2- O salvador

Killan Fury

Depois que meu irmão e eu ficamos presos no mundo dos humanos, tivemos que aprender a viver como um deles. Aqui se você não trabalhar, não terá onde morar, o que vestir e o que comer. Então, tivemos que arrumar um emprego.

Hiran e eu já estávamos acostumados a trabalhar para os bruxos, então não foi difícil arrumar um trabalho por  aqui também. A única diferença ´que no mundo dos humanos existe uns pedaços de papel chamado de “documento”, coisas que meu irmão e eu não tínhamos, então precisamos inventar uma mentira.

Dissemos aos empregadores que nossa casa e tudo o que havia nela foi destruído pelo ataque dos bruxos, e como havia muitas pessoas nessa situação, não foi difícil arrumar um trabalho informal, como dizem por aqui. Agora trabalhamos para uma empresa que presta serviço para condomínios, empresas, hospitais... quem precisar de nossos serviços.

Dois anos depois, já estamos adaptados a vida por aqui. Já até conseguimos documentos falsos.

Depois de um dia de trabalho braçal cansativo em uma fazenda da região que precisava expandir seus celeiros, dirijo para a cidade, onde moro com meu irmão em um apartamento.

As estradas do interior são um misto de ruas asfaltada e outras de terra batida, o que faz o carro balançar um pouco. Aprendi a dirigir há um ano e consegui uma carteira de motorista, o que me ajudou muito a me locomover até os serviços para onde sou designado.

Ao me aproximar do ponte que atravessa o rio, vejo um carro parado no meio da estrada e ao me aproximar mais meu coração acelera com a cena que vejo: uma jovem está no parapeito da ponte e parece que está prestes a se jogar.

Paro o carro bruscamente e corro até ela, no momento exato em que havia se soltado para cair no rio caudaloso, meu braço passa pela sua cintura, abraçando-a e puxo-a para trás.

Caímos os dois no chão duro, ela por cima de mim e meu lado lobo se mexe em meu interior, querendo se libertar quando sinto o seu cheiro de fêmea. Mas me controlo, pois obviamente a mulher está abalada. As lágrimas vertem em seus olhos, seu rosto está rubro e ela treme com a tensão.

Tento entender o que pode ter levado uma mulher linda como ela a tentar dar fim a sua vida. Ela consegue se livrar de meu aperto e começa a se afastar, mas eu não vou embora até ter certeza de que ela está bem.

— Ei — chamo e vou atrás dela.

— Me deixe em paz — grita em lágrimas e isso faz algo dentro de mim se apertar. O que aconteceu para que ela esteja neste estado de desespero? O lobo dentro de mim quer protegê-la.

Com alguns passos largos alcanço rapidamente e seguro em seu pulso, puxando-a bruscamente, o que faz o seu corpo se chocar com o meu.

Quando ela ergue o seu olhar, vejo como seus olhos estão vermelhos e inchados. Sua face está rubra e úmida pelas lágrimas constantes.

— Você não pode ir embora desse jeito — falo em tom baixo, segurando-a firme para passar segurança. Meus olhos escuros estão fixos nos dela.

— Por que não? — ela devolve raivosa. — Você não me conhece, não sabe o que sofri, e se está perto de mim agora é porque espera ganhar algo. Os homens são assim, nenhum deles presta! — esbraveja e puxa o pulso com força, tentando se soltar do meu aperto, mas não a solto. Seguro-a firmemente.

— Fui separado da minha família pelo ataque dos bruxos — sussurro e isso prende a sua atenção. — Se não fosse por meu irmão, eu estaria perdido. — Com a mão livre, passo os dedos nos seus fios loiros. — Eu tinha alguém para me ouvir, que me desse suporte... se não tivesse isso... — Suspiro fundo. — Eu não sei o que teria sido de mim. E eu acho que você precisa disso, agora.

Ela pisca seus olhos inchados na minha direção, sua postura tensa relaxa um pouco.

— Me deixe ouvi-la, desabafe... Conte o que aconteceu... — Continuo, oferecendo meu ombro amigo.

— A história é longa — fala com a voz tão baixa que quase não a ouço.

— Temos tempo, e depois te levo para casa — ofereço e ela passa suas mãos pela face, limpando as lágrimas.

Seguro em sua mão de modo mais delicado e a levo para o meu carro. Ela me olha desconfiada, e não a recrimino. Sou um estranho e, por mais que esteja lhe ajudando, ela ainda está se decidindo se confia em mim ou não.

Pego a chave do carro, seguro em sua mão com a palma aberta para cima e coloco as chaves ali. Fecho suas mãos sobre o objeto. Um modo de dizer a ela que não precisa ter medo, que está no controle.

Abro a porta do carro para que a jovem entre e, com um suspiro, ela entra. Fecho a porta e me dirijo a outra porta, me acomodo ao seu lado e não a pressiono para que comece a falar. Deixo que diga algo quando quiser.

Os olhos dela vagueiam pela escuridão que domina do lado de fora e alguns trovões cortam os cèus. Em breve vai chover.

— Meu nome é Izys — se apresenta, mas não dá tempo para que eu diga o meu, pois já emenda em sua história. — Há um ano meu pai faleceu de câncer — fala e soluça ao se lembrar do ocorrido e levo a minha mão até o seu joelho e aperto, tentando passar força e confiança.

— Sinto muito — sussurro. Meus olhos queimam ao me lembrar que é como se toda a minha família tivesse morrido há dois anos, exceto por meu irmão gêmeo, mas não digo nada.

— E logo depois a minha mãe adoeceu — prossegue. — Ela vive indo e vindo do hospital. A doença dela é controlada com medicamentos, mas vez ou outra ela adoece de uma maneira que só a internação resolve.

— O que sua mãe tem? — questiono, mostrando interesse em sua história.

— É uma doença imunológica, às vezes ela fica bem, mas em outros momentos ela fica muito mal. A imunidade cai e até um pequeno resfriado pode matá-la.

Não sei o que significa doença imunológica ou imunidade, no meu mundo nada disso existia. Mas não procuro saber, pois este momento se trata do desabafo dela.

— Sua mãe faleceu também? Por isso estava prestes a se jogar da ponte? — Isso poderia explicar o seu desespero, mas ela balança a cabeça em negação.

— Não. Ela está internada agora, mas está melhor. — Respira fundo e olha para o teto do carro, como se tentasse conter as lágrimas que teimavam a escorrer novamente. — Eu fui traída — revela com a voz trêmula. — Ele disse que a culpa era minha minha.

Ela não consegue mais conter as lágrimas e eu passo meu braço direito sobre os seus ombros, puxando-a para mim. Izys apoia a cabeça em meu ombro e quando se acalma, volta a contar a sua história. Sinto raiva do seu ex-noivo, como ele pode ter agido desta forma com a sua mulher? No momento em que ela mais precisa de sua ajuda, ele a trai e a acusa de ser a culpada pela traição. Ele é um canalha. Não sabe como tratar uma mulher.

Levo-a para casa, como prometido. Consegui prender o seu carro no meu e o arrastei por todo o percurso. Ela jurou que estava bem e por isso a deixa e fui embora. Mas o meu coação ficou partido ao vê-la ir embora, porém, eu sou apenas um desconhecido que a ajudou em seu momento de desespero. Mas eu jurei a mim mesmo que vou descobrir quem é esse Albert, e darei a ele a lição que merece.

Um dia eu vou encontrá-lo, e vou dar uma surra que ele jamais se esquecerá.

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