Onze anos antes
Sentei na beirada da cama do meu pai. O homem, antes ativo, agora vivia na maior parte do tempo sedado. Eu, de verdade, preferia assim. Ao menos ele não me assustava, como quando começava a gemer e gritar à noite por causa das dores. Ele usava uma máscara de oxigênio para ajudar a respiração, seus braços estavam ligados ao acesso que levava a seu corpo a medicação; havia também monitores que apitavam a todo o momento. Eu ainda não entendo muito bem isso tudo, o que sei é que ele está muito doente.— Eu sei que você vai ficar bem, papai — disse, enquanto beijava o seurosto.Peguei meu ursinho Teddy e deitei ao seu lado, encolhida. Eu vestia um blusão de bolinhas que ia até a canela, meus cabelos estavam na altura das costas. Eu adormeci por um momento, e acordei com sua tosse seca.Não.Não.Não.Eu não podia suportar aquilo, ele claramente sentia dor. Onde estava Clarissa? Ela costumava ser uma enfermeira carinhosa, mas eu via claramente que ela não tinha mais o mesmo cuidado com meu pai. “Talvez, ela tenha desistido” pensei, enquanto chorava baixinho à beira da cama. Senti sua mão que, lentamente, se apoiou nas minhas costas.— Nicole? — disse com a voz rouca, soltando outra tosse.— Sim, papai. — Levantei lentamente e sentei ao seu lado.— Não chore, pequena — ele disse com dificuldade. — Você foi a melhor coisa que já me aconteceu, eu te amo tanto.Fechei meus olhos quando papai passou a mão pelo meu rosto, limpando as minhas lágrimas.— Você merece todo amor do mundo. — Tosse. — Um dia alguém vai te amar tanto. E vai ser tão perfeito... Tão puro. — Tosse.— Por favor, papai, pare de falar, não está te fazendo bem.— Sempre me faz bem, estar com você. Eu sinto muito por não ter estado mais tempo.— Tá tudo bem. — Tentei fingir um sorriso para deixá-lo mais confortável.— Não está, filha. Eu sinto muito... Eu sinto muito. — Ele se agitou e, em seguida, engasgou ferozmente. O monitor começou a apitar.Eu me levantei correndo para ir atrás de Clarissa. Quando desci da cama, dei de cara com ela, que passou por mim com pressa e começou a mexer na medicação. Foi como se o tempo passasse em câmera lenta. Eu a via gritando, mas não conseguia entender nada. Tentei, sair mas parecia que meus pés estavam agarrados ao chão. Meu rosto gelou. Meu olho vagou novamente para o meu pai. Ele estava branco, seus olhos abertos, e tinha sangue na boca. Papai começou a tossir sangue.— O que está acontecendo? Papai! — gritei, enquanto chorava.— Tirem ela daqui! Tirem ela daqui!Não lembro quem me tirou de lá, se adormeci ou desmaiei. Eu apenas não lembro.Acordei de manhã e estava com a mesma roupa de antes. Minha cabeça doía. Olhei para a cômoda, havia uma roupa preta arrumada em cima. Levantei e fui direto para o quarto do meu pai. Empurrei a porta. Estava tudo limpo. Ele não estava lá. A cama estava devidamente arrumada com um lençol branco. Não havia mais monitores, nada. O cheiro de alvejante era tão forte que ardeu meu nariz. Dei alguns passos para trás e esbarrei com uma mulher de uns vinte e cinco anos, loira, bonita.— Olá, sou Summer — ela disse enquanto estendia a mão para mim.— Olá, Summer — disse com estranheza. Não apertei a sua mão. — Onde está o papai? — Ela fechou a boca em linha reta, em uma cara de poucos amigos, e depois sorriu. — Onde está a Clarissa? — disse, olhando em volta, à sua procura.— Nós não vamos mais precisar dos seus cuidados.— Mas ela estava cuidando do meu pai.— Seu pai também não vai precisar de mais cuidados.— Por quê? Onde está o meu pai?— Você está muito agitada, mocinha. Eu preciso que você se troque. Nós precisamos sair — disse de forma gentil, porém, não dando espaço para discussão.Saí, entrei no meu quarto e me troquei.Horas depois, andávamos por um jardim que eu não conhecia. Estava achando estranho. Onde estavam todos? Onde estava Madeleine? Eu, Mateus e Summer seguimos até um senhor desconhecido. Ele lia palavras que eu não tinha muita compreensão. Sentia-me agoniada, sem saber o motivo. Meu coração começou a doer. Eu só queria ir embora.Senti mãos geladas apoiando nos meus ombros. Olhei para cima e Summer estava lá, com o mesmo sorriso aconchegante.— Sinto muito, querida, está na hora de dizer adeus.Olhei para ela, era óbvio que algo acontecera com papai, mas por que ninguém dizia nada? Ela pegou minha mão. Eu instintivamente não quis ir, aquilo não parecia bom. Ela me puxou e eu neguei com a cabeça.— Vamos, querida, por favor! — Ela me encarou.Desisti de encará-la e acabei cedendo. Caminhei atrás do senhor que discursava há pouco e meus olhos correram para o meu pai. Ele estava deitado em um caixão preto, os olhos fechados. A feição era tranquila, não havia sangue ou dor.