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CAPÍTULO SETE: Amores em comum.

MARY COLLINS

Peguei o meu celular, jogando o meu corpo na cama que está uma bagunça. Ainda nem sai do quarto hoje, são umas nove horas da manhã ainda. Abrir no i*******m, tirando do meu pessoal e colocando no que faço as minhas postagens. Meu último texto já está com quase dois milhões de visualizações, parece até uma mentira.

_ Até quando tento ser anônima eu acabo fazendo um pouco de sucesso.- Ironizei sozinha, sentindo o silêncio e vazio do meu quarto. 

Fiquei por uns segundos olhando o teto do meu quarto, extremamente entediada. Como estou sem nada para fazer, calcei minhas pantufas, segurei o celular e sai do meu cantinho, pronta para desvendar cada lugar do segundo andar dessa cobertura, outro dia eu vou conhecendo primeiro.

Como nesse corredor está mais um quarto de hóspedes e o dos meus pais, fui para a outra ala. Logo de cara, bem no fundo do meu corredor, a porta do quarto do meu tio, como sei que não posso entrar lá, fui na outra que tem nesse mesmo lugar, Ao abrir a porta, senti o meu coração disparar e a imagem mais linda de todas tomou a minha visão. O meu querido tio tem uma enorme biblioteca, daquelas tão lindas que parecem até cenas de filme.

_ Meu Deus do céu, estou no paraíso e ninguém me contou.- Adentrei a sala, sem nem me preocupar em fechar a porta atrás de mim.

Passei o meu dedo pelo primeiro livro que vi, tirando logo em seguida e soltando um enorme sorriso ao ver que está limpinho e muito bem cuidado. Sinto uma dor tão grande no peito ao pensar em um livro que não esteja sendo bem cuidado, com poeiras ou todo amassado. Ao menos eu tenho um cuidado sem igual com os meus, são os meus bebês e os cuido com a minha própria vida. 

_ Romances.- Corri até eles, passando a minha mão e vendo os livros, sendo alguns até de coleção.

Não é uma área tão grande ao se comparar com as outras, mas o suficiente para se tornar o meu paraíso em todos os sentidos. 

Quando vi uma das minhas últimas leituras online bem ali, não segurei o sorriso. “Entre as estrelas” é um lindo romance dramático, daqueles que eu chorei sem parar por alguns minutos. Como a autora é bem conhecida mundialmente, assim que o livro saiu, eu não consegui comprar, pois saiu bem rápido. É uma surpresa, em todos os sentidos, que o meu tio tenha esse livro aqui.

_ Não te ensinaram que é errado bisbilhotar?- A voz firme e grossa predominou o ambiente, fazendo com que eu acabasse dando um pulo no lugar com o susto que acabei tomando.

_ Tio.- Coloquei a mão no meu peito, encarando ele, levemente assustada.

_ Sobrinha.- Debochou da minha cara, adentrando a biblioteca e fechando a porta atrás de si.- O ar fica ligado para manter o ambiente confortável, não deixe a porta aberta. 

Concordei com um manusear de cabeça, observando que ele cuida muito bem desse lugar, com um zelo extraordinário.

_ Como você conseguiu comprar esse livro? Fiquei acordada até tarde e mesmo assim, quando eu fui ver, já tinha esgotado tudo.- Voltei a minha atenção para a preciosidade em minhas mãos, 

_ Eu não comprei,deve ter sido a Silvia.- Ele deu de ombros, olhando todo o lugar.- Faz um tempo que não venho aqui, acho que ela manteve o lugar

_ Ela fez um bom trabalho.- Afirmei contente, colocando o livro de volta na prateleira e indo até a sessão infanto juvenil.

Meu adorado tio veio logo atrás, observando-me com atenção. Fui olhando cada um dos livros, reconhecendo a sua grande maioria, mas parando em um específico: Angelina Bailarina. 

O meu amor pelos livros foi herdado do meu querido tio, William. Recordo das diversas vezes que, ao me colocar para dormir, ele me mandava escolher um livro e ficava lendo até que eu pegasse no sono. Minha tia nunca foi fã de literatura, na verdade ficava bem longe dos livros, até mesmo quando eu pedia. Já o meu tio, essa sempre foi a sua paixão, quando ele sumia, eu sabia onde o procurar, ele estava aqui!

