Sílvio tinha muita força e segurou exatamente no local onde Lúcia havia se queimado com água quente. Uma dor intensa percorreu seu corpo, atingindo cada extremidade.— Lúcia gostava do Sílvio, mas não gosta mais. E não vai ter bebê nenhum! — O papagaio, inoportuno como nunca, saltitava e sacudia suas penas negras com energia.Assim que ouviu essas palavras, a expressão de Sílvio ficou ainda mais fria e sombria. Até o papagaio sabia que ela tinha abortado! Só ele, o tolo, não sabia de nada.Mas Sílvio se recusava a aceitar essa realidade. Não queria acreditar no que o Dr. Arthur havia dito. Ele não podia aceitar que Lúcia teria sido tão cruel a ponto de, pelas suas costas, tirar a vida do filho deles!Sílvio lançou um olhar gelado ao papagaio, e talvez tenha sido o suficiente para calá-lo. O pássaro fechou os olhos e fingiu dormir, como se sentisse o perigo no ar.Ele andava depressa, e Lúcia mal conseguia acompanhá-lo, quase tropeçando na soleira da porta de vidro da varanda. Sua cabeç
Lúcia sentia como se estivesse sendo mergulhada em um caldeirão de óleo fervente. A angústia, o desespero e a sensação de impotência lentamente devoravam seu coração, mas sem lhe conceder a misericórdia de um fim rápido.O mais irônico era que o hospital para o qual Sílvio a levou era justamente o hospital onde seu pai estava internado. E, por coincidência, o médico que a atendeu era o mesmo que havia tratado seu câncer anteriormente.Antes, quando ela queria se consultar, ele não acreditou nela. Mas agora, depois de tanta insistência, acabaram no mesmo hospital, e ainda encontraram o seu antigo médico.O doutor, ao ver Sílvio arrastando Lúcia para dentro, levou um susto. Mas ao perceber o estado debilitado dela, franziu a testa:— Srta. Lúcia, você não está se sentindo bem?O médico sabia que Sílvio era seu marido, mas havia prometido a Lúcia que manteria sua doença em segredo. Ela havia deixado claro que queria o divórcio e não queria complicações. Por isso, ele optou por descrever a
Lúcia viu o rosto de Sílvio coberto por uma expressão sombria, com as veias da testa pulsando de raiva.A tempestade finalmente havia chegado. Sílvio sabia de tudo.— Sílvio, eu... — Lúcia sentiu o coração acelerar, mas, ao abrir a boca, não encontrou as palavras.Antes que pudesse continuar, Sílvio amassou o relatório de exames em suas mãos com um movimento brusco. O rosto dele, contorcido pela fúria, não deixava dúvidas sobre o que sentia. Ele agarrou Lúcia pelo braço e, com passos largos e rápidos, a arrastou para fora do hospital.Lúcia mal conseguia acompanhá-lo, tropeçando várias vezes.Sílvio finalmente abriu a porta do Bentley preto e, como se estivesse descartando algo sem valor, a empurrou para o banco traseiro.Bang! A porta foi fechada com força, reverberando o som de sua raiva.A mão grande de Sílvio apertou o queixo de Lúcia com brutalidade, enquanto ele jogava o relatório amassado contra o rosto dela.— Explique!A dor no queixo de Lúcia era insuportável, como se fosse s
Tum-tum. A nuca de Lúcia batia furiosamente contra a janela do carro.A qualidade do vidro era surpreendente, mesmo com toda aquela força, não se quebrou.— Fala! Fala, Lúcia! Você ficou muda? Eu mandei você falar! Fala! — Sílvio berrou, completamente fora de si, o desespero em sua voz era palpável.De repente, Lúcia ficou paralisada.Ela pensou que estava vendo coisas, mas não, não estava. Lágrimas escarlates, como pequenas pérolas quebradas, escorriam dos olhos de Sílvio, inundando seu olhar impiedoso.Lúcia ficou atordoada. Sílvio estava chorando?Era a primeira vez que o via chorar.Será que esse filho era tão importante assim? A ponto de fazê-lo chorar?Se ele chorava pela perda de um filho, será que choraria por ela também? Se ela morresse, ele derramaria uma lágrima sequer em seu funeral?Com a mente enevoada, Lúcia sussurrou:— Sílvio, se algum dia eu morrer, você vai chorar por mim assim como está chorando agora?Toda a razão de Sílvio tinha sido levada embora pela raiva, pelo
