Lorenzo, contudo, se sentia revigorado. Após passar tanto tempo com Pedro ele aprendeu o valor de dizer o que pensava. Anteriormente, por conta de sua posição, não havia ninguém a quem ele considerasse digno de ser repreendido com tais palavras e tom, mas aquele era o momento ideal para um desabafo.Ele não acreditava que a família Borges, aquela figura astuta, faria algo contra Tatiana. Como o velho havia dito, ele certamente desprezava a modesta família Orsi da Cidade B.Mas, olhando para a situação atual da Cidade R, ninguém além dele tinha a capacidade de retirar um paciente ainda inconsciente do hospital sem deixar vestígios.No hospital da família Lacerda, além dos seus, havia também pessoas da família Orsi de guarda.O resultado foi que, no meio da tarde, Tatiana desapareceu sem deixar vestígios.Mas era óbvio que, além de Benjamim, ninguém teria tal capacidade.Vasco ainda estava muito preocupado com a atitude de Lorenzo, e sua face envelhecida e resoluta mostrava grande desco
Pedro, com seu temperamento explosivo, simplesmente não conseguiu se segurar e avançou com raiva.No entanto, antes que pudesse fazer algo estúpido, Leopoldo o interrompeu.Leopoldo segurou seu pulso firmemente e balançou a cabeça de maneira contida, seu olhar era firme.Pedro, embora impulsivo, não era tolo. Ele engoliu sua raiva e olhou furiosamente para o velho.Benjamim, por outro lado, não se importava, para ele, os jovens à sua frente eram apenas crianças incapazes de fazer grande coisa, e não valia a pena se preocupar com eles.Afinal, mesmo que aquelas pessoas não gostassem dele, não poderiam fazer nada.Lhes faltava poder e influência.- Senhores, se ainda há algo que desejam discutir, podem esperar que o Sr. Benjamim termine o jantar ou vir visitá-lo amanhã. Se não há mais nada, fiquem à vontade, pois o jantar desta noite é limitado e, infelizmente, não podemos recebê-los. - Disse Vasco, depois se virou para Lorenzo. - Mestre Lorenzo, se desejar ficar para jantar, vou pedir à
- Mestre Guilherme, há notícias do velho senhor. - Disse Zeca, hesitante.Na cabana ao lado do cais, ao longo da margem do rio, cercada por uma grade, o local que antes era coberto de flores e ervas, agora tinha sido transformado em um píer de pesca. Um terraço de madeira estava decorado um grande guarda-sol, uma mesa de madeira e cadeiras reclináveisZeca esperava ao lado de Guilherme com um tablet em mãos, cuja tela piscava incessantemente com novas mensagens. Guilherme, com sua vara de pesca posicionada à frente, pegou o tablet sem muito interesse e disse:- Como está aquela mulher?Sua voz era desinteressada, mas sua expressão se tornou mais sombria ao ler as mensagens no tablet, e o sorriso astuto gradualmente desapareceu.Zeca observou a mudança na expressão do jovem senhor, incerto se deveria informar sobre a condição de Tatiana. Com hesitação, ele revelou a verdade:- O médico disse que ela não tem nada grave, está esperando que ela acorde para administrar o medicamente, mas e
Quando as chamas irromperam à beira do rio, uma balsa turística deslizou lentamente sobre as águas, refletindo as cores dos neons e criando ondulações na superfície.No convés da frente, Guilherme casualmente jogava seu terno sobre os ombros.Ele apoiou o queixo com a mão enquanto observava o incêndio que eclodia na casa térrea ao longe, o vento de outono soprava livremente em seu rosto. Seus olhos negros brilhavam enquanto seus dedos longos e magros ritmavam levemente na grade, como se tocassem uma música em um piano clássico.- Você acha que as faíscas são bonitas? - Perguntou Guilherme.Atrás dele estava um homem de meia-idade vestido com um jaleco branco e óculos.Este último, com o rosto inexpressivo, observou o incêndio na margem do rio por um momento antes de responder lentamente:- Mestre Guilherme, a senhorita que você trouxe a bordo já acordou. Você gostaria de ir vê-la?Guilherme ergueu as sobrancelhas e se virou surpreso para o homem atrás dele.- Ela acordou? - Ele caminho
