Sempre era Lúcia quem ia atrás de Sílvio. Assim como aquele rapaz que ela acabara de ver, ela também pedia para Sílvio ficar parado, esperando por ela. Já estava acostumada a tomar a iniciativa, a abandonar qualquer orgulho que tinha. Acreditava que sua dedicação traria felicidade. Mas não foi assim. No fim, tudo o que encontrou foi uma tragédia: outra mulher havia tomado seu lugar ao lado de Sílvio.Ela não sabia se Sílvio a via como substituta daquela mulher, ou se era ela quem agora havia sido substituída pela outra.O casal que ela observava desapareceu entre a multidão, de mãos dadas, enquanto Lúcia desviava o olhar, perdida em seus próprios pensamentos. Seus passos a levavam sem rumo, afundando na neve fofa. As botas deixavam marcas sobre o chão branco, enquanto o vento gelado cortava seu rosto como lâminas afiadas."O que são essas memórias que me faltam? Será que Sílvio ainda vai voltar?" Pensava Lúcia, enquanto sua cabeça latejava de dor a cada pergunta sem resposta.Ao virar
Lúcia, era claro, também ouviu as palavras do fotógrafo. Ele realmente se aproximaria daquela garota que não só tinha o mesmo nome que ela, mas também o mesmo rosto?Seu coração subiu até a garganta. Ela queria correr até eles, gritar, exigir explicações, separá-los. Queria dizer a ele:"Sílvio, abra os olhos! Olhe direito! Eu sou a verdadeira Lúcia, a mulher com quem você prometeu se casar, com quem jurou passar o resto da vida! O que aconteceu neste último mês para que você mudasse tanto assim?"Mas, por mais que quisesse, suas pernas não se moviam. Pareciam congeladas no chão coberto de neve. O vento gélido batia impiedosamente contra seu rosto pálido. E então, ela viu. A garota de vestido de noiva se aproximou de Sílvio, ergueu-se na ponta dos pés e, com um sorriso que transbordava felicidade, fechou os olhos e beijou a lateral do rosto dele.E Sílvio… não a afastou. Ele ficou lá, parado, mas com o olhar fixo em Lúcia. Aquela troca silenciosa de olhares perfurou o coração dela como
— Sílvio, você não quer tirar as fotos de casamento ou não quer tirá-las comigo? — Giovana perguntou, chorando de forma desamparada. As lágrimas escorriam por seu rosto, tornando sua expressão ainda mais melancólica.Diante daquela pressão, Sílvio só conseguiu responder:— Vamos continuar.Era uma promessa que ele havia feito. E uma promessa precisava ser cumprida.Giovana sorriu de forma radiante, mesmo com lágrimas nos olhos, e encostou a cabeça no peito dele, lançando um olhar significativo ao fotógrafo.Porém, dentro de Sílvio algo queimava como uma chama incontrolável. Uma sensação sufocante, uma angústia que o consumia a cada segundo. "Por que eu me sinto tão desconfortável fazendo isso com Lúcia? Por que meu corpo rejeita tudo isso?" Ele queria afastá-la, queria dizer que aquilo estava errado. Mas não podia. Afinal, ela era Lúcia. Era a mulher que ele mais amava.De repente, uma gota carmesim escorreu pelo nariz dele.O fotógrafo abaixou a câmera imediatamente e exclamou, alarma
“Sílvio, só quero estar ao seu lado, cuidar de você, ser sua esposa, a mulher que você mais ama. Posso abrir mão de tudo, fazer qualquer coisa por isso. Vou te provar que só eu posso te proteger. A Lúcia… ela só vai ser um peso para você.”Giovana completou essas palavras em silêncio, enquanto seu olhar brilhava com lágrimas que pareciam genuínas. Uma declaração tão tocante, acompanhada de olhos marejados, era difícil de ignorar.Os dedos de Sílvio, repousando sobre os joelhos, se curvaram levemente. Ele suspirou, levantando a mão para enxugar as lágrimas dela, num gesto que misturava ternura e culpa:— Não se preocupe. Eu vou melhorar logo, e então vamos nos casar de novo. Você será minha noiva mais uma vez.— Está bem.De repente, o som de uma mensagem interrompeu o momento. Giovana pegou o celular e, ao ler o conteúdo, seu rosto ficou pálido.— O que foi? Está se sentindo mal? — Sílvio percebeu a mudança em sua expressão.Ela forçou um sorriso, tentando disfarçar:— Não, não é nada.
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co