Capítulo 97Júlio acordou sobressaltado, os olhos arregalados. A mão dela ainda estava em sua cabeça, os dedos delicados e trêmulos. Ele inclinou-se para mais perto, o coração acelerado.— Mary? Você está acordada? — perguntou, a voz carregada de alívio e emoção.Ela abriu os olhos devagar, ainda parecendo frágil, mas o olhar carregava ternura.— Júlio... — repetiu, a voz fraca, mas suficiente para fazer o coração dele apertar.Ele segurou a mão dela entre as suas, inclinando-se até que suas testas quase se tocassem.— Graças a Deus, Mary. Eu estava tão preocupado... — A voz dele falhou, carregada de emoção.Mary tentou sorrir, mesmo com o cansaço visível no rosto.— Você ficou aqui o tempo todo?Júlio assentiu, o rosto marcado pelo cansaço.— Eu não conseguiria sair daqui, Mary. Não depois do que aconteceu.Ela suspirou, fechando os olhos por um momento antes de abri-los novamente.— Letícia... Ela...Júlio interrompeu, apertando suavemente a mão dela.— Não precisa falar disso agora
Capítulo 98Gabriel dirigia com cuidado, enquanto Jussara, no banco ao lado, segurava a bebê adormecida em seus braços. Júlio vinha logo atrás, com Mary encostada em seu ombro, olhando pela janela, absorvendo a tranquilidade da paisagem.Quando chegaram, Dona Amélia já os esperava na entrada, acompanhada de alguns funcionários da casa, todos ansiosos pelo retorno da família. Ao ver o carro estacionar, Amélia apressou-se em descer os degraus da varanda, com um sorriso caloroso no rosto.— Vocês estão em casa novamente! — disse ela, abraçando Gabriel e Jussara, com cuidado para não acordar a pequena. — E como está minha netinha?— Um anjo, Dona Amélia — respondeu Jussara, sorrindo.— Agora sim a casa está completa novamente — disse Amélia, os olhos brilhando de emoção.Júlio e Mary saíram do carro logo depois. Amélia se virou para eles, e seu sorriso se alargou ainda mais.— Mary, querida, como você está? — perguntou Amélia, segurando as mãos da jovem.— Melhor, Dona Amélia. Obrigada po
Capítulo 99Jussara entrou no escritório e encontrou Gabriel sentado à mesa, com o semblante sério e o corpo visivelmente tenso. A imagem a fez lembrar da época em que o conheceu, quando ele carregava sempre aquele ar rígido e reservado.— O que foi, querido? — perguntou, preocupada, aproximando-se devagar.Gabriel levantou o olhar, surpreso pela interrupção, mas rapidamente suavizou a expressão, tentando disfarçar o incômodo.— Não é nada importante, meu amor — respondeu, forçando um sorriso.Jussara estreitou os olhos, percebendo que Gabriel estava tentando mascarar algo. Ela cruzou os braços e caminhou até ele, parando ao lado da cadeira.— Você acha que me engana? Já te conheço bem o suficiente para saber que isso não é “sem importância”.Gabriel suspirou, passando a mão pela nuca, e desviou o olhar por um instante.— Não quero te preocupar, Jussara. Você acabou de sair do hospital, precisa descansar e se concentrar em você e na nossa filha.Ela segurou o rosto dele com delicadeza
Capítulo 100Gabriel estava concentrado no e-mail quando o toque insistente do celular o tirou de seus pensamentos. Ele suspirou ao ver o nome de Francisco na tela, já imaginando que o assunto não seria dos mais leves. Atendeu, recostando-se na cadeira.— Francisco, boa noite. O que houve agora?— Boa noite, Gabriel. Preciso falar de algo sério. — A voz de Francisco era grave, o que fez Gabriel automaticamente endireitar a postura. — O caso do Marcos... Está ficando mais complicado do que imaginávamos.— Como assim? — Gabriel franziu a testa, uma pontada de cansaço o atingindo. — O que mais descobriram?— Coisas que podem afetar não só a vida dele, mas o nome da sua família. Estamos falando de documentos forjados, dinheiro vindo de fontes ilegais e possíveis conexões com pessoas... perigosas.Gabriel esfregou o rosto com a mão, respirando fundo para manter a calma.— E o que exatamente você precisa de mim?— Em breve, você terá que vir para São Paulo. Precisamos da sua presença para r
