Capítulo 2

Mel, por mais que não tenha conseguido falar com a sua amiga Ana Paula pelo telefone, pois ele havia descarregado e não queria ligar novamente, de jeito nenhum, desde cedo. Então ela tentou a sorte e foi se encontrar com a amiga, como elas haviam combinado quando se encontraram pela manhã em frente ao portão de suas casas. Chegando ao shopping, Mel ficou de pé em frente à entrada principal, e permaneceu lá esperando a sua amiga chegar.

Quando Ana Paula chegou, deu um forte abraço em Mel e perguntou a ela:

– Onde você estava? Tentei falar com você ao longo do dia, mas não consegui. Aconteceu alguma coisa com você ou com o seu celular?

– Aconteceu de tudo hoje. Parece até que você estava tendo uma premonição quando falou de manhã sobre o meu telefone.

– O que houve? – Perguntou Ana Paula sorrindo.

– Aconteceram diversas coisas. Mas vamos entrar logo no shopping. Enquanto a gente caminha, procurando a loja que você falou, eu vou te contando tudo com calma.

– Ai, você já está ansiosa de novo como sempre. – Constatou Ana Paula, sorrindo docemente para Mel.

– Verdade. Acho que eu não tenho jeito. Sou assim e sempre serei. – Disse Mel rindo.

– Mas me conta como foi o seu dia? O que aconteceu, afinal? – Perguntou Ana Paula, enquanto elas caminhavam lado a lado pelos corredores iluminados do shopping.

– Então, só durante aquele tempo em que ficamos conversando de manhã, já foi o suficiente para eu me atrasar por apenas dez minutos. Ou seja, eu sempre chego alguns minutos adiantados no trabalho e meu chefe nunca fala nada, nem ao menos um elogio pela minha pontualidade, mas hoje, excepcionalmente hoje, em que cheguei atrasada por apenas dez minutos, ele me olhou de cara feia praticamente o dia inteiro e ainda fez vários comentários ridículos a meu respeito quando cheguei. Como se eu tivesse cometido uma falta gravíssima.

– Mas o que ele falou?

– Ele insinuou que eu menti para ele. Que eu deveria ter avisado sobre o meu atraso, que eu deveria ter guardado as minhas desculpinhas para os meus colegas, e que para ele eu deveria falar sempre a verdade. Mas eu tentei avisar, juro que eu tentei, mas não consegui devido ao meu telefone.

– E por que você não conseguiu avisar? O que houve com o celular? – Perguntou Ana Paula curiosa.

– Por que o meu bendito telefone descarregou enquanto estava dentro da minha bolsa, na hora em que eu estava indo para o trabalho. E quando fui pegá-lo para ligar para o meu chefe, o celular nem acendia a tela, não acontecia nada. Parecia que a bateria enguiçou de vez. Até agora eu não consegui ligá-lo. – Contou ela andando ao lado da amiga e olhando para todas as lojas procurando alguma que vendesse aparelhos telefônicos.

– Deve ter acabado a vida útil do aparelho. – Disse Ana Paula rindo.

– Você fica rindo dos perrengues que eu passo não é mesmo? Queria ver se fosse você a passar esse sufoco no meu lugar.

– Ai, amiga, me desculpe, mas eu tinha te avisado sobre o seu telefone. Ele é antigo. Uma hora ele ia dar problema. Se você tivesse me dado ouvidos, isso não teria acontecido. – Concluiu Ana Paula.

– Eu sei que você falou, mas eu realmente não tinha dinheiro para comprar outro. E os celulares hoje em dia são muito caros.

– Pode parcelar em diversas vezes, eu posso te emprestar o meu cartão de crédito, se você quiser. Pois ter um aparelho celular hoje em dia é de suma importância.

– Eu sei que ter um celular hoje em dia é importante, na verdade imprescindível. Você tem razão. E eu te agradeço por estar se empenhando em tentar me ajudar, mas eu tenho um cartão de crédito aqui também. Vou tentar usá-lo. – Disse Mel.

– Então está bem.

Enquanto elas caminhavam pelos corredores bem iluminados e movimentados em um dos shoppings mais badalados da cidade do Rio de Janeiro, Ana Paula encontrou uma loja que era especializada em vender aparelhos celulares, entretanto, a loja vendia de diversas aparelhos de marcas e modelos, desde os mais baratos até os mais caros. E essa loja era dividida em setores de acordo com as marcas oferecidas. Os vendedores tinham disponíveis em suas vitrines principais da porta da loja, inúmeros celulares diferentes, mas focados nos celulares das marcas mais famosas e consequentemente os mais caros. Mas no interior da loja poderiam ser encontrados aparelhos com diversas opções de preços, o que agradou bastante a Mel, mas provavelmente Ana Paula não deixaria que a amiga comprasse qualquer telefone. Antes que Mel comprasse qualquer coisa, ela se certificaria de que a amiga estaria fazendo uma compra consciente e que esta fosse bem sucedida, pois muitas das vezes, o barato sai caro. E Mel estava precisando de um celular que a atendesse em todas as suas necessidades.

