. No corredor de piso frio, os soldados cercam o Cardeal-General, eu e Adrián caminhamos lado a lado. Aos poucos, meu nariz volta ao normal e eu posso sentir a fragrância que ele usa, deliciosa.
— O que está acontecendo? — pergunto baixinho para ele, que parece não me ouvir; fica andando com o queixo erguido e olhar perdido adiante. — Adrián.
— Não. — Ele olha para mim de repente, como quem me repreende por chamá-lo pelo nome.
Leio sua etiqueta colada na barriga: em cima do número 101, vejo o nome dele marcado como “A. Costa-Montoya”. Sei que os descendentes hispânicos usam o primeiro sobrenome do pai e o último da mãe. Espera! Costa?! Igual ao Cardeal?
— Você é filho do General? — pergunto abismado.
— Infelizmente. — Adrián responde com cara de indigestão.
— Por que não disse antes? — interrogo. — Sabe como estou encrencado neste momento?
— Algum problema, vocês dois? — O Cardeal-General vira-se para nós e Adrián para de andar como se levasse um susto. — Por acaso se conhecem para ficar conversando?
— Não senhor. Nunca o vi na vida. — Adrián responde.
É com uma pontada na alma que percebo que suas palavras me ofenderam. É isso o que eu sou para ele? Ninguém? Apenas mais um no meio de uma multidão de pessoas? Tudo bem que ele queira fingir que nada aconteceu, mas ao menos dizer que me conhece! Ou vai manchar sua reputação no Andar Nobre?
— Então sobre o que estão papeando? — O Cardeal-General insere os olhos ameaçadores sobre nós, transitando de Adrián para mim.
— Desculpe, Senhor, estava curioso com o tipo de prova que iremos enfrentar — falo rapidamente, abaixando a cabeça.
— Quanto a isso será fácil. — O Cardeal-General Costa abre um sorriso de puro deboche e não entendo o porquê desse tom. Ele ergue a mão para apontar Adrián. — Meu filho aqui resolveu recusar um cargo na Inteligência. Sabe o que ele me disse?
— Não senhor. — Balanço a cabeça, detestando o tom de deboche.
— Ele acha que pode se juntar à Infantaria! Olhe bem para ele, um garoto mimado que sempre teve tudo nas mãos...
Fico totalmente desarmado por suas palavras. Eu sinto que ele quer provocar raiva em mim, para tornar as coisas mais difíceis para Adrián por ter recusado um cargo melhor e, para ser sincero, eu fico um pouco. Ele tem mesmo tudo nas mãos!
— O senhor veio da Infantaria. — Eu lembro o Cardeal-General, acho que ele está sendo duro com o filho, afinal, todos queremos seguir os passos de nossos pais, especialmente quando são como heróis para nós. — Digo, é admirável. Li tudo sobre a sua história.
E não estou mentindo.
— Você é corajoso e tem um porte aceitável, vi sua pontuação e dará um ótimo soldado. — O General-Cardeal elogia, o que me deixa enormemente contente. Caramba, é o General me elogiando! — Mas não Adrián. — Insere como uma ofensa, o que corta um pouco da minha alegria. — E já que não passa de um cabeça-dura, esse é o desafio. Permito que faça parte do exército exércitose for capaz de enfrentar todas as provações como um aspirante normal e passar na seleção.
— E passei. — Adrián o enfrenta, coisa que somente o filho faria com o General.
— Ainda não. — O Cardeal-General continua com sua expressão séria e coloca as mãos na cintura, erguendo um pouco o queixo, arrumando a postura digna de seu cargo. — Debaixo da água, vocês terão de soltar-se de correntes, emergir e apertar um botão. Quem fizer isso mais depressa, vence.
— Tanto faz. — Adrián revira os olhos e cruza os braços, irritado.
— Fui claro? — O Cardeal-General olha para mim, exigente.
— Sim senhor — digo intimidado com o seu olhar e sua análise.
