Muitas coisas, Ademir não precisava nem mandar, ele já fazia por conta própria.O tempo foi curto, mas Júlio conseguiu descobrir algumas coisas e disse: — A informação veio da Casa de Repouso Castle Peak. Recentemente, o Catarino participou de um teste de avaliação feito pelo Instituto do País de Gales. E ele passou no teste. — Instituto do País de Gales? — Era a primeira vez que Ademir ouvia falar dessa instituição.Não era estranho que uma organização tão especializada fosse desconhecida para quem não atuava nessa área. — Sim. — Júlio também nunca tinha ouvido falar do instituto e tinha feito uma rápida pesquisa sobre ele. Depois de abrir o celular, ele entregou os dados para Ademir: — É uma instituição que recruta, treina e encaminha pessoas com habilidades especiais. Ademir olhou, franzindo as sobrancelhas, e perguntou: — O irmão da Karina, Catarino, não tem autismo? — Tem. — Júlio assentiu. — Dentro do espectro do autismo, há uma pequena parcela de pessoas com inte
Lucas realmente não estava se sentindo bem e acabou vomitando. O diagnóstico preliminar apontava que ele não estava acostumado com o clima do País de Gales.— Não é nada. — Lucas acenou com a mão. — É só o corpo que não está acostumado, não é doença.Karina não concordava, acreditava que isso poderia se agravar.Porém, a opinião dela não importava. Ali, ela não conhecia nada e ainda precisava depender de Lucas.Com receio de preocupá-la, Lucas sorriu:— Você comprou ingredientes, não foi? Tem alguma coisa para comer?— Preparei algo, mas você está com apetite? — Karina franziu a testa, hesitante.— Não se preocupe. — Lucas acenou novamente com a mão, despreocupado. — Mesmo sem fome, é melhor comer um pouco. Com o estômago vazio, quem sabe se algo no estômago não melhora?No momento, não havia uma solução melhor.Foram até o restaurante, e Karina serviu os ingredientes que havia preparado. Ela lhe deu um copo de água e disse:— Beba um pouco de água primeiro. Se sentir desconforto enqua
Mas, como ir ao hospital?Aqui não era a Cidade J, e ir a um hospital seria muito complicado. Além disso, eles nem eram cidadãos do País de Gales, e conseguir internação com apenas um visto não seria tão fácil. Nem mesmo Karina, e talvez até Lucas, conseguiriam resolver essa situação sozinhos.Após refletir por um momento, Karina pensou em uma pessoa. Com o celular na mão, mordendo a ponta do dedo, ela hesitou, mas finalmente decidiu ligar para Ademir.— Karina? — O telefone mal havia começado a tocar quando Ademir atendeu, como se estivesse esperando o contato dela.— Sou eu. — Sem tempo para rodeios, Karina foi direta ao ponto. — O Lucas está doente, vomitando sem parar e com febre. Ele precisa ser internado, mas eu não consigo resolver isso.A mensagem de Karina era clara: ela precisava da ajuda de Ademir.Do outro lado da linha, Ademir não respondeu de imediato. Seus olhos se estreitaram enquanto segurava o celular. Ele havia passado a noite inteira pensando em ligar para Kari
Neste mundo, ninguém seria bom com outra pessoa sem um motivo.Karina não era tola, tampouco queria fingir. Ela já sabia há muito tempo que Ademir tinha certo afeto por ela. No entanto, ele gostava mais de Vitória. Ela não entendia como ele conseguia agir daquela maneira, e nem queria entender. Desde que ele propôs o divórcio, ela havia desistido de Ademir. Mas Ademir, ainda assim, continuava insistindo.Karina olhou para ele e esboçou um leve sorriso. Ela foi muito clara:— As pessoas e as coisas são diferentes. As coisas que você gosta, você pode ter todas. Mas as pessoas, em um dado momento da vida, você só pode ter uma. Nem todo relacionamento consegue durar até o fim. Eu sei que você é bom para mim, mas ser bom para mim e para Vitória ao mesmo tempo, isso não pode coexistir.Ela estava muito calma. Racional e inteligente.Ela sabia, sabia de tudo!Ademir, de repente, sentiu uma dor profunda no peito. O desconforto em seu coração era difícil de suportar.Então, ele perguntou:
