Lúcia levantou os olhos, nervosa, apertando o cabo da colher com mais força.Sílvio, de braços cruzados, estava sentado do outro lado da mesa, vestindo um terno impecável que destacava sua presença imponente. Ele exalava a aura de um verdadeiro líder, alguém acostumado ao poder.No rosto dele, não havia traços de qualquer emoção, o que fazia o coração de Lúcia bater acelerado. Ainda assim, ela decidiu falar:— Eu e o Basílio não temos nada, somos apenas amigos. — E quanto ao rapaz mudo, ele já está morto. Eu o vi apenas uma vez e nem lembro mais de sua aparência. Nunca tive nenhum envolvimento inadequado com ele. Sílvio, estou dizendo a verdade. Se não acredita, pode investigar. — Disse Lúcia, mordendo o lábio, tentando manter a calma.Sílvio estreitou os olhos, observando-a de forma penetrante:— Por que veio me procurar? O que realmente quer?Ele sabia que ela não estava ali apenas para se explicar. Mas, de certa forma, o fato de Lúcia estar se esforçando por ele lhe agradava, ainda
Lúcia viu que ele estava prestes a sair e correu para interceptá-lo, bloqueando seu caminho.Como poderia deixá-lo ir embora, depois de todo esse tempo que ele demorou para aparecer?— Diga-me o que você precisa para trazer meu pai de volta! Você sabe que minha mãe está desesperada! Sílvio, você pode brigar comigo e se irritar à vontade, mas por que usar meu pai como arma? — Lúcia falava com pressa, as palavras saindo desenfreadas.O semblante de Sílvio tornava-se cada vez mais sombrio, seus traços faciais rígidos:— Dizem que fui eu. E as provas?— Como você sequestra alguém e ainda deixa provas?— Lúcia, se existissem provas contra mim, seria melhor você ir à delegacia fazer uma denúncia e chamar a polícia para me prender. Sem provas, não venha sujar meu nome. — Sílvio puxou a gravata, visivelmente irritado.Lúcia cerrava os punhos, sentindo a frustração subir.— Você realmente não sabe quem levou seu pai? Ele fez tantas maldades, tem tantos inimigos, não faz ideia de quem possa esta
As botas de neve afundavam na espessa camada branca, que chegava a quase um metro de altura, deixando suas pegadas desiguais, como se estivesse andando em pernas de pau.“Onde será que Sílvio escondeu papai? Será que ele está bem?” Pensava Lúcia, preocupada.Dias atrás, seu pai havia feito birra como uma criança por causa de um pesadelo, recusando-se a jantar. Agora, sem poder vê-lo, como ela poderia saber se ele estava comendo direito? Será que estava descansando bem?A neve caía em grandes flocos, pesados e rápidos, atingindo o rosto magro de Lúcia. O vento uivava ao redor, jogando seus longos cabelos negros no ar, como se fossem uma rede flutuante, uma mecha de cada vez.Lúcia sentia como se estivesse sufocando. Por que Sílvio a odiava tanto?Tudo isso começou porque ela se recusou a tomar os remédios para segurar a gravidez, e depois lhe deu alguns tapas. E agora, ele havia levado seu pai.O celular no bolso do casaco piscava silenciosamente, com a tela mostrando uma chamada da mãe
Por ter visto acidentalmente o testamento que Lúcia havia feito, Abelardo não conseguiu dormir e pediu que um dos empregados o levasse para a varanda. O funcionário, apressado para terminar o expediente, provavelmente esqueceu de avisar os outros que ele estava lá fora.Abelardo ficou na varanda por várias horas, com a neve pesada caindo em seu rosto e ombros, enquanto o vento gelado o mantinha ainda mais alerta. Quando finalmente foi encontrado pelo empregado que o empurrou até lá, já estava quase completamente congelado, com o corpo adormecido e a pele ficando roxa.Lúcia, ao ver o pai de cabeça baixa, pensou que ele estivesse chateado e, com carinho, apertou a mão dele: — Pai, não estamos bravos com o senhor. Só estamos preocupados. O Natal está chegando e combinamos de passar juntos, lembra?Abelardo levantou a cabeça e, ao ver o olhar suplicante da filha, assentiu levemente. Enquanto isso, Sandra foi para a cozinha verificar como estava o jantar.Abelardo murmurou algumas palavr
