“Sua vida é sempre a mesma dia após dia.
Tudo o que faz, faz da mesma maneira, dia após dia.Eu posso lhe mostrar um novo mundo, uma luz diferente.Guarde seu corpo, seu coração, entregue sua alma para a noite e venha para mim.Quando estiver sozinha, quando precisar de algo novo, venha para mim, quando estiver cansada.Porque?Porque tenho algo especial para você.Só para você.”– Os noturnos por Flávia Muniz –▪︎ Capítulo 1 ▪︎–Chloe, pode ir agora querida. Aqui está o dinheiro por ter cuidado da farmácia está noite. -o senhor Gomes me entrega um bolinho de dinheiro, sorrio para ele mesmo com sono e cansada. Na verdade estou bem acabada hoje foi uma noite bem movimentada por alguma razão tinham muitas pessoas pela cidade.Moro nessa cidade desde meu nascimento e nunca vi tanto movimento de pessoas de fora como vi ontem. Não que aqui seja uma cidade pequena, mas não podemos dizer que Wyoming é grande como outros lugares por aí. Deve ser por causa da temporada de esqui, mas mesmo nessa época as pessoas preferem lugares mais conhecidos do que um lugar como Wyoming.–Sabe que quando precisar, pode chamar. -ele faz que sim, tiro o colete colocando no lugar e pegando minha bolsa e casaco por causa do tempo frio que se aproxima, os ventos sopram cada vez mais gelados nesse horário. Além de que, por aqui sempre está frio e ventando.Agora não passa das cinco e trinta da manhã, as cafeterias começam a abrir, os pássaros voam no céu azulado ainda meio escuro, longe se vê os primeiros raios de sol e o vento ruge em meus ouvidos, mais um dia que estou aqui pai. Espero que possa estar bem onde quer que esteja e que também esteja com a mamãe.Respiro fundo e começo a andar, esse é um dos melhores horários do dia pra mim, o ar fresco batendo em meu rosto, as ruas quase que desertas, posso ir devagar e calma para casa. Pego as chaves da minha velha picape azul, suspiro antes de andar até a mesma, faz anos que dirijo essa velhinha e agora ela está começando a dar problema mas fazer o que, é o que tenho, abro a porta que faz um barulho alto e dou uma risada baixa antes de entrar na mesma e começar a me preparar para dirigir de volta para casa, quero deitar e descansar por pelo menos quatro horas.Na última semana o senhor Gomes tem me pagado por hora para cuidar da farmácia dele durante a noite, mas acho que não terei esse luxo na próxima semana já que o filho dele está vindo para a cidade para ajudar, então tenho que guardar meu dinheiro e pagar as contas atrasadas, além de conseguir comprar minha comida.Entro na minha picape e jogo minha bolsa no banco de trás, ligo o carro saindo do estacionamento da farmácia, vou demorar uns bons minutos ate em casa já que moro em um local mais afastado da área central da cidade. Tenho que passar no posto e pedir ao John para completar o tanque, depois que troquei o motor não estava gastando tanto com gasolina, mas era sempre bom precaver, porque não sei quando terei dinheiro para isso de novo.Paro em frente ao posto e não vejo o John, peço para o outro cara novo encher o tanque e vou até a lojinha de conveniência atrás de açúcar, quero fazer alguns doces e pães para vender ainda nesse fim de semana. Isso mesmo açúcar, em uma lojinha de posto, por incrível que pareça nessas lojinhas da cidade vende de tudo, pego dois pacotes grandes indo ate o caixa pagando e seguindo ate a picape, pago o valor do combustível e saio pela rodovia rumo ao meu lar, estou com tanto sono.Minha casa é bem afastada da cidade, perto de um grande Fazenda Resort para família, uns bons quilômetros para lá na rodovia, primeiro foi uma chácara dos meus avós, depois virou uma propriedade com um imenso quintal que foi dada aos meus pais, agora é minha casa com um quintal um pouco grande na frente, herdei o lugar depois da morte dos meus pais no ano passado.O sol já nasce atrás de mim quando entro na