CATERINE
Quando eu soube que havia perdido o meu bebê, foi como se tivesse em uma queda sem fim. Minha mente foi para um lugar estranho onde eu ouvia os sons abafados e enxergava tudo embaçado. Eu não sentia nada. Não conseguia e nem queria sentir nada. A dormência era melhor. Afastava a dor, afastava a raiva.
Afastava a revolta.
Consegui não sentir o toque, bloqueei o frio, a fome, até mesmo as dores físicas. Sabia que estava sendo alimentada, meu marido me dava banho e andava comigo em seus braços como se eu fosse uma criança e me levava até a janela, lá ele me dava comida, sempre preparava os meus pratos favoritos, tentava conversar comigo sobre qualquer coisa e depois implorava para que eu falasse com ele.
Em algum lugar na minha mente, eu acho que pedia perdão a ele. Por não poder encará-lo, não conseguir forças para voltar, por ter de
ALEXANDER— Melissa, ligue para Debbie Stewart e peça para ela me enviar todos os relatórios de condicional do caso Moore, por favor. E não esqueça de marcar o nosso voo para Seattle para a reunião sobre o caso Hoffman.— Perfeitamente — respondeu pegando o telefone imediatamente e atendendo ao meu pedido. Entrei em minha sala e caminhei até a grande janela parando lá e olhando para o tráfego na rua.O que ela estaria fazendo a esta hora?O prazo para o nosso divórcio estava se esgotando, eu não poderia protelar mais, ela fez a parte dela, se internou para três meses de reabilitação. E estava indo bem, segundo seu pai e a minha família que a visitavam, ela estava indo muito bem.Com um suspiro resignado me virei e sentei em frente ao meu computador. Abri meu e-mail e procurei pelo documento que Carlo Lewis havia me enviado. Se
CATERINEEu não tive notícias de Alexander depois da noite em que ele me ligou. Ouvir suas palavras me machucaram tanto que pela primeira vez, em muito tempo, eu quis beber. Deitei na pequena cama e abracei minhas pernas. Em posição fetal eu chorei pelo resto da noite enquanto sussurrava meus pedidos de perdão.Pedi desculpas a Alexander e a Simon. Perdi meus amores. Perdi a minha família. Queria pegar o telefone e dizer a Alexander que estava arrependida, que queria que ele fosse me buscar, que me levasse para casa e me abraçasse como ele fazia quando pensava que eu estava dormindo. Queria ouvir seus pensamentos malucos.Eu nunca mais vou ouvir ele externando seus pensamentos sobre mim.**Passei meus dias na clínica lendo, passeando, ajudando na confeitaria e aprendendo a fazer novos doces. Eu continuava recebendo visitas. Mary e Josh e meu pai principalmente. Eu não ouvi nad
ALEXANDERAs ressacas moral, emocional e patológica brigavam entre si para saber quem infligia mais dor em mim. Quando acordei no dia seguinte, imediatamente pensei em Carter. Lembrei que tinha ligado para ela e falado coisas que não devia.Era cruel jogar na cara dela aqueles sentimentos. Merda! Eu não devia ter escutado Melissa.Olhei para o seu lado da cama e pensei em cheirar seu travesseiro para saber se o seu perfume ainda estava lá. Eu segurei a vontade para evitar que meu coração sangrasse mais um pouco.Quando conheci Caterine, tudo em mim mudou. Meu coração, minha alma, convicções, meu cotidiano, tudo. Foi uma reviravolta.A melhor reviravolta.Durou tão pouco tempo, não foi o suficiente. Eu não a tive o suficiente. Meu coração não se conformava com o rompimento. Tínhamos acabado de nos casar, de organizar o nosso