– Vamos entrar nessa loja, o que acha? – Perguntou Mel, parada na frente da loja, para Ana Paula.

– Vamos. Mas não se apresse em comprar nada. Vamos olhar tudo primeiro.

– Eu sei. – Disse Mel rindo do comentário da amiga.

No momento em que elas entraram na loja, veio um vendedor e disse: – Olá, boa noite! Sou o vendedor Victor. Posso ajudar?

E no mesmo instante, Ana Paula respondeu, para que Mel não tivesse a oportunidade de pedir um celular sem recursos: – Boa noite, Victor. Creio que você possa nos ajudar, sim. Estamos procurando um celular que tenha uma câmera boa, que faça fotos com uma qualidade legal, tenha um processador relativamente rápido, mas que não seja muito caro. – Disse Ana Paula, que estava tão empolgada, que parecia estar comprando um telefone para ela mesma.

– Tem preferência por marca? – Perguntou Victor, um dos vendedores da loja.

– Não, mas preferimos as que sejam mais conhecidas. – Respondeu Ana Paula.

– Entendi. Podem me acompanhar, por favor? Pois vou direcionar vocês duas ao profissional responsável pelo setor de aparelhos celulares das melhores marcas que temos disponíveis hoje no mercado. – Disse o vendedor Victor.

Então ele foi caminhando à frente das duas, pelos corredores da loja, a qual tinha várias vitrines para todos os lados, as quais estavam cheias de celulares. Um mais bonito do que o outro. Quando ele se aproximou de outro vendedor, disse a ele: – Poderia atender essas duas mulheres, por favor? Elas querem um celular de uma marca um pouco mais conhecida, que tenha um processador veloz e uma câmera que faça fotos com uma boa qualidade.

– Tudo bem. Vou mostrar a elas as nossas melhores ofertas. – Respondeu o outro vendedor, que se chamava Carlos.

– Podem ir com ele. Boas compras. – Disse Victor, o primeiro vendedor, o qual é muito simpático.

Então Carlos mostrou diversos modelos de celulares, e deixou que Mel mexesse nos telefones que ela mais se interessou, de modo que ela mesma conferisse a qualidade dos produtos que eles estavam oferecendo.

Depois de Mel e Ana Paula terem conhecido vários modelos de celulares e ouvido todas as vantagens de cada um deles, finalmente Mel se decidiu e comprou um modelo que não era muito caro, mas ao mesmo tempo oferecia tudo o que ela precisava que um telefone celular tivesse, para que ela pudesse interagir melhor com as pessoas através de mensagens e outras coisas.

Então Ana Paula disse: – Agora que já comprou o celular que você tanto precisava, podemos comer? Pois estou morrendo de fome.

– Podemos, sim. Vamos para a praça de alimentação do shopping, pois lá costuma ter inúmeras opções maravilhosas.

– Você vai querer jantar ou fazer apenas um lanche? – Perguntou Ana Paula.

– Pretendo fazer um lanche, apenas. E você?

– Não sei. Vou ver as opções. Tem um tempinho que não venho aqui. Pelo que posso perceber, tem muitas lojas novas e pode ter opções melhores do que as que tinham anteriormente, quando eu frequentava esse lugar de forma mais assídua.

– Verdade. Ouvi dizer que mudou muita coisa por aqui. Estou percebendo mesmo que o shopping está melhor. Não só na questão das lojas, mas no espaço, iluminação, tudo. – Disse Mel olhando ao redor de si mesma enquanto andava pelos corredores do shopping.

– Sim, fizeram uma obra nele. Você não soube? – Respondeu Ana Paula.

– Soube sim. Ouvi dizer, mas isso já faz um tempo, não é mesmo?

– Sim, acho que foi no ano passado. Tem alguns meses já.

– Imaginei. Pois faz algum tempo que eu não venho aqui. – Depois de uma pausa, Mel perguntou: – Podemos comer nesse estabelecimento mesmo? Amo milk-shake e faz muito tempo que não bebo um. Estou com saudades do sabor do chocolate maravilhoso deles.

– Verdade. E faz tempo também que não saímos juntas. Estamos sempre na correria. – Disse Ana Paula.

– Exatamante. Fica difícil manter uma vida social quando a profissional está sempre nos sugando completamente. – Reclamou Mel.

