Valentina Carvalho
Ele estava de costas para mim. Quando aquele homem apareceu na porta, me gerou um misto de surpresa e pânico. Ele era tão diferente de tudo naquele país, parecia um peixe fora d'água, assim como eu. Não conseguia identificar sua nacionalidade, chinês, japonês ou coreano, eu não tinha certeza.— Sou Park Joon-Ho, serei seu guarda-costas, senhora - ele disse, com um leve sotaque. Eu desci da mesa e me arrumei rapidamente, ainda um pouco atordoada.— O que um japonês está fazendo na Turquia sendo meu cão de guarda? - resmunguei baixinho, mas ele ouviu para minha surpresa.— Não sou japonês, senhora. Sou coreano - ele corrigiu, sem parecer ofendido.— Me desculpe - fiquei corada - Eu preciso aprender seu nome - eu disse, um pouco envergonhada.— Joon-Ho, pode me chamar assim, é como todos aqui me chamam - ele abriu a porta para mim - Vou levá-la até seu quarto, a equipe já está te esperando.— Que equipe? - perguntei, um pouco confusa.Joon-Ho era alto e tinha braços fortes, diferente do que eu imaginava dos coreanos, sempre pensei que fossem baixos, como os caras que a gente encontrava nas lojinhas que vendiam de tudo na minha cidade. E claro, tinha os caras dos Doramas que eu assistia, que eram atores e esses não contavam.— Senhora Valentina, está me ouvindo? - ele perguntou, percebendo que eu estava perdida em meus pensamentos.— Pode repetir, por favor? - pedi, um pouco envergonhada, estava vagando em como são coreanos.— A equipe de maquiagem está aguardando a senhora - ele explicou, enquanto subíamos as escadas. Quando chegamos à porta do meu quarto, ele acrescentou - Ficarei aqui para garantir que a senhora não tente fugir novamente.— Eu não vou fugir Joon-Ho, dei minha palavra que ficaria e fiz um acordo com Emir, agora preciso cumpri-lo - eu disse, sentindo uma pontada de tristeza.— Eu entendo, acordos não podem ser quebrados. Se precisar, eu estarei aqui - ele disse, com um rosto sério, e fechou a porta.Eu estava de volta ao quarto de onde tinha pulado a sacada, mas desta vez, não estava sozinha. Cinco pessoas me aguardavam, prontas para transformar a minha aparência. Agradeci mentalmente por falar inglês fluente, caso contrário, estaria completamente perdida.Fui conduzida até uma porta que não tinha notado antes. Atrás dela, um mini salão de beleza, um banheiro e um closet repleto de roupas esperavam por mim. Era como se alguém soubesse que eu viria para cá e tivesse preparado tudo. Mas como?Dois vestidos estavam pendurados: um branco, de noiva, e outro vermelho. Eles me explicaram que era uma tradição na Turquia, a noiva se casar de vermelho, mas que eu poderia escolher o branco também.O pânico começou a se instalar. Eu sabia que iria me casar, no Brasil, já tinha um vestido, um noivo e uma festa de casamento com muitos convidados, mas agora estava na Turquia, presa e com um acordo firmado. E o que mais me doía era saber que meu pai estava doente e precisando de mim. Eu estava tão dependente de Danilo e de sua empresa que não percebi o que estava acontecendo bem debaixo do meu nariz. Olhei para o meu reflexo no espelho e mal reconheci a garota que me encarava de volta. O que eu tinha me tornado? Eu estava noiva, tão envolvida no trabalho, carregando a empresa de Danilo nas costas, que não percebi que meu noivo me traía e que meu pai estava doente.Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Eu estava perdida, confusa e com medo. Mas sabia que tinha que ser forte, por mim e pelo meu pai. Eu tinha que enfrentar essa situação, por mais assustadora que fosse. E, quem sabe, encontrar uma maneira de rir no meio de tudo isso."Não chore, querida. As noivas ficam nervosas, mas se você continuar chorando, será uma noiva panda, com seus olhos borrados", disse o maquiador com compaixão. "Você quer tomar um banho refrescante antes de começarmos, só preciso que seja rápida."A equipe deixou o mini salão, me deixando sozinha. Eu tinha apenas uma hora, o tempo que Emir havia me dado. E como sempre, eu nunca gostava de me atrasar. Levantei-me da cadeira e tomei um banho rápido, deixando meu cabelo lavado. Quando abri a porta do banheiro e as pessoas entraram novamente, eu soube que não havia mais volta. Eu seria a esposa de Emir Aksoy.Meu cabelo foi escovado e penteado com perfeição. Uma maquiagem impecável foi feita em meu rosto. Só