Sílvio fechou os olhos, deslizando os dedos pelos fios longos e escuros do cabelo de Lúcia. O aroma suave dos cabelos dela invadiu seus sentidos, um perfume sutil e envolvente.Ele permaneceu assim por um bom tempo, inalando o cheiro, antes de abrir os olhos e deixar o olhar pousar na pele clara de Lúcia. O desejo começou a brilhar em seus olhos castanhos, que aos poucos se intensificavam.Marcas de beijos começaram a surgir no pescoço de Lúcia, suaves como uma garoa de primavera, frescas e delicadas, como penas roçando a pele.O corpo de Lúcia se retesava cada vez mais, enquanto as palavras do médico ecoavam em sua mente: “Nada de relações sexuais”.O médico havia sido enfático. Seu corpo estava exausto, e ainda havia uma criança em seu ventre, como uma bomba-relógio prestes a explodir.Será que Sílvio estava tentando matá-la mais rápido?Se fosse antes, ela aceitaria o destino sem questionar, sem sentir grandes emoções. Aceitaria tudo com calma. Mas agora, com seu pai finalmente acor
— Lúcia, você não confia em mim? — Sílvio semicerrava os olhos, soltando uma risada curta, carregada de sarcasmo.— Não tem jeito, a gente aprende com as experiências. Você muda de ideia muito fácil. Eu tenho todo o tempo do mundo, Sílvio. Você faz a ligação e começamos imediatamente."Faz a ligação e começamos imediatamente."Lúcia estava deixando ainda mais claro que estava usando o próprio corpo como moeda de troca, uma barganha descarada.Sílvio lembrou do último filho que ela havia perdido. Aquela criança também foi usada como ficha num jogo de negociações. Na época, ela fez uma lista de exigências, até contrato quis assinar, forçando-o a jurar que cumpriria tudo antes de aceitar engravidar. Mas não era obrigação dela ter o filho?No fim, ela conseguiu o que queria, mas o bebê se foi.Essas lembranças eram algo que Sílvio tentava evitar a todo custo. Ele não queria lembrar. Não queria nem pensar nisso. Mas Lúcia, tola, insistia em esfregar o passado na cara dele.O rosto de Sílvio
Sílvio ouviu aquelas palavras e seu rosto, antes sério, foi tomado por uma sombra escura. Os dedos, outrora relaxados ao lado do corpo, agora se curvavam lentamente, fechando-se em punhos."Não quero dever nada a você?" Eles eram marido e mulher, e mesmo assim ela falava como se não quisesse ser grata a ele. Além disso, ela já não devia o suficiente? Como poderia pagar tudo o que lhe devia?Ele havia feito tantas coisas por Lúcia, sempre em silêncio, sem que ela soubesse. Quando ela foi cercada por jornalistas na frente do Grupo Baptista, foi Sílvio quem pediu a Leopoldo para chamar a polícia e dispersar os repórteres. Quando soube que Lúcia havia ido ao Bairro das Árvores investigar a morte de seus pais, apesar de dizer que desejava que ela morresse, ele secretamente mandou Leopoldo segui-la e protegê-la.Quando ela sofria de insônia e sentia o peso das pressões, ele cancelou compromissos de trabalho para levá-la a Viana, tentando aliviar sua mente, buscando algum respiro para ela.
Sílvio disse que, mesmo se ela ficasse nua, ele nem a olharia. Ele a desprezava a esse ponto.Mas... Eles tinham um acordo, não tinham?— Esse foi o acordo que acabamos de fazer. Se você não quer me tocar, pode propor outro termo para compensar. — A voz de Lúcia estava calma, sem pressa. Ela já não tinha mais forças para se irritar.Ela, que um dia foi cheia de orgulho, cheia de dignidade, agora parecia uma porco-espinho que teve todos os espinhos arrancados. E quem tirou cada um deles foi Sílvio.Lúcia pensava que, no fim das contas, sua vida já estava com os dias contados. Se conseguisse passar por aquilo, logo viria a libertação. Esse pensamento trouxe um alívio momentâneo ao seu coração sufocado.— Lúcia, eu vou dizer mais uma vez: sai daqui! Se você ousar dizer mais uma palavra, eu garanto que aquele velho vai ficar preso no hospital para o resto da vida. Acredita em mim?Ela o encarou fixamente, piscando devagar, seus cílios tremendo levemente.Parece que ele realmente a odiava.