– Sim, mas quanto à sua pergunta sobre o milk-shake, podemos lanchar aqui sim. Vou pedir algo para mim também, mas não um milk-shake. Acho que eu vou pedir um sanduíche acompanhado de um refrigerante. Se pedirmos tudo aqui, o lanche fica pronto mais rápido. E de repente fique até mais em conta. – Comentou Ana Paula, entrando na fila do caixa do estabelecimento junto com Mel para pedirem e pagarem pelos seus lanches.

Depois que elas pagaram, tiveram que aguardar alguns minutos até que os seus lanches ficassem prontos. Mas felizmente o estabelecimento estava vazio, e os lanches ficaram prontos em cerca de, apenas, vinte minutos. Nesse momento, Ana Paula pegou o seu sanduíche com refrigerante que ela havia pedido, e Mel pegou o seu milk-shake. Nesse instante, Ana Paula respondeu ao comentário feito anteriormente por Mel:

– Você tinha falado sobre a nossa vida ser sempre corrida, mas é verdade. Eu também estou sempre na sem tempo para fazer as cosias que eu gosto, mas não podemos nos deixar de lado. Temos que nos divertir. Esfriar a cabeça de vez em quando, sairmos, passearmos. Faz bem à saúde. – Disse Ana Paula pegando a bandeja com o seu lanche e levando para uma das mesas que estavam disponíveis na praça de alimentação do shopping.

Quando elas se sentaram nas cadeiras, colocaram as suas bolsas e a sacola que guardava o celular novo em uma cadeira que estava vazia, ao lado. Nesse momento, Mel disse: – Sim, temos que nos distrair mesmo, mas como é possível conseguir tempo para se distrair em meio a toda essa correria? Eu sempre te vejo fazendo tudo com pressa. Tanto quanto eu. – Disse Mel segurando o canudo de papel do milk-shake e levando-o até a boca.

– Ah, amiga! Temos que nos organizar. Encontrar um tempinho livre, nem que seja de cinco minutos para ler um livro, ouvir uma boa música, fazer um alongamento, um exercício mesmo que seja rápido. Temos que pensar na nossa saúde mental também. Nos tempos de hoje, tem muita gente desenvolvendo diversos tipos de doenças por não se atentarem à própria saúde. Ficam apenas pensando em trabalhar, ganhar dinheiro, serem promovidos no trabalho, melhorarem de vida de várias formas diferentes, mas pensam com maior frequência, em alavancar a vida financeira, como se somente isso importasse. A nossa saúde, que é o que mais importa, fica esquecida por muitas pessoas. Aí quando vai descobrir uma doença, esta já pode estar relativamente desenvolvida e, por isso, a pessoa passa a viver as consequências de ser tarde demais.

– Você tem razão. Preciso olhar mais para mim mesma. Cuidar mais de mim.

– Sim, precisa. Mas eu também preciso. Todos nós precisamos de um tempo para descanso.

– Exato.

Depois delas terminarem de comer os seus lanches, Ana Paula perguntou:

– Mas me conta, Mel, você está namorando? Vamos falar de coisas boas.

– Eu? Namorando? Surtou, Ana? Você acha que eu tenho tempo para relacionamentos? Eu só vivo trabalhando direto. Não dá nem tempo de aparecer alguém para mim. – Respondeu se sentindo entristecida.

– Ah, que isso, amiga! – Não pode. Comece a pensar diferente. Pensar mais em você. Temos que sair mais vezes juntas para você conhecer outras pessoas interessantes.

– Sim, temos que sair mais mesmo. Mas e você? Está namorando? O que tem feito da vida?

– Ah, eu tenho um crush, sim.

– Ah! Não acredito! Sério? – Perguntou Mel, rindo da palavra usada pela amiga.

– O que foi? É, sim. Estou falando sério. A gente sempre conversa, saímos juntos de vez em quando. Ele tem me feito bem.

– Ah, legal. Fico feliz por você. – Disse Mel.

– Obrigada.

– Mas como vocês se conheceram?

– Foi através de um aplicativo.

– Aplicativo? Que aplicativo?

– Aplicativo de relacionamento. Existem alguns que ajudam bastante. Na verdade eu nem gostava muito de usar essas coisas, eu tinha um pouco de preconceito, mas resolvi deixar esses pensamentos retrógrados de lado e resolvi dar uma chance a esses aplicativos. E acabei gostando, porque conheci esse cara que é bem legal e bonito. – Disse Ana Paula, sorrindo e pegando o celular para mostrar uma foto do seu crush para Mel.

– O rapaz é bonito. Qual o nome dele?

– André. – Respondeu Ana Paula.

