Capítulo 1

Mellany, ou Mel, como todos a chamam normalmente, é uma jovem de vinte e dois anos, de pele clara, cabelos pretos, lisos e compridos, de olhos grandes, de cor castanha escura, e de aparência bastante atraente, mas que não se imagina como uma pessoa comum. Na verdade ela se sente como alguém de outro tempo, pois em pleno mês de janeiro do ano de 2019, ela não consegue utilizar muito bem a tecnologia como a maioria dos jovens de sua idade. Mas a sua amiga e vizinha Ana Paula, uma mulher um pouco mais velha e um pouco mais alta do que Mel, de pele clara, de cabelos curtos, ondulados e loiros, é super atenta a tudo o que acontece ao seu redor, e esse jeito dela também se faz presente tanto no avanço da tecnologia, quanto nos aplicativos que mais estão sendo utilizados pelos jovens, dos quais ela também faz uso.

Ana Paula, vendo constantemente que a sua amiga Mel está sempre vivendo de uma forma um pouco mais arcaica por ter um aparelho celular muito antigo e por ela não fazer uso desse mundo digital, resolveu aconselhá-la, dizendo que ela deveria comprar um celular novo, um que não fosse muito caro, mas que fosse capaz de oferecer mais recursos do que o atual celular que ela estava acostumada a usar, como uma câmera frontal de maior qualidade, de modo a fazer fotos quase profissionais, um aplicativo que permitisse acessar os seus e-mails, capacidade de acessar a Internet pelo modo wireless, dentre outros recursos que são muito valorizados no mundo de hoje, tanto pelos jovens como por todo mundo que deseja ter mais conectividade. Mas Mel sempre dava uma desculpa para Ana Paula, dizendo que o seu salário não estava sendo o suficiente para que ela pudesse trocar de celular. Realmente o seu trabalho era mais uma escravidão do que um serviço direito, pois ela recebia um salário muito pequeno pelo tanto que fazia pelo seu patrão mal agradecido e mal educado. Por isso, Ana Paula, além de encorajá-la a comprar um celular novo, também aconselhava que ela trocasse de emprego, inclusive estava ajudando-a a encontrar uma empresa melhor.

Pelo que se pode perceber, Ana Paula é uma excelente pessoa e uma ótima amiga, do tipo de pessoa que muitos gostariam de ser, e a amiga que todos gostariam de ter.

Como Ana Paula e Mel moram na mesma rua, com as casas quase de frente uma para a outra, então elas frequentemente se encontravam, mas devido à correria que eram as suas vidas profissionais, esses encontros eram muito rápidos e quase sempre na hora de sair para o trabalho, ou de chegar de um longo dia de expediente. Então, em uma sexta-feira de manhã por volta das sete horas, quando Mel já tinha descido as escadas de sua casa e estava fechando o portão que dava para a rua, viu que Ana Paula também estava saindo de casa, e que estava abrindo o seu portão ao mesmo tempo em que apertava o controle da chave do carro de modo a destravá-lo, pois provavelmente o tiraria da garagem para dirigi-lo até à escola para mais um dia de trabalho, pois Ana Paula era professora e dava aula para crianças do primeiro ciclo do ensino fundamental. Então quando Ana Paula viu a sua amiga Mel, disse:

– Oi Mel! Bom dia! Como você está?

– Oi Ana, bom dia! Estou bem, e você? Mais um dia de correria, não é mesmo? – Perguntou Mel.

– Sim, mas o dia vai ser ótimo! Vamos pensar sempre assim, de modo positivo. Pois desse jeito a gente atrai muitas energias positivas e é mais fácil da gente conseguir ter um dia melhor. – Disse Ana Paula, que estava sempre pensando pelo bom de todas as coisas e tentando, dessa forma, ajudar as pessoas, principalmente Mel a elevar mais os seus pensamentos, pois Mel como tinha muita ansiedade, tentava levar tudo para o lado negativo, achando que nada daria certo.

– Sim. Você tem razão. É verdade. – Concordou Mel.

– Você vai sair que horas hoje do trabalho? – Perguntou Ana Paula.

– Talvez às dezessete horas, pois as sextas, o meu chefe sempre libera a gente uma hora mais cedo. A não ser que tenham muitos serviços. – Disse Mel.

– Entendi. Você se lembra de quando conversamos sobre a tecnologia, sobre os celulares e outras coisas mais?

– Lembro, sim. O que é que tem? – Perguntou Mel, já sabendo que a amiga iria tentar novamente convencê-la a trocar de telefone celular.

– Você chegou a ver os preços dos celulares? Eu tinha te falado de uma loja que estava tendo promoção de diversas marcas.

– Nossa, Ana! – Respondeu Mel, passando as mãos pelo rosto. – Desculpe, mas eu me esqueci completamente de procurar por essa loja! Desculpe mesmo. Eu nem me lembrei. Mas vou procurar assim que possível.

– Ai, Mel, você e sua cabeça corrida. – Disse Ana Paula, rindo, fechando o portão e contornando o seu carro preto, de traseira alta, a fim de abrir a porta e entrar.