rodovia, a imagem linda vista do retrovisor me faz abrir meu melhor sorriso, mesmo em tempos difíceis o bom é sempre manter um sorriso, isso foi o que minha avó me ensinou, até hoje sigo suas palavras firme e forte.Já estou no meio do caminho quando algo ao lado da estrada me chama atenção, posso até mesmo estar enganada, esfrego os olhos com a mão por um tempo, mas aquilo não é sonho ou delírio e na hora que me dou conta começo a me ajeitar para estacionar.Paro o carro no acostamento e desço, vejo o grande baú preto desbotado que avistei de longe, mas o que me deixou encabulada foi ver uma garotinha de cabelos loiros vestida em roupas finas mesmo nesse tempo frio, ela dorme sob o baú segurando um ursinho de pelúcia branco escrito mamãe e com os pés em uma sapatilha gasta, seu rosto está pálido e mesmo com minha proximidade ela não parece despertar.Não há ninguém na rodovia, ela parece sozinha, não há condições de leva-la comigo, mas também não posso apenas deixa-la aqui para morrer congelada. Suspiro frustrada e a pego no colo, leve como uma pluma, caminho com ela em meus braços a levando até a picape e a colocando no banco de trás, seu sono parece profundo, talvez tenha sido dopada e deixada aqui, pego o grande baú preto colocando de um jeito que possa impedi-la de cair do banco caso eu acabe dando uma freada brusca.Vamos nessa, o que mais pode dar errado? Além de ser acusada de sequestro, nada mais pode dar errado. Certo. Entro na picape ligando e seguindo caminho pra casa, hoje a tarde vou ao delegado e entrego a menina, ela deve ter sido abandonada ou fugido sei lá, mas não há nada que possa fazer sobre isso, vou apenas levar ela até a polícia e depois voltar.Como uma garota pequena como ela iria fugir sua anta? Penso comigo mesma e começo a rir sozinha, não sei o motivo mas minha consciência grita e me dou conta dos fatos, ela não deve ter mais do que quatro anos, com toda certeza foi abandonada na beira da estrada contando com a própria sorte. Vejo o grande portão de madeira, que mantenho quase sempre aberto para não ficar descendo do carro para abrir toda vez que chegou ou saio de casa. Já entro e me dirijo ao lugar que sempre deixo a picape protegida do sol, de baixo de uma árvore que tem um balanço de pneu em baixo.Desligo a picape saindo para pegar a menina adormecida, entro em casa a colocando em meu quarto e voltando ao carro para pegar todas as coisas, um baú, minha bolsa e os pacotes de açúcar pata os doces e pães. Coloco o baú e minha mochila na sala e vou direto para a cozinha prendendo meus cabelos em um coque colocando uma touca, tenho que começar a fazer as geleias de maçã ainda hoje porque quero descansar mais tarde e as maçãs podem acabar estragando até amanhã.Há três motivos para fazer geleias de maçã agora, mesmo estando cansada pela noite acordada e também por ter uma criança desconhecida em minha casa eu preciso fazer isso de qualquer maneira.Primeira, tudo já estava quase tudo pronto, até mesmo as maçãs já estavam colhidas e em banho de água quente. Segundo, preciso vende-las para conseguir grana e pagar as dívidas médicas e de enterro dos meus pais. E terceira, isso me ajudará a sobreviver daqui algumas semanas quando eu já não tiver empregada na farmácia e a casa estiver sem luz.Esse com certeza será um dos anos mais rigorosos pra mim, sem dinheiro para comprar comida, sem meus pais, tendo que proteger minhas plantas e também tendo que pagar as muitas dívidas que ficaram após meus pais morrerem ao mesmo tempo ano passado. Mas seguindo em frente tudo se resolverá, basta que eu tenha um pouco de esperança. Isso era o que minha mãe sempre me dizia, e o que vovó sempre dizia para ela, somente preciso me manter firme e com um sorriso no rosto e conseguirei vencer essa tempestade.