— Você está querendo morrer?Basílio lançou um olhar frio e cortante para o assistente, que rapidamente se calou e saiu do escritório sem dizer mais nada.Basílio mordeu o cigarro entre os dentes enquanto refletia. Que absurdo! Ele era um declarado adepto do "não casamento". Além disso, havia uma diferença de dez anos entre ele e Iva. Ele já sabia que nunca teria uma esposa e, se um dia tivesse, definitivamente não seria aquela garota.Ivone estava no seu posto de trabalho, distraída, trocando mensagens com sua amiga Hana.Hana enviou uma mensagem, apressada:[Menina, você não vai acreditar! A equipe de Basílio passou a manhã investigando você.][O quê?]Ivone respondeu imediatamente, tensa, os dedos tremendo enquanto digitava.Hana continuou:[O assistente dele estava perguntando quem reservou o hotel e quem o ajudou a entrar no quarto naquela noite. Eu cruzei com ele e disse que o hotel estava trocando as câmeras de segurança naquele dia e que as gravações tinham sido apagadas. Ele f
Ivone franziu a testa, incapaz de evitar o pensamento:"Empregada doméstica? Eu? Preciso disso, por acaso?"O que Basílio estava pensando? Tudo bem que ela estava fingindo ser uma pessoa humilde, mas o que ele tinha visto para imaginar que ela fosse tão pobre a ponto de precisar trabalhar como empregada?— Um pai alcoólatra, uma mãe que prefere o filho homem, um irmão solteirão e uma garota quebrada. Isso não foi o que você disse? — Basílio estreitou os olhos, olhando para ela através do vidro semiaberto do carro. Ele analisou a menina na bicicleta elétrica e soltou uma risada de escárnio. — Já esqueceu as suas próprias palavras?Com esse comentário, Ivone finalmente se lembrou. Ela tinha mesmo inventado aquela história dramática, mas sequer se lembrava das palavras exatas. Basílio, no entanto, parecia ter gravado tudo.Sim, ela havia montado todo um roteiro de vida trágica para si mesma: uma pobre coitada ignorada pela família.— Isso mesmo, Sr. Basílio, que perspicácia. O senhor é mu
Basílio levantou a cabeça, encarando Ivone com uma expressão de surpresa:— Jantar? Eu e você?Por que ela estava o convidando para jantar? A reação dele caiu como uma bomba para Ivone, que logo interpretou como se ele achasse que ela estivesse tentando conseguir algo dele. Ela sorriu, confiante, e respondeu com naturalidade:— Não, é um convite meu, Sr. Basílio. Eu quero convidá-lo para jantar.— Você quer me convidar para jantar? — Basílio repetiu a frase, devolvendo a pergunta para ela, com uma expressão incrédula. Como uma garota que ele julgava tão pobre, que supostamente trabalhava em dois empregos, poderia se dar ao luxo de convidá-lo para jantar? Ele achava que ela não fazia ideia de quanto custava um jantar no nível dele.— Por que não posso convidar o Sr. Basílio para jantar? Ou o senhor já está ocupado esta noite? — Ivone perguntou, confusa. Será que ele estava fingindo não entender? Ela já havia estendido o convite, por que ele não aceitava?— Basílio, o que você quer, afin
Ivone jantou com Hana em um restaurante onde o gasto médio por pessoa era, no mínimo, dez mil.Com o humor péssimo, Ivone decidiu alugar todo o andar do restaurante. Ela não queria que ninguém a visse em um momento de fragilidade, mesmo que a maioria dos frequentadores não a conhecesse.A mesa estava repleta de seus pratos favoritos, mas, para ela, nada parecia apetitoso.Naquele momento, Ivone já havia trocado as roupas simples do trabalho por um traje luxuoso. Brilhava de joias e exalava elegância, vestida como a típica filha de uma família rica e influente. Apesar da aparência perfeita, o que dominava sua mente eram as palavras de rejeição de Basílio no início do dia. Isso fez com que ela cerrasse os dentes de raiva enquanto perguntava a Hana, que estava sentada à sua frente:— Eu sou tão ruim assim? Ele me disse para usar meu dinheiro e comprar roupas bonitas, para me arrumar melhor. Ele é tão superficial assim?— Ivone, então faz o que ele disse! Compra umas roupas bonitas e fica