– Minha cabeça é muito corrida mesmo. Isso é verdade. – Disse Mel com uma expressão de tristeza.

– Bom, pelo tempo, já devem ter acabado todas as promoções que a loja estava fazendo. Pois isso já tem algumas semanas e as promoções eram muito boas mesmo. Imperdíveis. Mas fique tranquila, pois vão ter outras oportunidades. – Disse Ana Paula. Mas vendo que a amiga estava com um semblante triste, perguntou: – está tudo bem mesmo com você? Estou notando você um pouco cabisbaixa, ou “para baixo”, como diz os jovens, hoje.

– Pois é. Devem ter acabado todos os estoques da loja faz tempo. Mas de qualquer forma, eu não ia conseguir comprar. Pelo menos não ia conseguir nesse momento. – Depois de uma pausa, ela respondeu a outra pergunta que Ana Paula havia feito. – Eu não estou satisfeita mesmo com o meu trabalho, não.

– Por que não? – Perguntou Ana Paula.

– Porque eu estou trabalhando muito, lá é muito longe da minha casa e não tenho dinheiro nem para comprar um celular melhor. Isso tem acabado com o meu psicológico.  – Disse Mel.

– Eu entendo, perfeitamente, a sua indignação com relação ao seu trabalho, pelo seu patrão te oferecer um salário tão baixo em comparação ao que você faz há tanto tempo por aquela empresa. – Depois de uma pausa, ela prosseguiu. – Mas com relação ao telefone, quem disse que um celular com uma boa câmera precisa ser caro? Existem muitos celulares bons e com um preço justo. É só você pesquisar direitinho. – Rebateu Ana Paula.

– Não sei, não. Essa história de barato e caro é muito relativa. O que pode ser barato para você, pode ser caro para mim e vice-versa.

– Sim, concordo com você. Mas se você quiser, eu posso ir com você até o shopping e a gente procura direitinho alguma loja boa. Podemos conversar com os vendedores e falarmos qual a sua necessidade. Tenho certeza de que alguém vai trazer uma solução mais em conta para nós.

– Pode ser. – Concluiu Mel.

– E você precisa trocar de telefone. Esse é muito antigo. A memória dele já está ruim.

– Está ruim, sim. Ele vive travando. – Complementou Mel.

– Está vendo? Uma hora ele vai acabar te deixando na mão, você vai ver.

– Ai, Ana Paula. Não joga praga em mim, não – Disse Mel sorrindo.

– Não estou jogando praga, minha amiga. Estou apenas dizendo a realidade. As coisas têm vida útil. E a vida útil do seu celular já acabou faz tempo. Fora que você vai perceber que o novo vai ser bem mais rápido. Vai ser muito melhor. Você vai conseguir render mais no trabalho e nos seus estudos. Você vai ver, vai até me agradecer depois.

– Está bem. Vou ver esse celular novo e maravilhoso que você está falando. – Disse Mel rindo.

– Ótimo. O que você vai fazer hoje mais tarde? – Perguntou Ana Paula a Mel.

– Depois do trabalho, creio que vou vir direto para a minha casa, por quê? – Respondeu Mel.

– Por que pensei que poderíamos ir hoje ao shopping, darmos uma volta mais tarde, talvez à noite, quando você sair do trabalho, pois é sexta-feira. Você deve sair mais cedo como você mesma disse. Então poderia me encontrar lá na entrada principal do shopping. E talvez pudéssemos ficar por lá mais tempo, poderíamos conversar mais, já que no dia seguinte não iremos trabalhar.

– Verdade. Podemos, sim. Acho que vai me fazer bem, pois tenho precisado me distrair um pouco mais.

– Eu também estou precisando arejar um pouco a minha cabeça e relaxar um pouco. Então podemos nos encontrar lá na porta principal do shopping às dezenove horas, combinado?

– Combinado.

– Ok. Agora preciso ir.  Até mais tarde. – Disse Ana Paula, fechando a porta do carro, ligando o veículo e já abaixando os vidros, pois esse tempo que as duas ficaram conversando já foi o suficiente para que elas se atrasassem para o início de seus expedientes. E como Ana Paula trabalhava em uma escola que ficava no lado oposto onde se situava a empresa onde Mel trabalhava, não era possível dar carona e ajudar a amiga a chegar mais cedo e com maior tranquilidade ao seu trabalho.

Como já era de se esperar, Mel percebeu que já estava atrasada quando levantou o braço, olhou o relógio e viu que já eram sete e meia da manhã, ou seja, faltava apenas meia hora para o início do seu expediente na empresa, então ela teria que correr para chegar a tempo.

– Nossa! Como eu fui me atrasar desse jeito? – Pensou Mel enquanto ia caminhando para o ponto de ônibus que ficava situado no início de sua rua.

Nesse momento, ela tirou a sua bolsa do ombro e abriu o zíper, a fim de pegar o celular e ligar para o seu chefe, sobre o qual diziam que era até uma boa pessoa, mas que não conseguia suportar que os seus funcionários chegassem atrasados. Então ela já estava imaginando que quando ela chegasse ao escritório, ele já estaria esperando por ela com uma cara amarrada, conforme ele faz com todos os funcionários que se atrasam, nem que seja por cinco minutos.

