JéssicaNinguém nesse mundo está preparado para a morte. Seja ela de um familiar, amigo, companheiro ou apenas conhecido. A morte aproxima as pessoas da mesma dor e tristeza. Em todos esses anos vivendo com tia Maria, nunca a vi tão arrasada pela perda de alguém que nem família era. A morte do Pedro não deixou apenas minha tia abalada e sim todas as pessoas que o conheceram e conviveram com o Pedro por tantos anos. Ele não foi apenas o filho único do antigo chefe de Estrela Guia. Ele era amigo, protetor de muitos ali e a partida dele pegou a todos de surpresa. Esperava titia para juntas irmos até o velório que infelizmente seria com caixão lacrado e apenas uma pequena despedida para que todos pudessem dar o adeus para ele. Não encontrei o Leonardo nem mesmo falei com ele durante os dias que se passaram e tentaria conversar durante a cerimônia. Era estranho saber que não me encontraria, mas com o Pedro andando pelas ruas da comunidade. Usando seu jeans e suas camisetas, ou quando ele s
VivianeO momento em que o padre e o pastor falam sobre a morte e encerram o discurso sobre a morte é quando me dou conta que no momento que aquele caixão descer aquela sepultura, o homem que fez parte da minha vida e pai do meu filho realmente partiu.Estamos no cemitério para o enterro e o lugar estava tomado por moradores, conhecidos e de longe eu vi o seu Neto ao lado de um outro homem mais velho que o Pedro. Os dois conversavam sem tirar os olhos de mim e mesmo fingindo que não prestava atenção eu sabia que era sobre mim que eles falavam. Certeza de que estavam curiosos como eu viveria sem o Pedro agora. Não apenas aqueles dois como todos de Estrela Guia. Nem todo mundo respeita a dor e o luto das pessoas. Fofocas sobre mim já corriam pelas ruas e Vitória precisou se controlar por várias vezes. Tinha consciência que falariam pelas costas da presença do Leonardo ao meu lado. Ele estava sendo um amigo no momento mais difícil da minha vida.De pé em frente a sepultura, controlava me
SoraiaEsperava a chegada da cafetina, enquanto bebia meu chá aguardava a vinda daquela mulher. A tia da tal Jéssica me ligou na noite anterior, avisando que daria o seu preço e claro ela pediu o valor que eu já imaginava. O cheque com o valor combinado, a documentação da casa em um bairro bem distante da favela e a documentação seria passada para o nome da garota depois que a tia assinasse tudo que eu mandasse. Sem procurar meu filho, sem ter contato com Leonardo, as duas iriam desaparecer da favela assim que o dinheiro fosse descontado da minha conta. E isso significava imediatamente.Vi quando Maria entrou no restaurante usando os trapos que ela achava ser roupa. Ao lado, uma garota de uns 25 anos, jovem demais para Leonardo, mas bonita demais para tentar qualquer homem de sangue quente.Ao ver as duas se aproximando, Jéssica de cabeça baixa e a tia com seu sorriso triunfante no rosto.— Boa tarde, dona Soraia!Maria diz assim que se senta à minha frente e a sobrinha permanece cala
VivianeVovó foi para a missa, eu estava sozinha em casa sentada no sofá da sala. Passava um pouco das 7 da noite e a dona Noca havia convidado vovó para dormir na casa dela e acabei deixando. Era a noite do meu aniversário, completei 19 anos tendo um dia como qualquer outro. Pela manhã vovó me ajudou com o almoço e Cris preparou a massa dos bolos que seriam entregues à tarde. Dei graças a Deus que dona Noca chamou vovó para ficar com ela, assim poderia ter a casa somente para mim.A televisão ligada em um canal qualquer enquanto eu pensava em tudo que aconteceu nos últimos dias. Pedro havia sido enterrado há 5 dias. Recordar que àquela hora da noite nós dois estaríamos comemorando meu aniversário, ele teria preparado uma surpresa. Felizes faríamos planos quando ele me entregasse o anel. Depois que encontrei o anel de noivado no cofre do Pedro, mantive a caixinha guardada nas minhas coisas. Sem coragem para usar e lembrar dele. A memória dele estava por cada canto daquela casa. Na coz
