— Meu tio sempre foi um sujeito esperto, daqueles que sabiam como agradar. Ele defendia o papai diante do vovô, e de madrugada ainda se esgueirava até o quarto de papai para levar comida escondida para ele. Além disso, ajudava a copiar as passagens da Bíblia. Ele imitava tão bem a caligrafia dos outros que chegou a escrever dezenas de páginas sem que o vovô desconfiasse. Mas, em algum momento, o tio mudou. Parece que o poder e a ambição realmente podem enfeitiçar e transformar o coração das pessoas. O olhar de Olívia continuava frio e determinado. — Mas, mesmo assim, o papai nunca o deixou na mão. Nunca foi injusto com ele. Enquanto ele, por interesse próprio, prejudicava o Grupo Bastos, será que ele pensou no papai? Ele só enxerga o glamour e os privilégios de ser presidente, mas não faz ideia do quão difícil é manter esse império. Essa questão, se o papai consegue perdoá-lo, eu não consigo! Não vou deixar isso passar! Charles e Gilbert trocaram olhares cheios de significado. El
Bernardo apareceu com olheiras fundas, os olhos injetados de raiva enquanto rangia os dentes. — Você roncou como se fosse um trovão de tempestade! Tá tentando me matar ou o quê? Logo atrás dele, Pietro surgiu abraçado ao travesseiro, soltando um bocejo tão grande que mal dava para entender o que ele dizia, mas isso não o impediu de retrucar: — E você acha que dorme quietinho, é? Se eu ronco, você range os dentes! Quem casar com você vai se arrepender antes do primeiro mês... Vai sair correndo! — Pietro! Bernardo! — Olívia ficou com os olhos marejados, emocionada de ver os irmãos ali. Um arrependimento instantâneo tomou conta dela por ter reclamado deles mais cedo. Como podia ter dito aquilo? Eles sempre estavam ao lado da família quando era necessário. Os filhos da família Bastos sempre foram assim: fortes, unidos e presentes. — Vivia! — Pietro e Bernardo, de repente, esqueceram completamente o cansaço e correram em direção a ela. — Pietro veio no mesmo dia. E o Bernardo f
Os Bastos estavam sérios, seus olhares frios e vigilantes, como se uma tempestade estivesse prestes a cair. Olívia encarava Diogo com um olhar afiado como lâminas, enquanto ele caminhava lentamente em sua direção. A sensação de vê-lo novamente parecia um sonho distante, ou melhor, um pesadelo. Ela jamais imaginou que o amigo de infância, seu antigo "malditinho", como brincava ao chamá-lo, acabaria se tornando o inimigo mais temível de sua vida. O rosto de Diogo estava calmo, mas sua expressão era enigmática. À medida que ele se aproximava, não demonstrava nenhuma falsidade, apenas um sorriso aparentemente limpo e gentil. — Vivia, é um prazer te rever. Estou realmente feliz por isso. Os olhos de Charles escureceram no instante em que ouviu aquelas palavras. Ele imediatamente envolveu a cintura de Olívia com o braço, puxando-a para perto de si. Seu gesto protetor era claro: ele se tornava uma verdadeira barreira intransponível entre ela e Diogo. Deixar Diogo, aquela víbora, ent
Diogo saiu com o rosto tenso, claramente tomado por vergonha e raiva. Aquelas palavras afiadas de Gabriel, sem um único palavrão, eram verdadeiros golpes certeiros. O homem sabia como humilhar alguém com classe. No fim, Diogo não viu outra escolha senão deixar o estojo e sair do hospital com Cauã. — Gabriel, por que você aceitou aquilo? Não precisamos de nada do Diogo! — Olívia estava visivelmente irritada, os olhos queimando de frustração. — E quem garante que isso é mesmo remédio e não veneno? — Eu garanto. — A expressão de Gabriel ficou séria de repente, algo raro para ele, cuja postura sempre fora despreocupada e irreverente. Sua mudança de atitude fez tanto Olívia quanto Charles ficarem em silêncio, atentos. — Eu posso analisar o conteúdo do remédio. Além disso, aquele Diogo pode ser muitas coisas, mas não é estúpido a ponto de aparecer aqui, na frente de todo mundo, com algo que pudesse matar o pai da mulher que ele diz amar. Ele não está tão fora da realidade assim. — Ga
