Capítulo 8

▪︎ Capítulo 8 ▪︎

Tudo esta indo bem, as mesas estão todas ocupadas, é exatamente nove da noite e Julia dorme no escritório no quarto andar depois de correr por aí, fiquei de acorda-la, mas acho que a festa de aniversário terá que ficar pra amanhã pelo jeito que as coisas vão agora.

–Chloe, temos um problema. -o senhor Pedro aparece nervoso na cozinha, saio de trás do grande balcão passando a massa de bolo para um dos meninos terminarem de bater e tiro o avental, sim estou ajudando na cozinha mesmo que não precise, mas não consigo ficar sem fazer nada.

Esse vai ser o primeiro problema da noite, arrumo meu vestido verde no corpo, tiro a touca saindo da cozinha e soltando os cabelos do coque, parece que meus saltos b**em no chão no ritmo do coração com o nervosismo que me b**e agora.

–O que ouve? -pergunto andando ao lado do senhor Pedro que me parece um pouco pálido.

–Um casal chegou e foi levado para uma mesa, nosso garçom foi entregar as bebidas da mesa de trás quando passou atrás da moça ela se levantou fazendo ele derrubar a bebida toda nela. Ela esta fazendo uma show e exigiu falar com o dono do estabelecimento. -respiro fundo antes de entrar no restaurante e ver a mulher se limpando com um guardanapo, respiro fundo ao ver sua figura que parece com aquelas típicas mulheres ricas e esnobes, a grande maioria das pessoas olham para ela com desgosto, apesar de muito bonita está fazendo cena.

–Olá, gostariam de falar comigo? -digo atrás do casal, a mulher me olha com fúria e logo revira os olhos.

–Esse incompetente derramou suco em mim. -diz apontando para Robério, ele parece envergonhado e nervoso pelo erro.

–Robério, poderia limpar essa bagunça por favor. Todos receberam uma sobremesa gratuita pelo transtorno causado. -viro falando com as outras pessoas que prestavam atenção ao que acontecia, olho para a moça, nem tinha visto o homem atrás dela. –Poderiam me acompanhar ao meu escritório?

Pergunto indicando o elevador, ela não diz nada e olha para o homem que limpa as mãos e se levanta, os dois apenas me seguem em meio a todos, quando madeira fazer reformas implantamos dois elevadores, o social e o de cargas, além de ter escadas para emergências, aperto o botão esperando as portas abrirem e quando abre entro os dois me seguem e aperto para o último andar.

Fizemos uma reforma para assim conseguir colocar um depósito, e uma parte administrativa maior, para contabilidade, atendimento de entrega e presidência que fica no quarto andar, o segundo é onde guardamos as coisas como caixotes e outras coisas úteis, não achei que fosse dar certo mas deu.

Ao chegar no quarto andar as portas se abrem e do espaço para eles saírem primeiro, caminho até a porta da minha sala onde Julia dorme, ela está no sofá no canto da sala, acendo as luzes centrais deixando as dos cantos apagadas, me sento em minha mesa, finalmente encarando o casal á minha frente, eles não se sentam apenas me encaram, o homem um pouco atrás da mulher mexendo em seu celular.

–Sinto muito pelo constrangimento de hoje, o jantar sairá de graça. -digo anotando em meu bloco de notas.

–Exijo que aquele moleque seja demitido. -diz a mulher de voz enjoada e nariz em pé, respiro fundo para não ser rude, olho melhor para ela realmente se parece uma menina mimada, usa um vestido brilhante amarelo, um salto da Louboutin preto e cheia de joias, ela é linda, uma morena escultural como dizem os brasileiros, mas não tem humildade. Alta, magra, com curvas no lugar certo, rosto bonito, olhos verdes esmeraldas, os cabelos levemente cacheados e de cor caramelo, tem tudo para ser bem vista mas não há um traço de modéstia nela.

–Desculpe-me senhora, mas o erro não foi do meu funcionário e sim da senhora por se levantar de uma vez. -digo sem olha-la, aperto algumas teclas do computador para acessar as imagens de câmera de segurança.

–Você sabe quem eu sou? -ela aumenta o tom de voz, pelo visto não vou conseguir lidar com ela apenas falando.

–É uma cliente como qualquer outro, peço para que não se altere. -digo tranquila ainda tentando levar as coisas devagar sem me exaltar.

–Vai deixar ela falar assim comigo? Ela esta me desrespeitando. -diz virada para o homem que suspira.

–Mamãe? -escuto e me lembro de Julia que dormia na sala, me levanto indo até ela, faz algumas semanas que ela me chama de mamãe quando acorda, não me importo com isso, na verdade acho fofo.

–Oi meu amor, desculpe te acordar. -digo acariciando seus cabelos ao me aproximar dela e me abaixar na sua frente.

–Exijo que demita aquele moleque sujo ou processo essa espelunca. -diz a moça alterada, me levanto já com raiva, essa daí não sabe mesmo se conter.

–Olha aqui minha senhora, não demitirei ninguém, quer processar sinta-se à-vontade, adorarei ir contra você em um tribunal, naquele lugar tem câmeras em todos os lugares para segurança do pessoas como você, seria apenas uma prova que ele é inocente. -me altero olhando em seu rosto.

–Não precisa se preocupar, Isa não ira fazer nada. Eu mesmo me certificarei sobre esse assunto, sinto muito toda essa bagunça. -o voz do homem me faz prender a respiração, quando ergo o olhar para ele desviando da mulher com olhar de ódio sobre mim me deparo com Christopher Hutton me olhando com um sorriso nos lábios, pela primeira vez quero que isso acabe o mais rápido possível.