•°•• ♤ ••°•▪︎ Capítulo 2 ▪︎ Já é quase hora do almoço, escuto um leve barulho nas escadas, olho para cima encontrando a garotinha, seus cabelos estão bagunçados, ela passa as mãozinhas nos olhos azuis e finalmente me encara, vejo a dificuldade em descer os degraus da escada e vou ao seu encontro. Essa casa é bem velha, cheia de tábuas soltas no piso, além de insetos e coisas que podem machucá-la, ainda mais que não sei de onde ela saiu então todo cuidado é pouco para ela não se machucar. -Vem cá, eu ajudo você. -digo, vejo sua carinha de medo mas mesmo assim ela deixa que eu a pegue no colo e ande com ela até a sala. -Lembra de como chegou na beira da estrada? Vejo ela balançar a cabeça em negativa, suspiro frustrada em saber sua resposta. Ela não deve falar ou apenas não confia em mim para falar algo, talvez não se lembra de nada antes de acordar por ser pequena. O que vou fazer agora? –Está com fome? Não havia muita coisa no armário, fiz macarrão para nós duas. Gost
▪︎ Capítulo 3▪︎Gosto de chuva, mas hoje não é um dia bom para ter chuva, preciso ir até a delegacia falar com o delegado e entrar em contato com aquele homem sobre sua filha, mas com esse tempo não vou conseguir nem chegar no carro. Dei banho em Julia e o pequeno corpo dela me deixou atordoada, há várias marcas em suas costas e braços, seus pés estão machucados e cheios de calos, mas ela só tem três anos e meio.Como alguém pode fazer mau a uma criança? Praticamente um bebê. Olho sob a bancada os vidros de geleia agora frios, os pego colocando na caixa que levarei para a cidade amanhã. Julia está brincando com seus brinquedos na sala, praticamente cai um dilúvio ao lado de fora, meu coração está apertado por imaginar quanta dor essa criança passou até agora.–Tia, posso te ajudar? -escuto a voz baixa e doce de Julia perto de mim, olho para ela despertando dos meus pensamentos tristonhos e sorrio.–Oh, claro. Venha. -coloco ela sentada sob o balcã
▪︎ Capítulo 4 ▪︎"Uma semana depois"Uma semana cuidando de Julia, não a levei ao delegado por medo do telefonema que recebi, não sei quem são nem o que podem fazer comigo e com a pequena menina. Não sei do que essas pessoas são capazes, apesar de todos ficarem meio encabulados com a aparição repentina dela em minha vida. Mas depois de toda uma história, consegui fazer com que todos esquecessem as questões de sua presença. Claro que foi difícil no começo mas depois de um tempo quem desconfiaria de uma fofura como Julia, ela praticamente virou minha garota propaganda andando por aí vestida com roupas de frutinhas.Respiro fundo olhando pela janela o sol nascendo, hoje vai ser um dos dias de venda movimentado porque o clima está bom, por enquanto as vendas das geleias e pães doces estão indo muito bem, consigo nos manter com a venda deles enquanto pago minhas dívidas, mesmo que devagar está dando certo. Se eu tivesse um forno melhor conseguiria fazer bolos,
▪︎ Capítulo 5 ▪︎ Acordei bem antes de Julia, fiz o café da manhã para nos duas e me sentei no sofá enquanto bebia meu café, olhava no relógio esperando dar o horário de ontem mas o tempo parecia não passar. Minha ansiedade está me deixando nervosa meu rosto está um pouco inchado devido a noite mal dormida, Julia sempre acorda às nove, toma café, banho, então nos arrumamos juntas e quando da doze horas saímos essa vem sendo sua rotina desde que chegou aqui, mas ontem fiz ela dormir um pouco mais tarde, então hoje irá acordar mais tarde e não irá ver aquelas pessoas. Escuto as batidas na porta e respiro fundo me levanta limpando as mãos na calça moletom, agora me sinto nervosa, mesmo que tenha que fazer essa coisa absurda para cuidar de Julia, aceitar dinheiro para ficar com meu anjo não me parece certo mas irei fazer isso pela segurança dela. Irei fazer de tudo para protege-la dessas pessoas a todo custo. Abro a porta dando espaço para os dois passarem, o homem t
