WILLIAM MARTINS
_ Vamos comer.- Não esperei que eles falassem mais nada, apenas direcionei o meu corpo para a sala de jantar, onde Mary estava sentada à mesa, apenas nos esperando.- Você evoluiu, criança, conseguiu nos esperar chegar.Não resisti à vontade e acabei implicando um pouco com ela, sentando na cabeceira da mesa. Quando mais nova, Mary não nos esperava chegar à mesa, já estava montando o seu prato ou comendo a sua refeição. Chegava a ser engraçado quando, com a cara mais lavada do mundo, ela nos encarava e dizia que havíamos demorado muito e por isso não nos esperava. Confesso que sinto uma saudade daquele tempo, das suas visitas frequentes e o quanto Megan se divertia com ela. Oh céus, que saudades da mulher que mais amei na minha vida._ Está tudo bem?- Sinto a maciez da pele de sua mão em contato com a minha, trazendo-me de volta do meu mar de pensamento. Antes que eu me afogasse neles novamente, ela me trouxe de volta. Mesmo sem saber, ela me salvou antes de que acabasse entrando na tristeza sem fim que vem junto a saudades e a dor por tudo que me aconteceu no passado. Normalmente, quando me afogo ali novamente, apenas com as bebidas fortes que tenho no meu estoque. _ Está sim.- Rapidamente afastei minha mão da sua, evitando que ela sentisse o quanto estou nervoso com tudo.- Do que você falava?Mary me encarou profundamente, como se ela soubesse que não estou sendo totalmente sincero, como se estivesse lendo todos os meus pensamentos. Ela sabe que não estou sendo sincero, ainda assim, disfarçou quando os seus pais voltaram para a sala._ Não sou mais a mesma, tio, melhorei muito nesses últimos anos.- Respondeu como se fosse a coisa mais simples.- Não sou mais uma criança.Concordei com a cabeça, olhando bem para o seu rosto, nem de longe ele seria o de uma criança. Os traços marcantes, os lábios nem muito fino ou grosso, com a medida certa para elevar os pensamentos. O olhar singelo, mas com uma profundidade que me prende de uma forma que não consigo entender, nem mesmo se eu quisesse. _ E então, Silvia, o que fez para a gente hoje?- David perguntou enquanto se sentava, observando a bela mesa que fora montada._ Fiz o prato favorito da Mary, ao menos o que ela mais gostava antigamente.- Silvia._ Lasanha?- Com a voz regada de animação, a mais nova perguntou com uma felicidade bem nítida. _ Pelo visto continua a ser o seu favorito.- Silvia concluiu com um sorriso, tirando um ainda maior da minha sobrinha._Forever my favorite dish.- Mary não pensou muito antes de concordar. “Para sempre o meu prato favorito”Uma coisa, ao menos, não mudou; o seu amor incondicional pela comida. Lembro-me bem do quanto Silvia amava a notícia de que esta moça, nem tão pequena assim, iria vir passar uns dias com a gente. Minha amiga sempre se empenhava em fazer as melhores comidas possíveis, tudo com o objetivo de agradar a sua fã número um de toda uma vida._ Ela não está mentindo, Sil.- David olhou para sua filha com o amor transbordando no olhar, encarando-a como se fosse a coisa mais preciosa da sua vida. O que, de fato, realmente é. A família sempre foi tudo para o meu irmão, sua maior prioridade._ Experimentamos diversos pratos deliciosos, mas ela sempre fez questão de lembrar que o favorito era a sua lasanha.- Hermione concordou com o marido, segurando em sua mão e mandando um beijo para a primogênita do casal. _ Fui descoberta.- Mais uma vez, Mary levantou suas mãos em sinal de redenção.- Agora, se me permitem, vou almoçar.Sem falar mais nada, ela se colocou de pé, pegou o prato e colocou um pouco da lasanha de quatro queijos. Quando ela se sentou, fiz um sinal para um dos meus empregados que logo veio e encheu nossos copos com suco natural. Todos acabamos por seguir seus passos, colocando a nossa refeição. Durante todo o almoço, não tivemos um minuto de silêncio que fosse, a todo momento tinha um assunto que predominava e a minha família não deixava passar em branco. Minha família! O quão estranhas essas palavras parecem ser agora, depois de tanto tempo sem ouvir ou falar qualquer uma delas. O quanto a sala de jantar, no momento presente, parece ser da cobertura de qualquer pessoa, menos a minha depois de tanto tempo que sons de gargalhadas não a predominavam. Essa parece ser a realidade de qualquer pessoa que não seja eu, ou melhor, a minha versão atual, pois esse cenário, em um tempo não tão distante, era deliciosamente corriqueiro em minha rotina. _ Deu para matar as saudades da minha comida?