–Você deveria ficar ao meu lado Christopher. -diz a mulher com voz manhosa. –Afinal você é meu marido.

A palavra marido entra em meus ouvidos como um baque, ela é Isa Monet, sabia que já há tinha visto antes. A mulher mais bonita do momento, envolvida em vários escândalos nas mídias sociais e no mundo da moda.

–Pare de cena Isa, viemos aqui porque você queria que eu não pedisse o divórcio. -diz Christopher se irritando enquanto passa a mão pelos cabelos os bagunçando.

–Eu não vou assinar nenhum divórcio. -diz a mulher saindo da sala batendo a porta com se o lugar fosse seu.

–Sinto muito mesmo, como está essa pequena? -questiona olhando Julia que agora já esta desperta e sentada no sofá, me aproximo da mesma me sentando ao seu lado e suspirando.

–Muito bem, ainda correndo muito. -respondo seria. Engulo seco quando Julia se levanta indo em direção a ele que se agacha para ficar da altura dela, minha cara vai no chão ao vê-la abraça-lo com tanta força.

Julia não é muito receptiva com estranhos, para que pudesse confiar em mim e na família de dona Maria demorou pelo menos dois meses, mas agora ela apenas o abraçou, será que ela reconheceu o pai? Não é possível, quando ela foi para o colégio interno ela tinha dois anos não deve ter memórias dele.

–Não fica triste não, as pessoas são assim. -ela diz do seu jeito doce, parece querer confortar o homem.

–Não estou triste princesa, somente cansado. -ele responde encarando ela, meu coração parece que vai sair pela boca, os dois ficam se encarando e não sei o que fazer nesse momento.

–Julia, vá até dona Maria, peça para ela trazer um pedaço do bolo mágico com suco de laranja para nós. -ela me olha e se afasta dele em direção a porta, respiro fundo me levantando e indo atrás dela fechando a porta suspirando baixo.

–Ela é uma garotinha muito linda. -diz se sentando quando o ofereço o lugar no sofá com a mão, estou um pouco mais calma agora.

–É sim. -respondo vagamente ainda encarando ele que me encara de volta, me sento na poltrona de frente para ele, minhas pernas ficaram um pouco fracas.

–Me lembra ao passado ficar olhando para ela, quantos anos ela tem? -pergunta e olho para a janela que há atrás da mesa onde trabalho, devo responder ou não devo responder? Eis a questão.

–Julia é uma menina especial, faz quatro anos hoje, vamos fazer uma festinha logo apos encerar o expediente. -digo sorrindo, minha pequena estava radiante com isso, não há porque não falar isso para ele.

–Tive uma filha que se chamava Julia e também faria quatro anos hoje, mas ela morreu em um incêndio a um ano em um colégio interno que cuida de crianças e ensinam balé. -ele parece triste, seu olhar se torna vazio, balança a cabeça como se quisesse afastar pensamentos ruins.

–Como ela morreu? -pergunto, mesmo já sabendo a resposta e que a filha dele não morreu apenas foi levada para longe.

–Em um incêndio. -diz sorrindo fraco. –Ela era apenas um bebê, não sei porque deixei que a colocassem lá, talvez fosse medo de não saber cuidar dela ou insegurança pela mãe dela não estar mais aqui.

–Ela devia ser muito linda. -sorrio e a porta é aberta abruptamente, me viro de lado vendo dona Maria passa com Julia pela porta, ela empurra um carrinho com uma jarra de suco e dois pratos com bolo, além da mesma só tirada dois pedaços tampada em uma redoma de vidro. –Porquê não prova nossa torna mágica, ela se chama Doce menina, dizem que afasta qualquer tristeza.

Ele sorri pegando o bolo que dona Maria lhe entrega, a mesma serve o suco e depois sai piscando um olho para mim, Julia se senta ao lado do pai, eles nem sabem que são pai e filha, isso faz meu coração doer e minha consciência pesar.

–Isso é muito bom. Caramba. -diz enquanto come e dou risada, sei disso. Essa receita é uma das minhas preferidas.

–Receita de família. -digo entregando um pedaço pequeno para Julia. Ela ama doces, sempre experimenta todos os que são novos, nossa provedora oficial de opiniões sobre os doces.

–Já que estou aqui, o que acha de uma parceria, mesmo que essa não seja muito minha área. Acho que será ótimo para nós dois. -ele parece realmente empolgado após comer o pedaço do bolo.

–Então trataremos de negócios? -questiono e ele confirma. –Deixemos isso para amanhã ou depois, hoje é uma noite especial para minha Jujubinha e pra mim.

–Amanhã pelas nove pode ser? -confirmo e ele continua comendo o bolo e conversando com Julia. Observo os dois, são tão parecidos mas também tão diferentes, o mesmo sorriso, olhos da mesma cor, até no jeito de comer o doce é igual, isso está me dando calafrios.

Acho que não conseguirei mentir se ele continuar a aparecer assim do nada, ainda mais com essa proposta de negócios que ele está sugerindo. Suspiro comendo um pedaço do bolo, está começado a ficar difícil, não tem nem seis meses que ela esta comigo e já temos esses problemas, aquela mulher não vai gostar nada disso, vou começar a guardar o dinheiro para pagar por quebra de contrato logo.

Quanto antes me livrar desse peso em minhas costas melhor vai ser para mim, isso está me matando aos poucos, sem eu perceber estou começando a me afundar em culpa por saber onde a filha dele estar e não poder dizer nada, essa coisa vai acabar virando uma bola que vai me fazer matando.

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