Depois de pagar a conta e sair da loja, Bruno deu uma última olhada nas roupas expostas e, como quem não quer nada, comentou:— Na verdade, o Sr. Basílio gosta bastante das roupas femininas dessa marca.Ele sabia disso porque Lúcia, com quem Basílio ainda parecia ter uma ligação emocional, adorava usar as peças dessa loja. Mesmo com a família Baptista em decadência financeira, Lúcia sempre conseguia manter a elegância com roupas que não eram caras, mas tinham muito bom gosto.Bruno, no fundo, queria ajudar Basílio a seguir em frente e esquecer aquela mulher, que já era comprometida.Assim que Bruno saiu da loja, Ivone ficou parada por um longo tempo, observando as roupas nas araras. Então, finalmente entendeu: “Ah, então é esse o tipo de roupa que o Basílio gosta?”Sem pensar duas vezes, Ivone chamou as vendedoras e mandou que juntassem todas as peças que ela havia gostado. No final, gastou três milhões de reais em um único impulso.Hana saiu da loja atrás dela, confusa, e perguntou:—
— Pois é. Porque o vidente disse que vocês dois são destinados a ser marido e mulher. Não importa o que aconteça, vocês vão acabar juntos. Você e esse homem que gosta agora vão se separar, é questão de tempo. — A Zita, do outro lado da linha, insistia em elogiar o pretendente que havia arranjado.Ivone segurou o celular com uma expressão de ceticismo e perguntou:— Mãe, você nem teve contato com ele. Como pode falar tão bem assim?— Eu vi a foto dele! Ele tem um rosto tão agradável, sério, parece até que vocês nasceram um para o outro. Vou te mandar a foto, aí você vai entender.— Não precisa. A senhora só precisa marcar o encontro. Eu vejo ele pessoalmente. Mas, mãe, deixa eu te dizer uma coisa: nunca confie demais em foto. Existe algo chamado “filtro”, e pode ser bem enganoso. O que vale é a pessoa ao vivo.— Filha, que maravilha! Finalmente você topou conhecer ele! Então, aguarde minha ligação. Assim que eu marcar o dia e o horário, te aviso.Depois de encerrar a chamada, Ivone susp
Ivone não sabia se Basílio, ao vê-la assim, ficaria surpreso, talvez até um pouco chocado. Será que aquele homem, que sempre a enxergou como uma garota simples e sem graça, agora conseguiria olhar para ela de outro jeito? Será que ele perceberia que a menina que, na visão dele, não sabia se arrumar, agora vestia um vestido elegante, usava delicados sapatos de salto e exalava confiança como uma mulher feita?Iva caminhou pelo saguão, sentindo os olhares de surpresa e admiração dos colegas. Ela manteve a postura ereta, o queixo levemente levantado, enquanto seguia rumo ao elevador.Ao chegar lá, viu uma figura familiar. Ela mordeu o lábio por um instante, hesitante. Basílio e Bruno estavam esperando o elevador exclusivo do presidente.Ivone sentiu o coração apertar. Mesmo depois de tudo que ele havia dito, mesmo com toda a frieza, a simples presença dele ainda fazia seu coração tremer. Respirando fundo, ela forçou um sorriso confiante e acelerou os passos, o som dos saltos ecoando pelo p
Ao saber que havia sido transferida para se tornar a secretária-chefe de Basílio, Ivone ficou surpresa e chocada. No entanto, a mágoa que carregava em seu coração parecia ter se dissipado um pouco."Então Basílio não é tão desprezível assim", pensou. Ele dizia que ela não era o tipo dele, mas seus atos não condiziam com suas palavras. Ele nunca confessava seus sentimentos, mas demonstrava atenção em detalhes: aumentos salariais discretos, transferi-la para perto dele, nomeando-a como sua secretária-chefe.Ivone não sabia o que estava acontecendo consigo mesma. Como se tivesse uma lupa nas mãos, começou a procurar pequenos sinais de que Basílio se importava com ela ou talvez até gostasse dela. E, enquanto buscava esses indícios, sentia o rosto arder de vergonha.Mesmo assim, não estava disposta a perdoá-lo tão facilmente. No fundo, ela tinha certeza de que ele ainda era um homem superficial. Provavelmente notou como ela estava bem vestida e ficou impressionado com sua aparência. Por iss