Havia sete cobras, todas enroladas ordenadamente dentro de um balde de ferro, ainda se contorcendo. Mariane sentiu um arrepio só de olhar para elas.No quintal, Vinicius já havia trocado de roupa e estava usando um traje de proteção semelhante ao que usou quando foi pegar as raízes de lótus na água.Mariane enrolava para não entrar na cozinha, espiando o homem no quintal.Antes de começar a trabalhar, Vinicius acendeu um cigarro e, ao se virar, percebeu que ela ainda estava enrolando.Ele jogou a bituca do cigarro e disse:- Você precisa se preparar tanto antes de começar?Mariane saiu com as mãos atrás das costas, pensou um pouco e disse:- Acho que é um desperdício fritar hoje à noite, seria melhor comer amanhã.O Dr. Santini saiu com uma xícara de chá, dizendo:- Não é desperdício, não é desperdício. Se não conseguirmos comer tudo, refritamos o restante amanhã e continuamos comendo.Mariane olhou para Vinicius, que levantou o canto da boca, provocando:- Ouviu isso?- Eu...- Anda l
Mariane cortava as cobras rapidamente, enquanto Vinicius demorava para lidar com a pele de burro. Ela já estava se preparando para fritar quando ele finalmente raspou apenas metade.Dr. Santini disse que raspar a pele de burro machucaria as costas e pediu para ele descansar um pouco.Vinicius concordou, largou o couro e foi se lavar.Mariane estava temperando na cozinha, preparando para marinar os pedaços de carne de cobra.Embora ela não estivesse tão assustada como antes, ainda não conseguia pegar as cobras de forma eficiente. Ela estava misturando aqueles pedaços rosados aos poucos com um garfo.Afinal, eram sete cobras, todas com cerca de um ou dois metros, preenchendo um balde inteiro.- Quando você terminar essa tarefa de baixa eficiência, já será de manhã. - Disse Vinicius sarcasticamente, parado perto da porta.Mariane não se importava e respondeu:- Trabalho lento resulta em trabalho bem feito.Vinicius ficou em silêncio, mas discretamente se aproximou dela.Mariane olhou para
Mariane não foi imediatamente procurar Vinicius. Ela entrou na casa, pegou um livro de medicina e então sentou ao lado dele, colocando também a carne de cobra ali.- Não vai comer? - Ela perguntou.Vinicius a ignorou.Ela riu, dizendo:- Não precisa ficar tão irritado, né?Prevendo que ela iria chamá-lo de infantil de novo, ele abriu os olhos, virou o rosto e olhou para ela sombriamente.Mariane sorriu.Ele bufou e desviou o olhar.Mariane disse:- Você realmente não tem lógica em suas ações. Você pode me provocar, mas eu não posso revidar?A expressão de Vinicius não estava fria, apenas desconfortável, era uma insatisfação intencional.Mariane podia sentir isso, por isso se atreveu a brincar com ele:- Se você não vai comer, tudo bem. Eu peguei um livro de medicina oriental com o Dr. Santini para tratar da sua doença.Ele franziu a testa e virou o rosto para ela, questionando:- Quem está doente?Mariane não se importou e começou a folhear o livro de medicina, de repente perguntando:
Até muito tempo depois, Mariane ainda se lembrava da cena dessa noite.O homem estava vestindo uma camisa simples e calça, sentado nos dois degraus na frente da casa antiga, apoiando-se para trás com uma mão, brincando com o gato de forma descontraída.O gato se esfregava em sua palma, então ele levantou a mão, acariciando a cabeça do gato.Aquele belo rosto, pela primeira vez, deixou de ser distante e inacessível, mostrando um toque de humanidade.Ela não pôde deixar de perguntar:- Você não vai comer?- Estou satisfeito.- Então por que você me pediu para fritar?Ele percebeu o ressentimento em suas palavras, levantou o canto da boca e olhou para ela de propósito, respondendo:- Não suporto te ver ociosa.Mariane ficou com cara de tacho. Que tipo de gente descarada era essa?De repente, um miado suave soou.Mariane esticou o pescoço e viu um pequeno gatinho ansioso no canto da escada.- É o filhote de Cascudo, não é? - Ela perguntou a Vinicius.Vinicius também era volúvel, não deu ma
