Paro o carro em frente a casa dos Ávila.Alice tira o cinto de segurança e me encara especulativa.— Você não vem?Eu respiro fundo de forma sutil e a encaro pensando em uma desculpa plausível.— Eu não posso... É... Lembrei que preciso fazer algo no quartel...— Digo evasivo.Ela me olha por um tempo, mas aceita a minha desculpa.— Temos uma consulta no final da tarde.— Estarei lá querida. — Digo.— Está bem! — Diz evasiva e me dá um beijo rápido, saindo do carro em seguida.Ligo o carro e saio da propriedade, seguindo direto para o último lugar que eu queria estar nesse mundo. Eu preciso vê-la. Olhar em seus olhos. Ouvir da sua própria boca para poder ter a certeza de que ela não está envolvida nessa merda toda. Saber que o incendiário esteve dentro da minha casa na noite passada, tão perto da minha família me deixa sem chão. Ele podia ter feito algo com Alice bem ali, debaixo do meu nariz e eu não ia perceber. Sinto minha boca ficar seca de ansiedade e o meu corpo parece suspenso.
LuccaSinto o toque de Alice que me faz despertar. Seus olhos preocupados me encaram fixamente. Forço um sorriso em meio às lágrimas e a puxo para um abraço. Encaro o meu pai que está logo atrás dela... Ele assente sutilmente e eu entendo que ele tem algo para me dizer.— Ah como é pequeno! —A Ana diz melosa. E logo as avós, tios e tias se aproximam. Essa é a minha deixa.— Eu preciso ir amor — Digo quando me afasto um pouco. Olho em seus olhos.— Como assim, você tem que ir? O que está acontecendo, Lucca? — Pergunta.— Não é nada que precise se preocupar — rebato, tentando acalmá-la. Mas sinto que terei que falar com ela mais cedo ou mais tarde.— Eu sei que está acontecendo alguma coisa. Por que não se abre comigo? — Seguro o seu rosto lindo entre as minhas mãos, quem tem um singelo vinco na testa e a beijo duas vezes seguidas.— Eu preciso ir, mas prometo que te conto tudo quando chegar na casa do seu pai. Tudo bem? — retruco e me afasto.— Espera, como assim na casa do meu pai?—
Lucca— Por que não pensamos nisso antes? Se encontramos essa ligação, encontraremos o incendiário. — Edgar ergue o copo em um brinde e toma toda a bebida em seguida.***Passo em casa rapidamente e pego algumas roupas da Alice, jogo tudo em uma bolsa e saio imediatamente. Enquanto ponho a bolsa no banco de trás, o celular faz um som de mensagem. Estremeço só de ouvir o barulho do sininho tocando. Entro no carro e abro a tela do celular. Respiro aliviado ao ver que é o Rafa me convidando para beber e conversar. Mando uma mensagem dizendo que não dar. Quando ligo o motor do carro, alguém bate no vidro da janela me fazendo sobressaltar. Eu baixo exasperado o vidro e encaro o homem assustado.— Podemos conversar? — Ele pede nervoso. Contudo, olho o relógio.— Claro. — Saio do carro e vamos para dentro da minha casa. Ofereço o sofá para o senhor Hélio se acomodar.— O que aconteceu?— Recebi um telefonema. Cara eu estou me tremendo inteiro.— O que disseram?— Posso beber alguma coisa?—
LuccaUma semana depois...— Está nervoso? — Cristopher pergunta depois de um tempo. Forço um sorriso.— Muito. — Respondo com a voz contida.Estamos indo para o restaurante que a Ana reservou para o pedido oficial de casamento. E para o meu desespero, Alice passou o dia na casa dos seus pais. E eu fiquei na casa do Cris, porque não tinha a menor condição de ficar sozinho em casa. Os meus pais passaram o dia inteiro fora de casa. Na verdade, isso já acontece a três dias e não quiseram me dizer o porquê. A Ana estava cheia de trabalho com o projeto novo da Caravelas & Hotelaria.— Meninos, o que estão fazendo trancados nesse quarto? — Jenny pergunta do outro lado da porta. Cris abre um sorriso largo.— Já estamos saindo, Tempestade. Relaxa. — Ele pede me fazendo rir.— Só para vocês saberem, vocês não são a noiva. — Ela rebate irritada. Não consigo segurar a risada. Ele ajeita a minha gravata e vai até a porta.— O que foi, Bonitinha? — Pergunta com extremo carinho.— Meia hora de atra
