Basílio, recostado na cadeira, finalmente voltou a si.Depois que Bruno saiu, ele pegou o celular sobre a mesa e conectou-o ao carregador. Assim que o aparelho ligou, ele entrou no WhatsApp e percebeu a conversa de Iva. Havia várias notificações não lidas, marcadas por pontinhos vermelhos. Como ela era insistente demais, ele havia silenciado as mensagens dela com o modo "não perturbe".Ao abrir a conversa, Basílio notou que ela havia machucado o dedo enquanto cortava legumes. Além disso, havia algumas chamadas de voz perdidas e mensagens deixadas por ela:— Sr. Basílio, o senhor está muito ocupado?— Quando o senhor vai voltar para jantar?— Já terminei de preparar a comida.Uma foto acompanhava as mensagens. Era uma mesa cheia de pratos que pareciam deliciosos, com cores e aromas que transpareciam até pela imagem. Ele não ficou surpreso. Filha de uma família simples, Iva tinha aprendido cedo a se virar. Se ela fosse capaz de preparar um banquete digno de um chefe de estado, ele também
Basílio caminhou até ela e a envolveu pela cintura fina, abraçando-a por trás.— Ontem trabalhei até tarde. Fiquei na empresa fazendo hora extra e acabei esquecendo do jantar que você preparou. Desculpe.Ivone tentou afastar as mãos dele.Mas Basílio a apertou com mais força:— Não fique brava. As roupas que mandei entregar hoje… Gostou delas?— Basílio, se você prometeu que voltaria para jantar, que eu poderia preparar algo para você, deveria cumprir sua palavra, não acha? — Ivone virou-se, com os olhos cheios de raiva. — Eu fui ao mercado, comprei os ingredientes, passei um bom tempo cozinhando, esperando você. E o que você fez? Não atendeu minhas ligações, não respondeu minhas mensagens. Está tirando sarro da minha cara?A irritação dela ainda queimava no peito, mesmo depois de um dia inteiro.Basílio não contou que havia ficado sem bateria no celular porque estava preocupado com Lúcia, que tinha entrado na sala de parto. Ele nunca cogitou que Ivone precisasse saber disso. Ela não f
No início, Ivone estava realmente com raiva. Mas, depois de um tempo, quando a raiva passou, ela começou a se arrepender por ter dado um tapa na cara de Basílio. Ela até mandou uma mensagem no WhatsApp pedindo desculpas, mas ele não respondeu.Eles tinham finalmente começado a se entender, e agora, por causa de uma coisa tão pequena, tudo parecia estar desmoronando. Ivone não conseguia aceitar isso. No entanto, Basílio não deu nenhum sinal de que estava disposto a falar com ela. Ele simplesmente a ignorou. Ivone nem sabia que ele tinha um temperamento tão difícil, até mais complicado que o dela.Hana mandou uma mensagem para Ivone, dizendo que Lúcia estava no hospital, em trabalho de parto, mas ainda não tinha saído do quarto. Ivone pensou que, talvez, se Lúcia falasse com Basílio, ele a ouviria.Ivone comprou roupas de bebê como presente. Como não sabia se o bebê de Lúcia era menino ou menina, ela comprou conjuntos para ambos os casos. Depois, foi ao hospital para visitá-la.Lúcia est
— Você está tão feliz assim? — Perguntou Basílio. — É claro que estou feliz. Você tem alguém cuidando de você agora, por que eu não estaria? Mas agora eu não posso mais te pedir favores, senão sua namorada pode ficar com ciúmes. Seja mais gentil com ela, Basílio. As meninas precisam ser conquistadas, ainda mais uma como ela, que parece não ter muita segurança. Quando puder, traga ela para nos conhecermos melhor, sair para comer, conversar... Vai ser ótimo. — Respondeu Lúcia.Lúcia desligou o telefone e ouviu Sílvio rir de forma fria:— Você não reparou que a Iva se veste e se comporta de um jeito bem parecido com o seu? Basílio nem quer apresentar ela para ninguém. Ele claramente está tratando a moça como um substituto seu. Será que ela sabe disso? Sinceramente, não é lá muito correto da parte dele.Sílvio fez uma pausa antes de continuar com seu tom cínico:— Quer apostar? Se algum dia nós dois nos separarmos, Basílio vai descartar essa garota sem pensar duas vezes. — Para de fala