faltava escolher o vestido que eu usaria. Decidi seguir a tradição do meu país e escolhi o vestido branco, já que não me casaria com o modelo que havia escolhido anteriormente.Enquanto eu me arrumava, Joon-Ho pediu para entregarem o contrato de casamento. Olhei atentamente para tudo o que estava escrito ali, as exigências de Emir Aksoy e os meus deveres como esposa. Fiquei um pouco assustada ao ler que eu teria que me entregar a ele. Eu e Danilo nunca tivemos relações íntimas. Anos de noivado, eu sei. Talvez fosse por isso que ele me traía. Eu estava errada. Mas logo Emir veio à minha mente. Eu quase me entreguei a ele duas vezes, sem nem pensar. Eu sou virgem, sei o que é prazer, Danilo e eu tínhamos algumas intimidades, mas com o trabalho duro, eu quase não tinha tempo e queria esperar até o casamento.Enquanto esses pensamentos me invadiam, o tempo continuava a correr. O relógio parecia estar contra mim. Eu sabia que não podia fugir desse destino, mas dentro de mim havia uma luta entre o medo e a esperança. E tinha que encontrar forças para seguir em frente, para encarar o altar e tudo o que estava por vir. Eu era uma mulher de negócios e isso aqui é um negócio. Um contrato de casamento com validade. Posso ser uma boba e ingênua no amor, mas sou um tubarão para os negócios e se eu encarar isso como trabalho, será melhor. Vou tirar de letra, pelo menos eu espero.Assim que pus os pés para fora do quarto, Joon-Ho já estava lá, à minha espera. Seus olhos pequenos e atentos me estudavam, como se tentassem decifrar cada pensamento meu.— Está pronta? - ele perguntou, sua voz suave quebrando o silêncio.— Sim - respondi, aceitando o braço que ele me oferecia.Ainda me perguntava como um casamento poderia ser organizado em tão pouco tempo. Homens ocupavam os bancos, provavelmente os homens de Emir. Tudo estava preparado ao lado da piscina, onde o sol brilhava e a brisa fresca soprava. Emir me esperava no altar, imponente e belo. Eu não podia negar sua beleza, nem o perigo que ele representava.Quando Joon-Ho tentou soltar meu braço, para que eu caminhasse até Emir, eu o impedi.— Entre comigo - pedi, sem saber ao certo por quê. Eu não podia mostrar meu medo.Joon-Ho olhou para Emir, que assentiu, permitindo que ele me acompanhasse. Apertei o braço de Joon-Ho, buscando algum conforto, e ele colocou sua mão sobre a minha, transmitindo confiança.Tudo aconteceu muito rápido. Quando cheguei diante de Emir, ele se aproximou, seus olhos queriam me devorar. Ele estendeu a mão e, por um momento, hesitei. Mas quando nossas peles se tocaram, senti como se estivesse queimando por dentro. Soltei a mão de Joon-Ho e seus olhos me observaram, deixando um vazio estranho em mim. Eu confiava nele. Mas o toque de Emir era como uma brasa.— Está pronta para se casar comigo Valentina? - ele perguntou, seus olhos brilhando e um sorriso malicioso se formando em seus lábios grossos. E eu, eu estava queimando por dentro.Eu estava lá, de pé, diante um homem de idade avançada que parecia ser o juiz ou padre. Emir me virou de frente para ele, seus olhos penetrantes me observavam atentamente, enquanto ele pegava um véu vermelho e o colocava sobre minha cabeça. Ele murmurou algumas palavras em turco, um idioma que eu não compreendia.Emir me entregou um jarro de barro com um pedaço de véu, idêntico ao que agora adornava minha cabeça, cobria a abertura do jarro. — Jogue no chão e deixe que se quebre em vários pedaços - ele instruiu. E assim eu fiz, obedecendo sem questionar.Os homens que assistiam à cerimônia gritaram em uníssono, e eu sorri, sem graça, sem entender o significado daquele gesto. Um dos homens, que parecia ter cerca de 70 anos, se levantou e trouxe consigo dois anéis amarrados em uma fita vermelha. Um anel foi colocado no meu dedo, o outro no dedo de Emir. A fita foi cortada pelo homem, e novamente os homens gritaram. O senhor que conduzia a cerimônia pronunciou algumas palavras adicionais e assinamos alguns papéis. Acredito que aquele gesto marcava o fim da nossa cerimônia.Não consegui conter a lágrima que escorreu pelo meu rosto. Eu tinha sonhado com esse dia, o dia do meu casamento com Danilo. Eu tinha planejado cada detalhe, queria que fosse perfeito. Como fui tola! Agora, estava me casando com um homem que mal conhecia, e nada daquilo que sonhei estava acontecendo. — Venha minha coelhinha.Emir me conduziu até uma cadeira à beira da piscina e me sentei. Era desconfortável ser a única mulher ali. Emir pediu que trouxessem algumas caixinhas pretas e, quando ele as abriu, várias joias estavam ali. Fiquei pasma com a quantidade de ouro diante de mim, algo que nunca tinha visto antes. — De quem são essas joias? - ele estava ajoelhado ao mês pés e neste momento colocava uma pulseira em meu braço.