Não é minha culpa que estamos brincando de casinha de bonecas assustadoras depois da hora de dormir...
- Por que esse nome, querida? - Marta pergunta depois de se recuperar do choque inicial- Olha o tamanho da boca dela, muito grande - Priscila da ênfase na palavra muito - E Bibi eu só gostoMarta permanece em silêncio contemplando o que acabara de ouvir, mas não disse nada de volta.Breno seguiu Priscila, tocando seus óculos enquanto olhava para a casa de bonecas. Mesmo com a diferença de idade, ele gosta de brincar com a irmã, os dois sempre dividem brinquedos e brincadeiras.Enquanto eu os observava de perto, me sentia cansada e protetora.- Eles são tão fofos juntos - Marta observou.- Realmente. - é tudo que digoMarta começa se afastar mais pro fundo da enorme sala:- Que tal sentarmos na espreguiçadeira? - ela sugereEu apenas balancei a cabeça, seguindo-a para o salão preto cercado de bonecas com roupas cor de rosa. De lá onde estávaVimos meus filhos brincarem e imaginei como seria minha vida sem eles, provavelmente seria triste em todos das as esferas possíveis de uma vida.O pensamento me fez sentir frágil e triste. Minha família é a parte mais linda da minha vida- Mas a única coisa que não consigo superar é que a linhagem Braga termina aqui - disse Marta, quebrando o silêncio de repente.Bem, agora isso eu não estava esperando.- Sabe, minha amiga Julie também não podia ter filhos, ela adotou um menino lindo.- Oh, isso é bom para muitas pessoas, mas para mim, não contaria. Eu quis dizer a linhagem de sangue. Você sabe, legado.Eu recuei quando suas palavras chegaram ao meu entendimento, meus pensamentos de compaixão desvanecendo automática e lentamente.Linhagem?Será que entendi realmente bem? Elas está mesmo subjugando um amor afetivo?Quando meu silêncio se prolonga demais, ela continua:- Até admiro quem faz, mas realmente para mim não funciona - ela finaliza
Talvez eu tenha sido um pouco impulsiva ao sair daquela sala tão abruptamente, mas ouvi aquelas palavras da boca de Marta Braga que deixaram rastros de ofensas profundas, não haveria outra forma de abandonar aquela conversa.Otávio não chegou nem perto de ser um pai para mim, mas é inegável todo o amor que foi dado ao meu Bruno. Ele cuidou do meu marido como se fosse dele, e realmente talvez era.Ele fez o meu marido se tornar o homem maravilhoso que é hoje, um pai adorável, empresário implacável e um marido perfeito.Isso tudo foi possível, só pelo amor que ele depositou na filha adotada e o neto de criação.E o que dizer de Marly, aquela mulher cuidou de mim por anos a fio, esquecendo até de si mesma apenas para me dar o melhor.Cuidou de alguém por puro amor, sem laços sanguíneos. Sou o que sou hoje porque aquela mulher dedicou sua vida a cuidar de uma criança que não foi nascida dela. Hoje eu tenho uma família que a ama, te dei netos e um genro, hoje eu
**Bruno**A noite começava a se desenrolar chatas demais depois que Patrícia e as crianças foram embora, a conversa com Samuel Braga é pouco fluida e o tédio começou a se abater no ambiente.Ele claramente não é alguém com quem se pode conversar muito, é pouco comunicativo e muito sem noção.Sua linguagem é unicamente negócios, embora eu já tenha deixado claro que não tenho intenção de falar sobre isso.- Esta jaqueta era do meu pai, ganhei quando assumi seu lugar nas empresas - Samuel me disse enquanto se sentava à minha frente na mesa, acendendo mais um charuto.Era um blazer de cor preta e tecido de veludo com botões de pérolas no pulso, de muito mal gosto por sinal.Um tanto quanto exagerado para o meu gosto…- Bem… interessante - consegui dizer- Era o preferido dele. Gosta?- É um bom modelo. Mas ainda prefiro coisas mais clássicas - disse apontando para o meu smoking normal.Tenho certeza que após esta sessão de fumaça, eu teria que limpá-lo, antes de ver Patrícia. Ela odiava o
Tentei não parecer surpreso com meu acerto, bilhar não era meu melhor jogo. Digamos que eu não dominava muito bem.Enquanto montava minha sequência, a sala brilhou com relâmpagos, o trovão que se seguiu foi tão alto que parecia que o castelo inteiro estava tremendo, e eu não acertei o buraco novamente.Eu me pergunto se as crianças estão bem.Quem estou enganando? Eles adoram tempestades assim, minha preocupação é em poder dormir.Samuel limpou a garganta, e eu mudei minha atenção de volta para ele. Naquele momento sabia exatamente o que ele queria.E lá vem. A proposta. É por isso que estamos aqui.É por isso o empenho exagerado para me deixar à vontade e agradecido.- Então, Bruno, eu quero falar com você, de homem para homem. Porque tanto quanto admiro Carlos, posso dizer quem é o músculo por trás da SecureVault.Bingo!- Oh, posso dizer que nós dois temos músculos. E nós somos parceiros iguais - eu o lembrei.Samuel tinha razão, que eu era