Havia me esquecido desse lugar, de toda a magia que tem aqui. Das vezes que vinha correndo, sentava no colo do meu tio, sempre em sua poltrona confortável, enquanto lia, e ele acabava lendo em voz alta para que eu conseguisse acompanhar a sua leitura. Quando o livro não me era apropriado, ele mudava para um de fantasia ou me mandava escolher outro. Assim ficamos horas aqui, viajando pelo mundo novo que o livro nos levava. 

_ Lembra desse livro?- Com uma cara de criança travessa, virei na sua direção, permitindo que ele enxergasse o livro que seguro com tanta alegria.

_ Você me pedia para ler ele o tempo todo.- Manuseou a cabeça positivamente.- Era o seu favorito dentre todos eles.

_ Chegou uma época que você nem lia mais, apenas me mostrava as imagens e já ia falando o que estava em sua memória. Sabia cada uma das palavras.- Com a voz saudosa, fui falando as coisas que me lembro com perfeição de todos esses momentos lindos.

_ Como você se lembra de tudo isso?- Sua voz denunciou toda a surpresa que ele sente.

_ Foi onde eu criei o meu amor pela leitura, jamais me esqueceria.- Contei o óbvio, caminhando até o puff em frente ao divã, sentando ali e apontando para que ele faça o mesmo.- Mesmo sem saber, o senhor me ensinou a amar esse mundo, me deu o meu maior presente.

_ Você ainda ler?-Quis saber.

_ O tempo todo, meus pais ficam louco por isso.- Sorrir, escutando a sua gargalhada anasalada.- Meu maior sonho é ter uma biblioteca igual a sua.

_ Do que adianta ter algo tão grande se nem usa? A leitura só perdeu o sentido, não me ajuda mais.- Soltou um suspiro triste, jogando a cabeça para trás.

_ Você leu a maioria, tio. Os livros ainda tem a mesma magia que o senhor me ensinou, ainda nos fazem viajar, conhecer mundos diferentes e viver grandes amores.- Soltei o maior sorriso que consegui, sentindo uma felicidade tão grande no peito por falar daquilo que mais amo na minha vida.

Ele negou com a cabeça, fechando os seus olhos. Sua postura pesada, como se carregasse o peso do mundo nas costas e não tivesse quem o entendesse, ao menos o ajudasse a ficar melhor. Ele não me deixa entrar para tentar fazer isso, mas tem algo que pode ajudar ele, fazer com que o mundo fique mais leve ou melhor, fazer com que ele viaje para um outro lugar. 

_ Escolhe um, vamos ler juntos.- Propus animada.- Só não sou muito fã de terror, fora isso pode escolher qualquer um que vou ler com você.

_ Isso é uma loucura.- Negou com a cabeça.

_ Eu vou estudar e o senhor trabalhar, mas quando os dois estivermos em casa, podemos separar um tempo para ler ao menos um capítulo por dia.- Fiquei de pé, mais animada do que nunca.

_ Eu não vou fazer isso.- Negou com a cabeça

_ Então eu escolho, se bem me lembro, ama os de ficção.- Caminhei rapidamente até a prateleira com esse gênero, escolhendo com calma.

Escolhi um livro que tinha a imagem de uma mulher na frente, com um fundo todo azul e as letras em dourado bem bonitas. Sentei no local que estava antes, pegando, na mesinha ao lado, um marca páginas.

_ Perdendo a noção do tempo.- Li o título do primeiro capítulo e assim prossegui por duas páginas seguintes, entregando o livro em suas mãos.   

Meio relutante, o meu tio deu prosseguimento à leitura enquanto eu tomava um pouco de água. Para a minha enorme alegria, ele acabou gostando mais do que imaginava e se envolveu na nova realidade que estamos entrando. 

Ele me ensinou a ler no passado, me ensinou a viajar sem tirar os meus pés de casa. Hoje eu preciso fazer com que ele aprenda, novamente, tudo aquilo que aprendi com ele e, de certa forma, moldou a pessoa que sou hoje e a que estou me tornando. Dessa forma, se tudo der certo, eu posso acabar criando intimidade com ele, fortalecendo aquele nosso laço tão forte. Eu quero o meu tio de volta, a nossa amizade e cumplicidade. Só não posso me esquecer de um fato importante, mas que o meu coração se nega a aprender desde que chegamos aqui; somos apenas tio e sobrinha, nada a mais!

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