Sílvio pegou o isqueiro e, com um clique seco, a chama amarela engoliu o cigarro entre seus lábios finos. Ele deu uma tragada profunda, e a fumaça fez uma viagem lenta por seus pulmões antes de ser exalada pela boca e pelo nariz. Sua expressão, fria e indiferente, ficou parcialmente envolta na fumaça que pairava ao redor de seu rosto esculpido.Com a mão larga e áspera, ele segurava o celular, olhando para a mensagem de Lúcia por um longo tempo. Era a primeira vez que ela admitia tê-lo acusado injustamente.A irritação que o consumia por ter sido acusado desapareceu em um instante, trazendo uma certa tranquilidade. No entanto, ele não respondeu à mensagem de Lúcia. Sabia que ela era do tipo que, quando se via em vantagem, tentava tirar mais proveito. Se ele fosse bom demais com ela, Lúcia não saberia parar.Sílvio apagou a tela do celular, terminou o cigarro e mergulhou de volta no trabalho. Ele era um viciado em trabalho, e sabia que investir tempo e esforço nele sempre traria resulta
— Pai, a mamãe te ama muito, ela não consegue viver sem você, e eu também te amo. Então, por favor, faça todo o possível, supere todas as dificuldades e se esforce para continuar bem. Enquanto houver vida, haverá esperança. Se puder, eu gostaria que você se reconciliasse com o Sílvio. No futuro, vocês ainda vão precisar da ajuda dele.Lúcia sentiu as mãos envelhecidas do pai se fecharem imediatamente em punho. Ela sabia que aquilo significava sua resistência a Sílvio.— Pai, o Sílvio tem sido muito bom comigo. Não acredite nas coisas que a mamãe diz. Eu realmente espero que vocês parem com essas brigas internas. Vocês precisam se unir e se apoiar. Só assim eu posso viajar tranquila, sabendo que está tudo bem aqui. — Lúcia disse, contrariando seu próprio coração, porque sabia que, se os pais não deixassem o rancor de lado, Sílvio jamais os ajudaria na velhice.Por isso, quando ela se fosse, todas as mágoas e ressentimentos desapareceriam. Esse seria o melhor desfecho.Abelardo pegou a c
No dia seguinte, logo após o café da manhã, Abelardo escreveu algumas palavras na mão de Lúcia, e ela entendeu o recado: seu pai queria sair para tomar um pouco de ar fresco.Lúcia percebeu que a neve lá fora havia parado, e o sol dourado começava a brilhar sobre a paisagem ainda coberta de neve, criando um cenário reluzente. Era raro ver um dia tão ensolarado.Ela empurrou a cadeira de rodas de Abelardo e o levou para fora da Mansão do Baptista.Abelardo aproveitava a energia das pessoas andando pelas ruas e observava as árvores ao longo das calçadas começando a brotar. Seu olhar foi capturado por um café familiar, o seu favorito de antigamente. Lúcia, conhecendo bem o pai, entendeu de imediato o que ele queria e o levou para dentro do café.Ela pediu uma xícara de café para ele, mas, de repente, uma dor aguda no fígado a atingiu. Lúcia sabia que estava tendo uma crise.No entanto, não podia demonstrar fraqueza na frente de Abelardo; se seu pai percebesse, ficaria desesperado.— Pai,
Ela tinha o rosto todo queimado, mas Abelardo conseguiu acordar. Giovana já havia tentado várias vezes acabar com ele, mas ele sempre sobrevivia! Que injustiça!Giovana olhou para os lados, traçando um plano rapidamente. Com as duas xícaras de café nas mãos, desfilando em seus saltos altos, ela se aproximou de Abelardo e sentou-se à sua frente, cumprimentando-o com uma voz doce:— Que bom ver você acordado, padrinho! Estou muito feliz por isso.Ao ouvir a voz de Giovana, Abelardo foi imediatamente transportado para aquela noite no hospital. Na sua mente, a imagem vívida de uma mulher vestida de vermelho, segurando uma faca de frutas e tentando encenar seu suicídio, voltou à tona. Como se tivesse levado um choque, Abelardo começou a emitir sons abafados e angustiados.O garçom olhou para eles com estranheza, perguntando: — O que está acontecendo? Está tudo bem?— Está tudo bem, está tudo bem! — Respondeu Giovana com um sorriso forçado. — Ele não pode falar, sabe? É meu padrinho.Ela s