Já estava no banheiro, me preparando para deitar, quando as meninas ligaram. Elas estavam na sala do diretor, por sorte eu ainda estava com a roupa do jantar.— O diretor quer falar com você. Está liberada? Acho que a conversa pode demorar um pouco.— Liberada. Passe para o doutor, por favor.Dr. Márcio apareceu na tela. Ele estava diferente, com o ar mais cansado... Não era tarefa fácil dirigir um hospital público no Rio de Janeiro, especialmente nas condições de atendimento daquele local.— Boa noite, Júlia. As meninas me contaram sobre o laudo. Já enviei para outro cardiologista, pois você está de licença. Ele confirmou o diagnóstico. Adotarei as medidas cabíveis em relação à negligência do outro profissional.— Obrigada, senhor. Parece cansado. Está tudo bem?— Apenas cansaço. E quando você voltará?— Foi bom perguntar, senhor. Tive que fazer uma cirurgia de arritmia cardíaca hoje em meu avô. Até agora, pedi licença de dois meses, mas acredito que vou precisar de um ano, sem remun
Essa fala tirou-me do prumo. A ex-namorada dizia: “Não se meta com o meu namorado!”. Não sei explicar, mas me deu um frio na barriga e uma angústia. A mulher não parecia brincar. Pedi desculpas e disse que não estava preparada para lidar com paparazzis e especulações de uma nova namorada do cantor pop. Por sorte, o chamaram para fazer um teste de som e ele nem discutiu. Mais tarde mandou outra mensagem me chamando para jantar no outro dia. Apesar da angústia, eu não podia deixar de viver, então aceitei. Era sexta-feira, dia de balada. Havia um homem bonito me querendo, gostando da minha companhia. Esqueci o perigo mais uma vez. Na verdade, pensei que era apenas uma questão da minha cabeça, que logo a fulana esqueceria, arrumaria outro e me deixaria em paz.Ele passou em casa às oito horas. Jantamos em um restaurante lindo, às margens do rio Han. A mesa reservada estava ao lado da janela e observamos embarcações chiques e o balanço da água. Era fácil conversar com Young-Chul, leve, se
Sempre soube escolher bem as amizades. Pessoas de boa índole, que não gostavam de me sacanear, faziam parte do meu círculo social. Pura mentira, as meninas sacanas me ligaram da praia. Estavam tomando sol, a areia parecia fritar e a sensação era de Rio 40 graus. Com a cerveja na mão, fizeram-me sentir vontade.— Ao ter amigas como vocês, não se precisa de inimigos, certo? Sacanagem, só não vou falar que terá troco, pois até voltar aí, já perdoei, mas aguardem a rodada de bebida que terão que pagar para mim. Aguardem.— Você escolheu ficar aí, e tem seu cantor perfeito a seus pés. Estamos à caça. E, por falar nisso, onde ele está? Hoje é sábado.— Gravando, mas vamos viajar para a casa de praia dele no próximo final de semana. Lareira acessa, o mar, regado a um bom vinho.— Tem samba e calor? — perguntou Lorena com uma piscadela debochada.— Vou desligar. Isso não é justo comigo — brinquei, fingindo limpar lágrimas dos olhos.— Nos conte, já passou para a próxima fase, ou só está ainda
Caminhamos devagar, apreciando a presença um do outro e aproveitando cada gesto de carinho trocado. Em meio àquela atmosfera íntima, senti a energia do local se fundindo com a força do encontro. O som suave das ondas, a brisa do mar e a presença dele criavam uma harmonia única, reforçando os sentimentos de cumplicidade e alegria no início de um relacionamento.Enquanto caminhávamos de mãos dadas, percebi ser um momento cheio de expectativas e possibilidades. Sentia-me grata por estar ao lado dele. Sentia-me corajosa por ter me permitido chegar até ali e abrir meu coração para alguém tão especial, com quem podia compartilhar momentos de ternura e conexão.Durante o dia, descansamos, lemos, tomamos chá e, ao final do dia, fomos à cozinha para jantar. Na verdade, fiquei bebendo vinho e olhando para aquele Adônis, sendo chef por um dia.— Posso fazer mais perguntas? Quero te conhecer melhor. — perguntou Young-Chul.— Fique à vontade.— Qual seu tipo de música favorita?— São tantas. Sou e
