Mas havia algo estranho na morte de seu pai. Se não tinha sido Sílvio, então por que ele morreu?Seu pai a amava mais do que qualquer um, e também amava sua mãe. Depois de ter acordado do coma, como ele poderia ter simplesmente morrido na noite de Natal? Algo havia acontecido. Ele devia ter descoberto algo importante e, por algum motivo, decidiu incriminar Sílvio com sua própria morte.Lúcia suspirou, sentindo-se completamente esgotada. Mesmo com a temperatura confortável do carro, ela sentia como se estivesse congelando, seu corpo entorpecido pelo frio que vinha de dentro.— Sr. Basílio, qual é a boa notícia que você queria me contar? — Lúcia perguntou, querendo fugir dos pensamentos sobre Sílvio e a derrota no tribunal. Esses temas eram sufocantes.Basílio manteve os olhos na estrada enquanto respondia:— Eu não te contei antes que montei uma equipe de pesquisa para desenvolver um medicamento contra o câncer? Bem, conseguimos avançar com um novo remédio. Se houver um mínimo de espera
— Não, eu só estava refletindo sobre como o tempo passa rápido. Já faz mais de vinte dias que nos conhecemos. Srta. Lúcia, por favor, pense com carinho na minha proposta. A vida é única, e, assim que eu souber a opinião de Daulo, entro em contato com você. Tenho certeza de que a Sra. Sandra e o Sr. Abelardo gostariam que a filha deles estivesse viva e saudável.— Tudo bem. Vou pensar nisso. — Disse Lúcia, enquanto abria a porta do carro e descia.Basílio ficou observando a silhueta de Lúcia desaparecer ao passar pelo portão de ferro ornamentado da mansão. O sorriso em seus olhos se desfez, como estrelas que se quebram em pedaços, e ele soltou um riso amargo.Na verdade, a primeira vez que ele havia visto Lúcia não tinha sido há vinte dias.Mas, naquela época, ela nunca notara a existência dele, o filho ilegítimo e invisível da família.Agora, com uma nova identidade e posição, ele era um homem diferente. No entanto, o destino havia sido cruel: Lúcia era a esposa de outro. O que restava
Agora, parecia que Lúcia corava ao ver Basílio, enquanto ao ver seu próprio marido, ela só conseguia reagir com raiva.Sílvio sentiu como se seu coração estivesse sendo lentamente cortado por uma faca cega, uma dor agonizante que só aumentava.Ele apagou a tela do celular e pegou um cigarro. Com o isqueiro, acendeu o cigarro e, sem expressão, começou a fumar.Lúcia estava grávida de seu filho. Mesmo assim, ela não conseguia se comportar. Não entendia o que era ser uma esposa decente. Sílvio riu amargamente, incapaz de conter a frustração.— Sr. Sílvio, estou na entrada da Mansão Baptista. Devo levar o cofre até aí? — A voz de Leopoldo soou pelo telefone, em um momento terrivelmente inoportuno.O cofre já havia chegado.Sílvio se sentiu um idiota. Ele estava sendo ridicularizado por Lúcia, enganado, e ainda assim estava disposto a fazer as pazes, a entregar a ela a carta de Abelardo.— Leve de volta! — A voz de Sílvio soou fria.— O quê? — Leopoldo ficou confuso. Foi o próprio Sílvio qu
Sílvio soltou uma risada seca, mas seus olhos estavam frios como gelo. Ele não havia ido ali para falar sobre o processo. Estava ali para propor uma trégua, para tentar viver em paz com ela. Queria devolver o cofre que havia pegado do escritório de Abelardo, devolvê-lo à sua legítima dona, e depois convencê-la a seguir o que ele considerava o caminho certo: ter o filho deles, deixar para trás os rancores e começar uma nova vida em um lugar tranquilo, longe de tudo, onde pudessem esquecer todas as mágoas.Seus olhos recaíram sobre o rosto pálido de Lúcia, onde as bandagens cobriam a testa manchada de sangue seco. Sílvio sentiu o coração amolecer. Como ela podia ser tão descuidada? Ele se lembrava de que, na sala do tribunal, sua testa estava perfeita.Instintivamente, seus dedos longos se estenderam em direção à testa dela, mas Lúcia recuou bruscamente, como se ele fosse um veneno. Sua mão ficou suspensa no ar, sem rumo.— Se você não veio falar sobre o processo, então caia fora! — Diss
