Neste mundo, ninguém seria bom com outra pessoa sem um motivo.Karina não era tola, tampouco queria fingir. Ela já sabia há muito tempo que Ademir tinha certo afeto por ela. No entanto, ele gostava mais de Vitória. Ela não entendia como ele conseguia agir daquela maneira, e nem queria entender. Desde que ele propôs o divórcio, ela havia desistido de Ademir. Mas Ademir, ainda assim, continuava insistindo.Karina olhou para ele e esboçou um leve sorriso. Ela foi muito clara:— As pessoas e as coisas são diferentes. As coisas que você gosta, você pode ter todas. Mas as pessoas, em um dado momento da vida, você só pode ter uma. Nem todo relacionamento consegue durar até o fim. Eu sei que você é bom para mim, mas ser bom para mim e para Vitória ao mesmo tempo, isso não pode coexistir.Ela estava muito calma. Racional e inteligente.Ela sabia, sabia de tudo!Ademir, de repente, sentiu uma dor profunda no peito. O desconforto em seu coração era difícil de suportar.Então, ele perguntou:
Karina abriu os olhos, surpresa. Ele estava ficando cada vez mais ousado com as palavras, já não se importava com nada!— Você sabe que eu gosto de você. Tem coragem de deixar alguém que te ama ir embora preocupado?Que tipo de lógica era essa?Karina nem se deu ao trabalho de olhar para ele e seguiu em frente.— Karina? Karina!Ela se recusava a entrar no carro, então Ademir só pôde seguir devagar ao lado dela.Karina já tinha conferido o caminho. O hotel que Lucas havia reservado fazia todo sentido. Perto dali, havia um ponto de ônibus, e de lá ela poderia chegar ao Instituto do País de Gales, embora precisasse fazer uma baldeação.Ademir percebeu o que ela estava planejando e sorriu, resignado. Não seria melhor ir no carro dele? Espera...Algo estava errado.O ônibus parou, e Karina, com os fones de ouvido, já tinha subido um pé no degrau.— Karina! — Ademir gritou alto, mas infelizmente ela não ouviu.Sem opções, ele resolveu ligar para ela. "Ela tem que atender!"Dentro do ônibu
A última vez.Quando disse essas palavras, a expressão e o tom de Ademir não mudaram; ele sorriu levemente e disse:— Você está certa, eu já fiz a minha escolha. Esta é a última vez. Depois de hoje, quando voltarmos para a Cidade J, eu não vou mais te incomodar.Karina franziu a testa, sem dizer nada.— O que foi, não acredita em mim? — Ademir soltou uma risada fria. — Nós já fomos casados antes, você não me conhece?Claro que ela o conhecia.Se ela não quisesse, ele não faria nada que fosse além do limite.Karina assentiu e disse:— Obrigada.Isso era um sinal de aceitação.Ademir a amparou:— Entre no carro.Ela entrou, e o carro seguiu viagem.Karina olhou a hora:— Daqui até o Instituto do País de Gales é longe?Ademir assentiu, respondendo:— Não é tão perto. Além disso, o País de Gales era bem diferente da Cidade J. No País de Gales, há muito menos pessoas; após sair da área movimentada da cidade, é como se estivéssemos no interior.A paisagem à frente era quase deserta, com pouc
Ademir ficou sem palavras. Então, ainda era o cheiro de perfume em suas roupas que a incomodava. — Não vá para o banco de trás. Você não está se sentindo bem, sentar atrás pode te deixar ainda mais enjoada. — Ele rapidamente tirou o paletó e jogou no banco de trás. — Não podemos jogar lixo por aí, vou jogar fora assim que encontrar uma lixeira, tudo bem? Karina, um pouco mais contente, respondeu: — Faça como quiser.Será que ela não estava mais irritada?De repente, os olhos de Ademir brilharam. Será que Karina estava com ciúmes? Por causa dele e daquela garota?Karina já havia aberto o pacote e cheirado o pão:— Que cheiro bom.Mas ela não conseguia de jeito nenhum abrir o saquinho de vinagre.— Deixa que eu faço. — Ademir pegou o pacote e o abriu com facilidade. — Aqui está.— Obrigada.Ademir pensou que provavelmente estava exagerando. Karina já o havia rejeitado, não havia por que pensar tanto nisso. Depois de comerem um pouco, voltaram à estrada. O tempo, no entanto, começou
