Ao ouvir Karina mencionar o ocorrido na noite anterior, Ademir ficou sem palavras. Não havia o que contestar, ele sabia que havia agido errado. Com um movimento suave, Ademir a envolveu nos braços e a levantou. Karina ficou paralisada: — O que você está fazendo? — Eu errei. — Ademir não tinha mais a raiva de antes; sua voz estava incrivelmente suave. — Vamos ao hospital agora fazer um exame completo. Você ainda precisa de uma infusão de nutrientes, não é? Enquanto falava, ele a conduzia para fora. ... Chegaram ao hospital. Hoje não era o dia da consulta, mas como Karina havia passado por um acidente de carro, Ademir não se sentia tranquilo e insistiu para que ela passasse por uma bateria de exames. Quando os resultados chegaram, Ademir finalmente entendeu o motivo de Karina precisar da infusão de nutrientes. A enfermeira aplicou a injeção e Karina se deitou, enquanto Ademir ficava ao seu lado, vigiando ela. Depois de muito refletir, Ademir finalmente falou: —
— Eu vou sair para fumar, volto logo. — Tudo bem. Karina não sabia o porquê, mas ao olhar para a silhueta de Ademir se afastando, sentiu que ele parecia muito triste. Seria porque ela não tinha contado a ele que o bebê estava abaixo do peso? Mas... Esse não era o filho dele, afinal. ... Do lado de fora, Ademir segurava o cigarro enquanto ouvia Júlio falar. Por causa do acidente, ele ainda estava inquieto. Não confiava totalmente no ocorrido, então pediu para Júlio investigar mais a fundo. — Ademir, à primeira vista, parece um acidente, mas se você ainda não está tranquilo, podemos mandar investigar mais a fundo. — Sim, preste atenção nisso. — Pode deixar, Ademir. Não era que Ademir fosse excessivamente cauteloso, mas o fato de Karina ter estado no carro durante o acidente era uma coincidência alarmante. Na última vez, quando tentaram sequestrá-la e não conseguiram, era óbvio que eles ainda tinham intenção de agir. O que não fariam, afinal, no País G? — Ah, A
No dia seguinte, Ademir acordou mais cedo que Karina, como de costume. Quando ela desceu as escadas, ouviu ele conversando com Wanessa:— Daqui em diante, Wanessa, por favor, prepare algumas refeições extras para a Karina durante o dia. As porções não precisam ser grandes, mas importantes. A Dra. Coelho pediu que ela se alimente assim para garantir que a carne chegue até o bebê. O bebê está menor do que o esperado, a nutrição intravenosa é apenas uma medida paliativa, o essencial mesmo é o cuidado da mãe.— Entendido.Wanessa sabia o quanto a situação da criança na família Barbosa era séria e não ousava desconsiderar os cuidados.— Pode deixar, Sr. Ademir. Eu me lembro de tudo.— Agradeço, Wanessa. — Ademir se virou e viu Karina. Então, ele aproveitou para dar mais umas instruções. — Na hospital, preste atenção na sua alimentação. E se lembre, sempre leve o Bruno quando sair.— Está bem. — Karina respondeu com uma expressão obediente. Ela não era do tipo que não entendia as coisas ou
— De certa forma, sim. — Karina sorriu, não negando.A enfermeira, ao ouvir isso, não conseguiu se conter e falou mais:— Como você é cirurgiã, sabe como é, né? No caso de um parente com esse problema, sem o transplante de fígado, cada tratamento só gasta dinheiro e ainda agrava o estado físico. O que importa é quanto tempo ele vai aguentar.— Obrigada. — Karina devolveu o prontuário à enfermeira. — Por favor, cuide bem dele.— Pode deixar, Dra. Costa. Fique tranquila.Ao sair do hospital, Karina se sentiu ainda mais preocupada. Não havia mais alternativas viáveis. Será que ela e o Catarino realmente teriam que doar um fígado? Ela não queria isso.Só de pensar em tudo o que Lucas fez com ela e seu irmão ao longo dos anos, a raiva se espalhou dentro dela. Como poderia ela se dispor a doar um fígado para ele? Era impensável.À tarde, começou a chover.Ainda não eram nem cinco horas quando Karina recebeu uma ligação de Ademir.— Estou quase chegando no Hospital J, ainda é cedo, podemos pa
