— Por que vocês tão pelados?A pergunta veio como um raio em céu azul.Kira cobriu a boca com a mão para abafar a risada, enquanto Noah soltava um som que era metade riso nervoso, metade pânico absoluto. Ele estava sentado na beirada da cama, os cabelos bagunçados, uma expressão de quem acabara de ser pego no flagra. E bom… ele tinha sido mesmo.— É… é que… o papai e a mamãe estavam com muito calor, campeão. — disse Noah, a voz ainda sonolenta, tentando parecer absolutamente normal mesmo estando completamente nu sob o lençol.— Calor? — Bento franziu a testa. — Mas o ar-condicionado tá ligado, papai. Tá gelado aqui!Kira virou o rosto para o lado, tentando não explodir de rir.— É verdade, filho… — Noah concordou, olhando desesperado para todos os cantos do quarto como se procurasse por um manual de “Como responder perguntas embaraçosas de uma criança de 5 anos”. — Mas às vezes, mesmo com o ar ligado, a gente sente calor… interior.— Calor interior? — Bento repetiu com as sobrancelhas
O resto da manhã passou em meio a risadas e panquecas. Bento comeu três, como prometido, e passou o resto do tempo desenhando uma “aranha invisível mutante” com lápis de cor, enquanto os pais trocavam olhares cúmplices e sorrisos de canto.Quando o sol começou a descer no céu e a tarde chegou com preguiça, Kira colocou Bento para cochilar, deitado em sua cama com o ursinho de pelúcia agarrado ao peito e o desenho da aranha colado na parede ao lado. Ela ficou alguns minutos o observando dormir, sentindo o coração transbordar de amor e proteção.Quando voltou à sala, encontrou Noah sentado no chão, de costas para o sofá, com um caderno velho no colo. Ele usava uma camiseta desbotada e calça de moletom, os pés descalços, e havia algo tão sereno na expressão dele que o coração de Kira se apertou.— O que é isso? — perguntou, se aproximando devagar.Noah levantou os olhos e sorriu.— Um caderno antigo. Achei dentro de uma caixa no armário do corredor. — disse, e bateu no espaço ao lado. —
O som dos saltos de Kira cortava os corredores da clínica como chicotes no mármore. Havia pressa em seus passos, mas também um tipo de fúria contida, do tipo que assusta até quem não sabe o motivo.Ela segurava uma pasta de documentos com força, os dedos pressionando a capa como se ela fosse uma extensão do autocontrole que tentava manter.Ao passar pela recepção, um dos atendentes tentou chamá-la, mas Kira apenas ergueu a mão, sem parar de andar.— Não agora. Preciso resolver algo com o doutor Sinclair.Brandon, por sua vez, estava sentado em sua sala espaçosa, com as pernas cruzadas sobre a mesa, olhando-se no reflexo escurecido do monitor desligado. A vaidade exalava até nos gestos mais simples.A porta se abriu sem anúncio.— Kira! — ele disse, sorrindo com uma satisfação lasciva. — Até que enfim voltou a usar roupas que valorizam seu corpo. Essa saia é quase um convite…Ela parou à frente da mesa, com os olhos faiscando.— Você pode repetir isso?Brandon levantou da cadeira e se
Kira saiu da clínica com passos firmes, e o coração ainda acelerado pela discussão com Brandon. O ar fresco do lado de fora ajudou a clarear sua mente, mas a indignação ainda queimava em seu peito. Ela não percebeu a figura alta encostada em um carro próximo até ouvir a voz familiar.— Kira.Ela se virou rapidamente e encontrou os olhos intensos de Noah Fitzgerald. Ele estava ali, esperando por ela, com uma expressão que misturava preocupação e determinação.— Noah? O que você está fazendo aqui?Ele deu alguns passos em direção a ela, diminuindo a distância entre eles.— Eu soube do que aconteceu lá dentro. Não podia deixar você passar por isso sozinha.Kira sentiu uma onda de gratidão e alívio ao vê-lo ali. Sem hesitar, Noah estendeu a mão, e ela a segurou, sentindo o calor reconfortante de sua presença.— Vem comigo. — disse Noah, conduzindo-a de volta para a entrada da clínica.Ela hesitou por um momento, surpresa com a iniciativa dele.— Noah, eu acabei de me demitir. Não sei se d