- Silvia, quem está almoçando com a gente, perguntou para todos, direcionando o seu olhar para a mais jovem dentre todos os nós._ Sei que não vão me dar tanta credibilidade, mas…— Começou ela, dando um certo tempo para uma pausa dramática. É, o drama, com toda certeza, sempre foi uma das coisas que ela faz com excelência.- Está ainda mais delicioso do que eu me recordava, acho que vou precisar comer outras vezes para matar as saudades. _ Já estou pensando na receita do jantar.- Silvia informou, tirando sorrisos de todos a mesa._ E eu já estou ansiosa.- Hermione._ Enquanto isso, senão tiver problemas, quero ir arrumando o meu quarto.- Mary. _ Vamos, eu te mostro onde é.- Fiquei de pé, afastando o meu prato para longe. Comi bem pouco hoje, não estou com tanta fome assim._ Não vai comer mais um pouco? Quase não tocou na comida.- Silvia perguntou no mesmo momento, encarando-me com aquele olhar regado de preocupação._ Depois eu como alguma coisa, não tenho fome agora.- Dei de ombros.Ela apenas concordou com um manusear de cabeça, deixando os seus ombros cair. Ela sabe bem que não irei comer nada mais tarde, afinal quantas vezes me escutou usar da mesma desculpa? Mais do que eu gostaria, sem dúvidas. Entretanto é algo que não tenho controle, apenas não sinto fome e se continuar insistindo demais, acabo por ficar enjoado e até mesmo vomitar. Simplesmente escolho por respeitar os meus limites, não tem nada demais nisso.David informa que não vai subir agora, pois irá pegar mais um pouco. Sua esposa fica para fazer companhia a ele e Sílvia, quem prontamente se oferece para mostrar o quarto do casal. Sendo assim, subi com a minha sobrinha, guiando ela para o seu antigo quarto que agora não tem mais a decoração para uma criança, mas sim para uma jovem.Teto flutuante, com uma iluminação impecável. O quarto em sua grande maioria tem tons rosados, mais puxado para o pastel. Um enorme espelho circular na cabeceira da cama enorme e bem confortável, com um pequeno sofá na frente. Tem um pequeno closet e um espaço com escrivaninha para estudar e uma penteadeira.Não mandei fazer um quarto muito chique ou bem trabalhado, afinal é provisório. Não sabemos ao certo quanto tempo eles ficaram aqui, quis que se sentissem confortável._ O quarto está lindo.- Ela elogiou indo se sentar na sua cama, retirando o seu salto._ Fizeram um bom trabalho.- Concordei com a cabeça.Quando soube que eles ficariam aqui, contratei uma empresa especializada para realizarem a decoração. Posso até negar, mas quero que eles fiquem o mais confortável possível._ Sabe, tio, eu sinto muitas saudades da tia Meg. Todo dia eu me lembro dela com carinho e quando a tristeza tenta me pegar, eu lembro que ela era pura alegria e a melhor forma de manter ela viva, é vivendo._ Por que está me falando tudo isso?- Encostei o meu corpo no batente da porta, tentando entender o porquê dela ter falado isso, só não faz nenhum sentido._ Ela iria querer que você continuasse a sua vida, que fosse feliz.- Falou._ Eu estou fazendo isso._ Tio, o senhor está sobrevivendo e não vivendo. Não come direito, afastou-se de todos e nem sorrir mais.- Respirou fundo.- Nem de longe se parece o homem cheio de vida que eu vinha visitar. É como se, de alguma forma, o senhor tivesse partido com ela._ Você é nova demais para entender, não amou verdadeiramente ainda. Quando perdemos alguém que amamos, nós partimos juntos.- Expliquei. _ Podemos morrer junto ou manter cada um deles vivos aqui.- Colocou a sua mão na direção do seu peito.- Deixar essa pessoa orgulhosa e em cada sorriso, sentir a presença dela._ São coisas lindas demais para serem reais.- Abaixei a cabeça, me sentindo mais afetado do que deveria com essa conversa. Ela não entenderia, nem mesmo se quisesse. Mary vive no seu mundo cor de rosa, onde as coisas são mágicas e simples, sem toda a dor e tristeza do mundo real. Só quando ela perder alguém realmente importante, vai poder entender._ Bem, quando quiser conversar com alguém, estou aqui.