A chuva caía torrencialmente, e ao redor, nada se via além das árvores. Pisando no solo enlameado, Karina avançava com extrema dificuldade.Ela caminhou por muito tempo, e a estrada à sua frente começava a se tornar visível, mas Ademir ainda não tinha aparecido.— Ele não pegou esse caminho? Mas... Não há outro caminho por aqui. — A preocupação começou a crescer dentro dela, se arrependendo de ter saído do carro. Se Ademir voltasse e não a encontrasse ali, a situação se tornaria ainda mais complicada.Com esse pensamento, Karina decidiu voltar.Foi então que um grito animalesco ecoou ao seu redor.— Isso é...Ela engoliu em seco, apavorada. O som parecia vir de algum animal de caça, uma ameaça que se aproximava rapidamente. Karina acelerou o passo, notando a movimentação das folhas nos arbustos próximos. Em meio ao pânico, escorregou.Um disparo ecoou pelo ar!No mesmo instante, ela sentiu um braço firme a segurando. Karina ergueu os olhos, ainda assustada, e segurou aquela mão com for
— Obrigado. Agora deixe minha esposa comigo. — Disse Ademir.— Claro.A anfitriã havia preparado um quarto para eles no andar de cima. Ademir segurou a mão de Karina e subiu as escadas, conduzindo ela direto ao banheiro. A banheira já estava cheia com água quente, e roupas limpas a esperavam sobre uma cadeira.— Tome um banho para relaxar um pouco.Com essas palavras, ele se virou para sair.— Ademir. — Karina o chamou.— Sim? Alguma coisa?Karina mordeu levemente os lábios e perguntou:— E você?Ele também estava completamente encharcado.— Vou descer. Não preciso de banho de banheira, uma ducha rápida basta para mim.— Está bem.Ademir saiu do quarto, e seus passos foram ficando mais distantes no corredor.Karina fechou a porta e relaxou no banho quente, deixando a água aliviar o cansaço. Quando saiu, Ademir já a esperava, limpo e de roupa trocada. Vestia um conjunto antigo do anfitrião, que lhe dava um ar acolhedor, quase doméstico.Karina, por outro lado, estava apenas de robe,
A anfitriã havia preparado o jantar com muito carinho. Vegetais assados, bife grelhado, frutas frescas e sobremesas compunham a mesa. Quem já havia morado no exterior sabia que essa era uma refeição reservada para ocasiões especiais ou para receber convidados importantes. Ademir, por isso, se sentiu profundamente grato. No entanto, diante daquela abundância, Karina simplesmente não tinha apetite. Ademir percebeu e comentou:— Se não quer comer, não coma...— Está tudo bem. — Karina o interrompeu. — De qualquer forma, nada que eu coma me dará apetite. Não quero desprezar o esforço da anfitriã.Ela ergueu a mão e pegou a colher de sopa.— Beba um pouco de sopa primeiro.Ademir a observava com atenção, na esperança de que ela comesse um pouco mais, mesmo que fosse só mais uma colher. Karina, porém, engolia a comida como se fosse um remédio, tomando apenas duas colheradas de sopa.— Como se sente?— Ainda bem...— Que bom.Aliviado, Ademir começou a comer a própria refeição. Mal tinh
Karina franziu a testa e perguntou:— Em um lugar como este, que jeito você pode dar?— Como vou saber sem tentar? — Ademir ergueu a sobrancelha e saiu.Depois de pensar por um momento, Karina decidiu descer as escadas. Escutou Ademir conversando com o senhor idoso, o dono da casa.— Mas o supermercado mais próximo fica longe. Se você for de carro, vai acabar voltando só de manhã.Além disso, estava caindo uma chuva forte lá fora.— Não tem problema, sou forte. — Ademir se virou para a anfitriã, que o olhava com doçura e carinho. — Por favor, cuide da minha esposa para mim.— Claro, querido. — A senhora acariciou a mão dele e olhou para o marido. — Deixe ele ir. Quando você era jovem, não fazia o mesmo por mim?O homem sorriu e disse:— Está bem, vou tirar o carro da garagem.— Filho, é melhor vestir uma capa de chuva. Tem uma lá na garagem.— Certo. — Ademir seguiu até a garagem e voltou com uma capa de chuva.Na entrada, Karina estava parada, observando ele com uma expressão visivelm