— Essa é a história de vida de meus pais e por isso amo o samba, amo o Brasil, mas estou também me apaixonando por aqui.— É uma história de vida extraordinária!— Apenas um breve resumo, para você compreender. Eu também não sei muita coisa, por exemplo a parte da briga com vovô, vim saber aqui. Papai jamais comentou nada comigo, então cresci sem saber que tinha parentes aqui.— Nunca quis fazer o mesmo que ela no samba?— Não. Sei sambar, cantar, mas nunca tive a classe de uma porta-bandeira. Para ser uma tem que ter graça, é como um ballet, suave, encantador, gracioso e clássico.— E o que é Portela? — perguntou ele arrastando as palavras.— O nome real é Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela. Foi fundada em 1923 no bairro carioca chamado Oswaldo Cruz, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. É a mais antiga escola em atividade até os dias atuais nos desfiles de carnaval e a única que já participou de todos os desfiles. Ela tem as cores azul e branco e como símbolo uma águia.— D
Quatro meses depois.As meninas usaram a procuração e entraram com o processo administrativo para mais nove meses, só que sem remuneração. Antes de perceber, já administrava o hospital e conquistava o respeito de todos os médicos. Fiquei sabendo que vovô dava pulos de alegria e já sentia que não voltaria mais ao Brasil.O namoro estava ótimo, mas a mulher que ameaçava estava sumida. Como modelo, ela estava fazendo vários trabalhos nos Estados Unidos e não tinha conhecimento sobre mim e Young-Chul. A equipe da empresa manteve a descrição em todos os momentos em que estávamos juntos.O gato ficava mais em minha casa do que na dele no final de semana. Só quando eu tinha um almoço com vovô, o dispensava. Na cultura coreana, levar alguém para conhecer a família era um casamento à vista. Não posso dizer que não estava apaixonada por ele, mas uma sensação de insegurança incomodava-me. Só não consegui segurar essa situação por muito tempo. O patriarca Kang me encurralou na parede e disse que
A mulher se aproximou toda pomposa. Cumprimentou meu namorado e dirigiu um olhar fuzilante em minha direção. Seus olhos transmitiam seu desprezo. Ela achou que assim eu abaixaria a minha cabeça, creio, depois de tudo o que aconteceu a seguir, esse foi o meu maior erro. Deveria ter ficado na minha, mas retribuí o olhar, sorri e acenei. Aquela doida possessiva levou esse gesto como uma afronta.Young-Chul apertou a minha mão, pediu licença e fomos até o camarote vip. Ele foi para o seu lugar no palco, e eu fiquei ao lado dos meus tios. A sensação de agonia voltou com força total. Após a apresentação, fomos direto para a casa dele sem falar com a imprensa. Dormi por lá, naquele final de semana que completava sete meses juntos, voltaríamos a Jeju. Foi uma viagem ainda mais linda do que a primeira, apesar do frio, o sol deu o ar da graça. Parecia uma despedida, e o sol a esquentava.Estava na sacada, vendo o mar, de olhos fechados, sentindo o estrondo das ondas batendo na enseada de pedra
Kang, Yen-Jun2020Desde a apresentação de Young-Chul, não tirei os olhos de Min-Ji. Eu também percebi o olhar de ódio da ex-namorada para ela, quando viu que o casal estava tendo um relacionamento sério. Sem ela saber, coloquei um segurança atrás deles, um agente aposentado que era especialista em parecer um fantasma.Para a viagem de inauguração do hospital, pedi que esse profissional seguisse de carro atrás dela a uma distância segura, para não causar suspeitas. Infelizmente, a maior dor é sempre lembrar que o pior aconteceu mesmo que ele estivesse a poucos metros de distância. Quando recebi o telefonema do segurança, fiquei em choque.— Alô, o que aconteceu? Por que você está ligando? — A sensação de pânico, mesmo sem saber nada ainda, aflorou só com o toque do celular.— Senhor, estou aqui correndo para socorrer a sua sobrinha, não sei como, mas o carro dela saiu da rodovia e colidiu com uma árvore. O airbag não foi acionado. Não sei como isso ocorreu… Ligue para a emergência. En