Acordei tarde naquele dia, mamãe já estava fora, trabalhando... Desci para a cozinha, estava faminta. Acabei sentada nas banquetas comendo cereal.
- Isso é bom? - Mike perguntou se sentando ao meu lado.
- O que você está fazendo aqui?! - Gritei.
Corri para o lado oposto do balcão, Mike me olhava satisfeito.
- Desculpe, - ele sorriu - não quis te assustar.
- eu não quero saber Mike, saia daqui... agora!
- Por favor Analu, só quero conversar... - Seus olhos eram sinceros.
- conversar? - falei pausadamente - e você não podia bater na porta?
- Claro que não! - ele disse como se fosse a coisa mais obvia do mundo.
- não?
- não... por que se eu tivesse batido na porta você se vestiria antes de abrir.
- O quê? - perguntei confusa.
Acabamos por assistir à um filme sobre entidades que se apoderavam de outros corpos, e no final, eu sequer me lembrava do nome... - Está com medo? - Leinad perguntou assim que entramos no carro. Fiz que sim, ciente de que passaria a noite sozinha no meu enorme quarto. - acha mesmo que essas coisas podem acontecer? - questionou sorrindo. - o que? - o corpo ser de alguém, mas o que está dentro... de repente, não ser. Nós dois trememos. Ele ligou o carro. - não sei Leinad... - disse, há tempos que poucas coisas me surpreendem. Se eu acreditava nessas coisas? é claro que sim. - bom... - Leinad disse encerrando o assunto - vamos comer alguma coisa agora? Chequei rapidamente o visor do meu celular, eu ainda tinha uma hora e alguns minutos. &n
Depois de convencer mamãe de que eu havia demorado por causa da pizza, subi para o meu quarto e me joguei na cama, sem nenhum pingo de sono. Aquilo tudo estava muito estranho, um bebê, uma foto minha... o que mais faltava para eu entender que ele era encrenca? Eu tinha que tomar cuidado, Daniel não estava ali para me proteger. Fui para minha escrivaninha, precisava desabafar! Daniel... As coisas aqui estão bem complicadas e assustadoras, se lembra do Leinad? ele não é tão perfeito quanto parece, na verdade, minhas desconfianças são de que ele sequer seja perfeito... Estava em sua casa, ele havia me deixado sozinha na sala, quando uma mulher entrou e me deu um bebê, eu não sei o por quê, mas estou com medo de descobrir... E isso não foi a unica coisa de estranho que aconteceu hoje, Leinad t
Era como se eu o tivesse perdido outra vez, e foi insuportável, cada segundo que se passou após isso... Só conseguia pensar em ligar para ele, mas eu já havia tentado meses antes, e muito provavelmente ele havia mudado de numero. Meu coração batia com dificuldade, lutando para sobreviver ao espancamento que levara da vida... O que me fez pensar, quanto tempo mais eu aguentaria? O quanto o meu coração aguentaria? Dei um breve sorriso amarelo para Edwart ao sentar, estávamos todos à mesa prontos para tomar o café da manhã e ir cada um para um lado. - Bom dia Analu... - ele disse retribuindo o sorriso. Não respondi e mordisquei um pedaço da panqueca que estava em meu prato. - Teve um pesadelo ontem a noite? - Edwart perguntou tentando puxar assunto. - Muito pe
Esperei por John totalmente aflita, tinha medo de que acontecesse novamente... Na verdade eu tinha medo de tantas coisas, que ia acabar pirando.Não sai do quarto até que a campainha tocasse, John era educado de mais para usar a janela. E por um momento jurei para mim mesma que nunca mais reclamaria disso, afinal, a porta já havia se tornado desnecessária.Passei por minha mãe no corredor, ela me olhou assustada ao me ver.- é para mim - falei.Ela assentiu. estava com medo de mim, dava para sentir isso.Abri a porta e me deparei com John, Mariana já o havia comunicado do incidente, e pelo que eu vi em seus olhos, a coisa era séria.- é muito ruim? -perguntei fechando a porta atrás de mim.Ele suspirou por um longo tempo.
O vento bateu em meu rosto, estava me punindo por ser tão burra. Eu caia rapidamente, não era um lugar tão alto a ponto de demorar para alcançar o chão, mas tudo parecia estar em câmera lenta, exceto meus pensamentos. Por quê eu estava fazendo aquilo? já não importava, era tarde de mais para se arrepender... na verdade, era tarde de mais para fazer qualquer coisa. Abaixo de mim eu via o chão se aproximando, cada vez mais perto, cada vez mais assustador. Tudo em que eu conseguia pensar era em quando meu corpo o alcançasse. Sentiria dor? ou seria rápido o bastante para sequer notar? E quanto a mamãe? e John? Era tudo tão distante e perfeito agora. Só ali, a ponto de estourar minha cabeça no chão que percebi que não importavam os problemas, enquanto ainda houvesse vida, ainda haveria chance. E de repente meu corpo se estabilizou no ar, leve e sereno... ao invés de descer rumo ao ch
Os olhos de Maria brilharam com a confissão repentina, depois de alguns minutos me encarando completamente perplexa, me puxou para dentro com um sorriso de orelha a orelha. - vamos! conte me tudo... e com detalhes. Sorri, e me sentei na poltrona roxa com cheiro de camomila. - bom... eu meio que me joguei do prédio de Megan, e de repente estava voando! foi tudo bem rápido na verdade. - continuei - achei que estava morta, então senti minhas asas e... meu Deus Maria! são tão lindas. - Ok Analu... não vou nem perguntar sobre o fato do prédio, mas se puder contar eu agradeceria, já que me deixou curiosa e tudo mais. - talvez outra hora Maria. - suspirei - estou feliz de mais para lembrar disso... - ih... já tive noticias ruins esse ano para uma vida, então é melhor nem dizer mesmo. - é... mas e você? como está... ai dentro?
O pior de ser sempre a pessoa desorientada e confusa não é o que as pessoas pensam ou dizem. Não é ficar perplexa quando as outras pessoas já sabiam da história, não é a distante, mas de algum modo sempre perceptível cara de assustada. Não é nem o fato de quase todo mundo achar que você é assim por que não tem inteligência o bastante para ser diferente disso. O pior é o fato de que, quando acontece alguma coisa realmente improvável, não há como escapar do estado de choque, ou do medo avassalador que te invade. Nicole desapareceu como o de costume, e me deixou agachada em posição fetal no fim do corredor. Com medo de mais para me mover, ou fazer qualquer outra coisa que não fosse chorar. Eu esperava que de alguma forma Mariana fosse aparecer e me tirar dali, mas o tempo foi passando e percebi que, imperdoavelmente, eu estava sozinha. Não ousei mover um músculo, mal respirava... Pode ter sido
Corri para abraça-los, nada mais parecia importar, eles estavam ali e isso já era o suficiente. Os dois se levantaram para um abraço, três corpos unidos e um alivio evidente para todos nós. - oi Analu! linda como sempre... - Dominic disse sorrindo. - Dominic seu idiota! onde esteve? -perguntei. - nem eu sei... essa é a pior parte, mas ta tudo bem, - ele me deu um leve soco no braço - então sentiu a minha falta... bom saber. - não senti sua falta... - menti. Mariana estava maravilhada, os olhos fixados em Dominic e um sorriso que parecia não querer desaparecer. - Analu... - John interrompeu - precisamos conversar, se não se importa. - Hoje não. - falei - só... me deixe esquecer um pouco tudo isso e ficar feliz como uma pessoa normal, está bem? - quem é esse cara ai? - Dominic perguntou.