Sempre soube escolher bem as amizades. Pessoas de boa índole, que não gostavam de me sacanear, faziam parte do meu círculo social. Pura mentira, as meninas sacanas me ligaram da praia. Estavam tomando sol, a areia parecia fritar e a sensação era de Rio 40 graus. Com a cerveja na mão, fizeram-me sentir vontade.— Ao ter amigas como vocês, não se precisa de inimigos, certo? Sacanagem, só não vou falar que terá troco, pois até voltar aí, já perdoei, mas aguardem a rodada de bebida que terão que pagar para mim. Aguardem.— Você escolheu ficar aí, e tem seu cantor perfeito a seus pés. Estamos à caça. E, por falar nisso, onde ele está? Hoje é sábado.— Gravando, mas vamos viajar para a casa de praia dele no próximo final de semana. Lareira acessa, o mar, regado a um bom vinho.— Tem samba e calor? — perguntou Lorena com uma piscadela debochada.— Vou desligar. Isso não é justo comigo — brinquei, fingindo limpar lágrimas dos olhos.— Nos conte, já passou para a próxima fase, ou só está ainda
Caminhamos devagar, apreciando a presença um do outro e aproveitando cada gesto de carinho trocado. Em meio àquela atmosfera íntima, senti a energia do local se fundindo com a força do encontro. O som suave das ondas, a brisa do mar e a presença dele criavam uma harmonia única, reforçando os sentimentos de cumplicidade e alegria no início de um relacionamento.Enquanto caminhávamos de mãos dadas, percebi ser um momento cheio de expectativas e possibilidades. Sentia-me grata por estar ao lado dele. Sentia-me corajosa por ter me permitido chegar até ali e abrir meu coração para alguém tão especial, com quem podia compartilhar momentos de ternura e conexão.Durante o dia, descansamos, lemos, tomamos chá e, ao final do dia, fomos à cozinha para jantar. Na verdade, fiquei bebendo vinho e olhando para aquele Adônis, sendo chef por um dia.— Posso fazer mais perguntas? Quero te conhecer melhor. — perguntou Young-Chul.— Fique à vontade.— Qual seu tipo de música favorita?— São tantas. Sou e
— Essa é a história de vida de meus pais e por isso amo o samba, amo o Brasil, mas estou também me apaixonando por aqui.— É uma história de vida extraordinária!— Apenas um breve resumo, para você compreender. Eu também não sei muita coisa, por exemplo a parte da briga com vovô, vim saber aqui. Papai jamais comentou nada comigo, então cresci sem saber que tinha parentes aqui.— Nunca quis fazer o mesmo que ela no samba?— Não. Sei sambar, cantar, mas nunca tive a classe de uma porta-bandeira. Para ser uma tem que ter graça, é como um ballet, suave, encantador, gracioso e clássico.— E o que é Portela? — perguntou ele arrastando as palavras.— O nome real é Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela. Foi fundada em 1923 no bairro carioca chamado Oswaldo Cruz, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. É a mais antiga escola em atividade até os dias atuais nos desfiles de carnaval e a única que já participou de todos os desfiles. Ela tem as cores azul e branco e como símbolo uma águia.— D
Quatro meses depois.As meninas usaram a procuração e entraram com o processo administrativo para mais nove meses, só que sem remuneração. Antes de perceber, já administrava o hospital e conquistava o respeito de todos os médicos. Fiquei sabendo que vovô dava pulos de alegria e já sentia que não voltaria mais ao Brasil.O namoro estava ótimo, mas a mulher que ameaçava estava sumida. Como modelo, ela estava fazendo vários trabalhos nos Estados Unidos e não tinha conhecimento sobre mim e Young-Chul. A equipe da empresa manteve a descrição em todos os momentos em que estávamos juntos.O gato ficava mais em minha casa do que na dele no final de semana. Só quando eu tinha um almoço com vovô, o dispensava. Na cultura coreana, levar alguém para conhecer a família era um casamento à vista. Não posso dizer que não estava apaixonada por ele, mas uma sensação de insegurança incomodava-me. Só não consegui segurar essa situação por muito tempo. O patriarca Kang me encurralou na parede e disse que
