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2- Regras foram feitas para serem quebradas...ou não

Não era o que eu queria, era a escolha dela, mas que alternativa eu tinha? Diferentemente dos pais de Vivian e Alice. Elas podiam escolher, os pais eram mais normais. Apesar disso, a mãe delas não tinha saído na Forbes como uma das mulheres mais poderosas do estado de NY.

Minha mãe era poderosa, dona de uma rede de joalherias mundialmente conhecidas. Seus pais, meus avós, não só criaram como ampliaram a empresa com muito esforço. Dizem também que meus bisavós eram garimpeiros, e tinham o grande sonho de crescer no império da produção de joias. E assim, de uma simples ideia, surgiu uma empresa multimilionária, passada de geração a geração. Quando minha mãe teve idade, ela assumiu a empresa dos meus avós, triplicando os lucros com ajuda do meu pai, que era um CEO.

Oque para uns era uma vida de luxo e glamour era para mim um verdadeiro pesadelo. Nesses últimos anos, não fui capaz de reatar ou construir uma boa relação com a minha mãe, pois ela viajava frequentemente a negócios e pouco se importava com a filha deixada para ser criada em uma escola para moças. Até meus 8 anos de idade, lembro-me que meus pais me tinham, praticamente como uma família de milionários normais, porém, quando meu pai adoeceu, ela acabou nos estabelecendo em New Braunfels, uma cidadezinha nos confins do Texas por questões médicas. Seis meses depois, ele morreu. Minha mãe me achava grande demais para ter uma babá e, por isso, matriculou-me em um colégio interno para moças, ao norte da cidade.

Foi lá que conheci Vivian e Alice. Que é sinceramente a única parte boa de ter sido deixada para trás por ela. Elas fizeram os meus dias melhores e mais felizes. A minha infância foi difícil, eu me sentia constantemente sozinha, tinha saudades do meu pai; ele foi tudo o que minha mãe não tinha sido: amoroso, atencioso, cuidadoso, um bom pai, mesmo que não estivesse sempre presente. Eu só queria voltar para casa, sentia saudades até da minha mãe, apesar de não termos muita ligação. Constantemente chorava até adormecer. Mas como disse, meus dias foram melhores graças a minhas amigas. A vida melhorou um pouco quando passamos para o ensino médio. Hoje eu esperava que melhorasse um pouco mais.

— Nossa! — Tosse. — O que — tosse — tem aqui? — Tosse.

Alice engasgou depois de beber do pequeno cantil de alumínio que Vivian bebeu e passou para ela.

— Uísque. — Ela sorriu quando pegou a bebida da sua mão e tomou. — Ah, o que é, Nicole? Não me olhe com essa cara, nós vamos para faculdade. — Ela faz um barulho de protesto com a garganta quando deu seu próprio gole na bebida. — Droga, isso é forte. — Ela riu com aquela voz enjoada. — Ninguém vai contar para sua mamãe! — Ela deu uma piscadela generosa para Mateus, que olhava pelo espelho retrovisor, com olhar desaprovador — Ah, vamos! Só um gole! Até a Alice bebeu.

— Depois de quase morrer sufocada! — ela rebateu, sua voz rouca, forçando uma cara feia.

— Eu não sei...

Encarei Mateus, que parecia distraído com o trânsito.

— Ah, quer saber? — Ela usou o app do celular e aumentou o som do carro no último volume, espalhando pelo carro a melodia Complicated, de Avril Lavigne. — E então? — ela levantou uma sobrancelha, como em um desafio.

Bom, eu poderia ter negado, elas não teriam me pressionado. Eu poderia simplesmente dizer que não, mas estava cansada das regras que, mesmo de longe, Madeleine me impunha.

Não saia sozinha!

Não beba! Não fume!

Fique longe de homens, eles só querem uma coisa!

Preserve o seu futuro, você será uma grande CEO quando me substituir!

Eu já calculei tudo, Nicole!

Nicole!

Nicole!

Nicole!

Quase podia ouvir a sua voz.

Mas me diga, como dar ouvidos a alguém que não me criou? Que não fez parte da minha vida? Que me abandonou quando eu mais precisei? Todos aqueles anos sozinha. Quando ela ou sua assistente mandavam simples presentes em datas comemorativas. Quantos aniversários, natais, ações de graças, formaturas passei sozinha. E nunca, nunca fiz nada fora o que ela me mandou. Hoje eu queria que fosse o contrário. Repeti internamente, como um mantra

“Hoje será diferente”.

Alice soltou um suave pigarro, olhando para mim com os olhos lacrimejando, enquanto segurava a garrafa após o seu segundo gole.

— Tudo bem, querida — ela disse, fazendo um leve carinho em minha mão. — Você tem que se sentir bem, não pressionada. — Sorriu docemente.

— Eu sei... — disse em um sussurro, mais para mim do que para elas. — Mas acho que eu quero. — Afirmei incerta.

— Eu só tô cansada de todas as regras. Eu nunca serei destemida como a Vivian e roubarei uma moto. — Sorri, lembrando de uma história hilária em um verão que passamos na casa dos pais de Alice. — Ou serei determinada como você. — Sorrio para Alice. — Mas eu queria ser eu, por um dia. Fazer oque realmente desejo. É por isso que vou beber. — Concluí, afinal, oque poderia ocorrer de tão ruim?

Peguei o cantil e bebi. O líquido quente desceu queimando em minha garganta, tossi algumas vezes e encarei os olhos curiosos em cima de mim. Foi aí que cantei o último refrão da música. Primeiro sozinha, depois, acompanhada por elas.

Why do you have to go and make things so complicated? (Yeah, yeah) I see the way you're

Acting like you're somebody else, gets me frustrated

And life's like this you,

You fall and you crawl and you break and you take what you get and you turn it into Honesty, you promised me I'm never gonna find you fake it

No, no, no

Cantamos em sincronia, gesticulando com as mãos, sentindo nossos ânimos e emoções à flor da pele. Depois rimos, relembramos os velhos tempos, fizemos planos para o futuro, cientes que, dali para a frente, tudo seria diferente.

Só não sabia se seria para melhor.

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