Capítulo 101Na manhã seguinte, Gabriel estava no escritório, imerso em papéis e e-mails, tentando colocar em ordem as pendências acumuladas nos últimos dias. O silêncio do casarão era quebrado apenas pelo som do vento que balançava as árvores do lado de fora. Ele suspirou, ajeitando-se na cadeira, quando o celular começou a vibrar sobre a mesa.Ao olhar o visor, franziu o cenho ao reconhecer o número do detetive particular que contratara semanas atrás para investigar os problemas de Marcos.— Detetive? — atendeu, com a voz firme, mas a preocupação evidente.— Senhor Monteiro, bom dia. Preciso conversar com o senhor com urgência. É algo que não posso tratar por telefone.Gabriel se inclinou na cadeira, apertando o celular contra o ouvido.— Do que se trata? É sobre o meu filho?— Sim, senhor. E outras situações relacionadas. É de extrema importância que tenhamos essa conversa pessoalmente. Preciso olhar nos seus olhos e mostrar todas as provas. Não é algo simples.O coração de Gabriel
Capítulo 1Brasil — São Paulo — SP.Gabriel Monteiro, CEO de uma das maiores empresas de tecnologia médica do país, estava no centro do silêncio da sala de estar, observando a chuva bater nas imensas janelas de vidro. Desde o acidente que o deixou numa cadeira de rodas, seu temperamento, já severo, piorara ainda mais. Ele odiava a ideia de depender de alguém, especialmente agora que sua mãe, a única pessoa em quem confiava, estava para viajar.Gabriel escutou um barulho às suas costas e se virou, ficou observando a mãe. Ela começou a falar toda ansiosa sobre a viagem para a Europa. Ele não a ouvia. Sua mente estava presa ao incômodo de ser tratado como se jamais fosse se recuperar do acidente que sofreu. Ficou perturbado ao ouvir que teria uma enfermeira para cuidar dele.- Eu não preciso de nenhuma babá cuidando de mim, mãe - ele grunhiu, com a voz firme.Ela suspirou, ignorando sua explosão de raiva com a paciência de quem já estava acostumada com o temperamento difícil do filho.-
Capítulo 2Jussara ouviu uma leve batida em sua porta. Ela abriu e viu Dona Amélia, que parecia já estar de saída, carregando uma pequena bolsa de viagem.— Jussara, querida, eu preciso sair agora. A situação da minha irmã é delicada, e vou direto para o aeroporto — disse Dona Amélia, ajeitando o casaco enquanto dava um sorriso breve, mas preocupado.— Claro, Dona Amélia. Pode deixar que eu cuido de tudo aqui — respondeu Jussara, passando segurança.Dona Amélia suspirou em alívio, segurando a mão de Jussara por um instante.— Obrigada, minha querida. Ele é teimoso, mas tenha paciência. O Gabriel... — ela hesitou, buscando as palavras. — Ele está com a alma tão ferida quanto o corpo.Jussara assentiu, vendo o amor e a dor que transpareciam nos olhos da mãe. Com um aceno breve, Dona Amélia partiu, deixando a mansão em um silêncio quase absoluto.Assim que fechou a porta, Jussara foi até a mesa onde havia anotado os horários dos remédios de Gabriel. O primeiro deles estava próximo, então
Capítulo 3Jussara entrou no quarto e, ao fechar a porta atrás de si, recostou-se nela, ainda tentando assimilar o que acabara de acontecer. Sentia o coração batendo rápido e as mãos trêmulas, enquanto lembrava do beijo intenso de Gabriel. Uma sensação de vulnerabilidade a pegou de surpresa; ele a havia deixado abalada, e a imagem daquele momento ainda girava em sua mente.Ela passou a mão nos lábios, onde o toque dele parecia ainda presente, e suspirou, um tanto indignada consigo mesma. Não fazia sentido. O que ele estava pensando? E por que ela reagiu daquela forma, caindo tão facilmente na provocação dele?"Caí como um patinho," pensou, sentindo-se incrédula. Era impossível negar que aquele fora o melhor beijo que já tivera.Mas, ao mesmo tempo, uma dúvida insistente começava a se formar. Será que ele apenas estava testando os limites? Ou era uma espécie de jogo para ele? Ainda que ela tentasse manter o profissionalismo, Gabriel estava conseguindo abalar suas defesas.Respirando fu