Dr. Arthur soube que Leopoldo havia providenciado a alta de Abelardo e rapidamente ligou para Sílvio para confirmar:— Presidente Sílvio, o Leopoldo está vindo buscar o Sr. Abelardo para levá-lo para casa? O senhor está ciente disso?A alta de Abelardo não era um bom sinal para Giovana. Se ele saísse do hospital, ela perderia a oportunidade de agir.Ainda bem que Dr. Arthur soube controlar o tom da voz, de modo que Sílvio não percebesse nada de errado.— Eu mandei ele buscá-lo. Você tem algum problema com isso? — Sílvio respondeu com um tom sarcástico.Dr. Arthur se apressou em justificar:— Como eu poderia? Só estou preocupado com o estado de saúde do Sr. Abelardo. Essa alta repentina não pode ser arriscada? Eu acho que seria melhor ele ficar até se recuperar completamente.— Ele só vai para casa passar o Natal. Depois, dependendo de como ele estiver, a gente decide se ele volta ou não.— Entendido, Presidente Sílvio. Vou fazer conforme o senhor determinou.Dr. Arthur conhecia bem o t
Aos olhos de Leopoldo, Sílvio tinha sentimentos por Lúcia. Caso contrário, ele não se daria ao trabalho de pedir que Leopoldo a protegesse em segredo o tempo todo.Sílvio era apenas reservado, não sabia como expressar seus sentimentos. Tinha uma boca dura, mas um coração mole.Assim que ele disse isso, o quarto ficou em silêncio total.O rosto de Sandra mudou de expressão, como se não quisesse mencionar Sílvio.Lúcia apertou os lábios, sem responder.Na cadeira de rodas, Abelardo olhava para Lúcia com um olhar complexo, cheio de dor e preocupação.O ar parecia ter ficado pesado, e Leopoldo percebeu que talvez tivesse falado demais. Um certo desconforto tomou conta dele.— Eu falei alguma besteira? — Ele riu sem graça, tentando quebrar o clima.Lúcia levantou o olhar e, com um sorriso gentil, disse:— Não, você não disse nada de errado. Quem errou fui eu. Somos, sim, uma família de quatro.Ela ainda não havia se divorciado, então, tecnicamente, eles ainda eram uma família de quatro pess
Lúcia estava nervosa, seus dedos se contraíram instintivamente, apertando a borda do casaco branco de plumas em seu colo.O que Sílvio queria ao ligar de repente? Será que ele tinha mudado de ideia e não permitiria que o pai voltasse para a Mansão Baptista?Seu coração batia acelerado, martelando em seu peito.Se Sílvio não concordasse, como ela explicaria isso ao pai? Ele ficaria tão decepcionado...Talvez Abelardo, sentado ao lado dela, tivesse percebido seu desconforto. Sua mão grande pousou sobre a de Lúcia, dando-lhe um leve tapinha de conforto.Lúcia sentiu o toque e, confusa, levantou o olhar. Viu Abelardo acenando para ela com um sorriso suave no rosto, que parecia mais inchado por causa dos remédios.Com aquele simples gesto, o coração de Lúcia se acalmou um pouco.Leopoldo ainda estava ao telefone. O que diziam do outro lado, Lúcia não conseguia ouvir, pois ele não havia colocado no viva-voz. Ela apenas podia observar os contornos de seu rosto, que ora se tensionavam, ora rel
Seu coração parecia estar sendo apertado com força, dificultando a respiração, um desconforto insuportável.Lúcia olhou distraidamente pela janela, pensando em abrir um pouco para respirar, mas logo avistou um carro todo pintado de forma extravagante, um daqueles carros montados e barulhentos, com um motorista que parecia bêbado, cambaleando pela estrada sem qualquer noção das regras de trânsito!O pior era que aquele carro estava vindo diretamente na direção deles!Lúcia sentiu um calafrio percorrer seu corpo ao se lembrar do acidente de Olga — também foi um carro batido, também foi uma tragédia. Suas mãos e pés começaram a gelar.— Leopoldo, desvia daquele carro! Aquele motorista deve estar bêbado! — Lúcia bateu desesperadamente no encosto do banco do motorista, aumentando o tom de voz para alertá-lo.Só então Leopoldo percebeu a situação. Ele levantou a cabeça rapidamente e, de fato, viu o carro montado cruzando a pista, dirigindo em zigue-zague. — De onde saiu esse lunático? — Ex