Ela achou estranho. Ele não queria a Vitória? Como ele conseguia agir assim, na sua frente, parecendo tão cheio de carinho, ainda por cima com o comportamento de um marido exemplar? Será que realmente existia alguém no mundo capaz de gostar de duas pessoas ao mesmo tempo? Karina sentia que não seria capaz disso. E não queria mais perguntar. Ficar falando sobre isso não tinha mais sentido.— Espere um pouco. — Karina disse, rendida. — Deixa eu terminar essa página. — Tudo bem. — Ademir olhou para o livro dela. Restavam poucas linhas. — Eu espero, não estou com pressa. Ele se levantou e começou a folhear os livros na estante.Karina terminou de ler as últimas linhas e foi até ele: — Terminei. Ademir fechou o livro rapidamente e, ao colocá-lo de volta na estante, algo caiu das páginas. Olhou com mais atenção e viu que era um marcador de livro. — O que é isso? — Karina se agachou instintivamente para pegar. — Não. — Ademir a impediu, lançando-lhe um olhar. — Sua barriga est
— Espere um momento... — Karina levantou a mão, parou de rir quando se divertiu o suficiente, e então olhou para ele com seriedade. — Já pensou no que faria se ela voltasse?— O quê? — Ademir ficou confuso por um instante, depois balançou a cabeça, rindo baixinho. — Impossível, ela não vai voltar.— Não é certo. — Karina esticou o dedo e o colocou no peito dele. — Sr. Ademir, quantos anos você tem? Ainda não chegou aos trinta, certo? E essa pequena borboleta, deve ser ainda mais jovem. Uma vida inteira pela frente. Como sabe que ela não vai voltar?Ademir foi ficando sério, franzindo a testa.— Eu estava só brincando... — Karina movia o dedo em círculos no peito dele. — Mas e se ela voltar? Como você vai ficar?Agora, ele estava preso entre Vitória e ela, parecia sempre indeciso sobre o que fazer.Pensou um pouco e disse:— Embora eu nunca tenha a conhecido, sinto que, somando a Vitória e eu, não somos páreas para ela. Se ela voltar, o mais difícil vai ser como lidar conosco, não é? A
— Karina? — Você realmente não desiste, né? — Karina ignorou a atitude dele. — Não pode forçar a compra do meu fígado, então vai fingir comigo? Você acha que, dando uma casa, dando dinheiro, eu vou me derreter e oferecer meu fígado por vontade própria? — Não, eu não pensei assim... — Cala a boca! Karina se levantou de repente. Como havia muita gente ao redor, ela não gritou alto, mas seus olhos estavam vermelhos, quase transbordando de raiva. Ela se esforçou para controlar suas emoções, tentando não deixar que perdesse o controle. — Suas palavras, eu não acredito nem um pouco. Quer que eu te doe meu fígado? Pode esquecer, isso é absolutamente impossível! Karina colocou a mão na barriga. Como a barriga ainda não era muito grande e ela usava um vestido largo, não era fácil perceber que estava grávida. Mas, ao alisar a saia do vestido, a barriguinha arredondada ficou visível. Lucas ficou extremamente chocado. — Isso, Karina, você... Karina soltou uma risada fria.