Vitória não conseguia desviar os olhos de Ademir, e em seu olhar, havia uma ternura profunda.— Ademir, você também está com dificuldade em me deixar, não está? — Perguntou ela, com a voz cheia de sentimento.Ademir não respondeu imediatamente, ficando em silêncio por um momento. Ele segurou o pulso dela, mas logo o soltou, afastando sua mão com firmeza.Neste instante, Vitória sentiu uma onda de decepção, e sua expressão mudou imediatamente:— Ademir? — Chamou ela, com uma pontada de incerteza na voz.Ele olhou para ela, com um único pensamento, e finalmente disse, com um tom resoluto:— Vitória, eu me casei.Não importava o que havia acontecido antes, ele agora tinha uma responsabilidade com o casamento, com sua esposa, e isso exigia sua lealdade.Vitória, de repente, cobriu o rosto com as mãos, e uma onda de tristeza tomou conta dela, fazendo ela chorar em silêncio.Ademir a observava com pesar, mas havia algo que ele precisava dizer, sem alternativas:— A partir de agora, suas ques
Ela achou estranho. Ele não queria a Vitória? Como ele conseguia agir assim, na sua frente, parecendo tão cheio de carinho, ainda por cima com o comportamento de um marido exemplar? Será que realmente existia alguém no mundo capaz de gostar de duas pessoas ao mesmo tempo? Karina sentia que não seria capaz disso. E não queria mais perguntar. Ficar falando sobre isso não tinha mais sentido.— Espere um pouco. — Karina disse, rendida. — Deixa eu terminar essa página. — Tudo bem. — Ademir olhou para o livro dela. Restavam poucas linhas. — Eu espero, não estou com pressa. Ele se levantou e começou a folhear os livros na estante.Karina terminou de ler as últimas linhas e foi até ele: — Terminei. Ademir fechou o livro rapidamente e, ao colocá-lo de volta na estante, algo caiu das páginas. Olhou com mais atenção e viu que era um marcador de livro. — O que é isso? — Karina se agachou instintivamente para pegar. — Não. — Ademir a impediu, lançando-lhe um olhar. — Sua barriga est
— Espere um momento... — Karina levantou a mão, parou de rir quando se divertiu o suficiente, e então olhou para ele com seriedade. — Já pensou no que faria se ela voltasse?— O quê? — Ademir ficou confuso por um instante, depois balançou a cabeça, rindo baixinho. — Impossível, ela não vai voltar.— Não é certo. — Karina esticou o dedo e o colocou no peito dele. — Sr. Ademir, quantos anos você tem? Ainda não chegou aos trinta, certo? E essa pequena borboleta, deve ser ainda mais jovem. Uma vida inteira pela frente. Como sabe que ela não vai voltar?Ademir foi ficando sério, franzindo a testa.— Eu estava só brincando... — Karina movia o dedo em círculos no peito dele. — Mas e se ela voltar? Como você vai ficar?Agora, ele estava preso entre Vitória e ela, parecia sempre indeciso sobre o que fazer.Pensou um pouco e disse:— Embora eu nunca tenha a conhecido, sinto que, somando a Vitória e eu, não somos páreas para ela. Se ela voltar, o mais difícil vai ser como lidar conosco, não é? A
— Karina? — Você realmente não desiste, né? — Karina ignorou a atitude dele. — Não pode forçar a compra do meu fígado, então vai fingir comigo? Você acha que, dando uma casa, dando dinheiro, eu vou me derreter e oferecer meu fígado por vontade própria? — Não, eu não pensei assim... — Cala a boca! Karina se levantou de repente. Como havia muita gente ao redor, ela não gritou alto, mas seus olhos estavam vermelhos, quase transbordando de raiva. Ela se esforçou para controlar suas emoções, tentando não deixar que perdesse o controle. — Suas palavras, eu não acredito nem um pouco. Quer que eu te doe meu fígado? Pode esquecer, isso é absolutamente impossível! Karina colocou a mão na barriga. Como a barriga ainda não era muito grande e ela usava um vestido largo, não era fácil perceber que estava grávida. Mas, ao alisar a saia do vestido, a barriguinha arredondada ficou visível. Lucas ficou extremamente chocado. — Isso, Karina, você... Karina soltou uma risada fria.