A anfitriã havia preparado o jantar com muito carinho. Vegetais assados, bife grelhado, frutas frescas e sobremesas compunham a mesa. Quem já havia morado no exterior sabia que essa era uma refeição reservada para ocasiões especiais ou para receber convidados importantes. Ademir, por isso, se sentiu profundamente grato. No entanto, diante daquela abundância, Karina simplesmente não tinha apetite. Ademir percebeu e comentou:— Se não quer comer, não coma...— Está tudo bem. — Karina o interrompeu. — De qualquer forma, nada que eu coma me dará apetite. Não quero desprezar o esforço da anfitriã.Ela ergueu a mão e pegou a colher de sopa.— Beba um pouco de sopa primeiro.Ademir a observava com atenção, na esperança de que ela comesse um pouco mais, mesmo que fosse só mais uma colher. Karina, porém, engolia a comida como se fosse um remédio, tomando apenas duas colheradas de sopa.— Como se sente?— Ainda bem...— Que bom.Aliviado, Ademir começou a comer a própria refeição. Mal tinh
Karina franziu a testa e perguntou:— Em um lugar como este, que jeito você pode dar?— Como vou saber sem tentar? — Ademir ergueu a sobrancelha e saiu.Depois de pensar por um momento, Karina decidiu descer as escadas. Escutou Ademir conversando com o senhor idoso, o dono da casa.— Mas o supermercado mais próximo fica longe. Se você for de carro, vai acabar voltando só de manhã.Além disso, estava caindo uma chuva forte lá fora.— Não tem problema, sou forte. — Ademir se virou para a anfitriã, que o olhava com doçura e carinho. — Por favor, cuide da minha esposa para mim.— Claro, querido. — A senhora acariciou a mão dele e olhou para o marido. — Deixe ele ir. Quando você era jovem, não fazia o mesmo por mim?O homem sorriu e disse:— Está bem, vou tirar o carro da garagem.— Filho, é melhor vestir uma capa de chuva. Tem uma lá na garagem.— Certo. — Ademir seguiu até a garagem e voltou com uma capa de chuva.Na entrada, Karina estava parada, observando ele com uma expressão visivelm
Na entrada da casa, Ademir acabava de subir o primeiro degrau quando a porta se abriu. Ele e Karina se entreolharam, como se houvesse uma sintonia tácita entre os dois.A noite estava um pouco fria, e no gramado úmido após a chuva, os insetos cantavam sem parar. Karina lançou um olhar de cima a baixo para ele e franziu o cenho ao comentar:— Você não veio de carro? Como é que ainda assim está com a roupa molhada?Karina se afastou para deixá-lo entrar. Ademir, carregando um grande saco nos braços e com o cabelo ainda úmido, se dirigiu à cozinha. Ele colocou as coisas no balcão e, enquanto as organizava, disse:— Comprei arroz e peixe. Lembrei que você gosta de peixe... E também gosta de vinagre...Ele interrompeu a frase. Nesse instante, Karina, que ele não notou quando se aproximou, estava ali ao seu lado, segurando uma toalha na mão.— Abaixe a cabeça. — Ela disse.— Claro.Sem hesitar, Ademir inclinou a cabeça. Karina pôs a toalha sobre a cabeça dele e, com ambas as mãos, começou
— O dono do supermercado onde comprei o arroz é chinês. Eu contei a ele que minha esposa está grávida e anda sem apetite, e então ele me disse que a esposa dele também passou por isso na gravidez e que essa era uma boa ideia para tentar.Karina ouviu em silêncio, imaginando Ademir, debaixo de uma chuva pesada no meio da noite, desabafando com um estranho sobre a esposa grávida... Seu coração se encheu de um calor suave e reconfortante.No silêncio que pairava entre eles, o toque repentino do celular quebrou o momento. Karina levantou a cabeça e viu Ademir já com o telefone na mão, se afastando um pouco para atender a chamada.O espaço ali era pequeno e a quietude fazia com que ela conseguisse ouvir parte da conversa, mesmo com Ademir falando em tom baixo de propósito.— Sim, ainda estou no País Y."Então, aqui é o País Y?" Karina abaixou a cabeça, sorrindo de leve.— Preciso de mais dois dias para voltar. Fique tranquila, você também se cuide bem.Em nenhum momento ele mencionou o no