A mulher se aproximou toda pomposa. Cumprimentou meu namorado e dirigiu um olhar fuzilante em minha direção. Seus olhos transmitiam seu desprezo. Ela achou que assim eu abaixaria a minha cabeça, creio, depois de tudo o que aconteceu a seguir, esse foi o meu maior erro. Deveria ter ficado na minha, mas retribuí o olhar, sorri e acenei. Aquela doida possessiva levou esse gesto como uma afronta.Young-Chul apertou a minha mão, pediu licença e fomos até o camarote vip. Ele foi para o seu lugar no palco, e eu fiquei ao lado dos meus tios. A sensação de agonia voltou com força total. Após a apresentação, fomos direto para a casa dele sem falar com a imprensa. Dormi por lá, naquele final de semana que completava sete meses juntos, voltaríamos a Jeju. Foi uma viagem ainda mais linda do que a primeira, apesar do frio, o sol deu o ar da graça. Parecia uma despedida, e o sol a esquentava.Estava na sacada, vendo o mar, de olhos fechados, sentindo o estrondo das ondas batendo na enseada de pedra
Kang, Yen-Jun2020Desde a apresentação de Young-Chul, não tirei os olhos de Min-Ji. Eu também percebi o olhar de ódio da ex-namorada para ela, quando viu que o casal estava tendo um relacionamento sério. Sem ela saber, coloquei um segurança atrás deles, um agente aposentado que era especialista em parecer um fantasma.Para a viagem de inauguração do hospital, pedi que esse profissional seguisse de carro atrás dela a uma distância segura, para não causar suspeitas. Infelizmente, a maior dor é sempre lembrar que o pior aconteceu mesmo que ele estivesse a poucos metros de distância. Quando recebi o telefonema do segurança, fiquei em choque.— Alô, o que aconteceu? Por que você está ligando? — A sensação de pânico, mesmo sem saber nada ainda, aflorou só com o toque do celular.— Senhor, estou aqui correndo para socorrer a sua sobrinha, não sei como, mas o carro dela saiu da rodovia e colidiu com uma árvore. O airbag não foi acionado. Não sei como isso ocorreu… Ligue para a emergência. En
Ele deixou-se ser puxado até as cadeiras de espera. O som da ambulância fez com que ele se levantasse novamente. Quando Min-Ji foi trazida, deitada na maca e com o rosto ensanguentado, Young-Chul não conseguiu conter suas emoções. Correu até ela, tentando falar enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto.— Min-Ji, fala comigo, por favor. Fala comigo — ele segurava a mão dela e andava junto com a maca, até que corri e o arrastei. Os médicos precisavam fazer os primeiros procedimentos.O médico fez um sinal, indicando que era hora de realizar os exames urgentes e iria levá-la para a ressonância magnética.— Young-Chul, todos estamos desesperados, mas os médicos precisam fazer os exames para avaliar o real estado de saúde dela, por favor. — Eu o puxei para um abraço, tentando transmitir algum conforto.Não sabíamos quanto tempo havia se passado. Sem comer, apenas bebendo café e água que minha esposa trazia. O tempo parecia ser nosso inimigo, passando devagar, mas correndo na contagem da
— Eu não consigo trabalhar, por favor? — ele pediu, achando que iríamos insistir para ele continuar a vida normal.— Não vamos recusar seu pedido, jamais. Ela precisa de você quando acordar. Fique tranquilo.— Mas o que explicarão para os contratantes de shows?— A verdade. A namorada sofreu um acidente, e ele está inconsolável.Revezamos para dormir no hospital, vivendo vinte dias nessa angústia insuportável. O médico nos recomendou que conversássemos com Min-Ji todos os dias, pelo tempo que desejássemos, e assim o fizemos. Os médicos não podiam prever as sequelas que poderiam surgir, e infelizmente elas não foram positivas.Seo-Yun estava no quarto quando ela acordou. Min-Ji se mexeu e interrompeu minha esposa, que estava lendo um livro. Assim que Seo-Yun percebeu o movimento, levantou-se rapidamente e se aproximou da cama e a viu de olhos abertos, meio assustada, com os olhos meio arregalados.— Oh, meu Deus. Você acordou. Estou tão feliz! Sentimos tanto a sua falta. Vou chamar o m