Karina ainda não tinha reagido. Ofegante, ela ergueu o rosto para olhar Ademir, os olhos tomados pelo medo. Não conseguia nem imaginar o que teria acontecido se tivesse caído. — Se assustou? — A voz de Ademir carregava um misto de culpa e carinho. Na verdade, ele também tinha se assustado. Com o queixo apoiado na cabeça de Karina, ele murmurou baixinho: — Desculpa, foi erro meu. Mesmo que Karina tivesse recusado, Ademir deveria ter tido discernimento. Numa situação dessas, como pôde simplesmente seguir a vontade dela? Após refletir por um instante, ele estendeu os braços e, sem mais hesitação, a pegou no colo. A súbita sensação de estar suspensa no ar fez Karina soltar um grito, e, por reflexo, ela agarrou o pescoço de Ademir. Como um gatinho preguiçoso, se aconchegou obedientemente nos braços dele. O coração de Ademir se aqueceu. — Vou te levar até o carro. É rapidinho. Ao dizer isso, sentiu um leve arrependimento. Não deveria ter permitido que estacionassem
Quando estavam quase chegando à Rua de Francisco Antônio, Karina acordou. — Já chegamos? — Quase. — Ademir ficou um pouco decepcionado. Como ela conseguiu dormir tão pouco tempo? — Descansa mais um pouco, eu te chamo quando chegarmos. — Não, não vou dormir mais. — Karina balançou a cabeça, pegou o celular e ligou para Patrícia. — Patrícia, sou eu... Sim, voltei. Me espera na esquina, pode ser? Está nevando, tenho medo de escorregar... Tá bom. Ademir, ao lado, ouviu a conversa e seu olhar foi escurecendo pouco a pouco. Ainda nem tinham chegado, e Karina já havia se organizado. Ela claramente não queria que Ademir a acompanhasse. Assim que dobraram a esquina, chegaram à Rua de Francisco Antônio. — Pode parar ali mesmo. — Karina se virou para Ademir e lhe sorriu. — Obrigada. A Patrícia veio me buscar, eu vou descer agora. — Tá bom. — Ademir engoliu seco, mas sentiu um amargor na boca. Do outro lado da rua, Patrícia, vestida com um casaco vermelho vibrante, correu animada
Ademir ficou chocado, sua mente ficou em branco no mesmo instante. — Avô, o que está dizendo? Otávio soltou um riso frio, lançando um olhar gélido para o neto. — O que estou dizendo... Você realmente não entende? — Avô... — Ademir, eu estou doente, mas não morto! — A voz de Otávio subitamente se aprofundou, carregada de frustração. — Você está se envolvendo com aquela estrelinha de novo, está ou não está? — Avô, eu... — Ademir tentou se explicar. — A Vitória, ela está ferida... — Não precisa dizer mais nada. — Otávio acenou a mão, demonstrando impaciência. — Eu já sei de tudo que você quer falar. Não adianta negar. Você acha que eu não sei que está vivendo separado da Karina? E tudo por causa daquela pequena celebridade, não é? Ainda teve a audácia de acusar a Karina, difamá-la dizendo que estava com outro homem! Enquanto falava, seus olhos envelhecidos pousaram sobre Karina. Havia carinho e culpa em seu olhar quando disse: — Karina, fui injusto com você. — Não...