— Ótimo. Enquanto arrumam a sala em que será feito o desafio, coloquem as roupas de mergulho no vestiário. — O Cardeal-General vira-se, voltando a caminhar.
Olho para Adrián, mas ele desvia do meu olhar, indisposto a lidar comigo, o que me magoa mais do que qualquer coisa. Então, como um tolo, para chamar sua atenção, mostro a ele com um sorriso maldito estampado no rosto aquela latinha que ele deixou para trás, por entre minhas roupas, como se ameaçasse expor.
1 VUAF é a sigla para Forças Armadas da Cidade Vertical na língua local: Vertikala Urbana Armitá Fortis.
— Perdeu a cabeça? — Adrián tem os olhos castanhos e adoráveis como uma arma na minha direção. Um sorriso idiota estampa meu rosto por conseguir sua atenção. — Devolva agora. Depois que mostrei a ele a latinha, escondi nas roupas. Recebemos chaves, uniformes e fomos encaminhados para um dos vestiários. O local era especialmente limpo, com cheiro de shampoo, com um pouco de névoa causado pelo banho dos oficiais que estavam trocando de turno.
— A Doutora já vem. — A recepcionista diz com um sorrisinho. — Obrigado. — Giro para trás, apoiando os cotovelos no balcão. O hospital é o mesmo para os soldados e para as pessoas dos outros setores. Exceto o Andar Alfa, é claro. Como Adrián foi trazido pelos soldados, ninguém se importou com o fato de ele ser atendido como um aspirante ao Exército, o colocaram em um dos quartos naquele setor destinado ao Andar Gam
— Não sei o que farei, agora que não passei na VUAF. — Hironobu está desolado, seus cabelos estão mais bagunçados que o normal. Deveríamos estar comemorando, mas sou incapaz de dizer qualquer coisa para confortá-lo. — Precisávamos tanto, por causa do bebê.Sua voz engalfinha na garganta. Ele tenta segurar a explosão de choro. A sala de espera do hospital na ala destinada aos pacientes do Setor Épsilon está abarrotada de pessoas, não há lei
— Você pode me chamar de Charo, não precisa ficar o tempo todo colocando doutora na frente, Einar. — A voluptuosa médica senta-se na poltrona marcada com a letra e o número correspondente no cartão de cinema.No suntuoso hall de tapete vermelho e creme, soldados conferiam os cartões. Vi pessoas que
O uniforme verde de recruta do Eexército me causava orgulho e eu estufava o peito diante do espelho como alguém realmente importante. Prendi os cabelos em um coque, tentando me parecer mais focado.Abri a porta do quarto e pisei para fora, em um corredor pequeno. O aroma de pão tosta
Mais fascinante que açúcar. Os lábios quentes, molhados e deliciosos de Adrián eram viciantes. A luz avermelhada da red-room privativa tocava sua pele cálida como uma exótica pintura. Em baixo de mim, Adrián parecia uma criatura feita de puro fogo; ofegante, com os cabelos compridos grudados na testa e arrastando pelo lençol encardido
O soldado municiou o rifle, fazendo um estalido seco ressoar na escuridão. Meu coração congelou e o tempo tornou-se mais lento que a minha mente. Foi como ver um filme passando diante dos olhos, pensei em Sidda e na promessa que fiz aos meus pais de protegê-la. Eu falhei. Fiquei parado, apenas esperando o tiro que acabaria de uma vez por todas com a minha vida. Senti apenas o impacto lateral na perna. Adrián usou uma das mãos, me empurrando para
— Onde é que você estava, seu irresponsável!? — Maria, irmã de Adrián, estava parada em frente à porta de um casarão, com os braços cruzados por cima de um vestido longo de gala, usando joias e sapatos finos. — O aniversário de tia Adelaide já começou e todos estão morrendo de preocupação! Espere, quem são essas pessoas com você?A recepção n&atil