Izys Ghalager
Quando abro a porta do meu apartamento, acho tudo muito estranho. Geralmente é muito silencioso, pois meu noivo está no trabalho a essa hora, mas há um som vindo do quarto.
O apartamento é pequeno, apenas um refúgio que meu noivo e eu achamos necessário para nos encontrarmos e ter algum momento juntos, porém com toda a minha rotina de trabalho e cuidados com minha minha mãe, idas e vindas a hospitais, poucas foram as vezes que desfrutamos da privacidade deste apartamento.
Caminho cautelosamente até o quarto, o som está mais alto. Primeiro notei o som de uma música sensual, depois ouvi gritos, mas não de dor, eram gritos de prazer e isso fez meu estômago pesar, meu coração se apertar e fiquei estagnada na porta, tomando coragem para abrir.
De certa forma eu já sabia o que estava acontecendo ali dentro, mas abrir e ver, tornaria aquilo tudo real demais. Porém, respiro fundo tomando coragem, e abro a porta.
Albert leva um susto e a mulher cai de bunda no chão.
— Izys... o que faz aqui? — ele busca freneticamente pelo celular, verifica a hora e vê que ainda é cedo.
Ele não contava que chegaria mais cedo hoje de meu trabalho, nem eu contava com isso, porém fui liberada pelo meu chefe, pois ele precisou sair para resolver algo e não precisaria mais de mim naquele dia.
— Eu é que tenho que fazer esta pergunta, mas não a você exatamente — falo firme. — O que essa puta de esquina está fazendo no meu apartamento, na minha cama?
— Ei, eu não sou uma puta! — reclama, esfregando a bunda ao se levantar.
Ignoro o que a vagabunda diz.
— Por que fez isso, Albert? Se não estava feliz em nosso relacionamento, era só falar — agora minha voz sai trêmula, o peso do que vejo finalmente me afeta.
A piranha busca suas roupas e se veste, resmungando e xingando, dizendo que nunca foi tão humilhada, Na verdade, eu que deveria dizer isso. Meu noivo se levanta, completamente nu, vai em busca de uma roupa para vestir. Pega a calça e a veste mesmo sem colocar uma cueca por baixo.
— A culpa disso é sua, Izys — suas palavras me acertam como um golpe no meu estômago.
Como assim, ele faz uma baixaria dessas e ainda quer me culpar?
— Você é ridículo! — falo em prantos. — Como é capaz de colocar uma vagabunda na minha cama, e ainda dizer que a culpa é minha? — Espalmo a mão no peito, as lágrimas vertem por meu rosto, deixando as marcas de dor explícita.
Meu coração se aperta, dói e se parte em mil,pedaços.
A mulher passa resmungando e xingando, indo embora. Ainda reclamando por ter sido humilhada.
— Depois que seu pai morreu, sua vida é trabalho e hospital, nunca tem tempo para nós. Achou que iria ficar sem transar por causa de você?
Suas palavras duras só fazem a minha dor aumentar. Esse homem presenciou tudo o que sofri com meu pai doente, depois a sua morte devido ao câncer que o consumiu, acompanhou o meu sofrimento e como fiquei quando minha mãe também adoeceu.
Noites em claro no hospital com minha mãe, para depois encarar um plantão de 24h ou nos dias que deveria ser a minha folga, trabalhava em um consultório médico, o mesmo no qual fui liberada hoje mais cedo.
— Quando o doutor me liberou mais cedo hoje, a primeira coisa que pensei foi em preparar algo para nós, mas chego em casa e me deparo com esta cena!
— Você demorou um pouco para arrumar um tempo para nós, não acha? — O veneno escorre por seus lábios enquanto tenta encontrar razão para a sua atitude. — Não pensou que ficaria satisfeito com uma foda por mês, não é? — Ele ri das minhas lágrimas, pisa em minha dor e meu coração se parte ainda mais.
— Como pode falar assim comigo, Albert? Dizia que me amava, que iríamos nos casar e você me trai na minha cama e ainda debocha na minha cara!
Ele pega a camisa e termina de se vestir.
— Olha aqui, Izys, eu tinha pena de você! — Os olhos escuros dele focam nos meus, se aproxima tanto de meu rosto que sinto seu hálito que agora me dá nojo. — Se eu a deixasse choraria até o amanhecer e você já tinha sofrimento demais para lidar. Mas como você acabou flagrando, acho que acabou, não é?
Ele termina de ajeitar a camisa por dentro da calça, e eu fico paralisada por suas palavras cruéis. Albert pega a carteira, o celular e a chave de seu carro.
— Até nunca mais, Izys.
Sai a passos largos, como se não suportasse mais estar li naquele apartamento. Como se não suportasse mais olhar para mim.
“Pena”
“Ele tinha pena de mim”
O pensamento me sufoca, aperta meu peito, e as paredes parecem se fechar sobre mim. Saio correndo do quarto, atravesso o corredor, a sala e abro a porta aos prantos. Entro no meu carro e saio pela rua desesperada, a dor atravessando meu peito como um punhal.