- Sorriu.- Agora, se me der licença, tenho umas coisas para arrumar.Concordei com a cabeça, saindo do seu quarto e fechando a porta. Caminhei rapidamente para o meu quarto, sentindo a minha garganta fechar e as lágrimas lutarem para sair. Como eu queria que fosse tudo verdade, que as coisas fossem realmente simples. Bem, para a nossa tristeza, são bem mais dolorosas do que parecem, eu bem sei disso.MARY COLLINS“ O amor! Assunto principal de diversos filmes, livros, músicas, peças teatrais e o que mais vem à sua cabeça. Não importa a quanto tempo assistimos as diversas dramaturgias sobre esse assunto, sempre vem algo novo que nos encanta, pois conhecemos mais uma versão desse sentimento tão intenso. Um sentimento que impulsiona outros, afinal por amor pessoas cometem tantos tipos de loucuras que ficaria dias, até mesmo listando. Às vezes eu me pego pensando como uma sensação tão simples para alguns pode ser tão contraditório. Para alguns, amar alguém os faz bem, para outros, mal. Recentemente eu encontrei uma pessoa que amou profundamente, tanto que a sua felicidade dependia inteiramente daquela pessoa e quando ela se foi… bem, foi como se ele tivesse partido junto. Por um tempo o amor o fez bem, impulsionou a viver, ser feliz e melhor dia após dia. Até que chegou o dia que o que lhe trazia felicidade se tornou uma prisão! Sentir as famosas borboletas na barriga ou soltar um s
MARY COLLINSPeguei o meu celular, jogando o meu corpo na cama que está uma bagunça. Ainda nem sai do quarto hoje, são umas nove horas da manhã ainda. Abrir no instagram, tirando do meu pessoal e colocando no que faço as minhas postagens. Meu último texto já está com quase dois milhões de visualizações, parece até uma mentira. _ Até quando tento ser anônima eu acabo fazendo um pouco de sucesso.- Ironizei sozinha, sentindo o silêncio e vazio do meu quarto. Fiquei por uns segundos olhando o teto do meu quarto, extremamente entediada. Como estou sem nada para fazer, calcei minhas pantufas, segurei o celular e sai do meu cantinho, pronta para desvendar cada lugar do segundo andar dessa cobertura, outro dia eu vou conhecendo primeiro.Como nesse corredor está mais um quarto de hóspedes e o dos meus pais, fui para a outra ala. Logo de cara, bem no fundo do meu corredor, a porta do quarto do meu tio, como sei que não posso entrar lá, fui na outra que tem nesse mesmo lugar, Ao abrir a port
MARY COLLINSRespirei o mais fundo que consegui, encarando a menina refletida no espelho. Iniciar em uma escola nova, no meio do semestre, não é um sonho de ninguém, ao menos algumas pessoas diferenciadas. No meu caso eu acredito que seja ainda pior, afinal não mudei apenas a minha escola, mas também de cidade. As chances de conhecer qualquer pessoa da minha turma são praticamente nulas, o que me faz crer que terei que fazer amizades novas.Sei que vou chegar lá e mesmo sendo a novata, não vou ficar sozinha, muito pelo contrário. Não conheço ninguém de lá, mas posso garantir que ao menos uma pessoa vai me reconhecer e, como consequência, não vai sair do meu pé. É sempre a mesma coisa, em todo lugar que estou é preciso socializar, tendo um grupo de pessoas perto de mim, todas achando que sou tão supérflua quanto! Para piorar tudo, tenho que sorrir e ser educada, não quero ofensas, dirigidas a minha pessoa, nas primeiras páginas das revistas ao acordar.O ensino médio, com toda certeza,
MARY COLLINSGuardei o celular de volta, saindo do carro após me despedir do motorista que me trouxe aqui. Assim que coloquei os pés para fora, todos os olhares se voltaram para mim. Tentei ignorar todos eles, embora seja uma missão quase impossível, entrando no enorme prédio, a minha mais nova escola. _ Bom dia.- Cumprimentei a zeladora que estava em um dos corredores._ Bom dia, querida.- Soltou um sorriso, quase que me desejando um “seja bem vinda” através do olhar. _ Gostaria de saber onde fica a sala da diretoria.- Pedi a informação.Meus pais sempre me ensinaram que não faz mal pedir ajuda, se você precisar é só falar com quem pode te ajudar, melhor do que ficar perdida. Graças a Deus a vergonha não é algo que faz parte de mim, nem poderia ao levar em consideração a vida que tenho. _ Vamos, eu te guio até lá.- Soltou o sorriso mais gentil que conseguiu, começando a me guiar pelos enormes corredores desse lugar._ Obrigada.- Concordei com a cabeça, seguindo ela.Passamos por u
