Otávio já havia recobrado a consciência, e seus olhos envelhecidos estavam cheios de lágrimas.Havia tanto que queria dizer, mas as palavras não saíam.Karina compreendia tudo:— Vovô, o Ademir está bem. Eu já sei que ele se machucou, e tenho cuidado dele todo esse tempo. Você ainda não confia em mim?Otávio piscou, aliviando um pouco sua expressão.Ademir se aproximou rapidamente, se inclinando para segurar a mão do avô.— Vovô, eu estou aqui. Olhe para mim, estou bem, não estou?Otávio se esforçava para falar.— Vovô, o que você quer?Otávio não conseguia dizer nada, apenas juntou, com dificuldade, a mão de Karina com a de Ademir.O significado era claro.Otávio queria que eles ficassem bem juntos.Ademir sentiu um nó na garganta, como se uma pedra estivesse ali presa:— Vovô, pode ficar tranquilo, estamos bem.O corpo de Otávio estava muito fraco, e ao ouvir as palavras de Ademir, fechou os olhos em paz.— Vamos deixar o vovô descansar. — Disse Karina ao sair do quarto. — Não se pre
Karina cobriu a boca, balançando a cabeça e as mãos. Como poderia vomitar na mão dele?— Rápido! — Ademir estava muito aflito.Ele não se afastou, e, no final, Karina não conseguiu segurar e vomitou, de fato, na mão dele, sujando também bastante o casaco.— Desculpa. — Karina parecia muito fraca, seu rosto pequeno e pálido.— Não tem problema. — Ademir tirou o casaco com tranquilidade, embrulhou ele e jogou no lixo. — Vou ao banheiro.Ademir se levantou e saiu.Quando voltou, a camisa estava molhada. Karina lançou um olhar para Ademir, percebendo que ele não estava usando a camisa que ela havia feito.Karina esboçou um sorriso, mas não ficou exatamente desapontada.— Como você está se sentindo agora? — Ademir ainda estava agachado à sua frente, olhando para seus cílios espessos, com uma voz baixa e suave. — Você já estava com fome, e agora, depois de vomitar, o estômago deve estar ainda mais vazio. Não consegue comer essas coisas, há algo mais que gostaria de comer?Karina não responde
Karina ficou atônita por um momento antes de responder com seriedade.— Eu não sei. Talvez seja a primeira, talvez a segunda opção, ou quem sabe todas?Karina não sabia nem quem era o pai da criança, quanto mais que tipo de pessoa ele era. Mas essa resposta deixou Ademir chocado!"Que tipo de canalha essa mulher encontrou?"O rosto de Ademir ficou imediatamente sombrio, ainda mais escurecido pela raiva que surgiu.— Nessas circunstâncias, você ainda quer ter esse filho?"Vai tê-lo ou não?"Karina tocou suavemente seu abdômen. Na verdade, ela ainda não tinha decidido se teria ou não o bebê. Ela simplesmente ainda não tinha coragem de se separar daquela criança.Mas, aos olhos de Ademir, Karina parecia apenas alguém que havia sido enganada por um homem cruel.— Não precisa me responder! — De repente, Ademir pegou um cigarro e um isqueiro, se levantando para ir até a varanda.Até suas costas exalavam raiva.Ademir estava bravo de novo?Karina sorriu impotentemente. O temperamento de Ademi
Karina sorriu e disse:— Ser amada é algo que traz felicidade. Mas, Lourenço, não perca seu tempo comigo.Karina foi direta, sem deixar espaço para Lourenço.Ela o havia convidado para cá justamente para rejeitá-lo.O rosto de Lourenço escureceu instantaneamente, e ele perguntou:— Por quê?Karina hesitou em explicar, porque a verdade era que ela não gostava de Lourenço. Para ela, ele não passava de um conhecido.Rejeitá-lo era algo que ela podia fazer, mas magoá-lo com palavras duras era algo que ela não queria.Sentado na mesa atrás deles, Ademir soltou um suspiro de alívio, esboçando um leve sorriso."Já sabia que a Karina não daria bola para esse cara!"Então, ele ouviu Karina, após uma breve pausa, responder:— Porque eu já gosto de outra pessoa.— O quê? — Lourenço não podia acreditar. — Eu nunca ouvi falar disso!Ele estava tão abalado que mal conseguia articular as palavras:— Quem é ele? Eu o conheço? É algum dos nossos colegas?Karina balançou a cabeça:— Você não o conhece,