- Depois de conseguir lidar com selfies, vou gravar vídeos de mim mesma e depois ir praticar atuação. Mais cedo ou mais tarde, vou me recuperar. Mas você é diferente, você não gosta de tomar remédios e não se exercita mentalmente. Que pena, você vai ficar surdo pelo resto da vida.Vinicius virou a cabeça em um segundo ao ouvir isso, estalando a língua de impaciência.Quem ela estava provocando?Mariane viu a expressão irritada dele pelo canto do olho e achou engraçado. Ela não olhou diretamente para ele e continuou:- E obrigada a você. Antes, eu não tinha bons recursos para receber tratamento, mas agora, graças a você, conheci o Dr. Santini. Tenho um médico para me consultar e é de graça.Ele deu um resmungo e afastou os dois gatos, dizendo:- Então é um registro diário, não é?- Claro, vou fazer todos os dias.- Tudo bem, então venha. - Ele pegou o celular, exatamente à meia-noite. - Primeiro dia, faça o registro.Mariane hesitou por um momento, gaguejando:- Hoje, já... Já está tard
- Vou contar os segundos.- Conte!- Três... Dois...Ouvindo a sua própria voz, Vinicius se sentia como se também pudesse ouvir seu coração batendo, porque Mariane continuava olhando para cima, sem se esconder.Ele estava um pouco confuso, sentia um zumbido nos ouvidos, sem saber se estava ouvindo sons normais ou o som do aparelho auditivo.Antes de contar o último segundo, ele disse:- Vou ligar flash da câmera.- Ligue como quiser!Mariane arriscou tudo, da última vez ela não desviou o olhar diante de todas aquelas câmeras do teatro, então por que teria medo de olhar para a lente do celular?A contagem regressiva final:- Um.Vinicius soltou a palavra com calma, mas viu Mariane realmente abrir os olhos. Seu coração deu um salto e, instintivamente, ele levantou a mão que a abraçava para cobrir os olhos dela.Ao mesmo tempo, o flash da câmera disparou!Os olhos de Mariane se abriram muito, ela viu inicialmente o celular que o homem estava segurando, mas no momento em que o flash dispar
O Dr. Santini não acreditava muito que Vinicius tomaria os remédios obedientemente, ou melhor, ele achava que isso duraria apenas por um curto período de tempo.Depois de Mariane garantir várias vezes que não desperdiçaria os remédios, o Dr. Santini concordou em prescrevê-los.Vinicius ainda estava sentado nos degraus, ouvindo o burburinho vindo de dentro da casa. Ele virou a cabeça e disse:- Por que você está tão feliz por eu vou ter que tomar os remédios?Mariane saiu de casa e sentou ao lado dele, rindo?- Com um companheiro de doença, não é mais animado?Vinicius ficou sem palavras.Ela achava animado ter que tomar remédios para se tratar? Ela pensava que era uma festa?Mariane já havia pensado nisso. Ela apoiou o queixo, imaginando o futuro.- Depois que eu me curar, poderei voltar a atuar. - Ela olhou para Vinicius e sorriu. – Quando este dia chegar, Sr. Vinicius, considerando nossa experiência compartilhada, você poderia investir em meus filmes, que tal?- Você está sonhando.-
A foto não estava borrada, mas Vinicius aparecia apenas de perfil, e Mariane não conseguia discernir a emoção em seus olhos.Havia sido um período agitado nos últimos dois dias e, agora que estava mais calma, ela estava um pouco cansada.A relação entre ela e Vinicius parecia ter mudado.Pelo menos, pareciam estar mais próximos.Ao ver o outro lado dele esta noite, ela sentiu que estavam quase se tornando amigos.Comparado à desconfortável identidade de marido e mulher, essa nova dinâmica era muito mais confortável para ela.Ela suspirou de alívio e deixou o celular de lado.Mas quando se virou, percebeu que Vinicius ainda estava olhando para o celular.Ela puxou o cobertor e, casualmente, disse uma frase:- Boa noite.Depois de dizer isso, antes mesmo de receber uma resposta, ela se acomodou na cama obedientemente.Não demorou muito para que ele dissesse:- Dorme logo.Mariane revirou os olhos mentalmente.No segundo seguinte, a luz se apagou.Ela piscou no escuro. Ele não disse que n