CATERINEFinalmente tinha chegado o dia da minha alta. Logicamente eu teria que continuar o meu tratamento. Antidepressivos diariamente, sem passar perto de nada alcoólico e terapia uma vez por semana até que o doutor Boomer me liberasse para consultas mensais. Eu me sentia bem, os remédios estavam fazendo o seu papel e eu pretendia levar adiante o tratamento. Queria ficar bem.Por outro lado, a perda do meu menino sempre me acompanharia. Aprendi com a terapia que a dor nunca passaria, mas que eu teria que seguir em frente e, eventualmente, eu aprenderia a conviver com ela. Eu também retomaria a minha vida, já havia feito isso uma vez e talvez agora fosse um pouco mais difícil, uma vez que eu não teria um amor, a minha janela, para seguir em frente.Pedi a ele para deixar eu pular a janela e ele deixou. Fez o que pedi e seguiu em frente.Como eu pude? Afastei o amor da minha vida novamente. Pela segunda vez
ALEXANDERAinda era difícil de acreditar que Melissa estava me deixando. Era difícil, mas também um alívio.Sentia-me culpado por me sentir aliviado também.Vai entender.Ter minha assistente apaixonada por mim e não corresponder era difícil, contudo, Melissa Dill havia sido uma boa amiga, especialmente nos últimos tempos. Sem contar o seu profissionalismo.Sempre tive certeza de sua capacidade, só não tinha ideia de que Bennett Stanford quereria comprar seu passe como se ela fosse um jogador de futebol do Real Madrid. Quando ele entrou em meu escritório apresentando-se como o representante da promotoria de Seattle no caso Hoffman, seus olhos e palavras não desviavam de Melissa. Como sempre, ela se mostrou ousada e eficiente o deixando ainda mais animado com o seu trabalho, ainda que eu desconfiasse que sua animação não era tanto de cunho profis
CATERINEDizer adeus para Michael não foi difícil. Talvez, na época em que aconteceu, teria sido se tivesse tentado. Mas naquele momento, não.Eu deixei Melissa esperando no carro e procurei por seu túmulo levando o meu tempo, como ela havia permitido. Quando o encontrei, cumprimentei meu falecido noivo e sentei em cima do local onde ele descansava, de frente para a sua lápide.— Eu não vou me desculpar. — Fui categórica. — O que você fez comigo não tem perdão. E não é porque você está morto que está absolvido de tirar meu livre arbítrio e tomar decisões sérias em meu lugar. Você definitivamente não será absolvido por ter me agredido. Mas eu estou deixando você ir. Eu estou dizendo que não vou mais viver sob a sombra dos seus erros e dos meus erros do passado. Eu estou deixando
ALEXANDERUm ano depoisSeus cabelos eram mais longos agora. O platinado tinha ido embora deixando o tom castanho claro, quase loiro, natural. Estavam presos de forma bagunçada porque ela estava suando demais de tão nervosa e ansiosa. Havia ganhado mais peso também e estava cheia de curvas. A maturidade chegou para ela de diversas formas. Todas positivas. Inclusive profissionalmente.Nós montamos um escritório de advocacia. Hartnett & Hartnett. Era um escritório mais para Caterine do que para mim, eu tinha meu trabalho na promotoria e não podia me envolver em seus casos oficialmente, mas claro que sempre lhe auxiliava. Mesmo assim ela fez questão que fosse Hartnett & Hartnett alegando que talvez eu quisesse deixar de ser promotor um dia. No escritório ela atendia pessoas de baixa renda. Realmente foi um grande passo para nós e ela parecia quase completa.Quase.O
ALEXANDER— Sim, acredito que um acordo seja mais prudente para o seu cliente, Marvin. Ele se declarando culpado pegará vinte anos — expliquei para o advogado de defesa de Edmund Rustings, um dos homens de Raymond Hoffman. Eu não tinha nada sólido contra o desgraçado lavador de dinheiro, mas estava pegando cada um dos seus testa de ferro. Eu chegaria nele.— Falarei com ele, Alexander. Eu imagino que ele aceite o acordo. — Marvin era um advogado inteligente, não se valia de showzinho para conseguir a pena do júri. Ele olhava para o quadro e pegava o que fosse melhor para seus clientes.— É o mais esperto a se fazer neste caso, ele se declara culpado e entrega o Hoffman, e talvez eu veja o que posso fazer para diminuir um pouco mais a sua pena — brinquei sabendo que se Edmund Rustings entregasse Hoffman era melhor que ele pegasse perpétua. No momento que ele coloc