Não era a primeira vez que Sílvio tentava acabar com ela. A primeira foi quando ele denunciou Olga por suborno, fazendo com que ela perdesse o emprego no hospital e, depois, a forçou a dirigir um carro sucateado para atropelar Lúcia. Se Olga não tivesse mudado de ideia no último minuto, Lúcia provavelmente já estaria morta.A segunda vez foi em Viana. Ele insistiu em levá-la para uma viagem, dizendo que ela precisava relaxar, melhorar seu humor para poder dormir melhor. Mas, na verdade, foi lá que Giovana tentou matá-la.Hoje, pela terceira vez, ele trouxe uma legião de jornalistas, criando uma situação de pânico para que ela fosse pisoteada até a morte. Mas, por algum milagre, Lúcia havia sobrevivido. Ela sabia, no entanto, que haveria uma quarta, uma quinta tentativa. Sílvio não pararia enquanto não a visse morta.Lúcia cobriu a boca com a mão, tentando conter o soluço, enquanto as lágrimas escorriam sem parar.O toque do celular quebrou o silêncio pesado.Ela enxugou os olhos, volt
A gerente de contas, ao ouvir as palavras de Giovana, não perdeu tempo em bajular:— Srta. Giovana, todos sabemos o quanto o Sr. Sílvio te valoriza. A própria Lúcia comentou que ele só ouve o que você tem a dizer. Vocês formam um casal perfeito, e tenho certeza de que em breve você será a esposa dele.Giovana, impassível, perguntou:— Você também falou com a Lúcia?A gerente sorriu sem graça:— Sim, sim. O Sr. Sílvio primeiro me pediu para procurar a Lúcia, mas ela recusou. Disse que a relação entre eles não está muito boa e que eu deveria falar com você.— Está bem. Eu vou ver o que Sílvio tem a dizer. Assim que eu tiver uma resposta, te aviso. Agora pode ir. — Disse Giovana, com um ar superior.…À noite, na mansão particular.Sílvio estava diante da janela panorâmica, observando a vista deslumbrante da cidade iluminada, enquanto falava ao telefone com Leopoldo.Leopoldo do outro lado da linha informou:— Presidente Sílvio, só consegui descobrir os detalhes agora. Houve um tumulto na
O que Sílvio não sabia era que, por mais que tentasse, já não havia mais volta para eles. O que estava quebrado entre os dois não podia ser consertado.De repente, ele sentiu algo molhado em seu nariz. A mão que segurava o cigarro parou por um momento, e ele levou a outra mão ao rosto. Ao olhar para a palma da mão, viu uma mancha vermelha.Sílvio ficou surpreso. Sua mão, que segurava o cigarro, tremia levemente. Era a segunda vez que isso acontecia.Ele se lembrou de que, alguns dias atrás, logo após ter discutido com Lúcia e descido para o carro, também havia sangrado um pouco pelo nariz.Nos últimos anos, Sílvio havia trabalhado como um louco, noites sem dormir, sempre se dedicando ao Grupo Baptista, expandindo a empresa até ela se tornar a maior do setor. Todo esse esforço tinha uma motivação: esquecer Lúcia.Ele sempre teve uma saúde de ferro, e o ritmo insano de trabalho, combinado com o desenvolvimento acelerado da empresa, o fazia esquecer até de cuidar de si mesmo. Fazia anos q
Lúcia rasgou o selo do envelope e retirou de dentro uma folha de papel dobrada. Ao abri-la, reconheceu imediatamente a caligrafia de Abelardo. Algumas partes da escrita estavam borradas, outras mais claras, resultado das lágrimas que haviam caído sobre o papel.Ao ler a carta de despedida de seu pai, Lúcia começou a chorar copiosamente.Seu pai, ao escrever aquela carta, também devia ter chorado tanto quanto ela agora.[Lúcia, Quando você ler esta carta, provavelmente eu já terei partido. Já estarei no céu. Não me ache egoísta por ter te deixado assim, de repente, sem aviso, mas eu não podia mais suportar. Eu te devo desculpas. Virei um peso para você. Você teve que aguentar os abusos do Sílvio para conseguir dinheiro para os meus remédios, e eu sei que você jamais admitiria isso, mas não sou tolo, eu sei de tudo. Meu coração se partia ao ver minha filha querida sendo destruída por aquele monstro, se tornando uma sombra de si mesma. Quando te vi escrevendo sua própria carta de despedi