Enzo e Bruno já haviam trabalhado como investigadores especiais, e a intuição deles dificilmente falhava.Ademir franziu as sobrancelhas. País G? Quem exatamente estava o seguindo, tentando prejudicá-lo repetidas vezes?E agora, o que essa pessoa pretendia?— Ademir... — De repente, Karina se moveu um pouco.— Chega! Ademir se assustou e, em um sussurro, fez um sinal para Enzo parar, balançando a cabeça lentamente. O significado era claro: não deviam continuar falando.— Certo. — Enzo entendeu e fechou a boca.No banco de trás, Karina apenas ajustou a posição e continuou imóvel, sem realmente acordar. Ademir soltou um suspiro de alívio, grato por não tê-la despertado. Além disso, ele mesmo não compreendia por completo a confusão em que estava envolvido e, por isso, preferia que ela não soubesse de nada.Contudo, será que Karina se preocuparia?Encostada no canto, Karina fez de tudo para parecer que dormia. Na verdade, ela estava acordada o tempo todo.Cada palavra dita por eles ecoo
A atmosfera aos poucos se tornava densa.Ao entrarem na área urbana, Enzo perguntou:— Ademir, levamos a Karina para casa primeiro?Precisava mesmo perguntar?— Não precisa. — Mas Karina já havia despertado e recusou o plano deles. — Vamos direto para o hotel de vocês, não precisa fazer um desvio. Além disso, preciso ir ao hospital.Lucas ainda estava internado, e ela não podia deixá-lo de lado. Além do mais, queria contar-lhe sobre o Instituto do País de Gales.Ademir franziu a testa, claramente desaprovando.— Karina...— Você prometeu. — Karina sabia o que ele queria dizer e o interrompeu, encarando ele com firmeza, os grandes olhos fixos nos dele. — A viagem ao Instituto do País de Gales já terminou.Era hora de se separarem.Naquele instante, Ademir sentiu uma amargura profunda em seu peito. Com dificuldade, ele murmurou:— Está bem, eu prometo.E então, deu uma ordem a Enzo:— Pare na próxima esquina.— Sim, senhor, Ademir.Em pouco tempo, chegaram ao cruzamento, e Enzo encostou
Karina pegou o celular rapidamente e ligou para Ademir. Como temia, ele não atendeu. Imediatamente, tentou Júlio, mas o resultado foi o mesmo; Júlio também não atendeu. Sua expressão se tornou cada vez mais tensa...Karina mordeu o dedo, começando a acreditar que algo havia acontecido com eles. Caso contrário, jamais ignorariam suas ligações. O que fazer?Seus telefonemas não obtinham resposta, e permanecer ali, alimentando o medo e a ansiedade, não fazia sentido. Sem mais hesitar, pegou a bolsa e saiu às pressas em direção ao Hotel Mavis.No caminho, seu coração permanecia aflito, e, ao chegar ao local, essa angústia só se intensificou. O hotel estava em um verdadeiro caos: o fogo se alastrava, densas nuvens de fumaça se erguiam, e o ambiente era preenchido pelo som ensurdecedor das pessoas, das sirenes dos bombeiros e das ambulâncias.Karina tentou manter a calma e, mais uma vez, discou para Ademir. Ainda assim, não obteve resposta. Frustrada, abaixou o celular, tomada por uma a
A enfermeira folheou rapidamente os registros em suas mãos e disse:— Ele provavelmente não foi levado para o hospital. Anotei todos os que foram transferidos para lá!Isso significava que Ademir ainda devia estar ali, no local.— Obrigada! — Karina fechou as mãos, apreensiva, e perguntou. — Posso dar uma olhada nas ambulâncias? Meu amigo pode estar em uma delas.— Pode, sim. — A enfermeira assentiu. — Mas, por favor, só dê uma olhada rápida. Não interrompa o atendimento.— Entendido! Muito obrigada!O ambiente estava pesado; além do barulho incessante, o som de soluços e lamentos preenchia o ar, aprofundando o sentimento de tristeza ao redor. Karina sentia o coração apertado enquanto verificava cada ambulância, uma por uma.Mas, estranhamente, Ademir não estava em nenhuma delas. Será que houve um erro nos registros? Ou será que ele já foi levado ao hospital?Ao seu lado, uma jovem acompanhava uma mulher de meia-idade, provavelmente sua mãe. Ambas tinham os olhos marejados, mas a mu