Do outro lado da linha, havia apenas silêncio. Ivone começou a entrar em pânico. Ela rapidamente pediu desculpas: — Basílio, me desculpa. Eu errei. Eu devia ter falado com você antes de procurar sua irmã. Por favor, não fique bravo comigo. Eu prometo que não vou mais procurá-la. Só não queria que você continuasse assim, tão frio comigo. Eu só queria agradar você, mas usei o método errado. Podemos nos encontrar? Volte para casa, por favor. Eu aprendi algumas receitas novas, são pratos que você gosta. Vou preparar tudo para você. Também vou usar as roupas que você me deu. Basílio, eu só quero que você fique feliz. Não fique bravo, por favor. Ivone nunca tinha se rebaixado tanto assim. Mas, se fosse para ele parar de ficar bravo, ela estava disposta a ceder e fazer o que fosse necessário. Ela sabia que Basílio era uma pessoa muito sensível, alguém que tinha sofrido desde pequeno. Ele cresceu sem pai, em condições precárias, sendo alvo de chacotas e exclusão. Ele carregava marcas p
Ivone achou que o papagaio estava chamando por ela. Achava o animal tão inteligente e esperto que se apressou em se aproximar.— Você está me chamando de novo? Que fofura! Como você sabe o meu nome? — Disse ela, enquanto estendia a mão para acariciar suas penas, que eram incrivelmente macias.O papagaio a observou fixamente, sem fazer mais nenhum som.Ivone pensou que Basílio devia gostar muito dela, provavelmente chamava seu nome tantas vezes na frente do pássaro que ele acabou aprendendo. Isso a fez sorrir. Talvez Basílio não fosse tão frio assim; ele apenas era reservado e tinha dificuldade para expressar seus sentimentos.— Com fome... — Disse o papagaio, enquanto seu estômago roncava audivelmente.Ivone procurou a ração e encheu o comedouro no suporte. Também colocou água fresca no recipiente.O papagaio, empolgado, abaixou a cabeça e começou a comer rapidamente. Em poucos instantes, já tinha devorado tudo.— Ei, coma devagar. Ninguém vai roubar sua comida. — Disse Ivone, rindo, e
A caligrafia familiar no caderno perfurou os olhos de Ivone como uma lâmina. Seus dedos, que seguravam o caderno, tremiam levemente. [Hoje, na escola, me chamaram de "bastardo". Lúcia se colocou na minha frente, me defendeu e disse que eu era amigo dela. Quem mexesse comigo, mexeria com ela. Ela ainda fez quem me insultou pedir desculpas.][Hoje foi um dia triste. Parece que Lúcia me esqueceu. Mas eu tinha dito meu nome para ela. Queria tanto me aproximar, ser amigo dela. Só que eu sou apenas um bastardo. Não sou digno de ser amigo dela. Por isso fiquei criando "encontros casuais" com ela em todos os cantos da escola. Eu acreditava que, um dia, poderia ficar frente a frente com ela, de verdade, e dizer o meu nome.] [Eu a segui pelo ensino fundamental, médio e até a faculdade. Vi ela deixar para trás a infância e se transformar em uma mulher linda. Mas, enquanto eu ainda não me tornava a pessoa extraordinária que imaginava ser, ela foi atrás de Sílvio.][Lúcia vai se casar com Sílvi
[Lúcia, não importa o que eu faça com você, você nunca pode desistir de mim.] [A menos que eu diga que não te quero mais, você deve ficar ao meu lado.] A voz de Basílio ecoava nos ouvidos de Ivone como uma lâmina afiada, cortando sua pele e rompendo seus nervos. Cada palavra trazia uma dor lancinante, como se seu coração fosse espremido sem piedade. Agora tudo fazia sentido. Não era de se admirar que Basílio a tivesse obrigado a aceitar aquelas condições absurdas. Desde o início, ele nunca a viu como uma namorada. Ela era apenas um passatempo, um substituto. Não era de se admirar que ele tivesse saído sem dizer nada, inventando desculpas de que estava "trabalhando até tarde". A verdade era que a mulher que ele realmente amava estava dando à luz e precisou dele. Como ele poderia ignorar isso? A escolha entre quem ele realmente amava e a substituta era óbvia. Ivone curvou os lábios em um sorriso amargo, sentindo uma pontada de dor no peito. Ela havia gostado dele por tanto te