**Patrícia**As crianças e eu estávamos indo para a ala do castelo onde estávamos, passando por um corredor com janelas.Lá fora, a grama estava iluminada por uma luz verde tempestuosa. O relâmpago caiu e o trovão ribombouO lugar era incrível, mas começava a achar um tanto quanto exaustivo. Tudo aqui emava uma aura sombria e tensa, meus pelos eriçaram só de imaginar.- Menos de um segundo! Estamos bem no centro da tempestade! - Exclamou Breno olhando fascinado para fora- Você está certo sobre isso, filho - digo- Papai? - A voz assustada de Priscila me fez virar a cabeça, buscando a direção de seu olhar.- Bruno?! - Eu repeti com confusão evidente.Meu marido estava vindo em nossa direção a toda velocidade. Seu rosto estava corado.- Patrícia! Estamos saindo daqui. - ele falou entre respirações erradas - AGORA! - Ele gritou.Só então notei seus dedos ensanguentados e Samuel Braga virando a esquina atrás dele, segurando sua mandíbula.
Passado o momento de histeria, finalmente pude pensar na nossa viagem de volta para casa. Enquanto Patrícia ajudava as crianças a arrumar suas coisas, eu comecei a trabalhar em nosso quarto. Em nossas coisas.Fui disparado em direção ao closet buscando terminar o quanto antes, joguei nossas malas de marca no chão, abri-las e mandei roupas voando para dentro delas, sem nem mesmo me dar ao trabalho de dobra-las.Então corri para o banheiro para pegar nossos artigos que estavam no banheiro e a caixa de jóias de Patrícia.Quando entrei na sala novamente, minha esposa já estava lá me esperando.- Mamãe está com as malas prontas e está ajudando as crianças - ela me disse - E Roger está arrumando as coisas deles dois- Ok, legal.Meus pensamentos estavam girando, mas notei os olhos cansados de Patrícia. Nós nem passamos uma noite inteira na cama de dossel... e eu me senti mal por isso.- Desculpe, meu amor, sinto muito por tudo isso. Não acredito que reagi assim
**Patrícia**Andamos por algumas horas, as crianças estavam impacientes. - Já chegamos? - Priscila perguntou.Eu a segurei contra meu quadril enquanto arrastava minha mala, seguindo os outros.- Ainda não, querida. - Já faz um bom tempo de caminhada.Estávamos encharcados.E ainda não tínhamos chegado ao final da entrada, pelo menos tínhamos um plano.Assim que encontrássemos o serviço de celular, ligaríamos para Tomas. Mesmo do outro lado do mundo, sabíamos que ele nos ajudaria a encontrar uma carona.- Vamos cantar uma música para passar o tempo! - Roger propôs alegremente.Roger iniciou uma música da qual nunca ouvi antes, ele cantava um refrão e meus filhos davam resposta.As crianças começaram a cantar em uníssono.Bem, acho que ele já usou esse truque antes com eles. Estava funcionando tão bem.Por sorte, pensei em levar capa de chuva para nossa aventura na Europa, mas apesar disso, eu pude sentir a água escorrendo pelo me
**PATRÍCIA**Quando acordei novamente, o carro estava parado do lado de fora de um hotel perto do aeroporto de Dublin.Apesar de ter dormido por uns bons minutos ainda me sinto exausta, talvez a exaustão seja mais mental do que física.Toda essa confusão tirou toda a minha energia e a dos meus filhos. Foi realmente desgastante toda essa adrenalina.- Não há nenhum hotel cinco estrelas por aqui - Bruno disse com uma careta - Mas podemos dormir algumas horas antes de voar de volta para o Brasil pela manhã.Ele nos observa em busca de uma resposta.- Agora você está falando a minha língua, Bruno! Não vejo a hora de chegar em casa. Todo esse luxo e esse país está me dando nos nervos - Roger chamou de fora do carro.- Parece ótimo para mim - eu concordei sem mais delongas.- Para mim também - mamãe disse em seguida.Todos estávamos loucos para chegar em casa, a falta que tudo fazia era inestimável.Bruno levou uma Priscila adormecida, e eu, um