Aquela aura natural de Ivone, tão elegante e delicada, fazia com que ela parecesse mais uma pequena cisne do que uma Cinderela.Basílio cruzou os braços, mantendo o olhar fixo nela. Era difícil acreditar que aquela garota, que carregava uma história tão sofrida, pudesse atrair tanta atenção. Ele não sabia quais eram as dificuldades que ela havia enfrentado, mas tinha certeza de que não deviam ser poucas. Afinal, ele próprio sabia o que era ser menosprezado. Se não fosse por Lúcia, ele jamais teria chegado onde estava.Ao final da reunião, o som de aplausos ecoou várias vezes pela sala.Os participantes não paravam de comentar e elogiar a nova secretária de Basílio, destacando sua competência e potencial. As palavras de admiração arrancaram um leve sorriso do canto dos lábios de Basílio. Aquela garota estava se saindo muito bem, representando-o de forma impecável.Com a reunião encerrada, já era hora do almoço.Basílio olhou para trás, onde Ivone o seguia de perto, e disse a Bruno:— Pr
— Velho? — Os olhos estreitos de Basílio se tornaram imediatamente gelados.Essa garota ousou chamá-lo de velho? Ele tinha apenas trinta e um anos, estava no auge de sua vida!Ivone, por sua vez, não era o tipo de mulher que relevava as coisas para agradar os outros, muito menos homens. E, naquele momento, ela estava particularmente inclinada a provocar. Afinal, quem não gosta de causar um pouco de desconforto de vez em quando?— Você é dez anos mais velho que eu! Para mim, se você não é um velho, é o quê? Se não fosse meu chefe, eu já deveria estar te chamando de tio.As palavras dela atingiram Basílio como um soco. Pela primeira vez, alguém o chamou de velho e, pior ainda, de tio. Ivone realmente sabia como acabar com uma conversa.Antes, ele pensava que essa garota tinha um coração ágil e perspicaz, quase como se tivesse sete sentidos. Agora, ele tinha certeza: ela também era mestre na arte de ser sarcástica e venenosa. Mas, justiça seja feita, no trabalho ela era impecável. Tudo o
Por mais que a vida fosse difícil, por mais que a falta de dinheiro ou de segurança material pesasse, Basílio sempre soube que o mundo era profundamente injusto. Nenhuma criança escolhe nascer. Os adultos, egoístas, decidem por eles, trazendo vidas ao mundo sem pensar nas consequências. Apenas dão à luz, mas não criam. Que direito têm de se chamarem de pais?Por sorte, sua mãe foi diferente. Mesmo sendo forçada, rejeitada e humilhada por seu pai, ela nunca descontou sua dor ou raiva nele.Ela sempre dizia:— Basílio, você precisa ser feliz. Mamãe não quer nada de você. Não precisa ser rico, famoso ou bem-sucedido. Eu não posso te dar condições boas, por isso não tenho o direito de exigir nada de você. Meu único desejo é que você seja saudável, feliz. A simplicidade é o que realmente importa.Essas palavras marcaram Basílio profundamente.Mais tarde, sua mãe morreu.Ele voltou de uma missão como policial antidrogas apenas para vê-la pela última vez. Com lágrimas nos olhos, ela lhe disse
Na entrada do Grupo Araújo, uma chamativa supermáquina, um conversível vermelho vibrante estava estacionada. Ao redor, uma multidão de fãs histéricas gritava incessantemente enquanto os seguranças tentavam conter o tumulto.Ivone, no entanto, não conseguia entender o porquê de tanta loucura. O barulho era insuportável, e seus tímpanos pareciam prestes a estourar.Ronaldo, com toda a pose de galã, colocou uma das mãos no bolso da calça branca e se inclinou para mais perto dela. Eles estavam tão próximos que Ivone podia sentir o perfume marcante que ele usava. Metade de seu rosto estava coberta por um par de óculos de sol enormes, mas o restante deixava transparecer o charme que fazia suas fãs perderem o controle.Com um movimento elegante, ele lhe estendeu uma rosa vermelha, vibrante como o carro em que havia chegado. Ivone hesitou por um instante.Ronaldo, percebendo a hesitação, inclinou-se ainda mais perto, quase ao ponto de encostar seus lábios no ouvido dela.— Srta. Ivone, Basílio
Do lado de fora do restaurante, o carro de Basílio estava estacionado a uma curta distância. Ele segurava o volante com firmeza, os dedos batendo levemente, enquanto olhava pela janela do veículo. Ele havia passado pelo local por acaso, com a intenção de jantar ali, mas, através da vitrine de vidro, avistou Ivone e Ronaldo compartilhando uma refeição."Inacreditável." Pensou ele, com um leve franzir de sobrancelhas. “Esse Ronaldo está realmente disposto a tudo para conquistar minha assistentezinha ingênua.”Aquele restaurante não era qualquer lugar. Os preços ali eram exorbitantes, e Ronaldo ainda teve a audácia de fechar o espaço só para eles dois. Basílio imaginava que aquela garota boba devia estar completamente encantada com o gesto."Há poucos dias, ela ainda estava me convidando para jantar com aquele sorriso doce no rosto. Agora, veja só, mal passaram alguns dias e ela já está fisgada por um peixe maior."Ele apertou os lábios, irritado."Subiu na vida, foi? E agora não quer nem
Ivone pegou o celular, deu uma olhada no visor e atendeu:— Sr. Bruno.— Iva, você ainda não foi dormir, né? — Disse Bruno.— Não, ainda não.— Então, você tá ocupada?— Bruno, fala logo o que aconteceu. — Ela segurou o telefone e se afastou um pouco, buscando um lugar mais tranquilo para atender.Do outro lado da linha, Bruno começou a desabafar:— Iva, será que você poderia vir trabalhar agora?— Agora? Já são quase onze da noite. — Ela franziu a testa, não acreditando no que ouvia.Ele, então, começou a apelar:— Eu sei que é um absurdo, mas não tenho escolha. Acabei de receber a ordem. Um projeto foi adiantado de repente e precisamos resolver isso urgente. Prometo que vou falar com o Sr. Basílio para te dar um aumento. Que tal? E você nem precisa ir até o escritório, não quero que você se arrisque sozinha à noite. Só precisa ir até a mansão do Sr. Basílio.— Você está dizendo que o Basílio vai trabalhar comigo?— Dá pra dizer que sim.Ivone sabia que Bruno não passava de um mensage
Basílio tinha a pele clara como porcelana, revelada parcialmente pelo robe de seda que usava. Seu corpo era impecável, com ombros largos e uma postura que exalava confiança. Os olhos amendoados, tão profundos que pareciam esconder segredos, contrastavam com o nariz alto e bem delineado. Os lábios finos, de um tom rosado suave, estavam pressionados em uma linha reta, revelando certa tensão.Ivone, ao observá-lo, foi imediatamente tomada por lembranças daquela noite. A primeira noite.Ela se lembrou de como ele havia se inclinado sobre ela, o calor de sua respiração roçando sua pele enquanto sussurrava ao pé do seu ouvido:"Eu gosto de você. Por favor, não me rejeite."A memória fez suas bochechas e orelhas ficarem quentes. Ela começou a se perguntar: teria ele planejado tudo aquilo? Usar o pretexto de trabalho apenas para provocá-la?"Hana está certa. Não posso tropeçar no mesmo erro duas vezes. Cair na mesma armadilha de novo seria burrice." Pensou Ivone, decidida. Ela não deixaria que
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no