Más notícias pesavam sobre o peito de Olívia como uma pedra de mil toneladas, esmagando-a repetidamente, como se quisessem perfurar seus ossos e pulmões. Cada palavra parecia um golpe cruel. — Vivia, não fica assim! — Charles a puxou para um abraço apertado, segurando-a com firmeza enquanto passava a mão pela sua nuca, pressionando o rosto corado dela contra seu peito. Ele falava com paciência e uma determinação inabalável. — Seu pai vai se recuperar! Hoje em dia, a medicina está muito avançada. Se aqui não der certo, eu vou com você levar seu pai para o exterior. Vamos aos melhores médicos do mundo, de país em país, até encontrarmos uma solução. Confia em mim... Tudo vai ficar bem. — Me desculpem... Vivia... — Maia, que até então mantinha uma postura forte, finalmente desabou. Ela fechou os olhos e deixou as lágrimas escorrerem pelo rosto. — Não culpem o Gabriel... Fui eu que pedi para ele não contar nada. Eu só queria poupar vocês do sofrimento, evitar que ficassem com medo... Pe
No momento em que a ligação foi atendida, Diogo endireitou a postura, sentando-se com a coluna ereta e uma expressão tensa. — Senhor... — Sr. Diogo, no horário do seu país já deve ser bem tarde, não? Ainda não foi descansar? Ao ouvir a voz de quem atendeu, Magnolia, o coração de Diogo apertou. Ele franziu o cenho, surpreso. — Olá, Srta. Magnolia. — Aqui no País M ainda é manhã. O senhor está na casa de Andrew e Fred, ocupado como sempre, e não pode atender sua ligação. — Magnolia respondeu com um tom que misturava desprezo e um sorriso malicioso. — Se tem algo a dizer, pode falar comigo. Eu transmito o recado. Diogo estreitou os olhos, apertando os dedos contra a palma da mão em um gesto de frustração contida. Ele passou anos seguindo o senhor, dedicando-se sem reservas, trabalhando como um cão fiel e leal. Mas, no fundo, ele sentia como se houvesse sempre uma barreira invisível entre eles, uma distância que ele nunca conseguia ultrapassar. Ele sequer tinha certeza se o sen
Aquele silêncio de Olívia, sua força teimosa e contida, sua forma de enfrentar tudo sem chorar ou reclamar, fazia o coração de Charles doer cada vez mais. Ele não sabia por quanto tempo mais suportaria vê-la assim, escondendo a dor de todos, mas carregando o peso como se fosse uma rocha esmagando sua alma. Ninguém sabia ao certo quanto tempo havia se passado quando Gabriel entrou apressado na sala, segurando o resultado da análise nas mãos. — Os resultados saíram. Todos se levantaram de uma vez, como se tivessem sido puxados por um mesmo fio invisível. Olívia foi a primeira a correr até ele, arrancando o papel de suas mãos. — Está tudo certo? — Ela perguntou, com os olhos fixos nos números e gráficos, a incredulidade estampada em cada traço de seu rosto. Gabriel assentiu com um olhar sério. — Inacreditável. O remédio que o Diogo trouxe não tem problema algum. Na verdade, é um medicamento recém-desenvolvido no País M, lançado este ano. É um remédio de última geração, direcio
— Sr. Benjamin, fique tranquilo, a Samara está bem. Benjamin soltou um suspiro de alívio. — E então? Stéphanie fez uma pausa, a voz ficando séria e fria: — Acabei de receber a notícia. A Srta. Dalila foi levada de volta a Yexnard por ordem do Sr. Osvaldo. — O quê? — Os olhos de Benjamin se arregalaram, e a raiva subiu como um incêndio descontrolado. — Como você deixou isso acontecer? Não era para ela estar sendo vigiada? Stéphanie soava profundamente arrependida ao responder: — Nossos agentes não saíram de perto dela por um segundo. Estava tudo sob controle, mas, de repente, ela teve uma parada cardíaca! Nossa equipe ficou com medo de que algo grave acontecesse e a levou imediatamente para o hospital. — Dalila sempre foi saudável, nunca teve problemas no coração! Como pode ter tido uma parada cardíaca? — Eu também achei estranho. — Stéphanie respondeu, com uma mistura de indignação e frustração. — Assim que o incidente aconteceu, ordenei que a informação fosse mantida