Karina abriu os olhos, surpresa. Ele estava ficando cada vez mais ousado com as palavras, já não se importava com nada!— Você sabe que eu gosto de você. Tem coragem de deixar alguém que te ama ir embora preocupado?Que tipo de lógica era essa?Karina nem se deu ao trabalho de olhar para ele e seguiu em frente.— Karina? Karina!Ela se recusava a entrar no carro, então Ademir só pôde seguir devagar ao lado dela.Karina já tinha conferido o caminho. O hotel que Lucas havia reservado fazia todo sentido. Perto dali, havia um ponto de ônibus, e de lá ela poderia chegar ao Instituto do País de Gales, embora precisasse fazer uma baldeação.Ademir percebeu o que ela estava planejando e sorriu, resignado. Não seria melhor ir no carro dele? Espera...Algo estava errado.O ônibus parou, e Karina, com os fones de ouvido, já tinha subido um pé no degrau.— Karina! — Ademir gritou alto, mas infelizmente ela não ouviu.Sem opções, ele resolveu ligar para ela. "Ela tem que atender!"Dentro do ônibu
A última vez.Quando disse essas palavras, a expressão e o tom de Ademir não mudaram; ele sorriu levemente e disse:— Você está certa, eu já fiz a minha escolha. Esta é a última vez. Depois de hoje, quando voltarmos para a Cidade J, eu não vou mais te incomodar.Karina franziu a testa, sem dizer nada.— O que foi, não acredita em mim? — Ademir soltou uma risada fria. — Nós já fomos casados antes, você não me conhece?Claro que ela o conhecia.Se ela não quisesse, ele não faria nada que fosse além do limite.Karina assentiu e disse:— Obrigada.Isso era um sinal de aceitação.Ademir a amparou:— Entre no carro.Ela entrou, e o carro seguiu viagem.Karina olhou a hora:— Daqui até o Instituto do País de Gales é longe?Ademir assentiu, respondendo:— Não é tão perto. Além disso, o País de Gales era bem diferente da Cidade J. No País de Gales, há muito menos pessoas; após sair da área movimentada da cidade, é como se estivéssemos no interior.A paisagem à frente era quase deserta, com pouc
Ademir ficou sem palavras. Então, ainda era o cheiro de perfume em suas roupas que a incomodava. — Não vá para o banco de trás. Você não está se sentindo bem, sentar atrás pode te deixar ainda mais enjoada. — Ele rapidamente tirou o paletó e jogou no banco de trás. — Não podemos jogar lixo por aí, vou jogar fora assim que encontrar uma lixeira, tudo bem? Karina, um pouco mais contente, respondeu: — Faça como quiser.Será que ela não estava mais irritada?De repente, os olhos de Ademir brilharam. Será que Karina estava com ciúmes? Por causa dele e daquela garota?Karina já havia aberto o pacote e cheirado o pão:— Que cheiro bom.Mas ela não conseguia de jeito nenhum abrir o saquinho de vinagre.— Deixa que eu faço. — Ademir pegou o pacote e o abriu com facilidade. — Aqui está.— Obrigada.Ademir pensou que provavelmente estava exagerando. Karina já o havia rejeitado, não havia por que pensar tanto nisso. Depois de comerem um pouco, voltaram à estrada. O tempo, no entanto, começou
A chuva caía torrencialmente, e ao redor, nada se via além das árvores. Pisando no solo enlameado, Karina avançava com extrema dificuldade.Ela caminhou por muito tempo, e a estrada à sua frente começava a se tornar visível, mas Ademir ainda não tinha aparecido.— Ele não pegou esse caminho? Mas... Não há outro caminho por aqui. — A preocupação começou a crescer dentro dela, se arrependendo de ter saído do carro. Se Ademir voltasse e não a encontrasse ali, a situação se tornaria ainda mais complicada.Com esse pensamento, Karina decidiu voltar.Foi então que um grito animalesco ecoou ao seu redor.— Isso é...Ela engoliu em seco, apavorada. O som parecia vir de algum animal de caça, uma ameaça que se aproximava rapidamente. Karina acelerou o passo, notando a movimentação das folhas nos arbustos próximos. Em meio ao pânico, escorregou.Um disparo ecoou pelo ar!No mesmo instante, ela sentiu um braço firme a segurando. Karina ergueu os olhos, ainda assustada, e segurou aquela mão com for