— Papai — chamei em voz baixa, quase em um sussurro. — Papai... — chamei novamente, não tendo certeza se dessa vez a minha voz havia saído.— Você só precisa se despedir, querida. — Summer me olhou com grandes olhos castanhos.— Não quero me despedir. — Olhei suplicante para ela.— Não dificulte as coisas. — Ele segurou os lábios em linha fina, claramente perdendo a paciência— Não! — Gritei, fazendo com que algumas pessoas em volta se virassem para mim. — Papai, acorde! Vamos para casa! — Tentei sacudi-lo. Minhas mãos foram impedidas. — Me solte! — Olhei para cima, enquanto Mateus me segurava. — Por favor, Mateus! — apelei. Lágrimas rolavam em abundância pelo meu rosto.— Eu sinto muito, Nicole. — Ele nem olhou nos meus olhos. Começaram a descer o caixão. Eu entrei em pânico. Como eles poderiam tê-lo posto ali? — Papai! Saia daí! Papai, por favor, levante!Consegui me soltar e alcançar o caixão. Soluços saiam da minha boca. Mateus me agarrou novamente e me pôs sobre os ombros, eu bati nele. Gritei, mas nada adiantou, ele estavam me levando para longe do meu pai.— Por favor, Mateus, ligue para Madeleine! Ela vai tirar meu pai dali!— Eu sinto muito, Nicole — ouvi-o sussurrar. — Eu sinto muito.Atualmente Você é tão perfeito; seus olhos azuis, os lábios sublimes desenhados com propósito de beijar uma mulher nos lugares mais secretos. O cabelo da cor do sol. O seu rosto simétrico e perfeito. O corpo escultural de um capitão do time de Lacrosse. Juro, não só a sua beleza, mas a sua benevolência é o que faz com que todas as garotas te desejem. — Nossa Nicole! — uma das minhas melhores amigas, Alice entrou no meu quarto. Ela não havia feito nada além de me olhar encantada. Mas minha respiração ofegante e o meu rosto corado entregavam os meus pensamentos anteriores. Eu me senti imediatamente desconfortável, como se alguém estivesse espionando meu pensamento mais íntimo, ou tivesse descoberto meu segredo mais sujo. Mas nós não éramos assim, simplesmente não éramos. Alice era minha melhor amiga, não me julgaria por me apaixonar por alguém que nunca nem falou comigo. Olhei para o meu reflexo no espelho. O vestido preto que usava não era muito a minha cara, Vivian, minha outra mel
Não era o que eu queria, era a escolha dela, mas que alternativa eu tinha? Diferentemente dos pais de Vivian e Alice. Elas podiam escolher, os pais eram mais normais. Apesar disso, a mãe delas não tinha saído na Forbes como uma das mulheres mais poderosas do estado de NY. Minha mãe era poderosa, dona de uma rede de joalherias mundialmente conhecidas. Seus pais, meus avós, não só criaram como ampliaram a empresa com muito esforço. Dizem também que meus bisavós eram garimpeiros, e tinham o grande sonho de crescer no império da produção de joias. E assim, de uma simples ideia, surgiu uma empresa multimilionária, passada de geração a geração. Quando minha mãe teve idade, ela assumiu a empresa dos meus avós, triplicando os lucros com ajuda do meu pai, que era um CEO. Oque para uns era uma vida de luxo e glamour era para mim um verdadeiro pesadelo. Nesses últimos anos, não fui capaz de reatar ou construir uma boa relação com a minha mãe, pois ela viajava frequentemente a negócios e pouco s
O trânsito estava lento no trajeto para o chalé Petrelli. Era a primeira vez que Luck dava uma festa que não era em um club do seu pai, depois do horário que fechou, em uma clareira ou em um campo de golf. Dessa vez, era oficial, ele estava usando um chalé do seu pai que ficava no interior da cidade para dar essa festa. Por isso, ela era mais especial que as outras. O caminho iluminado, ladeado por pequenos arbustos cortados no formato do brasão da família, a grande fonte iluminada com luzes neon de frente para o hall de entrada. Era tudo fantástico, quase tão grande quanto a escola que, ultimamente, era minha casa. O carro parou. Apertamos as mãos umas das outras e esperamos que Mateus abrisse nossas portas. Respiramos, fundo e descemos, despedindo-nos de Mateus, que apenas acenou por não estar feliz por estarmos ali. Eu não sabia como ele não contou para minha mãe, mas acho que tinha haver com Vivian ter ameaçado contar sobre o caso que ele tinha para mulher dele. Seguimos mansão