▪︎ Capítulo 6 ▪︎ Já faz um mês desde que assinei o contrato, estamos caminhando bem por enquanto, comprei um forno industrial, agora faço bolos e pães, além de outras coisinhas para vender na barraca que montei. Foi então que me perguntaram o porque de não comprar um local e montar uma doceria, fiquei pensando nisso por alguns dias e me decidi.Hoje irei na cidade para ver o local que Jhon me falou para dar uma olhada, irei montar meu negócio de bolos, pães, doces e tortas, tudo que minha mãe sonhou em fazer antes irei conseguir por ela, mas claro se eu gostar do local. –Júlia, vamos querida. -ela aparece com seu vestidinho rosa rodado, seus cabelos estão presos em uma trança lateral embutida, calça uma sapatilha preta e de meia-calça rosa. Tão lindinha, minha princesa. A primeira coisa que fiz depois de comprar o forno foi me livrar das roupas velhas dela e comprar novas, nos demos um banho de loja. –Estou bonita? -ela pergunta, mesmo que eu tenha ajudado e
▪︎ Capítulo 7 ▪︎Hoje já vai ser a inauguração do restaurante e doceria Meu Anjo, coloquei esse nome por causa de Julia que veio para iluminar meus dias e regalos de alegria. Ela foi um anjinho que invadiu minha vida e meu coração me deixando sem escolhas além de aceitar seu amor com todo meu coração. Além de que hoje é o aniversário dela, nove de abril, depois de quatro meses esperando as reformas finalmente Vamos conseguir abrir no dia previsto sem falha.–Vamos minha linda, hoje é seu dia. -digo a pegando no colo, está vestida em uma roupa linda, comprei essa roupa para esse dia, um vestido branco na altura dos joelhos de saia cheia, usa meia calça e sapatinhos que brilham quando bate luz, esse ela mesmo escolheu, seus cabelos loiros estão começando a escurecer, fiz um coque bem arranjado e coloquei a pequena tiara de pedras brilhantes, usa um par de brincos de bailarina, o cordão que antes tinha uma chave agora tem um pingente de uma garotinha abraçada a uma mulh
▪︎ Capítulo 8 ▪︎Tudo esta indo bem, as mesas estão todas ocupadas, é exatamente nove da noite e Julia dorme no escritório no quarto andar depois de correr por aí, fiquei de acorda-la, mas acho que a festa de aniversário terá que ficar pra amanhã pelo jeito que as coisas vão agora.–Chloe, temos um problema. -o senhor Pedro aparece nervoso na cozinha, saio de trás do grande balcão passando a massa de bolo para um dos meninos terminarem de bater e tiro o avental, sim estou ajudando na cozinha mesmo que não precise, mas não consigo ficar sem fazer nada.Esse vai ser o primeiro problema da noite, arrumo meu vestido verde no corpo, tiro a touca saindo da cozinha e soltando os cabelos do coque, parece que meus saltos batem no chão no ritmo do coração com o nervosismo que me bate agora.–O que ouve? -pergunto andando ao lado do senhor Pedro que me parece um pouco pálido.–Um casal chegou e foi levado para uma mesa, nosso garçom foi entregar as bebidas da mes
▪︎ Capítulo 9 ▪︎Depois de conversar o suficiente com Christopher o restaurante fechou e apesar de Julia estar cansada, ainda tinha energias para o parabéns e comer o bolo como ela mesma disse então acabamos por descer para comemorar seu aniversário com os outros. Quando fomos para o salão ela foi no colo de Christopher e meu coração se apertou, eles haviam criado um carinho um com o outro em tão pouco tempo de conversa que me deixou desconcertada.Chegamos no salão e todos já esperavam a pequena, o bolo está no centro da sala assim como os docinhos e outras coisas, todos os funcionários e algumas pessoas de fora estão ali para parabenizar Julia pelo seu quarto aniversário, Christopher colocou ela no chão e a mesma foi parabenizado por todos enquanto ia até a mesa do bolo.Estranharam o fato do homem alto dos olhos azuis estar segurando Julia quando o elevador abriu as portas mais ninguém comentou, meu medo é que alguém note a semelhança entre os dois e pergunt