MARY COLLINSDei graças a Deus assim que sai da escola, entrando no carro que logo me guiou para a empresa do meu amado tio. Sério, eu realmente achei que essa manhã não teria mais fim. Estava me sentindo uma estrela americana, em frente às câmeras após ganhar um importante prêmio. Qualquer oportunidade que tinham, todos estavam perto de mim, enchendo-me de perguntas. A minha vida toda eu estudei na mesma rede escolar, no mesmo lugar. Por mais que rodasse o mundo todo com os meus pais, sempre retornaremos ao nosso local seguro. Por mais que lá também existissem pessoas que me enchem a paciência, eu já estava acostumada com eles, sabia lidar perfeitamente. Sobrevivia, com maestria, aquela selva que chamava de escola. Nunca tinha precisado passar por esse processo de adaptação, na verdade, ajudava outras pessoas com isso. É um pouco assustador ser novata, olhar para os lados e não ter um rosto conhecido ou que me passe segurança. Todos ficam em cima de mim, querendo saber um pouco ma
MARY COLLINS_ Mary.- A voz grossa me tira dos meus pensamentos, voltando para a minha realidade. Rapidamente seco as lágrimas debaixo dos meus olhos, das quais nem percebi que foram formadas, espero não ter borrado a maquiagem.- Tem muito tempo que você chegu? Espero não ter demorado demais, um cliente me segurou na reunião e não consegu sair antes. Enfim, sinto pelo pequeno atraso, mas já desliguei o meu celular e estou pronto para termos um otimo horário de almoço._ Oie, tio.- Viro apenas o meu tronco em direção a porta, vendo ele parado.Involuntariamente o meu olhar desce, avaliando bem o quão lindo o meu querido tio está nesse exato momento. Tudo feito sob medida na cor grafite. A camisa social marcando bem os seus músculos, com o primeiro botão aberto. A calça social fazendo questão de marcar um volume que dá muita sugestão, assim como não fica mole nas pernas, mas bem definido, afinal ele malha o corpo todo. Nas mãos a parte de cima do terno, enquanto o olhar está focado em m
MARY COLLINSAdentro o apartamento do meu tio, deparando-me com o silêncio reconfortante que se faz presente. Acredito que nesse momento Sílvia deve estar pela cozinha, terminando algumas coisas antes de ir para sua casa descansar. Meu tio não exige que ela fique por muito tempo aqui, a liberando para finalizar o seu turno assim que terminar de preparar as refeições do dia. Resisto ao desejo de ir até o ambiente e iniciar uma conversa com ela, tentando descobrir como foram os últimos anos para o lindo dono desse apartamento. Sei que nossa conversa iria durar mais tempo do que o esperado, o que me deixaria muito feliz, mas já estou atrasada para ir ao shopping e quero realmente dedicar um tempo a mais para minha amiga. Chego rapidamente em meu quarto, vendo que esse está perfeitamente arrumado e com um delicioso cheiro de lavanda. Sou bem chatinha com isso, amo estar em lugares cheirosos, por isso sempre deixo aqueles aparelhos que de hora em hora vão espirrando o cheirinho. O clima
MARY COLLINS_ E o que achou da escola?- Começa o assunto._ Um pouco diferente da minha antiga, mas eu vou me acostumar logo.- Saímos do elevador.- Depois pode me emprestar o seu caderno? Preciso ter certeza de que estou no mesmo ritmo que todos._ Claro.- Paramos em frente ao seu carro esportivo, daqueles chiques e que só tem dois lugares.- Se precisar de ajuda com qualquer coisa, estou aqui para te ajudar._ Você é muito gentil, obrigada.- Agradeço por isso e por ter aberto a porta do carro.Antes de fechar a porta, Steve solta uma piscadinha na minha direção. Não demonstro nenhuma reação, pegando o cinto de segurança e o colocando como se deve. O ruivo dá a volta pela frente, sentando ao meu lado. Após fazer um processo similar ao meu, saiu com o carro da garagem, tendo como destino um dos melhores shopping da cidade. _ Quer colocar alguma música?—- Oferece. _ Estou bem assim.- Foco o meu olhar na janela, vendo as coisas irem mudando conforme avançamos. Não fica um clima agradá