Cortei-a logo quando percebi para onde estava seguindo a conversa. — Olha, eu sei que vocês se preocupam, mas eu já sou grandinha. Não é como se fosse rolar algo entre a gente, a gente nunca se falou. — Disfarcei olhando para o lado, como se aquelas palavras não me magoassem. — Ei, amor você sumiu. — Um rapaz bonito chamou atenção de Alice, cortando bruscamente a conversa. Ela se virou e beijou seus lábios com doçura. Percebi que esse era o mesmo cara que ela estava antes. — Nicole, esse é Alec. — Alec, essa é minha fiel escudeira Nicole. Cumprimentamo-nos. Eles se olhavam e se beijavam e eu lhes dei privacidade. Não que eles se conhecessem há muito tempo, mas ela parecia bem à vontade com ele e eu não quis interromper. Ela gesticulou e percebi que queria ir, mas não queria me deixar sozinha. Não seria justo ela deixar de sair com alguém por causa da amiga sem par. Alguns garotos tinham até chegado em mim. Eu não era estúpida, estava gata, mas quem eu queria sequer tinha me o
Duas horas mais tarde. Caminhei pelo grande jardim do chalé Petrelli. Tendas gigantes adornavam o jardim, protegendo os convidados do prefeito do sol escaldante do Texas. Mesas brancas estavam espalhadas, haviam garçons servindo bebidas e canapés. Havia uma foto enorme do prefeito estendida e a bandeira enorme da bandeira solitária do Texas ao lado da dos Estados Unidos. Tudo parecia muito diferente da última vez em que estive ali. Segui andando vagarosamente à procura de Luck, tentando não chamar atenção, o que não estava funcionando, já que estavam todos arrumados tão exageradamente, e eu apenas de regata preta, calça jeans e tênis Converse, como de costume. — Não é permitida a criadagem sem estar devidamente uniformizada deste lado do evento. — Um senhor alto e magro me alertou, antes que eu continuasse minha procura na parte externa da casa. — Err... eu não sou... estou com Antony... — menti, quando o amigo de Luck da festa anterior se aproximar, tomando uma taça de champanhe.
— Mais bebida? — Ele me ofereceu, andando em direção a um pequeno bar no luxuoso quarto. Ligou o pequeno som, onde tocava Miss you love, do Silverchair. Não sei porque, mas a batida calma da música me relaxou um pouco. Pensei em negar por já ter bebido muito além do que eu poderia aguentar. Eu preten— Sinto muito. — Engulo um pouco da minha humilhação, minha voz encharcada de vergonha crua. — Eu não tenho costume de beber. Mostro a ele a garrafa de água. — Realmente, — ele abaixou a cabeça para falar no meu ouvido. — É a primeira vez que vejo você bebendo em uma festa minha. Isso quer dizer que ele me notou antes? Isso não pode mesmo estar acontecendo. Ignorando a queimadura traiçoeira em minhas bochechas, procuro dizer algo ousado. — Na verdade, eu tô querendo curtir o agora. — Joguei para ele o olhar mais sexy que encontrei. Jesus Maria José! de onde saiu isso? — Hum... uma garota que gosta de curtir os momentos. E o que você gostaria de curtir hoje à noite, Nicole? — Ele desli
Ele se massageou e colocou a camisinha, posicionando-se na minha frente. Eu ainda estava de calcinha. Na mesma hora, meu corpo ficou tenso, e hesitei em abrir as pernas. Mas ele fez isso por mim, as abriu o mais distante uma da outra que podia. Mais uma vez me afastei, com medo do que viria a seguir. Eu não era tola, sabia que a minha primeira vez doeria, mas eu realmente pensei que Luck seria um pouco mais carinhoso, que iria mais devagar. Porque, droga, com um dedo já havia doído para cacete, imagina aquilo tudo. Eu realmente estava com medo...olhei finalmente para cima e depois para o seu membro, e o observei me olhando com olhos curiosos. — Você achou que subiria aqui comigo para quê? Para brincarmos de boneca? Você quis subir, então vamos terminar isso e então você pode ir, mas agora, que tal me mostrar como fode com os outros caras? Minha mandíbula apertou com força, é uma maravilha eu não ter quebrado um molar O quê?! Que tipo de garota ele achava que eu era? Eu ainda era vir
Cheguei na entrada da escola e não me surpreendi em encontrar Vivian e Alice do lado de fora, me esperando. Desci do táxi e caminhei calmamente na direção delas. — Nicole, qual o seu problema? — Vivian correu de encontro a mim, abraçando-me com força. — Estávamos quase ligando para a polícia. E pior, tivemos que inventar a desculpa mais louca para que Mateus e a supervisora acreditasse e não relatasse isso a sua mãe. Para Matheus falamos que você se sentiu mal e veio para cá antes de nós. Também assinamos sua lista de chegada como se fosse você. Se não, pode apostar que a sua mãe já teria desembarcado aqui. — Nicole, aonde você estava? — Alice aproveitou a deixa para perguntar. — É que, eu conheci alguém. — A mentira flui dos meus lábios. — Nós conversamos até tarde... me esqueci do horário. — Ai. Meu. Deus! Não me diga que transou com um desconhecido? — A boca de Vivian formou um grande “ O” de surpresa. Eu poderia explicar a história, mas estava com uma dor de cabeça que mal me