Nem vejo para onde vou, somente dirijo sem direção até a noite cair. Não faço ideia de onde estou, há somente campo aberto por todo lado onde eu olho. Continuo dirigindo e meu carro avisa que o combustível está acabando, porém, não me importo. Quando a gasolina acabar, eu vou andando, não tem problema. Eu só quero sumir. Mas quando atravesso uma ponte sobre um rio caudaloso, tenho uma ideia. Paro o carro, caminho até a amurada e olho para baixo. As águas agitadas batem nas pedras e imagino minha dor sendo lavada por elas.
As lágrimas de desespero vertem mais rápido e mais doloridas conforme subo na mureta e me sento sobre ela. Só preciso de um impulso para cair dentro do rio e acabar com isso
A dor, a queimação das águas em meus pulmões levando a vida de mim, será nada comparado a tormenta que se tornou a minha vida. Respiro fundo, tomando coragem, mas quando vou me jogar sinto meu corpo ser abraçado por braços fortes e quentes que me tiram dali.
Em um segundo estou sobre um homem forte, os dois caídos no chão. Tudo aconteceu tão rápido que nem senti. Encaro os olhos escuros dele, a trança caída na lateral de seu corpo, o peito forte sem camisa. Espalmo minha mão sobre seu peito e me afasto bruscamente.
O que estou pensando? Homens são todos iguais.
Mas ele não me permite me afastar muito. Seus olhos parecem tristes e preocupados, seus dedos passam por meu cabelo loiro, os afastando de meu rosto.
— O que levou uma mulher tão bonita querer se jogar de uma ponte para a morte?
Killan FuryDepois que meu irmão e eu ficamos presos no mundo dos humanos, tivemos que aprender a viver como um deles. Aqui se você não trabalhar, não terá onde morar, o que vestir e o que comer. Então, tivemos que arrumar um emprego.Hiran e eu já estávamos acostumados a trabalhar para os bruxos, então não foi difícil arrumar um trabalho por aqui também. A única diferença ´que no mundo dos humanos existe uns pedaços de papel chamado de “documento”, coisas que meu irmão e eu não tínhamos, então precisamos inventar uma mentira.Dissemos aos empregadores que nossa casa e tudo o que havia nela foi destruído pelo ataque dos bruxos, e como havia muitas pessoas nessa situação, não foi difícil arrumar um trabalho informal, como dizem por aqui. Agora trabalhamos para uma empresa que presta serviço para condomínios, empresas, hospitais... quem precisar de nossos serviços.Dois anos depois, já estamos adaptados a vida por aqui. Já até conseguimos documentos falsos.Depois de um dia de trabalho
Izys GhalagerMinha mãe recebeu alta do hospital um dia depois de eu ter flagrado Albert na minha cama com outra, de ter tentado me matar e de ter sido salva por um homem que nem prestei atenção em seu nome quando ele me disse. Me sinto culpada por isso, pois o homem salvou a minha vida. E eu só peço aos céus que possa reencontra-lo algum dia para agradecer pelo o que fez por mim.Dona Yolanda, a minha mãe, ficou em casa por uma semana, parecia estar tudo bem, até que ela simplesmente amanheceu com febre, sem fome e sem força para nada. E mais uma vez fui obrigada a chamar a ambulância e levá-la para o hospital.— Doutor, como está a minha mãe? — inquiro ao médico que a atendeu.Sou enfermeira neste mesmo hospital, e nem pude assumir meu posto de atendimento, pois estava acompanhando a minha mãe.— Izys — diz o médico que já está habituado a falar comigo de modo informal, devido ao trabalho. — Não vou mentir para você, o estado da sua mãe é delicado.As lágrimas voltam a escorrer por m
Hiran FuryQuando estou me preparando para me levantar daquela mesa de bar, uma bela mulher se senta na minha frente. Ela é linda, olhos azuis brilhosos, a pele meio rosada e os cabelos loiros lisos estão jogados de um lado só. Ela coloca na face um belo sorriso, parece estar empolgada com algo, mas esta não é a pessoa que eu esperava.— Oi, tudo bem? — ela me cumprimenta e sorrio em resposta.— Meu dia estava uma merda até agora, mas com sua chegada ele melhorou infinitamente — tento ser galante. Quem sabe eu consiga levar essa garota para a minha cama esta noite?— O que aconteceu? — inquire e parece realmente interessada. É estranho conversar com uma pessoa desconhecida que se comporta como se te conhecesse há muito tempo.Levanto a mão e peço mais uma garrafa de cerveja e mais um copo ao garçon.— Fui dispensado do meu trabalho, hoje. — Encaro-a, ela parece intrigada com meus olhos, pois ela me olha dentro deles. Não sei o que isso significa, talvez ela seja apenas uma mulher decid