- É mesmo? - Guilherme hesitou por um momento. - Então, Tati, me diga, o que mudou em mim?Tatiana olhou para o rosto familiar à sua frente, claramente confusa.- Eu...Embora fosse idêntico ao que lembrava, algo parecia estranho, como se aquele tom de voz não pudesse vir de Lorenzo.Mas se não era Lorenzo, quem mais poderia ser?Ela balançou a cabeça e disse:- Não consigo explicar direito, só sinto que você está um pouco diferente. Além disso, Loh, você...Guilherme insistiu:- Além disso, o quê?Tatiana mordeu o lábio, visivelmente triste.- Além disso, você gostava da Carolina, ficava impaciente ao me ver, até me pediu para ficar longe de você. Por que agora está aqui cuidando de mim?Ela estava claramente abalada, relutante em olhar para o homem à sua frente, seus olhos caíram sobre o cobertor que ele havia acabado de arrumar.Guilherme riu levemente e disse:- Carolina? Então você se incomoda tanto com aquela mulher?Havia um tom de escárnio em sua voz.Não estava claro se ele es
O vento frio do outono uivava.Ao ouvir aquelas palavras, Guilherme levantou os olhos para a figura imponente ao seu lado e resmungou:- Dr. Severino, se eu pudesse discernir a verdade, por que desperdiçaria meu tempo pedindo que você fosse verificar? Você acha que estou entediado?O médico que Guilherme havia trazido a bordo era Severino Lacerda, o filho mais velho da família Lacerda e irmão de Ademir.Os Lacerda tinham uma longa tradição em medicina, e Severino seguiu o caminho da família.No entanto, ele não possuía o mesmo talento médico de Ademir, e naturalmente não tinha a mesma posição no hospital que seu irmão, que era obcecado por medicina.Mas um Lacerda, mesmo não sendo o mais talentoso entre os seus, ainda era capaz de se destacar por conta própria.E na Cidade R, os únicos jovens médicos que Guilherme considerava dignos de atenção eram os Lacerda.Severino colocou as mãos nos bolsos, com um sorriso indiferente no rosto.- Se não me falha a memória, Mestre Guilherme sempre
Anteriormente, Benjamim era muito arrogante, acreditava que o poder prevalecia e que as regras eram apenas muros construídos para os fracos. Agora, ele mesmo oferecia ajuda.Era algo quase inacreditável.Sem esperar qualquer reação dos irmãos da família Orsi, Benjamim já estava se afastando com seu corpo visivelmente cansado.- Leo, o que você acha que ele quis dizer? - Perguntou Eduardo.Leopoldo observou a figura do ancião se afastando com um olhar pensativo.- Que seja o que ele quis dizer, se a família Borges quer intervir e ajudar, não vou reclamar. Quanto a nós, só precisamos continuar cuidando dos nossos assuntos. - Disse ele. - E a nossa irmã, alguma notícia?Com a menção à Tatiana, o semblante de Eduardo se tornou mais grave.- Ainda não temos notícias. - Ele lançou um olhar para a sala de emergência, a emoção em seus olhos era complexa. - Desta vez, devemos um favor a ele.Se antes, a atitude indiferente da família Orsi em relação a Lorenzo era até compreensível, Lorenzo agor
Tatiana não se lembrava de Lorenzo olhando para ela com tal intensidade. Mesmo depois do retorno de Carolina, quando ele mostrava sinais de impaciência para com ela, ele apenas a evitava ou mantinha uma expressão fria.Será que a personalidade dele poderia ter mudado tanto nos anos em que ela perdeu a memória?O homem à sua frente era realmente Lorenzo?A garota, parada no quintal, tinha o rosto pálido e os olhos negros, confusos e inocentes, e permaneceu parada em silêncio, incapaz de continuar sua fala.Guilherme, percebendo que sua expressão havia sido severa demais, suavizou o olhar e colocou um sorriso falso nos lábios.- Tati, por que você saiu? O Dr. Severino não te disse que é melhor ficar de repouso até que suas feridas estejam completamente curadas?Tatiana falou sinceramente:- Estava muito abafado lá dentro, não conseguia ficar parada, então queria te perguntar algumas coisas.A casa alugada era simples e desprovida de comodidades. O televisor era um modelo antigo que só re