— Não sabe mesmo? — Sílvio perguntou. O calor de sua respiração morna roçou no rosto de Lúcia, que imediatamente sentiu o rosto arder e o coração acelerar. Os traços de Sílvio estavam tão próximos, quase ao alcance de um toque. A água quente da ducha caía sobre os dois, escorrendo por seus corpos. Lúcia observava o caminho das gotas: elas deslizavam pela ponte do nariz perfeitamente esculpido dele, pelas pestanas densas e curvas, e pelos lábios finos e convidativos. Ela já o havia olhado incontáveis vezes, mas, naquele instante, com ele tão perto, era como se o coração dela batesse mais rápido, como na primeira vez. Sílvio era exatamente o tipo de homem que fazia seu coração disparar. Durante o dia, um cavalheiro elegante; à noite, um amante experiente, que sabia exatamente o que fazer na cama. Naquele momento, a lembrança da última vez que haviam estado juntos invadiu sua mente: ela mordeu de leve o pomo de Adão dele, e a cena lhe arrancou um sorriso involuntário. Tentando dis
Lúcia teve um sonho maravilhoso, daqueles que aquecem o coração. No sonho, ela estava com o pai, a mãe e… Sílvio. Eles celebravam o casamento, recebendo os parabéns dos convidados. Depois, tiveram uma filha. A família cresceu e agora eram cinco, vivendo em uma casa espaçosa, cercados de alegria. No sonho, Sílvio cuidava das crianças, trocando fraldas e correndo de um lado para o outro, completamente ocupado, mas com um sorriso no rosto. Era uma cena tão doce que ela não queria que acabasse.No entanto, foi despertada por um raio de sol que atravessou a cortina, tocando seu rosto. Do lado de fora, os pássaros, em pares, saltitavam nos galhos próximos à janela. Cantavam e, em sua imaginação, piscavam para ela como se estivessem trazendo boas notícias. Talvez fosse o reflexo da felicidade que sentia, que a fazia até achar aquele barulho agradável. Para ela, os pássaros estavam anunciando que tudo ia bem, que seu casamento finalmente seria comemorado como merecia.O celular vibrou ao lado
Sílvio tinha acabado de sair para o trabalho quando Lúcia também decidiu sair de casa. A curiosidade a consumia. O que Giovana estava tramando dessa vez? Sua rotina era entediante, e observar uma palhaçada poderia ser, no mínimo, um passatempo divertido. Ela caprichou na maquiagem, escolheu uma saia de couro elegante que transbordava sofisticação e calçou saltos altos. Com ares de quem sabia o próprio valor, seguiu até a confeitaria cujo endereço Giovana havia enviado. O lugar era charmoso, ideal para quem queria tirar boas fotos. Giovana, que já carregava certa inveja da beleza natural de Lúcia, sentiu-se ainda mais incomodada ao vê-la entrar. Os olhos de Lúcia, como sempre, pareciam carregar um magnetismo irresistível, e sua postura confiante naquele visual impecável era impossível de ignorar. Giovana, que vestia uma peça cara, algo próximo dos dez mil reais, havia se preparado para impressionar. Contudo, ao notar o colossal anel de diamante no dedo de Lúcia um "pequeno" presente
Giovana tirou um envelope de dentro da bolsa. Dentro dele havia fotos dela com Sílvio vestidos de noivos. Sim, ela tinha mandado imprimir. Não acreditava que Lúcia conseguiria ficar indiferente ao ver aquilo, muito menos manter a compostura. Se Lúcia não recuperava a memória sozinha, Giovana estava disposta a provocá-la até que ela mesma se obrigasse a lembrar. Esse era o plano de Giovana. Com o envelope firme entre os dedos, ela o balançou na frente de Lúcia:— O seu marido não foi tão bom assim para você no passado. Ele tinha outras mulheres. Inclusive, tirou fotos de casamento com uma delas. Aqui estão elas, bem aqui neste envelope. Pode olhar se quiser. Se não acredita, vá investigar. Você vai descobrir que o que estou dizendo é verdade. Ela empurrou o envelope em direção a Lúcia. Lúcia lançou um olhar para o papel pardo sobre a mesa. Sentia uma vontade quase irresistível de abrir e confirmar se as fotos eram reais ou não. Afinal, Sílvio era seu primeiro amor, seu marido. Com