O tempo passou como um vendaval depois do noivado. Em menos de quatro meses, Olivia se viu afogada em provas de vestido, degustações de buffet, discussões sobre cor de guardanapo e debates intermináveis sobre qual flor combinava melhor com o buquê. Era como se cada dia trouxesse uma nova loucura e, como se não bastasse, o casamento se aproximava como um furacão glamoroso. Ela queria tudo impecável, perfeito. Um evento memorável, daqueles que ficassem gravados nos corações ou, pelo menos, nas redes sociais.Naquela manhã de sexta-feira, o sol brilhava impiedosamente, aquecendo o ar e os nervos de Olivia. Faltavam apenas dez dias para o grande dia. Ela despertou suada, com o coração acelerado, depois de sonhar que o véu havia sido trocado por uma toalha de mesa e que o noivo estava vestindo uma bermuda florida.— Respira, Olivia. Não surta, ainda. — ela sussurrou para o espelho do banheiro, enquanto lavava o rosto.As amigas já haviam sido alertadas: essa semana seria intensa. Elas es
Faltavam poucas noites antes do “sim”, e Olivia estava decidida a esquecer toda a tensão dos preparativos e surtar com elegância. Savannah, Sophia e Kira tinham planejado a despedida de solteira com meses de antecedência. Um clube elegante, reservado só para elas e algumas convidadas selecionadas. Luzes neon, música envolvente, e uma pista iluminada que prometia calor, dança e uma pitada de pecado.— Essa noite é sobre você, Olivia. E sobre homens suados dançando só de cueca. — Sophia disse, já brindando com uma taça de espumante rosa, antes mesmo da primeira performance.— Meu Deus, será que vou mesmo ver um bombeiro dançar com uma mangueira? — Olivia riu, nervosa e empolgada.— Você não vai só ver. Vai interagir, bebê. — Kira piscou, provocante.O clube escolhido era sofisticado, mas com aquele ar clandestino e excitante de filme proibido. Assim que entraram, as luzes suaves destacaram o palco central, onde um pole reluzente esperava por ação. E quando o primeiro “gogoboy” entrou, v
Na manhã seguinte, a luz do sol entrou pelas frestas da enorme casa de campo como uma vingança silenciosa contra o excesso da noite anterior. No sofá da sala principal, Sophia dormia abraçada a um flamingo inflável cor-de-rosa, enquanto Savannah roncava suavemente com uma tiara torta que dizia “Team Bride”.Kira acordou com o cheiro de café vindo da cozinha e, por um momento, pensou que tudo tinha sido um sonho… até notar as marcas de dedos em sua cintura e o uniforme de policial jogado sobre a poltrona.Ela mordeu o lábio inferior, sorrindo, antes de se levantar silenciosamente e caminhar até o banheiro, os pés ainda descalços e os cabelos emaranhados da noite ardente com Noah.Mas a paz matinal durou pouco.Do quarto do andar de cima, ouviu-se um grito estridente:— QUEEEE? KIRA, PELO AMOR DE TUDO QUE É SAGRADO, VEM AQUI!Era Olívia. E aquele tom significava uma única coisa: algo viralizou.Kira correu pelas escadas, sentindo o frio na barriga típico de quem sabe que, depois de uma
Era a última noite antes do casamento de Olivia, e o clima na casa de campo estava uma mistura de encanto e caos. As flores estavam todas posicionadas, os ensaios tinham sido feitos com sucesso e as madrinhas, embora exaustas, estavam mais animadas do que nunca.Olívia, a noiva, caminhava de um lado para o outro com uma taça de vinho na mão, tagarelando entre risos com Savannah, Sophia e Kira, sua madrinha de honra e melhor amiga.— Nada de stress hoje, meninas. Hoje é só alegria, vinho e homens pelados dançando para a minha diversão! — ela gritou, levantando a taça no ar.— E pensar que até uns meses atrás você dizia que despedida de solteira era cafona… — Sophia lembrou, sorrindo.— Mudei de ideia. Principalmente depois do show do meu pai como policial na despedida anterior… — Olivia lançou um olhar sugestivo para Kira, que fingiu estar mais interessada em seu vinho.— Ok, ok, já entendemos que você transformou meu pai em um stripper irresistível. — Olivia riu. — Sinceramente? Obrig