3- Reencontro?

Izys Ghalager

Minha mãe recebeu alta do hospital um dia depois de eu ter flagrado Albert na minha cama com outra, de ter tentado me matar e de ter sido salva por um homem que nem prestei atenção em seu nome quando ele me disse. Me sinto culpada por isso, pois o homem salvou a minha vida. E eu só peço aos céus que possa reencontra-lo algum dia para agradecer pelo o que fez por mim.

Dona Yolanda, a minha mãe, ficou em casa por uma semana, parecia estar tudo bem, até que ela simplesmente amanheceu com febre, sem fome e sem força para nada. E mais uma vez fui obrigada a chamar a ambulância e levá-la para o hospital.

— Doutor, como está a minha mãe? — inquiro ao médico que a atendeu.

Sou enfermeira neste mesmo hospital, e nem pude assumir meu posto de atendimento, pois estava acompanhando a minha mãe.

— Izys — diz o médico que já está habituado a falar comigo de modo informal, devido ao trabalho. — Não vou mentir para você, o estado da sua mãe é delicado.

As lágrimas voltam a escorrer por minha face. Tenho medo do que possa acontecer a ela, dona Yolanda é a única pessoa que tenho no mundo.

— Ela vai morrer, doutor? — inquiro com o coração apertado.

— Vamos fazer de tudo para que ela se recupere — fala e tenta me oferecer um sorriso tranquilizador. O médico é bonito, mas no momento até mesmo o costume que tinha de admirar seus lábios e seus olhos verdes luminosos que se destacam em sua pele morena é deixado de lado —, mas desta vez terá que ficar na UTI.

— Na UTI? — me exalto, pois não sabia que ela havia sido levada para a UTI. Então o estado dela é ainda mais grave do que imaginei. — Então o estado dela é muito grave! — exclamo e ele tenta me acalmar.

— Fica calma, Izys. Colocamos na UTI porque ela é uma idosa e exige muitos cuidados, principalmente neste momento, e como o caso dela é delicado...

Balanço a cabeça em compreensão. Mas ainda assim fico preocupada com o seu estado de saúde.

— Eu posso vê-la? — questiono ao médico que sorri, tentando me animar.

— É claro, só não poderá demorar no quarto, você sabe como funciona as regras do hospital.

Balanço a cabeça em concordância.

— Eu sei, sim, doutor Christian. Vou assumir meu posto e vou visitá-la.

Levanto-me um pouco mais animada do que estava há um minuto atrás.

 — Faça isso — aconselha e eu meneio em agradecimento.

Deixo o consultório médico e vou colocar o meu uniforme. Ser técnica de enfermagem não é nada fácil, exige muito amor pela profissão, atenção aos procedimentos, muita concentração quando estamos administrando um medicamento e às vezes muita força.

Depois de ver a minha mãe, que estava adormecida e nem pude falar nada com ela, talvez isso tenha me abalado ainda mais, fui atender os meus pacientes. Mas nada deu certo naquele dia de trabalho. Deixei uma comadre cheia de xixi cair no chão, deixando a faxineira muito irritada.

Ajudei as outras enfermeiras a dar banho nos pacientes, e até que neste momento nenhum acidente ocorreu. O que me deixou um pouco aliviada por um tempo, mas não me senti em condições de administrar medicamento no dia de hoje.

Depois do almoço, fui visitar a minha mãe novamente e eu a vi com tubos que ela não estava usando antes, isso me deixou ainda mais abalada. Procurei o doutor Christian, o mesmo que atendeu a minha mãe e que eu conversei mais cedo, mas não o encontrei.

O nervosismo tomou conta de mim e a pouca concentração que eu tinha foi toda embora. Fiquei a maior parte do tempo na sala da enfermagem, entregando materiais que as outras enfermeiras precisavam, tais como ataduras, álcool 70 % e outras coisas. Mas mesmo fazendo um trabalho tão simples, troquei o frasco de ácool em gel pelo o de soro fisiológico, e eles possuem tamanhos diferentes, além do nome bem grande escrito na frente. Entreguei uma caixa de luvas no lugar das ataduras e outras confusões do tipo, até que fui chamada na sala do médico responsável pelo nosso setor.

— Mandou me chamar, doutora Clara? — falo com a mulher que é a médica responsável pelo setor no dia de hoje e ela aponta para a cadeira na sua frente.

Me acomodo nervosamente, apertando os dedos e ela me olha fixamente com seus olhos castanhos escuros.

— O que está acontecendo com você, hoje, Izys? — inquire. — Você não é assim. — Conclui.

— Doutora — respiro fundo, antes de terminar de responder. — Minha mãe deu entrada no hospital hoje. — Conto a ela tudo o que aconteceu e como as coisas estavam indo razoavelmente bem até depois do almoço.

Ela me escuta com calma, percebo que se solidariza com a minha dor, mas sei que não posso ficar trabalhando deste jeito no hospital. Vidas dependem do meu trabalho.

— Sinto muito, eu mesma vou ver o prontuário da sua mãe e explicar o seu estado de saúde.

A mulher de longos cabelos escuros, porém presos em um coque no alto da cabeça, se levanta e caminha na minha frente. A sigo. Chegando lá, ela pega a prancheta com o prontuário e me explica que ela teve uma complicação respiratória, por isso a colocaram em um respirador.

Busco um lugar onde me sentar, pois minhas pernas vacilam. A médica vem ao meu socorro e me leva para a sala da enfermagem. Me sento e ela me oferece um copo com água gelada.

— Izys, é melhor que vá para casa. Volte amanhã, se estiver melhor — aconselha a doutora.

— Não, doutora, eu preciso ficar com a minha mãe.

— Não poderá ficar com ela, é uma UTI, você sabe como funciona — repete o que o doutor Christian havia dito.

— Eu sei — suspiro em derrota.

— Então, vá para casa. Ela está sendo bem assistida pelos médicos e enfermeiros da UTI.

Não há nada que eu possa fazer, ela tem razão. Agradeço por ter me liberado e vou trocar de roupa. Deixo o hospital completamente desolada, sem saber o que fazer da minha vida. O pior pode acontecer e ela é a única família que possuo.

Ando meio sem direção. Vou caminhando mesmo, respirando o ar noturno, olhando as estrelas e me lembrando do homem que salvou a minha vida. A única coisa boa que me aconteceu desde muito tempo.

Vejo um bar e resolvo entrar para beber. Não há nada melhor que entorpecer a mente com álcool nessas horas. Entro no bar e vejo um homem ocupando a mesa do canto esquerdo com uma garrafa de cerveja e um copo cheio do líquido dourado. Sinto um arrepio percorrer a minha espinha quando o reconheço. Os cabelos pretos grandes presos em um rabo de cavalo, o corpo gigante sentado à mesa. É ele, é meu salvador, e nem me lembro o seu nome.

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