— São suas joias, tudo isso é seu.— Minhas? Eu não posso…— Todos aqui hoje lhe darão presentes, coelhinha. Você é a noiva e merece todo o ouro do mundo. Você é minha mulher agora, a mulher do Baba e deve ter muito ouro a sua volta.Emir AksoyA pressão estava cada vez maior. Eu estava aos pés da minha mulher, a minha esposa, entregando-lhe jóias como uma forma de mostrar minha devoção. Essa era a imagem que eu queria que ficasse gravada na mente de todos e nas fotos que eles tiravam. Afinal, eu era o Herdeiro, o Baba, o líder supremo da máfia turca e tinha que mostrar meu amor à mulher à minha frente.O conselho da máfia sempre exercia uma grande pressão sobre mim. Eles esperavam que eu escolhesse minha noiva e constituísse minha família, garantindo assim a continuidade do sangue da minha linhagem. Todos os que tinham filhas na idade de se casar me perguntavam se eu iria escolher uma delas como minha esposa. Eles viam nisso uma oportunidade de elevar o posição de suas famílias dentro do clã, de se tornarem parte do meu poderoso império.Mas eu não era um homem que seguia as regras cegamente. Quando assumi o cargo de Herdeiro, eu já sabia das obrigações que vinham com ele. Eu estava determinado a não deixar que o
Valentina CarvalhoA noite estava repleta de risos e alegria, mas eu estava sentada em silêncio, observando. Eu estava cheia de ouro, presente tradicional na Turquia para as noivas. Meu pescoço estava pesado com as joias e os dedos cheios de anéis. Estava me sentindo uma rainha, e por alguns momentos, eu sorri.Emir, o noivo, parecia feliz. Ele estava dançando e cantando com seus amigos, completamente alheio ao meu estado de espírito. Eu sempre sonhei com o meu casamento dos sonhos com Danilo.Eu tinha planejado tudo com tanto cuidado. Escolhi um dos melhores DJs, organizei o repertório de músicas e comprei várias coisas para usarmos enquanto dançávamos. Mas o destino, parece, tinha outros planos para mim.Joon-Ho, assim como eu, observávamos tudo, um de cada canto. Ele parecia tão perdido em pensamentos quanto eu, seus olhos puxados estavam fixos na dança que se desenrolava diante de nós. Emir estava no centro, dançando uma dança típica turca. Ele batia os pés no chão, os braços dado
Valentina Carvalho A porta se abriu abruptamente, e ali estava ela. A mulher que eu tinha visto com Emir lá embaixo, apenas alguns minutos atrás. Tudo aconteceu tão rápido que mal tive tempo de reagir. Ela jogou algum tipo de líquido vermelho em meu rosto, manchando meu vestido. Em um piscar de olhos, ela estava em cima de mim, me batendo e puxando meu cabelo, deixando o meu penteado acabado.— Sua vadia, roubou meu noivo de mim... Ele não vai ficar com você… - Ela gritou, a raiva transbordando em sua voz.Eu estava em choque, sem saber como reagir, pois não tive tempo de me defender e de repente, a mulher mais velha entrou, os olhos cheios de fúria. Ela falava em um tom alto e agitado, as palavras saindo de sua boca como uma enxurrada. Eu não conseguia entender nada do que ela dizia, mas o tom de sua voz era suficiente para me assustar e ver o quanto ela estava irritada.Ao seu lado, a outra moça, que chamava Emir de irmão, tentava separar desesperadamente a briga. Ela estava clarame
Valentina Carvalho Os dedos de Emir roçaram nas minhas costas, enviando um frio que percorreu minha espinha, fazendo-me fechar os olhos. Ele desabotoou cada botão do meu vestido com uma paciência e delicadeza que me surpreenderam.Como era possível que somente as mãos de Emir me faziam sentir assim? Um leve toque dele me fazia explodir em meio a sensações, e como eu ansiava por suas carícias.Cada carícia de Emir despertava em mim uma enxurrada de sensações. Era como se cada toque dele acendesse uma pequena chama dentro de mim, uma chama que crescia e se espalhava, aquecendo cada parte do meu corpo.Quando ele passava os dedos pelos meus cabelos, era como se uma onda de calma me envolvesse, afastando todas as minhas preocupações e medos. Quando ele segurava minha mão, eu sentia uma conexão profunda, um sentimento de pertencimento que eu nunca tinha experimentado antes.Ele depositou um beijo suave no meu ombro, deixando um rastro de fogo que parecia consumir minha pele. Foi um gesto
