Os três dias seguintes foram um misto de dor e exaustão. Manteve o celular desligado, recusando-se a encarar qualquer coisa que a conectasse a ele. Na segunda à noite, finalmente ligou o aparelho. As notificações explodiram na tela, e ela hesitou ao ver as mensagens de Noah.
Havia dezenas delas:
— “Kira, cadê você?”
— “Princesa, por favor, me atende.”
— “Eu só quero conversar, meu amor.”
Ela sentiu um nó na garganta ao rolar a conversa. Ele havia tentado, mas para ela, nada daquilo importava. Apagou todas as mensagens de uma vez e com
Olivia lembrava-se vagamente da única vez que tinha ido ao apartamento de Kira. O local era pequeno, desarrumado e apertado, algo que ela prontamente classificou como uma “pocilga”. Naquele momento, decidiu que sempre proporcionaria à amiga um ambiente mais confortável, convidando-a para sua própria casa. Agora, tentando relembrar o endereço exato, percebeu que não conseguia. Lembrava-se apenas do cheiro desagradável do bairro e de que havia ido acompanhada do motorista.— Ela não quer falar com a gente, pai. — Olivia suspirou, o celular ainda em mãos, depois de mais uma tentativa frustrada de contato. Já tinha tentado ligar, mandar mensagens e até um e-mail, mesmo sabendo que Kira dificilmente abriria. — Só nos resta esperar até terça-feira. É quando tenho au
Noah sentia o peso de suas palavras enquanto tentava expressar seus sentimentos para Olivia. Cada sílaba parecia carregada de uma emoção que ele não conseguia definir completamente. Era preocupação, era amor, era medo. Ele sabia que sua filha era inteligente, sabia que ela entenderia a complexidade da situação, mas será que ela compreenderia a profundidade do que ele sentia por Kira?Ele respirou fundo antes de continuar.— Filha, os coreanos têm uma cultura diferente da nossa. Lá, a diferença de idade entre casais é comum, mas nem sempre de um jeito que eu acho… saudável. Muitas meninas de famílias humildes são incentivadas a “caçar um marido empresário” desde muito jovens. Ainda adolescentes. Isso… isso é algo que me incomoda profundamente.Olivia franziu a testa.— Isso é meio nojento, na verdade.Noah suspirou, passando as mãos pelo rosto, como se pudesse afastar o desconforto que aquela conversa trazia.— Eu não quero julgar a cultura de ninguém, filha. Mas eu… eu não queria que
Terça-feira à tarde. Noah chegou mais cedo do trabalho, não conseguia disfarçar e a inquietação que o acompanhava desde o início do dia. Apesar de ter pedido a Olívia que não falasse com Kira sobre nada, a verdade é que ele contava as horas para ouvir qualquer notícia. Ele só queria saber se sua princesa estava bem, pelo menos fisicamente. Isso já seria um alívio.Mas, assim que abriu a porta, afrouxando a gravata na entrada, foi surpreendido por uma loira em completo desespero. Ela praticamente correu até ele, agarrando seu braço com força e um olhar de urgência que o fez gelar.— Pai, se você ama mesmo a Kira, precisamos fazer alguma coisa URGENTE!O nome dela, vindo de Olivia daquela forma tão desesperada, fez o coração de Noah bater descompassado. Ele deixou a pasta e o celular caírem sobre a bancada sem cerimônia, agarrando o braço da filha para conduzi-la ao pequeno sofá do hall.— Por Deus, Olivia, aconteceu alguma coisa com ela? Está bem? Fala logo!Olivia balançava a cabeça,
Cinco dias sem falar com Olívia. Cinco dias sem qualquer contato com Noah. Cinco dias em que tudo o que ela acreditava sobre o relacionamento deles se desfez como pó ao vento. Se é que aquilo foi realmente um relacionamento.Por mais que sua mente tentasse convencê-la de que ela não passara de uma distração para ele, o coração insistia em outra história. As lembranças eram intensas: os beijos demorados, os olhares que pareciam desnudar sua alma, o toque que carregava uma mistura de desejo e ternura. Tudo parecia tão verdadeiro. Como aquilo poderia ter sido apenas uma ilusão?— O badalar da meia-noite chegou cedo pra mim. — murmurou para si mesma, encarando o teto de seu pequeno quarto, onde tudo parecia apertado demais para os pensamentos que a su
Noah FitzgeraldQuando Olivia me contou que Kira sairia com um garoto da faculdade, fiquei congelado por um momento. Ela descreveu o tal rapaz como boa pinta, colega de turma, um cara que vinha insistindo em algo a mais com Kira há tempos. Um tipo sem complicações, jovem, da mesma idade, alguém que poderia oferecer a ela um relacionamento sem os obstáculos que eu trazia.Meu primeiro pensamento foi de conformidade. Talvez fosse o melhor para ela. Talvez eu devesse simplesmente deixar para lá. Afinal, amar não é isso? Abrir mão dos seus desejos para que a pessoa que você ama seja feliz, mesmo que não seja com você? Mas então Olivia me deu um choque de realidade. Me fez lembrar de tudo o que Kira havia trazido para minha vida. Kira sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Era uma sensação súbita, quase tangível, como se alguém a estivesse observando. Olhou discretamente para trás, sentindo o coração bater acelerado, mas nada fora do comum chamou sua atenção. Nenhum rosto familiar, nenhum par de olhos azuis. Suspirou profundamente, tentando se convencer de que era só coisa da sua cabeça.— Você precisa parar com isso, Kira. Está vendo coisas. Ele não está aqui. — murmurou para si mesma, tentando se concentrar na música que preenchia o ambiente.Mas por mais que tentasse afastar Noah de seus pensamentos, ele estava em todo lugar. Em cada acorde de jazz que ecoava pelo pub, em cada lembrança que teimava em surgir. Como esquecer algu&eacutCapítulo 99 - Conselhos de um bom amigo
Noah saiu do pub desolado. Não queria ir para casa. Como poderia encarar Olivia, sua filha tão perspicaz, sabendo que ela perceberia em um segundo que ele tinha sido um covarde? Que tinha estado a poucos passos de Kira e simplesmente não teve coragem de se aproximar?Mas como poderia?Kira parecia feliz. O sorriso no rosto dela, ainda que machucado, era algo que ele não queria destruir com suas palavras. Talvez ela estivesse realmente tentando seguir em frente. Talvez ele devesse deixá-la fazer isso. Talvez o melhor para ela fosse exatamente isso: estar com alguém da idade dela, sem as complicações de um homem como ele.Noah sabia que ela o amava. Ele via isso em cada gesto, cada olhar. Mas agora, tudo que via era o
Ethan havia acabado de deixar Kira no seu apartamento. A loira entrou, depositou as chaves sobre a mesa de cabeceira e tirou os sapatos com um suspiro pesado. O silêncio do lugar parecia esmagador, uma lembrança constante de sua solidão. Caminhou devagar até o pequeno banheiro, sentindo o peso dos últimos dias acumulado em seus ombros.Ela se despiu lentamente, cada peça de roupa parecendo um fardo que tirava do corpo. Entrou no box e deixou a água fria cair sobre sua pele. Tinha prometido a si mesma que não choraria mais. Mas promessas são frágeis quando o coração está em pedaços. Bastou lembrar da conversa com Ethan e as lágrimas vieram, silenciosas, mas devastadoras.“Será que ele tem razão?”