JéssicaAproveitava a noite no bar do seu Manoel, titia saiu com algumas amigas e como não queria ficar sozinha em casa decidi me distrair um pouco. Depois do encontro com a mãe do Leonardo, ele sumiu, sem atender minhas ligações ou responder minhas mensagens. Sentia que a mãe havia feito minha caveira para ele, com certeza mentindo que eu quis aceitar o dinheiro, que fui atrás de tudo e no final eu era a golpista que queria se dar bem às custas de um homem com dinheiro e importante como o Leonardo. O exame de gravidez negativo como eu esperava, eu tendo que suportar as reclamações da tia Maria, porque para ela o dinheiro e a casa não eram suficientes. Titia queria muito mais do que ela havia recebido. O som tocando um pagode qualquer, moradores comentando sobre a morte do Pedro e eu apenas ouvia calada, bebendo minha cerveja sem pensar em nada além de mim mesma. Nos últimos meses tantas coisas aconteceram na minha vida, perdas, alegrias, tristezas e decepções. Mas o que eu poderia es
VivianeLeonardo parou o carro na entrada de um restaurante luxuoso demais para a roupa que eu estava usando. Me senti péssima usando um vestido tão simples. Quando aceitei o convite, pensei que ele me levaria para um lugar menos sofisticado só então percebi que Leonardo vinha de um mundo diferente do meu. Restaurante simples, seria o último lugar que um homem como ele me levaria.— Você terá um final de aniversário muito feliz, aqui servem uma sobremesa maravilhosa e como uma boa cozinheira que é sei que irá aprovar não apenas os pratos como um todo.Ele me diz assim que desliga o carro, saindo e me ajudando a descer também. Leonardo queria apenas me fazer feliz, eu sabia disso e retribui toda a gentileza que meu amigo estava fazendo por mim.— Agora me deixou curiosa ouvindo falar da boa comida e principalmente do chefe de cozinha.Entramos juntos, sendo recepcionados pelo maitre que pela forma que conversava com o Leonardo me fez pensar que era um cliente antigo do restaurante.— M
VivianeDepois da noite alegre com o Leonardo, voltei para casa me sentindo muito melhor. Acordei cedo e preparava meu café da manhã e tomaria sozinha já que vovó voltaria só a tardezinha para casa. Precisava organizar a lista de material para o restante da semana, conversaria com vovó sobre a proposta do Leonardo e recordei do que conversamos quando me trouxe para casa.Ele tinha razão quando me disse que continuar em Estrela Guia seria um perigo tanto para minha vida quanto a do meu filho. Pedro foi morto por um inimigo que nem ele sabia, tanto que Lucas depois de muita insistência da minha parte, revelou que Pedro não tinha negócios na Colômbia e que pegou a todos de surpresa a morte dele ter acontecido justo no país que ele pensava em fazer negócios. São Paulo é uma cidade grande, com milhões de moradores e me peguei pensando no que meu amigo disse quando revelou que conseguiria para vovó e eu uma casa num bairro distante da comunidade. O aluguel que pagaria no interior poderia se
LeonardoViviane e eu voltamos da clínica, ao meu lado ela não parava de falar da emoção que foi ouvir o coração do filho e saber que daria à luz um menino em alguns meses.—Tem em mente um nome para o bebê?Pergunto dirigindo até o supermercado que fica próximo da casa dela. Viviane queria preparar um jantar especial pela descoberta do sexo do filho e por ouvir o coração do bebê.—Sim! Se fosse menina eu chamaria de Mariana e se fosse menino seria Francisco o nome do pai do Pedro.Ela responde com sua inocência de sempre, aquele sorriso que me desconcertou cada vez que eu olhava em seus olhos.—Dois nomes bonitos e pelo que vi Francisco terá um significado ainda maior por ser o nome do avô paterno do seu filho.—Verdade, mesmo conhecendo pouco o seu Francisco porque eu era muito nova quando ele faleceu, mas sei que foi um bom líder e Pedro sempre me contava que era um bom pai para ele.Viviane fala, eu perguntou como um pai incentivava o filho a se tornar um homem que não seguia a l