Giovana ligou para Sílvio, chorando desesperada. Se não fosse pela indicação de que a ligação estava ativa, ela teria certeza de que ele nem havia atendido. Do outro lado da linha, não houve uma palavra, nenhum consolo, absolutamente nada. No meio do choro, Giovana ouviu o tom de encerramento da chamada. Sílvio simplesmente desligou. Furiosa, Giovana quase jogou o celular longe, mas, em vez disso, fez outra ligação. Desta vez, para a gerente de uma cliente:— O plano será antecipado para esta noite! A voz hesitante da mulher soou do outro lado: — Srta. Giovana, combinamos que seria apenas uma injeção para assustar a Lúcia. Nada de assassinato. Isso é coisa que dá cadeia! Giovana baixou o tom, mas seu tom de ameaça era ainda mais afiado:— Poupe-me de desculpas! Vou ser clara: sua filha está nas minhas mãos. Se algo der errado, será você quem vai sofrer as consequências. E, se Lúcia não recuperar a memória hoje à noite, se prepare para organizar o enterro da sua filha! Enquant
Sílvio continuou desabotoando a camisa sem responder. Lúcia, sem conseguir segurar a irritação, insistiu: — Giovana te ligou para reclamar, e você ficou com pena dela, não foi? Sílvio franziu as sobrancelhas, evitando olhar diretamente para ela. — Sílvio, você gosta dela? Ela é sua ex? Por acaso vocês têm fotos de casamento guardadas? Ela deve ser muito importante para você, não é? Não pode ser só uma simples benfeitora, certo? As perguntas em sequência fizeram Sílvio apertar ainda mais os lábios. Talvez fosse o efeito do álcool, mas sua paciência parecia ter se esgotado. Ele se virou, o olhar pesado: — Lúcia, chega desse assunto. — Chega desse assunto? — Lúcia repetiu, incrédula. Sílvio pousou as mãos nos ombros dela, tentando acalmá-la:— Vamos comer. Eu não gosto dela, está bem? Por favor, não seja tão impulsiva. — Você acha que eu estou sendo impulsiva?Os olhos de Lúcia estavam secos e ardidos, mas ela piscou, tentando segurar as lágrimas. Ela pensava que sua supo
Sílvio estava completamente exausto, a cabeça a mil por causa das duas mulheres. Com um suspiro, ele apagou a tela do celular, ainda sem dar resposta. Depois de tomar um banho quente, vestiu o pijama e se aproximou do espelho. Segurando o secador, começou a secar os cabelos. Quando estavam quase secos, percebeu, através do reflexo, que começava a ter sangramento nasal. Seus dedos pressionaram o nariz, e o vermelho vivo do sangue manchou sua mão. Era evidente: ele precisava ir ao médico. Algo em seu corpo parecia estar errado.Depois de terminar de secar o cabelo, Sílvio pegou o celular e ligou para Leopoldo:— Transfira dois milhões para a conta da Giovana.Leopoldo permaneceu em silêncio do outro lado da linha. Sílvio foi direto:— Use a conta da empresa e faça isso agora.Era claro que ele tentava usar o dinheiro para aplacar a raiva de Giovana. Quando chegou à cozinha, notou que os pratos estavam exatamente como ele os deixara intocados. Tudo estava igual ao que havia encontrado ant
O telefone foi desligado.Sílvio, irritado, mordia a ponta do cigarro enquanto observava outra notificação do WhatsApp. Giovana havia enviado a localização de um bar. Logo em seguida, uma nova mensagem chegou acompanhada de uma foto de uma faca reluzente:[Comprei isso para dar fim à minha vida. O que você prefere, Sílvio: que eu me jogue ou que use essa faca para cortar a artéria do pulso? Escolha para mim.] Sílvio apagou o celular com força, incapaz de ficar parado. Ele sabia que não deveria ir atrás de Giovana. Precisava levar em consideração os sentimentos de Lúcia. Mas Giovana era sua benfeitora. Ela havia dado cinco milhões de reais para ajudá-lo e, pior, sacrificou sua própria aparência ao salvá-lo. Tudo isso resultou na depressão dela, agravada pelos ciúmes de Lúcia. Se Giovana realmente tirasse a própria vida naquela noite, ele carregaria esse peso para sempre. Tomou uma decisão. Iria levá-la para casa e pedir para Leopoldo organizar sua saída do país. Seria a última vez q