Emir AksoySaborear Valentina era algo inimaginável para mim. Eu simplesmente não conseguia me manter longe dela, como se fosse uma força irresistível que me puxava para perto. Cada vez que nossas peles se misturavam, era como se uma explosão de sensações tomasse conta de mim, uma experiência que eu sabia que nunca iria esquecer.Valentina era como uma fruta fresca, recém-tirada do pé, pronta para ser saboreada. Seu sabor era único, trazendo uma saciedade a todos os meus desejos mais profundos. Cada toque, cada beijo, era como uma mordida suculenta em uma fruta madura, liberando um doce néctar que me deixava ansiando por mais.Nossos corpos se entrelaçavam em uma dança apaixonada, movendo-se em perfeita harmonia. Cada carícia, cada suspiro compartilhado, era uma expressão intensa do nosso amor e desejo um pelo outro.O champanhe que escorria por sua pele, misturando-se com o suor, trazia um sabor exótico e excitante. Era como se cada gota de champanhe fosse um convite para explorar ai
Valentina CarvalhoTrês dias. Três dias longos e solitários desde que Emir desapareceu de vista. Três dias de refeições silenciosas na grande mesa de jantar, sozinha em uma casa repleta de seguranças armados até os dentes. Eles andavam de um lado para o outro, sempre ocupados, sempre em alerta. Joon-Ho, sempre por perto, sempre calado. Se havia uma coisa que eu tinha certeza naquele momento, era que eu viveria esse casamento sozinha.— Afinal, é um casamento de mentira essa merda toda, Valentina. Acorda garota - eu disse em voz alta para mim mesma.A lembrança da noite que passamos juntos ainda estava fresca em minha mente. Depois de fazermos amor, ele parecia tão... tão, Emir. Então, ele simplesmente foi embora. Me deixou sozinha naquele quarto grande e frio, sem entender por que fui abandonada. Emir havia me prometido um casamento, uma união verdadeira e ao que pude perceber a única verdade é que ele me usaria quando precisasse. Ele mexia com cada parte do meu corpo, aquele filho da
Valentina Carvalho Aksoy — Sou o seu marido, Valentina. O cara que vai foder com você todas às vezes que eu quiser.— Emir, exijo que você me fale quem é você de verdade - eu o encaro - Eu já apanhei duas vezes de pessoas que eu nem mesmo conheço, nem o meu próprio pai nunca me deu um tapa na cara, como essas pessoas invadem essa merda de casa cheia de segurança e me bate? Eu me casei com você para ser um saco de pancadas?Ainda sentia as lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto, a sensação de vergonha queimando em meu peito. Como eu podia ter me metido nessa loucura toda? Emir, me olhava fixamente.— Valentina, sem questionamentos. Eu vou pedir para cuidarem melhor de você.— Cuidar melhor de mim? Você acha mesmo que todo mundo que entra aqui pode vir me bater? Você não sabe nem mesmo quem entra na sua casa, que merda de segurança é essa?— O seu segurança é o Joon-Ho e não eu - ele pegou a arma na mão - Devo meter uma bala na cabeça dele para que você não apanhe das pessoas e ele
Valentina Carvalho Aksoy— Valentina, você está sangrando - ele gaguejou, seus olhos arregalados. Joon-Ho estava parado ali, olhando para mim com uma expressão de puro terror.Eu me sentia um tanto envergonhada, a dor aguda no meu pé competindo com o rubor que subia pelo meu rosto. Olhei para baixo, vendo o sangue manchando o piso branco imaculado da casa de Emir. Onde ele estava exatamente, eu não sabia. Ele me deixou sozinha depois do sexo que fizemos no sofá.— Acho que me cortei - a dor pulsando em meu pé me lembrando que talvez não fosse tão simples assim.— Você se cortou, temos que chamar um médico - Joon-Ho disse, se abaixando na minha frente. Eu me encolhi, pois estava usando a manta do sofá no meu corpo nu.— Joon-Ho, é só um corte pequeno - eu insisti, mas ele não parecia convencido - Não tem necessidade de chamar o médi…Antes que eu pudesse argumentar, tirou um lenço do bolso e prendeu no meu pé. E eu me perguntei, quem em pleno século vinte um, leva um lenço no bolso? Jo