AliceAinda consigo sentir o hálito daquele imbecil em minha pele. Ai que ódio! Como ele pôde insinuar que eu subir aqueles degraus da minha profissão por causa da minha beleza? Eu quase morri por isso! Dei o meu sangue por isso! Enfrentei o inferno! Sou boa no que faço! Desgraçado!Bufo de modo audível.Me viro na cama e encaro o conhecido teto do meu antigo quarto. Essa é outra coisa que não sai da minha cabeça. Por que estou de volta a casa dos meus pais? Isso não faz sentido! Estou regredindo na vida profissional e na vida pessoal também!Que saco!Alguém bate à porta do meu quarto e eu olho na direção dela. A porta se abre devagar e minha mãe passa por ela com um sorriso meigo que não me convence. Em suas mãos há uma caixa de papelão. Eu me sento na cama e ela se acomoda na beira do colchão.— Acabaram de entregar. — Ela diz me estendendo o objeto.Eu a seguro e vejo os porta-retratos novos que havia levado para minha tão sonhada sala de chefe de redação. Solto um suspiro audível
AliceProcuro algo que talvez seja a cara do meu afilhado. E escolho um avião do estilo do filme infantil Relâmpago McQueen com rostinho sorridente e tudo mais, a cor azul bebê e branco e os detalhes pretos deixam o brinquedo charmoso. Acabo me empolgando e comprando outros brinquedos e uma roupinha que tenho certeza de que ela vai amar. Mas, quando estou saindo da sessão vejo um par de sapatinhos que me chamam a atenção.Sorrio e penso no Lucca. Portanto, vou em direção da vitrine da loja, mas uma louca esbarra com força em mim e eu caio no chão. Automaticamente sinto uma dor forte no meu quadril.— Você está bem, Senhora? — Uma atendente pergunta e me ajuda a levantar. Entretanto, olho ao meu redor a procura do trator desgovernado, mas não a vejo em lugar nenhum.— Estou bem. Obrigada! — sibilo, passando a mão em volta do meu quadril e vou para a vitrine.— Pronto? — Camila pergunta, quando a atendente está embalando os sapatinhos.— Pronta. Ai! — Solto um gemido dolorido.— O que f
AliceMas é quando o beijo para que a minha ficha realmente cai.Definitivamente há algo acontecendo e eu preciso saber o que é. Não estou gostando de estar de volta a casa dos meus pais. Tão pouco de tê-lo distante de mim assim... Quer dizer, eu sei que o seu trabalho também toma muito do seu tempo. Mas até nas folgas?— Lucca? — O chamo baixinho, acariciando a sua nuca.— Hum?— A gente precisa conversar.— Eu sei. — Diz baixinho. — Me afasto e o olho bem nos olhos.— Preciso de um banho rápido e quando voltar, quero que me diga o que está acontecendo, ok? — Pergunto carinhosamente.Ele apenas assente para mim. Parece cansado. Esgotado, na verdade. O olho por um tempo e pego a bolsa do chão, indo direto para o banheiro. Ligo o chuveiro e antes de entrar na água na morna, ponho uma toca protegendo os meus cabelos. O banho é rápido e quando termino, me seco e vou até a bolsa que está sobre uma cadeira. Quando me curvo para a abrir a bolsa, sinto um leve incômodo no meu quadril. Eu olh
AliceO julgamento de Renan Backer. Primeira parte.Vocês já entraram em um tribunal federal antes? Eu não, mas, aqui estou eu. E para a minha felicidade, não estou sozinha. A Camila e a Adriana estão me acompanhando. E é claro que o meu pai fez questão de estar presente. Devo admitir, Daniel Ávila é uma onça extremamente irritada quando se trata das suas crias. O Lucca aperta levemente a minha mão e eu desperto. A nossa frente o juiz adentra o salão e todos ficamos de pé... É algo automático e quando ele se senta nos concede o direito de fazer o mesmo.O julgamento em si não é aberto ao público. O que eu acho estupidamente hipócrita, já que o homem julgado ali, feriu a população acima de tudo. Um julgamento longo, cansativo, arrastado. Primeiro os delatores são ouvidos. E Deus do céu! Se eu fosse o juiz desse tribunal, mandaria decepar as mãos dos infelizes. Você não faz ideia. Vai muito, muito além dos papéis que eu entregue nas mãos do promotor de justiça. Em algum momento Lucca p