Nesse momento, Sílvio sentiu uma explosão de impulsos dentro de si, uma vontade quase incontrolável de estrangular Lúcia até a morte. Como ela ousava fazer isso com ele? Como ousava fazer isso com o filho deles? Ele havia dado cinquenta por cento das ações do Grupo Baptista, trezentos milhões de reais em dinheiro, e ainda havia depositado cem milhões na conta médica do velho Abelardo para os cuidados de saúde.Lúcia havia recebido todas essas vantagens, garantindo que cumpriria o prometido, que seguiria o contrato à risca! E ele, ingênuo, acreditou. Sabendo que ela tinha problemas para dormir, ele cancelou compromissos de trabalho e a levou para viajar, para relaxar. Mesmo quando ela foi fria durante toda a viagem, sem esboçar sequer um sorriso, ele suportou. Mas o que ele recebeu em troca? Nada além da perda precoce do filho deles!Sílvio apertou o pescoço de Lúcia com força, seus dedos engrossando com a tensão.— Lúcia, morra! Você merece morrer! Uma mulher tão cruel como você não
Será que ele realmente não queria que ela morresse? Será que Sílvio ainda nutria algum sentimento por ela? O coração de Lúcia foi tomado por uma enxurrada de dúvidas. Mas as palavras frias dele fizeram seu coração, que estava prestes a se encher de esperança, despencar e se estilhaçar no chão.— Deixar você viva é só para te torturar! — Sílvio se inclinou para frente de repente.Sua respiração quente atingiu o rosto dela, deixando-a inquieta e desconfortável.— O que você está fazendo? — Lúcia franziu a testa, rejeitando-o.Esse gesto fez Sílvio franzir as sobrancelhas ainda mais.De repente, a porta do carro foi aberta abruptamente. Antes que Lúcia pudesse reagir, ela sentiu o corpo sendo lançado no vazio. Caiu no chão, vinda do banco traseiro. O asfalto era duro e frio, e as pequenas pedras rasparam a pele das palmas de suas mãos. A dor ardente fez com que ela perdesse a sensibilidade na mão.— Lúcia, mesmo que você ficasse nua agora, eu não tocaria em você! Cuide-se, porque eu não v
Giovana originalmente queria recusar. Dr. Arthur era mais de dez anos mais velho que ela, além de ser feio e repulsivo. Só de olhar para ele, sentia náuseas! Sempre que ia até sua casa, ela suportava o nojo para dormir com ele, um verdadeiro pesadelo.Ela se envolveu com Dr. Arthur porque Olga, após falhar na tentativa de assassinar Lúcia, foi internada no hospital. Com medo de que a verdade viesse à tona, Giovana pediu a ajuda de Dr. Arthur para garantir que Olga não saísse viva da sala de cirurgia.Inicialmente, ela acreditava que um bom dinheiro para mantê-lo em silêncio seria suficiente para se livrar dele, mas Dr. Arthur usou isso como uma arma para chantageá-la, exigindo que ela estivesse disponível sempre que ele quisesse.As palavras de recusa estavam presas na garganta de Giovana.— Sílvio vai agir contra Lúcia. Se quiser saber mais, vista-se bem e venha me ver esta noite. — Disse Dr. Arthur com uma voz insinuante, e antes que Giovana pudesse recusar, ele desligou o telefone.
Ela tentou se esquivar, mas Dr. Arthur a segurou firmemente e a beijou à força:— Não adianta tentar fugir. Agora que me provocou, não tem como escapar. Mesmo que se torne a esposa de Sílvio, não pense que vai se livrar de mim. Você sempre será minha.Giovana sentiu um enjoo ao ouvir essas palavras melosas.Arthur era simplesmente um lunático! Por causa de uma única transação, ele estava a atormentando desse jeito. Como ela poderia aceitar ser controlada por ele para sempre? Como poderia se resignar a ser maltratada por esse velho insuportável para o resto da vida?Ela precisava encontrar uma forma de fazer Lúcia desaparecer. Só assim poderia ficar com Sílvio.Quando se tornasse a Sra. Sílvio, deixaria todas essas sujeiras para trás e se dedicaria a ser uma boa esposa para ele, cuidando e protegendo-o. Essas coisas sujas seriam enterradas, e ninguém jamais as descobriria.Ao sair da mansão de Dr. Arthur, Giovana dirigiu-se a um bar para beber. Lá, avistou uma figura familiar: Sílvio.V