Luana
Embaixo do chuveiro novamente sou tomada pelas lágrimas, sei que o estado dele pode ser grave, durante a faculdade vi inúmeros casos que pessoas que ficavam em estado vegetativo por anos e nem sei o que vou fazer se isso acontecer com ele.
Sai do banho somente quando percebo que meus dedos estão enrugados, coloco um pijama, pego uma camiseta do Rodrigo que está com seu perfume e deito, o calmante que Léo me deu insiste em fazer efeito, mas não quero dormir.
— Aqui, minha menina — Martinha fala ao meu lado, nem havia percebido que ela estava no quarto. — Vai se sentir melhor com esse chá morno e bem docinho, do jeito que você gosta — ela diz saindo do quarto logo em seguida.
Termino de tomar meu chá, depositando a xícara sobre a mesinha lateral, o cansaço toma conta e como não consigo mais lutar contra, adormeço.
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LuanaHoje faz trinta dias que ele está internado e até agora não teve nenhum sinal de melhora.Organizo a mesa ao meu lado, a cada dois ou três dias, trago seus produtos de barba e cuido do seu rosto, esse é o único jeito que consegui de me manter útil para ele, como pedi afastamento do hospital para o ir congresso, não posso cuidar dele como gostaria, seu banho ficou a cargo dos enfermeiros e sempre é feito pela manhã.— Isso! Agora você está lindo como sempre — digo assim que termino de passar a loção pós barba em seu rosto. Cheiro seu rosto e dou um beijo em sua bochecha. — Volta para mim... — peço novamente como tenho feito nos últimos trinta dias, deixo meu rosto próximo ao dele.Meu celular vibra no bolso da minha calça, sento-me no sofá ao lado da cama, segurando
RodrigoDepois de algum esforço consigo apertar sua mão, sinto que Luana se levanta rapidamente, abro os olhos devagar e ela está na minha frente falando comigo, estou com algo na boca e não consigo falar, tudo é novo para mim nesse momento.Um médico entra no quarto e ela conversa com ele com lágrimas nos olhos dizendo que voltei para ela. Não. Ela está enganada, voltei por mim e nesse momento a única coisa que quero é ficar sozinho.— Oi, Rodrigo.... Sou o doutor André, vou tirar esse tubo que está na sua boca, ok? — Ele me diz, e simplesmente afirmo com a cabeça. — Quer um pouco de água? — Mais uma vez sinalizo que sim.— So...sozi...nho. — Consigo falar com muito esforço depois que beber um pouco de água.— Quer ficar sozinho? — o doutor me pergunta, como
Luana— Tem certeza que é isso mesmo que você quer fazer? — Alice me pergunta pela milésima vez.Estou terminando de arrumar a minha mala, quando ela chega em casa e me conta que André a tinha expulsado do quarto no hospital.— Sim, tenho. Apesar de estar indo embora quebrada, vai ser melhor, não entendi o motivo dele ter feito tudo aquilo, mas se é assim que seu irmão quer... assim vai ser — digo firme para Alice, ninguém com exceção de Beto e Alice sabem o que aconteceu, seus pais não sabiam que eu havia desistido da viagem e é melhor que eu vá sem eles saberem a decisão de Rodrigo.— Vai deixar o celular aqui mesmo? Como vamos nos falar? — Guardo o celular na gaveta, pois não vou levá-lo, não quero cair em tentação de ligar para Rodrigo e nem de enviar alg
LuanaPenso em puxar algum tipo de conversa com ela, mas quando vou abrir a boca, uma porta se abre rapidamente ao lado da recepção e vejo um par de olhos azuis que me olha assustado, parecendo não acreditar que eu estou ali.Ficamos por alguns segundos nos olhando, até que não aguento e corro em direção a ele, jogando-me em seus braços. Benício se assusta com minha atitude, mas aos poucos me abraça, um abraço amigo é tudo o que preciso nesse momento.— Hola! Querida Luana — ele diz se afastando e dando um beijo em meu rosto. — Senti saudades também, por que está chorando?Vê-lo me fez tão bem, que não percebo que estou chorando em seu ombro. Chorando por tudo! Por saudades dele, por minha vida, mas, principalmente por Rodrigo, essa ferida, com certeza, irá demorar a cicatrizar.
Luana— Chegamos — diz assim que desliga o carro. — Agora, doutora, tem uma pergunta que não sai da minha cabeça — fala saindo do carro e dando a volta para abrir minha porta. Não faço a mínima ideia do que ele quer perguntar, saio do carro e Benício retira a mala em silêncio o que me deixa angustiada.— Vai me matar de ansiedade? Fala logo o que quer saber? — Ele sorri da minha confissão, pega minha mão e com a outra carrega minha mala, quando chegamos em frente ao elevador ele solta minha mão e me olha sério.— Você veio só para o Congresso, ou vai fazer o curso também? — Não entendo o motivo da sua pergunta, mas respondo mesmo assim.— Vou fazer o curso também, já pretende se livrar de mim Benício? — pergunto fazendo cara de quem está chat
LuanaSento ao seu lado e vejo que está tudo perfeito, o café delicioso, o croissant com o queijo derretendo, ele se levanta e pega mais uma xícara e se serve, estamos em silêncio. De repente lembro que ainda não liguei para Alice, que deve estar tendo um filho de tanta preocupação, eu prometi que ligaria assim que chegasse e ainda não liguei.— Posso usar seu telefone? Preciso ligar para Alice, prometi que ligaria assim que chegasse e acabei me esquecendo.— Claro, fique à vontade. — Ele me passa seu celular e faz menção de se levantar.— Não. Não precisa sair. — Benício relaxa e continua tomando seu café.Disco o número do celular de Alice e no terceiro toque ela atende.— Lu? É você?— Oi, Lice. Sou eu…— Estava preocupada&
Ele para de falar e pela primeira vez deixo uma lágrima correr solta pelo meu rosto, não tinha noção do tamanho do erro que havia cometido ao expulsá-la do quarto de uma forma tão baixa, e ouvir as palavras de André foi mais dolorido do que eu pude imaginar, ele continua:— Além de afastar a mulher da sua vida, e olha que você não a afastou somente da sua vida, mas sim da vida de todos que se importam com ela. Três meses… serão três meses na Espanha, e agora me fala uma coisa, ela tem algum motivo para voltar? Você conseguiu afastar seu melhor amigo e sua irmã, você acha que não percebi que depois daquele episódio lastimável nenhum dos dois veio te visitar? — Ele vai até a cadeira e novamente coloca seu jaleco, não sei o que falar, na verdade não tenho o que falar. — Agora falando como seu médico,
RodrigoMeu Deus!Agora está tudo fazendo sentido!O desespero da Luana. a raiva da Alice, a indiferença do Beto. Ela nunca me traiu!― Filho! Tá tudo bem? ― minha mãe insiste mais uma vez. ― Como assim acabou com sua vida? Não fala besteira, moleque! ― Pelo jeito eles não sabem o que aconteceu. ― Vamos para o seu quarto. Clóvis, me ajuda a colocá-lo na cama, ele deve estar precisando dormir em uma cama de verdade, e não naquelas de hospital. ― Meu pai concorda e me ajuda, minha mente está longe. O que será que ela está fazendo agora... quatro dias... já faz quatro dias que ela se foi, e eu aqui sem poder fazer nada.―Vocês podem me deixar sozinho? ― Minha mãe me fita, seu olhar diz que está preocupada. ― Por favor... quero dormir um pouco.― Vamos, querida. Ele só precisa descansar um pouco. ― Mesmo