Izys GhalagerHiran é um verdadeiro furacão de homem, nunca estive com alguém como ele. A princípio estranhei a cor de seus olhos, pois achei que eram negros como a noite mais escura, porém diante mim agora brilham mais azuis do que já pude imaginar.Mas é ele, eu sei que é ele. O seu porte físico inconfundível, a cor e cumprimento dos cabelos também não é muito comum. Não quis falar sobre a noite que nos conhecemos e aparentemente ele também não. Talvez pensasse ser indelicado me lembrar sobre um acontecimento tão complicado como aquele.Mas o que importa agora é que a tensão entre nós dois cresceu tanto no bar, que agora estamos aqui, no meu quarto. Minha cabeça está apoiada em seu peito forte, seu cheiro de macho invade as minha narinas e sinto meu ventre se aquecer mais uma vez.Gemo e remexo meu corpo nu, colando-me mais ao corpo úmido de suor dele. A rodada de sexo na sala de estar foi intensa, mas ao chegarmos ao quarto ele me levou nas alturas de tanto prazer. Com o traste do
Hiran FuryUm mês depois“ A campina verde e viçosa se expande até onde a vista alcança e além disso. O lugar transmite paz, é lindo e tranquilo e me faz lembrar de quando era só um filhote e corria livre pela grama verde. Então o campo não está mais vazio, há algo nele. É um filhote. Ele surge distante, correndo na minha direção. Um filhote preto com as patas e peito cinza. Estranho, não conheço um lobo assim. Meus irmãos e meu pai são pretos. Com exceção de Enry, meu irmão mais velho que é todo branco, todos da minha antiga aldeia em Terra de Luna são pretos.Havia outras aldeias e uma em especial que os lobos eram cinzentos, penso na possibilidade de ser o resultado de uma cruza entre membros das duas aldeias, mas algo dentro de mim me diz que não é isso.O filhote se aproxima, ele corre feliz na minha direção, com a língua para fora. Salta empolgado, mas algo o apanha e sinto uma dor em meu peito, mesmo sem saber o que aconteceu e quem era o filhote.A cena muda e então percebo q
Izys GhalagerO último mês não foi nada fácil. O quadro da minha mãe piorou, e agora está constantemente internada. Eu precisava de dinheiro e de continuar morando próximo ao hospital, por isso vendi o meu apartamento.Com o dinheiro da venda, custeei o tratamento e medicamento dela, mas até quando o dinheiro vai dar para cobrir essas despesas eu não sei. A casa da minha mãe, onde eu também morava antes de comprar aquele apertamento, fica distante demais para ir e vir todos os dias, por isso tenho dormido aqui mesmo no trabalho.Meu corpo está exausto e clamando por uma noite de sono melhor em uma cama macia. Precisei também deixar meu segundo trabalho, que era na clínica particular de um médico. Foram muitas mudanças e reviravoltas em tão pouco tempo, porém ainda não acabou. Há alguns dias tenho sentido tonturas e enjoos matinais, e tudo o que eu não posso agora é ficar doente.Assumi meu plantão de hoje às 7 da manhã, depois de uma noite até que razoavelmente decente de sono, mas nã
Hiran FuryNão preguei os olhos pelo restante da noite. O sonho que tive voltava várias e várias vezes mesmo com os olhos abertos e encarando o teto até o dia clarear.A possibilidade de Izys estar grávida me invade e tenho a vontade de me socar, como fui ceder ao desejo daquela maneira com uma fêmea que não é minha?Quando finalmente os primeiros raios solares atingem a terra, mudando as cores do céu, coloco-me de pé. Até que Killan se levante, eu tomo um banho rápido e enrolo a toalha ao redor da cintura.Saio do banheiro e Killan ainda dorme. Vou até aquele irresponsável e balanço-o até que desperte.— Acorda, cachorra velha e cansada — balanço meu irmão com implicância.— Por causa de você eu custei a dormir outra vez, e agora estou com sono... — resmunga, virando-se de lado e cobrindo o rosto com o travesseiro.— Quer perder o emprego? — inquiro. — Já basta o meu salário que vai vir com desconto por causa da suspensão que sofri.— Mas que merda, não posso nem dormir nessa casa! —
Killan FuryMeu irmão está pedindo para ser dispensado do trabalho, se ele ficar desempregado teremos que mais uma vez sair em busca de serviço.Não tenho o que fazer, por isso entro em meu carro e dou a partida, deixando o estacionamento do prédio para trás. Porém pouco tempo depois de chegar no trabalho, sou surpreendido com a caminhonete de Hiran chegando no pátio da empresa. Viro-me e caminho até ele.— Irmão... O que aconteceu? Você não me parece bem — afirmo, avaliando suas feições abatidas, assim que ele deixa o carro.Ao que parece Hiran não dormiu bem a noite e o encontro com a tal garota não foi nada bem.— Você não vai acreditar — comenta, aproximando-se de mim. — A garota vendeu o apartamento — revela abatido.— Vendeu? — inquiro confuso com a reação da mulher.O que levou-a a vendê-lo? Será que ela estava precisando de dinheiro?— É ... Acho que ela descobriu a gravidez e fugiu para que eu não os encontrasse.Franzo a testa para a hipótese de Hiran. Não acredito que tenha