— Vovô, eu volto para ver o senhor na próxima vez. — Certo, minha boa menina. Karina não olhou para Ademir e se virou para sair. — Karina... — Volte aqui! — Ademir quis ir atrás dela, mas Otávio o impediu. — Quer correr atrás dela para quê? Que direito você tem de perseguir a Karina? — Vovô... — A mente de Ademir estava um caos, assim como seu coração. Ele nem sequer havia decidido qual deveria ser seu próximo passo, mas não esperava que seu avô dissesse algo assim, tão de repente! — Deixe isso para lá. — Otávio parecia muito cansado. Olhou para o neto e disse. — Pense em você mesmo. Você quer que seu filho cresça e odeie o próprio pai, assim como você? O coração de Ademir acelerou de repente, e todo o seu corpo ficou rígido. Assim como ele... Otávio sabia que essas palavras seriam um golpe forte para o neto. Mas não podia deixar de dizer: — Eu só tenho um pedido. Você pode ficar com aquela estrelinha de cinema, não tenho como impedir vocês, e não vou mais me me
Como tinha tirado licença médica, Karina decidiu simplesmente descansar em casa. Afinal, já estava no final da gravidez e não podia ignorar sua saúde. Dormir era o melhor descanso. Assim que voltou para o apartamento, comeu alguma coisa e foi direto para a cama. No dia seguinte, sua rotina continuou a mesma. Dormiu até o entardecer e, finalmente, sentiu que tinha descansado o suficiente. Ao abrir as cortinas, viu que a neve lá fora havia parado, mas o frio parecia ainda mais intenso. A fome bateu e, de repente, sentiu vontade de comer macarrão. De vez em quando, não fazia mal se permitir um desejo. Correu até a geladeira e, ao abrir, encontrou ovos e legumes. Perfeito, dava para preparar um macarrão com esses ingredientes. Pegou tudo o que precisava e começou a cozinhar, quando recebeu uma ligação de Ademir: — Está no apartamento? — Sim. Aconteceu alguma coisa? — Sim, estou aqui embaixo. Estou subindo agora. — Certo. Karina não recusou, imaginando que Ademir
Karina arregalou os olhos, parecendo extremamente fofa: — Foi você que me chamou, então é você quem paga. — O quê? Ademir sorriu: — É claro. Você ainda tinha dúvidas? — Só queria ter certeza. — Karina, de repente, sorriu e, como o garçom ainda estava por perto, abaixou um pouco a voz. — No futuro, eu mesma não vou conseguir pagar um lugar desses. Hoje, com certeza, vou comer até ficar satisfeita. Ao ouvir isso, Ademir ficou atônito. Seu corpo enrijeceu um pouco e ele disse: — Não diga isso. Se quiser vir, eu te trago sempre. — Mesmo que sejam só palavras, obrigada. — Karina sorriu, sem levar aquilo a sério. — Mas é melhor não. Se a Vitória souber, com certeza vai brigar com você. Eu não quero te causar problemas. Vitória de novo! Ademir abriu a boca, mas hesitou: — Karina, o que acontece entre nós não tem nada a ver com mais ninguém. — O quê? — Karina ficou surpresa e entendeu o que ele queria dizer. Ademir estava protegendo Vitória. O que ele queria dizer
— Karina! — Ademir imediatamente se levantou e a envolveu em seus braços, seu olhar cheio de preocupação. — O que foi? Você não está se sentindo bem de novo? Karina manteve os olhos fechados e não respondeu. Aquela sensação voltou. Uma tontura repentina. As imagens diante dela balançavam de um lado para o outro em sua visão... — Karina? — Ela continuou em silêncio, deixando Ademir ainda mais aflito. — Espera um pouco... Daqui a pouco passa... Esperar? Como Ademir poderia simplesmente esperar vendo Karina assim? — Esperar o quê? — Ele estendeu os braços e a pegou no colo. — Vamos para o hospital! Sem dar chance para Karina recusar, ele a levou diretamente ao hospital de maternidade. Não tinham consulta marcada, mas, por sorte, naquela noite a Dra. Coelho estava de plantão. Karina se deitou na sala de exames enquanto a Dra. Coelho, de frente para Ademir, o encarava com um tom nada amigável: — Sr. Ademir, que surpresa... Um homem tão ocupado como o senhor encontr
Tão grave assim?! Como as coisas chegaram a esse ponto tão sério?! Ademir franzia as sobrancelhas o tempo todo, seu rosto parecia tenso, e suas mãos estavam cerradas em punhos. A culpa era dele. Ele não cuidou direito de Karina. A Dra. Coelho disse: — Antes, eu já havia sugerido que a Sra. Barbosa se afastasse do trabalho e descansasse, sem fazer nada. Talvez ainda houvesse uma chance de mudança... Mas ela não aceitou... Do interior da sala de exames, veio um som. A Dra. Coelho reagiu prontamente: — Sr. Ademir, sua esposa saiu. Ademir rapidamente ajustou sua expressão, fingindo que nada havia acontecido, e caminhou até Karina: — Está tudo certo. A Dra. Coelho disse que não é nada grave. Karina franziu levemente as sobrancelhas e murmurou em voz baixa: — Eu já tinha dito que não era nada. Nem precisava vir ao hospital. Mesmo assim, no fundo, ela também sentiu um certo alívio. No fim das contas, Karina também estava preocupada. — Não há nada de errado em ser c