— Ademir, o Lucas veio procurar a Karina. Ela chorou. E ainda me xingou... Ademir ouviu em silêncio, e então disse: — Ok. Se precisar de alguma coisa, me ligue a qualquer momento. — Pode deixar, Ademir. Após desligar o telefone, Ademir segurou o aparelho com força, quase o quebrando de tanta raiva! Lucas! Não era ele que precisava de um transplante de fígado? Estava quase morrendo, e ainda assim foi atrás da Karina! Não era que ele fosse mesquinho, mas já que estavam casados, alguém como o Lucas deveria estar fora da vida dela de uma vez por todas. O Bruno disse que a Karina chorou? Karina ainda se importava com esse homem? O que houve entre eles para ela chorar? Com esses pensamentos, Ademir deixou o escritório mais cedo e foi ao Hospital J buscar Karina. — Hoje, tão cedo. Karina descia as escadas apressada. Ademir a observava atentamente, e notou que seus olhos estavam levemente inchados. Ou seja, realmente havia chorado, e muito. Sem expressar emoçã
Na sala de estudos.Ademir, irritado, tirou um cigarro do maço e se preparou para acendê-lo. Mas logo se conteve. Karina estava grávida e não podia sentir o cheiro de fumaça. Ela proibira ele de fumar dentro de casa. Se quisesse fumar, teria de ir até a varanda ou o jardim. A frustração aumentou instantaneamente, e ele atirou o cigarro com raiva. Nesse momento, o celular tocou. Era Júlio.— O que foi? — Ademir... — Júlio falou, um pouco agitado. — Não sei se devo te contar isso. Ademir estava de mau humor, mal conseguia ouvir os devaneios de Júlio. — Fala logo! Se não vai dizer, para que está me ligando? — Tá bom... — Júlio, ao perceber que Ademir não estava disposto a esperar, se conteve. Agora ele realmente estava nervoso. — Ademir, você lembra daquele grampo de cabelo? Grampo de cabelo? Ademir apertou os olhos e começou a brincar com o isqueiro na mão. Sua mente, de repente, ficou mais alerta. — Você está falando do grampo de borboleta? — Isso mesmo, Ad
Karina entendeu o que estava acontecendo e disse a Wanessa:— Vou chamá-lo.— Então vou descer e preparar tudo.— Tudo bem.Karina se virou e foi até a porta do escritório, levantou a mão e bateu à porta.— A porta não está trancada! — A voz grave e irritada de Ademir ecoou do interior.Karina respirou fundo e empurrou a porta para entrar. Atrás da mesa, o homem estava relaxado na cadeira, com as pernas esticadas sobre a mesa. Estava de frente para o computador, aparentemente vendo alguma coisa.Temendo que ele estivesse ocupado com algo relacionado ao trabalho, Karina não se aproximou muito.— Ainda está ocupado? A comida já está pronta.Ademir nem sequer levantou os olhos, recusando com firmeza:— Não vou comer.— Por quê? — Karina, que já conhecia o temperamento dele, achou que essa atitude de recusa era infantil demais. — Coma, não faça birra.Ao ouvir essa frase, Ademir levantou os olhos, surpreso.— Então, a Sra. Barbosa percebeu que estou fazendo birra?— Percebi. — Karina fran
Karina pensou por um momento e disse:— Wanessa, se prepare, vou tentar convencê-lo de novo, mas não posso garantir que vai adiantar.— Vai adiantar, vai! O Sr. Ademir está só esperando você dar um jeitinho.Depois de terminar a última colherada de sopa, Karina subiu as escadas.Dessa vez, ela também bateu à porta.O homem dentro parecia ainda mais irritado do que antes.Karina hesitou por um momento, mas acabou entrando.Ao abrir a porta, ela ficou chocada. Em tão pouco tempo, o ambiente estava completamente bagunçado.Que tipo de raiva ele tinha despertado?Olhou novamente para Ademir. Ele estava recostado no sofá, com um cigarro entre os dedos da mão esquerda, ainda apagado, enquanto na mão direita segurava o isqueiro, com a tampa aberta e fechando repetidamente.Ele queria fumar, mas estava se controlando?Karina imediatamente pensou que ele nunca havia fumado na frente dela.Seu coração, que já estava relutante, de repente se suavizou.Era verdade que ele tinha um temperamento dif
Karina fechou os olhos, seus dedos se enfiando nos cabelos dele, correspondendo ao beijo.Ainda havia algo de racional em Karina, que disse:— Você não está com fome? Que tal comer primeiro, por favor?— Tudo bem. — Ademir também temia que, se continuassem, perderia o controle.Nesse posicionamento, ele a abraçou e se levantou, caminhando para fora da sala.Ao abrir a porta, Wanessa ficou surpresa, com a boca aberta.Ela havia subido para checar se eles estavam brigando, pois já fazia um tempo que estavam lá em cima. Mas o que ela não esperava era ver uma cena dessas!Porém, logo sorriu:— Sr. Ademir, Karina, o jantar está pronto, venham comer.Karina já estava com o rosto todo corado e batia no ombro de Ademir, querendo descer.Mas Ademir, sem vergonha nenhuma, não se importava nem um pouco.— Obrigado pelo esforço, Wanessa. — Ele não soltou Karina e desceu as escadas com ela nos braços. — Por que ficar envergonhada? Somos marido e mulher, e estamos em nossa própria casa. O que tem de