Travessia da balsa dos AndesKarina já estava ali havia dois dias. O seminário de neurocirurgia deste ano estava sendo realizado nessa região, e seu professor, Felipe, era o principal responsável. Como aluna, Karina havia vindo como assistente. A conferência da manhã já havia terminado. No hospital, havia uma cirurgia de alta complexidade esperando por Felipe, e ele precisava voltar imediatamente. No entanto, os organizadores do evento haviam levado o manuscrito de Felipe e ainda não o tinham devolvido. Assim, Karina foi deixada para trás, aguardando o retorno do manuscrito. — Não precisa ter pressa. — Felipe entregou um cartão para Karina, era o cartão de consumo do hotel da travessia da balsa dos Andes. — Vá com calma. Se tiver tempo de sobra, aproveite para se divertir um pouco por aqui. Embora a travessia da balsa dos Andes fosse um lugar remoto, a paisagem realmente valia a pena. Karina pegou o cartão e sorriu: — Obrigada, professor. Após se despedir de Felipe, K
Desde que adicionou Karina como amiga, essa era a primeira vez que ela postava algo.Túlio olhou pela janela; havia um forte vento naquela noite. Será que Karina estava sozinha na travessia da balsa dos Andes?Pegando o casaco, o celular e as chaves do carro, Túlio desceu as escadas, apressado.— Túlio, para onde você vai?Quem chamou Túlio foi sua mãe, Júlia.Túlio parou, mas sua voz carregava um tom de distanciamento:— Agora eu preciso da sua permissão para sair?— Não foi isso o que eu quis dizer. — Júlia parecia extremamente constrangida. — Eu só queria dizer que o tempo está ruim hoje à noite. E, além disso, seu pai convidou alguns dos seus tios para jantar...Túlio soltou uma risada sarcástica.— Alguns tios? Imagino que esses tios venham acompanhados de suas filhas, não é?Desde que ele voltou, sua família não perdeu a oportunidade de organizar esse tipo de situação para ele.Na verdade, tudo não passava de uma tentativa de apresentá-lo a algumas garotas.Aquelas garotas, clara
Logo, a mesa ficou repleta de pratos. Karina não tocou nos talheres, apenas esperava pela sua quiche de frango, que ela havia pedido com pimenta extra e uma boa quantidade de coentro.— Quiche de frango e uma sopa. — O garçom trouxe a quiche.Karina pegou a colher e comentou:— Que cheiro delicioso!Vitória respirou fundo, puxando a fatia de quiche para si.— Parece estar delicioso, dá muita vontade de comer! — Vitória parecia ter esquecido que aquela quiche havia sido pedida por Karina. Em meio a tantos pratos na mesa, aquele era o único que Karina havia escolhido.Vitória pegou uma colherada e levou um pedaço da quiche à boca.— Está uma delícia.Ainda segurando o prato, ela também tomou mais dois goles da sopa.— Ademir! — Vitória levantou o rosto para olhar Ademir, elogiando. — Quem diria que em um lugar tão remoto, a quiche do hotel seria tão gostosa.Ademir franziu a testa, seus lábios finos se apertaram numa linha reta."Será que a Vitória fez de propósito?"Vitória parou por um
Karina lançou um olhar para eles e se virou para sair. Ela não tinha interesse em assistir àquela demonstração de afeto.De volta ao saguão, se sentou e começou a vasculhar a bolsa até encontrar um bombom de chocolate. Ela parou por um instante, reconhecendo que era o mesmo que Túlio lhe havia dado na última vez.Naquela noite, ele ainda estava acompanhado de sua namorada...O chocolate não era suficiente para matar a fome, mas ao menos ajudaria a manter sua energia. Karina rasgou a embalagem e colocou o bombom na boca.Lá fora, a chuva aumentava, o vento entrava pelas frestas do saguão e a noite se tornava cada vez mais fria.Ademir e Vitória saíram do restaurante e, ao passarem pelo saguão, avistaram Karina encolhida em um canto do sofá.Mudando de direção, Ademir foi direto até Karina.Karina havia adormecido, ainda segurando metade do chocolate.— Karina!Ademir parecia inexplicavelmente irritado. Karina recusou jantar com ele, e agora estava ali, se alimentando disso? Que atitude