Mesmo que a comida que ela preparasse não fosse tão boa, ainda assim era o tipo de comida da Cidade J, algo a que estavam acostumados. — Tudo bem. Lucas, sem muito apetite, comeu apenas um pouco e foi para o quarto. Pouco depois, ele saiu novamente e disse para Karina: — Se você for sair, pode comprar duas cuecas para mim? Vim com tanta pressa que acabei esquecendo de trazer. — Claro. Karina assentiu, terminando de comer aos poucos, enquanto verificava no celular se havia algum mercado nas redondezas. Logo encontrou um grande supermercado não muito longe dali. Após se arrumar um pouco e trocar de roupa, ela saiu. O sol brilhava intensamente, e o céu estava de um azul deslumbrante. Karina caminhava lentamente, como se estivesse apenas fazendo um passeio. O supermercado era realmente grande, e ela conseguiu comprar todos os ingredientes que queria. Por fim, se dirigiu à seção masculina. Pegou duas cuecas simples, das mais comuns. Com as sacolas nas mãos, Karina co
Ele iria bater nela? Karina até se esqueceu de piscar os olhos. Se ouvia uma leve rajada de vento ao seu redor, mas a dor esperada nunca chegou. Um som estrondoso ecoou quando o braço de Ademir passou rente à sua bochecha, e o punho dele se chocou violentamente contra a parede atrás dela! Naquele momento, Karina ouviu o som dos ossos colidindo com o concreto, junto com o ruído da poeira caindo da superfície da parede. Aquele soco foi dado com toda a força! — Ademir! — Karina, assustada, se apressou a segurar o braço dele. — Deixa eu ver... Mas Ademir retirou o braço rapidamente, abaixando o olhar para ela, com um sorriso gélido no rosto: — Ver o quê? Você se importa comigo? Sem pensar, Karina respondeu: — Claro que me importo... Assim que disse isso, ela ficou surpresa. Parecia que, sem querer, havia dito algo que não devia. Seu coração começou a bater mais rápido. O que Ademir pensaria sobre aquilo? Aquela frase soou quase como uma confissão, mas, infelizme
Muitas coisas, Ademir não precisava nem mandar, ele já fazia por conta própria.O tempo foi curto, mas Júlio conseguiu descobrir algumas coisas e disse: — A informação veio da Casa de Repouso Castle Peak. Recentemente, o Catarino participou de um teste de avaliação feito pelo Instituto do País de Gales. E ele passou no teste. — Instituto do País de Gales? — Era a primeira vez que Ademir ouvia falar dessa instituição.Não era estranho que uma organização tão especializada fosse desconhecida para quem não atuava nessa área. — Sim. — Júlio também nunca tinha ouvido falar do instituto e tinha feito uma rápida pesquisa sobre ele. Depois de abrir o celular, ele entregou os dados para Ademir: — É uma instituição que recruta, treina e encaminha pessoas com habilidades especiais. Ademir olhou, franzindo as sobrancelhas, e perguntou: — O irmão da Karina, Catarino, não tem autismo? — Tem. — Júlio assentiu. — Dentro do espectro do autismo, há uma pequena parcela de pessoas com inte
Lucas realmente não estava se sentindo bem e acabou vomitando. O diagnóstico preliminar apontava que ele não estava acostumado com o clima do País de Gales.— Não é nada. — Lucas acenou com a mão. — É só o corpo que não está acostumado, não é doença.Karina não concordava, acreditava que isso poderia se agravar.Porém, a opinião dela não importava. Ali, ela não conhecia nada e ainda precisava depender de Lucas.Com receio de preocupá-la, Lucas sorriu:— Você comprou ingredientes, não foi? Tem alguma coisa para comer?— Preparei algo, mas você está com apetite? — Karina franziu a testa, hesitante.— Não se preocupe. — Lucas acenou novamente com a mão, despreocupado. — Mesmo sem fome, é melhor comer um pouco. Com o estômago vazio, quem sabe se algo no estômago não melhora?No momento, não havia uma solução melhor.Foram até o restaurante, e Karina serviu os ingredientes que havia preparado. Ela lhe deu um copo de água e disse:— Beba um pouco de água primeiro. Se sentir desconforto enqua