Mas naquele dia parecia que as coisas não estavam indo ao seu favor, pois quando ela pegou o celular e o tirou da bolsa, apertou as teclas e o telefone continuou com a tela apagada, indicando que estaria desligado, o que deixou Mel confusa, pois ela havia deixado ele ligado na tomada, de modo a carregar a sua bateria, durante a noite inteira. E naquele instante, Mel se lembrou do que Ana Paula havia dito sobre a vida útil dos aparelhos eletrônicos. Como tudo na vida tem vida útil, um tempo de funcionamento, os celulares também deveriam ter. Então provavelmente essa seria o momento certo para Mel comprar um telefone novo se ela não quisesse ficar incomunicável.

Quando Mel chegou ao serviço, seu chefe estava de pé próximo à porta. Então levantou o braço, olhou o seu relógio no pulso, e em seguida olhou para ela, dizendo:

– Poderia ter, ao menos, me avisado que se atrasaria, não é mesmo? – Disse ele sem nem mesmo cumprimentá-la.

– Bom dia! Eu tentei te ligar, mas não consegui, pois meu celular descarregou. Na verdade não sei o que aconteceu com ele, pois eu tinha deixado ele na tomada a noite inteira, mas mesmo assim ele não funcionou. – Disse Mel mostrando o celular descarregado para o seu chefe enquanto apertava todas as teclas para mostrar que tudo o que fizesse com o telefone não surtia qualquer efeito.

– Mel, guarde as suas desculpas para você mesma e para os seus coleguinhas, mas para mim você pode falar a verdade. – Disse o chefe dela como se ela estivesse mentindo para ele, o que a deixou muito chateada, pois não suportava injustiça.

– Eu estou te falando a verdade. – Disse Mel se defendendo das acusações que seu chefe fazia sobre ela mesma. – Posso te provar que o meu telefone não funcionou e continua sem funcionar. – Disse ela frisando que o celular estava desligado em sua mão.

– Isso não me prova absolutamente nada, pois você pode muito bem ter desligado ele ou retirado a bateria do aparelho para me mostrar, esperando que eu fosse cair nesse joguinho como se eu fosse um idiota, mas eu não sou nenhum otário, muito menos moleque. Então não tente mentir para mim de novo, entendeu? – Disse o seu chefe sendo arrogante como de costume.

– Não menti, mas entendi o que o senhor quis dizer. – Disse Mel, que depois de uma pausa ela perguntou. Eu vou poder trabalhar hoje, ou o senhor vai querer me demitir por causa desse atraso de dez minutos?

– Pode se sentar na sua cadeira e fique o mais tempo possível no seu posto fazendo o seu trabalho. – Disse o chefe mostrando para ela uma expressão facial que tinha o semblante bastante zangado.

Então Mel fez o que o seu chefe havia ordenado. Ela se sentou na sua cadeira, pegou a sua bolsa e retirou de dentro dela o celular, bem como o seu carregador de modo a tentar ligar o telefone, pois ela precisava falar com as pessoas, precisava avisar a sua amiga Ana Paula sobre o momento e a hora em que estivesse saindo do trabalho, de modo a encontrá-la na porta do shopping, pois não poderia dar sorte ao azar de terem um desencontro devido à falta de comunicação. E por isso, fazer Ana Paula pensar que Mel poderia ter desistido do passeio, devido ao seu silêncio, ao longo do dia, causado pelo celular descarregado.

Então quando Mel tentou conectar o celular na tomada a fim de carregar a sua bateria, ele não ligava, parecia ter enguiçado de vez, o que a deixou nervosa.

O dia passou e como Mel já tinha imaginado, ficou na empresa de frente para o seu computador enquanto o seu chefe passou o dia olhando-a de esguelha, desconfiando de que ela tinha mentido para ele no momento em que ela chegou atrasada. Além disso, ele se aproveitava da situação, tratando-a com bastante grosseria ao longo do dia, com o objetivo de informá-la sobre a sua falha devido ao atraso, mas Mel não deixou se abater com esse jeito rude do qual seu chefe entendia muito bem, pois ela tentou avisá-lo, mas foi traída pelo próprio telefone que não funcionou na hora em que ela mais precisava.

Quando finalmente o relógio soou às dezessete horas, Mel pensou se poderia ir embora no mesmo horário que os demais funcionários, ou se deveria esperar mais para compensar os dez minutos que havia chegado atrasada. Então, a fim de evitar ainda mais problemas e não ser vista como uma vilã da empresa, Mel resolveu ficar dez minutos a mais. E passou esse tempo todo trabalhando. Quando ela olhou no relógio, já eram dezessete horas e vinte minutos. Havia passado mais tempo do que ela gostaria.

Então finalmente ela desligou o seu computador, guardou as suas coisas na bolsa, assinou a folha de ponto referente àquele dia e saiu do escritório, aliviada pelo dia seguinte ser sábado e não precisar ir trabalhar e ver a cara do seu chefe mal-humorado novamente.

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