– Ana, se eu te falar que eu nunca tinha usado essas coisas, que na verdade eu nem conhecia direito esses aplicativos, você promete que não vai rir de mim? – Perguntou mel, sorrindo.

– Prometo. – Respondeu Ana Paula, sorrindo de volta. – Até porque muitas pessoas não conhecem esses aplicativos. Ou não usam porque não gostam mesmo. Mas é legal. Claro, tem gente que dá mais sorte do que outras de encontrar alguém legal por lá. Mas que bom que eu encontrei. E você também pode encontrar. É só dar uma chance aos aplicativos de namoro. – Disse Ana Paula rindo.

– Sinceramente, não sei se eu tenho jeito para isso, não. – Disse Mel passando as mãos pelo rosto, como ela tinha mania de fazer.

– Como assim não tem jeito para isso? O que você acha de tentar?

– Ah, não sei. Eu sempre tirei tanto sarro das pessoas que precisam entrar em um aplicativo para arrumar um namorado ou uma namorada. Então não sei se eu entraria nisso, não. – Disse Mel rindo.

– Mas nunca é tarde para mudar de ideia.

– Está bem. Vou pensar no seu caso e qualquer coisa eu falo com você, e você me ajuda a instalar e a fazer sei lá mais o que for necessário.

– Tudo bem. Eu te ajudo. Pode contar comigo. Mas eu garanto que você entrando nesses aplicativos, vai ser bom, vai te trazer mais momentos de distração, pois vai conversar com pessoas diferentes, vai conhecer gente nova. Vai ser bom, você vai ver. Vai me agradecer depois.

– Tudo bem. Vou pensar com carinho. – Disse Mel sorrindo para Ana, agradecida por ela estar tentando ajudar.

Depois das duas ficarem um tempo em silêncio, Ana Paula viu que algumas lojas estavam abaixando as suas portas e apagando as luzes. Então ela levantou o braço, olhou o relógio em seu pulso e constatou que a hora já estava avançada. Nesse momento, disse: – Mel, vamos embora? Está tarde.

– Como assim está tarde? Que horas são? – Perguntou Mel curiosa.

– Já são quase vinte e duas horas. O shopping está fechando. Olhe ao nosso redor as lojas, as lanchonetes e os restaurantes fechando!

– Nossa! É mesmo! Eu nem tinha reparado. Já estão abaixando as portas. Daqui a pouco eles vão nos expulsar daqui. – Disse Mel rindo e olhando em volta de si mesma o comportamento dos vendedores das outras lojas, indicando o final do expediente.

– Você veio de ônibus? Quer uma carona? Afinal, moramos no mesmo lugar. – Perguntou Ana Paula.

– Vim sim. Aceito a sua carona. Nada como ir de carro para casa em uma sexta-feira à noite.

– Verdade. Por mais que carro dê um gasto de dinheiro a mais, ele permite um conforto muito maior e melhor. Eu não consigo sair sem o meu carro, não. – Disse Ana Paula se levantando de sua cadeira. – Falando em gastos devido ao carro, onde fica a máquina para pagar o estacionamento?

– Não sei. Depois da obra que fizeram no shopping, muitas coisas mudaram de lugar e eu não sei mais onde fica quase nada por aqui.

– Achei! Tem uma placa ali informando que a máquina fica ao final do corredor principal, bem perto do acesso ao estacionamento.

– É, faz sentido. – Concordou Mel, sorrindo.

– Então vamos lá pagar e em seguida, irmos embora para casa. Gostou do seu celular novo?

– Gostei. Parece ser bom. Só de não travar o tempo todo e desligar de repente já vou achar ótimo. – Respondeu Mel e ambas riram juntas enquanto caminhavam em direção à máquina a fim de pagar o estacionamento.

– Ficou muito caro o valor do estacionamento? Me diz o valor que eu te ajudo a pagar. – Perguntou Mel, pegando a carteira dentro de sua bolsa a fim de ajudar a amiga com metade do valor do estacionamento.

– Não, amiga que isso! Não precisa. Não ficou caro, não. Na verdade até me surpreendi com o valor. Pela primeira vez, gastei menos de vinte reais passando algumas horas com o carro no estacionamento do shopping. Deve ter alguma promoção que eu não estou sabendo, pois eu sempre gasto uma fortuna de estacionamento quando venho aqui com a minha família.

– Ficou barato mesmo. Deve ser porque você talvez você passe mais tempo aqui quando vem com os seus pais e com a sua filha.

– Sim! Mas de vez em quando também a vida costuma nos preparar surpresas. – Disse Ana Paula, rindo.

– Que bom que nesse caso é uma surpresa boa. – Complementou Mel. E ambas riram juntas.

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