Mas, como ir ao hospital?Aqui não era a Cidade J, e ir a um hospital seria muito complicado. Além disso, eles nem eram cidadãos do País de Gales, e conseguir internação com apenas um visto não seria tão fácil. Nem mesmo Karina, e talvez até Lucas, conseguiriam resolver essa situação sozinhos.Após refletir por um momento, Karina pensou em uma pessoa. Com o celular na mão, mordendo a ponta do dedo, ela hesitou, mas finalmente decidiu ligar para Ademir.— Karina? — O telefone mal havia começado a tocar quando Ademir atendeu, como se estivesse esperando o contato dela.— Sou eu. — Sem tempo para rodeios, Karina foi direta ao ponto. — O Lucas está doente, vomitando sem parar e com febre. Ele precisa ser internado, mas eu não consigo resolver isso.A mensagem de Karina era clara: ela precisava da ajuda de Ademir.Do outro lado da linha, Ademir não respondeu de imediato. Seus olhos se estreitaram enquanto segurava o celular. Ele havia passado a noite inteira pensando em ligar para Kari
Neste mundo, ninguém seria bom com outra pessoa sem um motivo.Karina não era tola, tampouco queria fingir. Ela já sabia há muito tempo que Ademir tinha certo afeto por ela. No entanto, ele gostava mais de Vitória. Ela não entendia como ele conseguia agir daquela maneira, e nem queria entender. Desde que ele propôs o divórcio, ela havia desistido de Ademir. Mas Ademir, ainda assim, continuava insistindo.Karina olhou para ele e esboçou um leve sorriso. Ela foi muito clara:— As pessoas e as coisas são diferentes. As coisas que você gosta, você pode ter todas. Mas as pessoas, em um dado momento da vida, você só pode ter uma. Nem todo relacionamento consegue durar até o fim. Eu sei que você é bom para mim, mas ser bom para mim e para Vitória ao mesmo tempo, isso não pode coexistir.Ela estava muito calma. Racional e inteligente.Ela sabia, sabia de tudo!Ademir, de repente, sentiu uma dor profunda no peito. O desconforto em seu coração era difícil de suportar.Então, ele perguntou:
Karina abriu os olhos, surpresa. Ele estava ficando cada vez mais ousado com as palavras, já não se importava com nada!— Você sabe que eu gosto de você. Tem coragem de deixar alguém que te ama ir embora preocupado?Que tipo de lógica era essa?Karina nem se deu ao trabalho de olhar para ele e seguiu em frente.— Karina? Karina!Ela se recusava a entrar no carro, então Ademir só pôde seguir devagar ao lado dela.Karina já tinha conferido o caminho. O hotel que Lucas havia reservado fazia todo sentido. Perto dali, havia um ponto de ônibus, e de lá ela poderia chegar ao Instituto do País de Gales, embora precisasse fazer uma baldeação.Ademir percebeu o que ela estava planejando e sorriu, resignado. Não seria melhor ir no carro dele? Espera...Algo estava errado.O ônibus parou, e Karina, com os fones de ouvido, já tinha subido um pé no degrau.— Karina! — Ademir gritou alto, mas infelizmente ela não ouviu.Sem opções, ele resolveu ligar para ela. "Ela tem que atender!"Dentro do ônibu
A última vez.Quando disse essas palavras, a expressão e o tom de Ademir não mudaram; ele sorriu levemente e disse:— Você está certa, eu já fiz a minha escolha. Esta é a última vez. Depois de hoje, quando voltarmos para a Cidade J, eu não vou mais te incomodar.Karina franziu a testa, sem dizer nada.— O que foi, não acredita em mim? — Ademir soltou uma risada fria. — Nós já fomos casados antes, você não me conhece?Claro que ela o conhecia.Se ela não quisesse, ele não faria nada que fosse além do limite.Karina assentiu e disse:— Obrigada.Isso era um sinal de aceitação.Ademir a amparou:— Entre no carro.Ela entrou, e o carro seguiu viagem.Karina olhou a hora:— Daqui até o Instituto do País de Gales é longe?Ademir assentiu, respondendo:— Não é tão perto. Além disso, o País de Gales era bem diferente da Cidade J. No País de Gales, há muito menos pessoas; após sair da área movimentada da cidade, é como se estivéssemos no interior.A paisagem à frente era quase deserta, com pouc