Por mais que a vida fosse difícil, por mais que a falta de dinheiro ou de segurança material pesasse, Basílio sempre soube que o mundo era profundamente injusto. Nenhuma criança escolhe nascer. Os adultos, egoístas, decidem por eles, trazendo vidas ao mundo sem pensar nas consequências. Apenas dão à luz, mas não criam. Que direito têm de se chamarem de pais?Por sorte, sua mãe foi diferente. Mesmo sendo forçada, rejeitada e humilhada por seu pai, ela nunca descontou sua dor ou raiva nele.Ela sempre dizia:— Basílio, você precisa ser feliz. Mamãe não quer nada de você. Não precisa ser rico, famoso ou bem-sucedido. Eu não posso te dar condições boas, por isso não tenho o direito de exigir nada de você. Meu único desejo é que você seja saudável, feliz. A simplicidade é o que realmente importa.Essas palavras marcaram Basílio profundamente.Mais tarde, sua mãe morreu.Ele voltou de uma missão como policial antidrogas apenas para vê-la pela última vez. Com lágrimas nos olhos, ela lhe disse
Na entrada do Grupo Araújo, uma chamativa supermáquina, um conversível vermelho vibrante estava estacionada. Ao redor, uma multidão de fãs histéricas gritava incessantemente enquanto os seguranças tentavam conter o tumulto.Ivone, no entanto, não conseguia entender o porquê de tanta loucura. O barulho era insuportável, e seus tímpanos pareciam prestes a estourar.Ronaldo, com toda a pose de galã, colocou uma das mãos no bolso da calça branca e se inclinou para mais perto dela. Eles estavam tão próximos que Ivone podia sentir o perfume marcante que ele usava. Metade de seu rosto estava coberta por um par de óculos de sol enormes, mas o restante deixava transparecer o charme que fazia suas fãs perderem o controle.Com um movimento elegante, ele lhe estendeu uma rosa vermelha, vibrante como o carro em que havia chegado. Ivone hesitou por um instante.Ronaldo, percebendo a hesitação, inclinou-se ainda mais perto, quase ao ponto de encostar seus lábios no ouvido dela.— Srta. Ivone, Basílio
Do lado de fora do restaurante, o carro de Basílio estava estacionado a uma curta distância. Ele segurava o volante com firmeza, os dedos batendo levemente, enquanto olhava pela janela do veículo. Ele havia passado pelo local por acaso, com a intenção de jantar ali, mas, através da vitrine de vidro, avistou Ivone e Ronaldo compartilhando uma refeição."Inacreditável." Pensou ele, com um leve franzir de sobrancelhas. “Esse Ronaldo está realmente disposto a tudo para conquistar minha assistentezinha ingênua.”Aquele restaurante não era qualquer lugar. Os preços ali eram exorbitantes, e Ronaldo ainda teve a audácia de fechar o espaço só para eles dois. Basílio imaginava que aquela garota boba devia estar completamente encantada com o gesto."Há poucos dias, ela ainda estava me convidando para jantar com aquele sorriso doce no rosto. Agora, veja só, mal passaram alguns dias e ela já está fisgada por um peixe maior."Ele apertou os lábios, irritado."Subiu na vida, foi? E agora não quer nem
Ivone pegou o celular, deu uma olhada no visor e atendeu:— Sr. Bruno.— Iva, você ainda não foi dormir, né? — Disse Bruno.— Não, ainda não.— Então, você tá ocupada?— Bruno, fala logo o que aconteceu. — Ela segurou o telefone e se afastou um pouco, buscando um lugar mais tranquilo para atender.Do outro lado da linha, Bruno começou a desabafar:— Iva, será que você poderia vir trabalhar agora?— Agora? Já são quase onze da noite. — Ela franziu a testa, não acreditando no que ouvia.Ele, então, começou a apelar:— Eu sei que é um absurdo, mas não tenho escolha. Acabei de receber a ordem. Um projeto foi adiantado de repente e precisamos resolver isso urgente. Prometo que vou falar com o Sr. Basílio para te dar um aumento. Que tal? E você nem precisa ir até o escritório, não quero que você se arrisque sozinha à noite. Só precisa ir até a mansão do Sr. Basílio.— Você está dizendo que o Basílio vai trabalhar comigo?— Dá pra dizer que sim.Ivone sabia que Bruno não passava de um mensage
Basílio tinha a pele clara como porcelana, revelada parcialmente pelo robe de seda que usava. Seu corpo era impecável, com ombros largos e uma postura que exalava confiança. Os olhos amendoados, tão profundos que pareciam esconder segredos, contrastavam com o nariz alto e bem delineado. Os lábios finos, de um tom rosado suave, estavam pressionados em uma linha reta, revelando certa tensão.Ivone, ao observá-lo, foi imediatamente tomada por lembranças daquela noite. A primeira noite.Ela se lembrou de como ele havia se inclinado sobre ela, o calor de sua respiração roçando sua pele enquanto sussurrava ao pé do seu ouvido:"Eu gosto de você. Por favor, não me rejeite."A memória fez suas bochechas e orelhas ficarem quentes. Ela começou a se perguntar: teria ele planejado tudo aquilo? Usar o pretexto de trabalho apenas para provocá-la?"Hana está certa. Não posso tropeçar no mesmo erro duas vezes. Cair na mesma armadilha de novo seria burrice." Pensou Ivone, decidida. Ela não deixaria que
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia